David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Sentada em um banco de praça

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Written by David Arioch

March 30th, 2018 at 7:30 pm

Quando uma pessoa compartilha algo meu, ela está compartilhando em algum nível um fragmento de mim

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Arte: David Szauder

Quando uma pessoa compartilha algo meu, ela está compartilhando em algum nível um fragmento de mim, do meu trabalho, da minha consciência. E esse fragmento pode chegar a pessoas que, de repente, veem algo de bom ou de útil no que escrevi. Já encontrei publicações minhas sendo compartilhadas algumas vezes de forma desdenhosa, e ainda assim, mesmo diante de uma má intenção, notei pessoas não endossando essa reação, mas sim reagindo positivamente ao que escrevi.

 





Written by David Arioch

August 26th, 2017 at 12:31 pm

Eu e a minha alimentação

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Comecei a me preocupar mais com a minha alimentação há pouco mais de dez anos (Foto: Reprodução)

Peso 90 quilos, com não mais do que 10% de gordura corporal. Tenho demandas energéticas muito elevadas, metabolismo acelerado. Dizem que meu biotipo é predominantemente mesomorfo. Mas a minha alta demanda de micro e macronutrientes tem relação com o fato de eu praticar atividades físicas de alta intensidade diariamente (principalmente musculação) há mais de dez anos.

Nunca fui obeso. Não tenho facilidade em acumular gordura. Preciso comer muito para ganhar gordura, o que só acontece em fase de bulking (ganho de massa muscular). Minha alimentação é boa. Sou saudável e não consumo nada de origem animal. Nunca fico doente, nunca tive nenhum problema grave de saúde. Pensando bem, me recordo que tive dengue há alguns anos, mas meu sistema imunológico respondeu tão bem que continuei treinando diariamente mesmo com dengue.

Me questionaram recentemente sobre o motivo de eu não seguir uma dieta crudívora. Simplesmente porque o crudivorismo não combina com o meu estilo de vida. Respeito quem vai por esse caminho, mas não é o meu, ainda mais em fase de bulking. Não demonizo alimentos cozidos, porque na minha opinião isso não faz sentido. Assim como não vejo motivo para demonizar glúten, caso a pessoa não seja celíaca. Falo isso como alguém que não é nutricionista, mas que conquistou todos os resultados quanto à estética e saúde por conta própria ao longo dos anos. Então pelo menos quanto ao meu corpo e organismo, sei o que estou falando, já que realizo exames de rotina a cada seis meses – e está tudo muito bem.

Há pessoas que me perguntam às vezes porque as minhas receitas têm valores nutricionais detalhados. Simplesmente porque peso tudo que como há anos. Hoje não faço isso toda hora porque decorei os valores nutricionais de dezenas de alimentos. O tempo facilita isso. Sei quais são minhas necessidades diárias de glicídios, proteínas e lipídios. Me alimento seis vezes por dia, porque é o que funciona melhor pra mim. E isso não tem relação com a “teoria do metabolismo acelerado”.

Basicamente, sempre fui um cara disciplinado. E sobre as receitas que publico em meu blog Vegaromba, de culinária, bom, às vezes alguém diz que algumas são “porcarias”. Aí depende muito do que você come, quanto come e com qual objetivo. Algumas eu como ocasionalmente no que chamo de “Dia do Lixo”, que alguns não gostam, mas outros gostam. Sou um dos que gostam, até para “quebrar a dieta”. As minhas receitas são elaboradas atendendo a um objetivo específico. A maioria, mesmo aquelas do Dia do Lixo, têm alguma finalidade, não são combinações aleatórias de calorias vazias, e mesmo que fossem não vejo nada de errado, desde que não sejam parte da minha rotina alimentar.

 

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Written by David Arioch

May 29th, 2017 at 3:06 pm

Eu e o Papai Noel

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Me ligaram avisando que o Robson, um garoto de 14 anos da Vila Alta, foi expulso da casa da avó e estava na rua. Então fui até lá procurá-lo. Depois de percorrer algumas ruas do bairro, encontrei alguns garotos jogando bola descalços na rua, com dois golzinhos feitos com tijolos. Perguntei se eles viram o Robson. Um deles me respondeu que ele saiu para buscar gasolina para o seu tio. “Ele está ficando na casa do tio dele”, disse Vitor. Aproveitei e pedi para eles falaram ao Robson para me ligar que quero saber como ficou a situação dele.

Não demorou, e um garotinho sem camiseta se aproximou da janela do meu carro e comentou sorrindo: “Eu te conheço….Sim…eu te conheço. Papai Noel, gente! Papai Noel! O que você vai me trazer de presente? Quero brinquedo, Papai Noel” Então eu expliquei que eu já tinha conversado com ele, mas na época eu não usava barba. Ele só ficava rindo e chamando outras crianças, provavelmente dez, para verem minha barba de perto. Saí de lá já assumindo um compromisso de Natal enquanto eu partia e a molecada gritava: “Tchau, Papai Noel! Volta logo!”

