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Morro Três Irmãos era usado por criminosos

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Muitos moradores de Terra Rica se recusam a frequentar o local quando escurece (Foto: Cláudia Lanziani)

Muitos moradores de Terra Rica se recusam a frequentar o local quando escurece (Foto: Cláudia Lanziani)

Na década de 1950, o Morro Três Irmãos, em Terra Rica, mais conhecido como Três Morrinhos, era usado por criminosos como refúgio. No local, dizem que foram assassinadas muitas pessoas. Uma senhora que ainda mora na cidade me contou que nos tempos da colonização de Terra Rica, o tio dela torturou, matou e escondeu o cadáver de um homem em uma caverna de difícil acesso no terceiro morro. Outros pioneiros relataram que dependendo do dia, quando se passa perto do morro à noite, é possível ver uma “luzinha” seguindo os passantes. Por tal motivo, muitos moradores de Terra Rica se recusam a frequentar o local quando escurece.

 

 

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Written by David Arioch

January 4th, 2016 at 12:25 pm

Fazendo a diferença em Ruanda

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Violette Mutegwamaso, a mulher que superou uma guerra civil e o brutal assassinato do marido

Aldeia onde a então dona-de-casa vivia com a família (Foto: Rosemary Lycett)

Aldeia onde a então dona de casa vivia com a família (Foto: Rosemary Lycett)

Em 1994, milícias armadas entraram em conflito em Ruanda, na região dos Grandes Lagos da África. Pessoas de etnias hutu e tutsi tornaram-se inimigos mortais, se enfrentando pelas ruas à luz do dia. A motivação foi o desvio de recursos que deveriam ser utilizados para a reestruturação do país. Com a expansão do caos, iniciado na capital Kigali, 250 mil pessoas foram mortas. Ainda assim, muita gente acreditava que estava livre das zonas de guerra civil. Um exemplo era a dona de casa Violette Mutegwamaso que cuidava dos filhos enquanto o marido trabalhava na capital, a três horas de distância de Gahini, a pacata aldeia onde a família sempre viveu.

“Quando percebi que a guerra já estava ao lado, peguei meus dois filhos nos braços e fugi para a igreja mais próxima. Pensei que encontraria um santuário de paz. Na realidade, entrei em um pesadelo”, lembra. Atacados por uma milícia munida de facões e armas de fogo, muitos moradores de Gahini caíram mortos dentro da igreja. Para sobreviver, Violette deitou-se em um corredor e lambuzou os corpos dos filhos e o próprio com sangue para evitar que os agressores os matassem.

“Nos escondemos entre os cadáveres e nos fingimos de mortos. Ficamos naquela igreja por uma semana até que o exército ruandense apareceu para libertar a área”, conta. No episódio, sobreviveram apenas 20 pessoas dentre os mais de 700 escondidos no templo religioso. O marido de Violette não teve a mesma sorte. Foi brutalmente assassinado quando retornava para casa depois de mais um dia de trabalho.

Sobrevivente viu a morte de centenas de pessoas (Foto: Daniel Chen)

Sobrevivente viu a morte de centenas de pessoas (Foto: Daniel Chen)

A dona de casa se viu obrigada a assumir sozinha a criação do filho Eric, de cinco anos, e Angelique, de quatro anos. Demonstrando muita força, Violette ainda cuidou de um órfão que perdeu a família inteira na guerra. “Não tive quase apoio, mas tentei reconstruir a vida cultivando as terras de outras pessoas. O que ganhava não dava para alimentar a mim e meus filhos. Também não conseguia pagar a escola, comprar remédios e roupas. Foi muito difícil”, admite em tom emocionado.

Dez anos depois, Violette ouviu falar de um programa internacional de patrocínio para mulheres. Sem nada a perder, se matriculou e ganhou uma ajuda da estadunidense Liz Hammer, uma mãe de dois filhos comprometida em repassar 30 dólares por mês ao longo de um ano. A quantia que partia de Boston pode parecer ínfima para muita gente, mas Violette soube fazer a diferença com tão pouco.