10 de novembro de 2016.

Written by David Arioch

November 16th, 2016 at 10:26 am

Eu e minha barba

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Passando pelo caixa do hipermercado, uma moça me perguntou de onde eu sou. Daí respondi naturalmente: “Sou daqui!” Com um olhar de surpresa, e acredito que até estranhando a minha fluência em português, ela replicou: “Não é não!” Então comentei: “Talvez você tenha razão, nunca se sabe!”

— Ah! É que você tem uns traços diferentes, parece que veio do Oriente Médio.

Written by David Arioch

July 23rd, 2016 at 1:09 am

Posted in Autoral,Crônicas/Chronicles

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Augusto dos Anjos e a consciência vegetariana

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Na mão dos açougueiros, a escorrer/Fita rubra de sangue muito grosso/A carne que ele havia de comer!

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Augusto dos Anjos: “Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora De comer” (Arte: Reprodução)

O paraibano Augusto dos Anjos, por vezes qualificado como simbolista, parnasiano e pré-modernista, era na realidade um poeta solitário que pouco se via no contexto de qualquer corrente literária. Assim como muitos outros artistas, sofria com o anacronismo em relação às suas obras, poemas que fundamentados num tipo peculiar de panteísmo místico já externavam uma conexão entre o homem e a natureza, algo pouco compreendido até o seu falecimento precoce, aos 30 anos. Embora não haja registros sobre os hábitos alimentares de Augusto dos Anjos, não há dúvidas de que ele foi um dos primeiros escritores brasileiros a abordar a consciência vegetariana em suas obras. Ou seja, foi muito além da escatologia, da consciência da morte enquanto tema.

Sofredor é o termo coloquial que melhor define a essência do poeta paraibano que raramente se via livre da cefaleia e do desconforto existencial. Dotado de exímia sensibilidade, Augusto dos Anjos cristalizava suas insatisfações, anseios e observações com a mesma angústia do simbolista francês Arthur Rimbaud. E talvez esse fosse o maior indicativo de que ele era humano, demasiado humano, como no conceito criado e publicado por Nietzsche em 1878.

Educado em casa pelo próprio pai, um profícuo homem das letras, Augusto se identificou na infância com a linguagem das ciências naturais, o que o motivou a criar seus primeiros sonetos aos sete anos. “Desde a mais tenra idade me entreguei exclusivamente aos estudos, relegando por completo tudo quando concerne ao desenvolvimento, numa atmosfera de rigorosíssima moralidade, da chamada vida física”, disse o poeta em entrevista concedida a Licinio Santos em 1912 e publicada no livro A Loucura dos Intelectuais em 1914.

E o rigor moral realmente acompanhou o escritor ao longo de toda a sua vida. A maior prova são seus poemas publicados na obra póstuma Eu e Outras Poesias, lançada por iniciativa da Imprensa Oficial do Estado da Paraíba em 1920. No livro, sua consciência da relação dissonante da humanidade com a natureza é apresentada de forma ácida e veemente. Em À Mesa, a mórbida ironia revela a leviandade e a consciente cumplicidade humana no ato de se alimentar de animais:

Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora
De comer. Coisa hedionda! Corro. E agora,
Antegozando a ensanguentada presa,
Rodeado pelas moscas repugnantes,
Para comer meus próprios semelhantes
Eis-me sentado à mesa!

Como porções de carne morta… Ai! Como
Os que, como eu, têm carne, com este assomo
Que a espécie humana em comer carne tem!…
Como! E pois que a razão me não reprime,
Possa a terra vingar-se do meu crime
Comendo-me também.

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“Quando a faca rangeu no teu pescoço, ao monstro que espremeu teu sangue grosso” (Imagem: Reprodução)

No bucólico Engenho do Pau D’Arco, em Sapé, sua cidade natal, Augusto dos Anjos chegou a conduzir sessões de mediunidade. Ainda assim, ele jamais se viu como um religioso. Muito pelo contrário. Suas obras sempre abordaram de forma satírica as mais pertinentes contradições que permeiam o cristianismo. No entanto, isso nunca o impediu de se identificar com o panteísmo, assim como o célebre e também incompreendido poeta inglês William Blake.

Quem sabe o escritor paraibano tenha sido atraído pelo fato de que a doutrina se baseia no reconhecimento de Deus em tudo que compõe a natureza. E a partir dessa influência, Augusto fez cabais associações entre a tradição mística do ocidente, o cientificismo que o acompanhou por toda a vida e a cultura oriental fundamentada em religiões védicas da Índia. Esse hibridismo e a constante busca pela sabedoria provavelmente tinham relação com a sua ânsia por entender o mundo, os seres humanos e sua relação com todas as formas de vida.

Exemplos de sua aspiração transcendental são os poemas O Meu Nirvana e Budismo Moderno, publicados no livro Eu, de 1912. Extremamente sensível, Augusto dos Anjos se empenhou em encontrar em fontes orientais um amenizador para a inquietude que o atormentava. “Sinto uma série indescritível de fenômenos nervosos, acompanhados muitas vezes de uma vontade de chorar”, confidenciou em entrevista a Licinio Santos. E foi essa emotividade à flor da pele que o motivou a escrever A Um Carneiro Morto, de 1909, que fala da desproporcionalidade entre a empatia animal e a truculência humana.

Quando a faca rangeu no teu pescoço,

Ao monstro que espremeu teu sangue grosso

Teus olhos — fontes de perdão — perdoaram!

Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,

Se fosses Deus, no Dia de Juízo,

Talvez perdoasses os que te mataram!

Augusto dos Anjos

“E o animal inferior que urra nos bosque/É com certeza meu irmão mais velho!” (Arte: Reprodução)

Alimentado com leite de escrava na infância, Augusto dos Anjos não se orgulhava de sua herança fundamentada no patriarcalismo rural. Cresceu desinteressado pela socialização, o que lhe garantiu o apelido de “O homem ausente”. Importantes nomes da literatura brasileira, como Orris Soares e José Américo de Almeida, o descreviam como um sujeito de tez pálida e morena, mais alto do que baixo, franzino e recurvo, de fronte alongada e grandes olhos sem mobilidade. Suas mãos eram moles e denunciavam timidez. Andava como se estivesse sempre na ponta dos pés, e de longe sua magreza excessiva chamava atenção pelo aspecto insalubre. E nada disso parecia-lhe relevante, talvez até insignificante, já que para além do trabalho ele vivia imerso em si mesmo e na própria poesia. Em A Obsessão do Sangue, Augusto dos Anjos discorre sobre a barbárie consentida entre o açougueiro e o consumidor que se excita diante da carne a ser servida.

Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço,

Na mão dos açougueiros, a escorrer

Fita rubra de sangue muito grosso,

A carne que ele havia de comer!

No inferno da visão alucinada,

Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,

Viu vísceras vermelhas pelo chão…

E amou, com um berro bárbaro de gozo,

O monocromatismo monstruoso

Daquela universal vermelhidão!

Graduado em direito, o poeta jamais atuou como advogado. Preferiu o magistério e se tornou professor no Liceu Paraibano. Se casou em 1910 e logo se mudou para o Rio de Janeiro, onde lecionou na Escola Normal e Ginásio Nacional. O salário era tão modesto que ele mal conseguia sustentar a família. Ainda assim, prosseguia escrevendo, dando vazão à sua vocação. No poema Monólogo de Uma Sobra, Augusto dos Anjos reafirma sua crença na relação entre a solidariedade, o cosmo e o misticismo. Em um excerto, ele escreveu:

E o animal inferior que urra nos bosques

É com certeza meu irmão mais velho!

Depois de quatro anos, e atendendo à recomendação médica, o poeta migrou para Leopoldina, em Minas Gerais, com a esposa Ester Fialho e os dois filhos. Lá, ele exerceu o cargo de diretor do Grupo Escolar até que faleceu em 12 de novembro de 1914 em decorrência de pneumonia.

Na área em que estou, ao matinal assomo,

Passa um rebanho de carneiros dóceis…

E o Sol arranca as minhas crenças como

Boucher de Perthes arrancava fósseis,

Escreveu Augusto dos Anjos em Estrofes Sentidas, poema que na minha opinião sintetiza sua empatia por todos os seres vivos, mesmo diante da própria finitude extemporânea.

Saiba Mais

Augusto dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884 em Engenho do Pau D’Arco, em Sapé, na Paraíba.

Eu, seu único livro de poesia publicado em vida, foi lançado no Rio de Janeiro em 1912.

Os escritores preferidos do poeta eram William Shakespeare e Edgar Allan Poe.

Referências

Dos Anjos, Augusto. Eu e Outras Poesias. Bertrand SP (2001).

Santos, Licinio. A Loucura dos Intelectuais (1914).

Figueiredo, José Maria Pinto. A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos. Universidade Federal do Amazonas (2012).

Paes, José Paulo. Augusto dos Anjos ou o evolucionismo às avessas. Novos Estudos (2008).

Viana, Chico. Autobiografia e lirismo em Augusto dos Anjos (2007). Disponível em chicoviana.com.

Erickson, Sandra, S. F. Augusto dos Anjos: Budismo Moderno. XVII Anais: Semana de Humanidades. UFRN (2010). Disponível em http://www.cchla.ufrn.br/shXVIII/artigos/G T05/Sandra%20S.F.%20Erickson.pdf.

Nóbrega, Humberto. Augusto dos Anjos e sua época. João Pessoa, Edição da Universidade da Paraíba (1962).

Sabino, Márcia Peters. A questão da religiosidade em Augusto dos Anjos. Disponível em http://www.seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/viewFile/25201/14017.

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