Usou o dinheiro para investir em cerveja de sorgo. “Cheguei a produzir uma tonelada e meia do cereal. Ainda assim, a demanda era tão grande que tive de comprar sorgo de outros agricultores”, explica. De modo artesanal, Violette Mutegwamaso preparava de 150 a 180 litros de cerveja a cada três dias, lucrando cerca de 50 dólares por lote.

Com o dinheiro da bebida, investiu no plantio de feijão. Além de garantir alimento para a família, também conquistou uma nova fonte de renda. “Se o preço está alto, vendo o feijão para os vizinhos. Já quando cai, repasso no atacado para lojas e restaurantes”, revela. Enquanto a maior parte da população de Ruanda tinha uma renda mensal familiar de 260 dólares, segundo dados do Banco Mundial, Violette, superando todas as expectativas, já conseguia faturar 1,8 mil dólares com a safra de feijão.

Marido de Violette morreu durante a Guerra Civil de Ruanda (Foto: Frank Randall)

Marido de Violette foi uma das vítimas fatais da Guerra Civil de Ruanda (Foto: Frank Randall)

Mais tarde, ampliou ainda mais os negócios e contratou trabalhadoras locais para atuar no campo e no gerenciamento das atividades. Preocupada com a comunidade, fez um empréstimo bancário para instalar uma tubulação de água na aldeia, evitando que as mulheres tivessem de andar por horas até achar uma torneira. “Vivemos em um país onde apenas 20% das pessoas tem acesso à água potável, então muitas mulheres são obrigadas a carregar jarros pesados por longas distâncias”, desabafa.

Hoje, Violette Mutegwamaso é presidente de uma cooperativa de artesanato. Dentre os produtos mais populares está a cesta de paz que faz parte da cultura ruandense e normalmente é comprada para presentear a noiva e o noivo no dia do casamento. “Também vendemos bastante cerâmica e artigos de crochê. Fico feliz por reunir na mesma cooperativa mulheres de origem hutu, tutsi e twa. Elas sentam lado a lado para tecer fibras de sisal com técnicas tradicionais de desenho”, afirma Violette.

A cooperativa tirou da miséria muitas vítimas do genocídio e até mesmo pessoas que assumiram a autoria dos mais chocantes homicídios cometidos durante a Guerra Civil de Ruanda. “Se perdoei o assassino do meu marido por que não aceitaria aqueles que cometeram outros crimes?”, questiona, incitando reflexão.

The Bang Bang Club, barbárie na África do Sul pós-Apartheid

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Livro e filme contam as experiências de quatro jovens em meio ao caos da Guerra Civil Africana

Filme se passa na África do Sul de 1990 a 1994 (Foto: Reprodução)

O filme The Bang Bang Club, do canadense Steven Silver e lançado em 2010, conta a trajetória de quatro jovens caucasianos: Greg Marinovich, João Silva, Ken Oosterbroek e Kevin Carter, fotógrafos criados nos bairros de classe média de Joanesburgo, na África do Sul, que trabalhavam para o jornal The Star. Entre os anos de 1990 e 1994, registraram muitos momentos profundos e simbólicos da guerra civil que custou a vida de milhares de membros do Congresso Nacional Africano (CNA), de Nelson Mandela, e do grupo separatista de origem zulu Inkatha, formado por moradores da área rural. A história se desenrola em paralelo a um dos momentos mais importantes da política sul-africana, quando um referendo nacional estabelece o fim do Apartheid e oferece a toda a população a oportunidade de votar.

Em 2004, li o livro The Bang Bang Club que desperta questionamentos e reflexões existenciais sobre a banalização da vida, crueldade e barbárie com as quais o ser humano é capaz de conviver como se fosse algo tão natural quanto tomar um copo d’água. O filme homônimo também é pesado, agressivo e carregado de uma carga psicológica tão extenuante que reflete a própria condição da realidade sul-africana da época, transmitida com esmero estético por uma direção de fotografia que privilegia a perspectiva panorâmica dos fotógrafos em ação. A obra levanta questões que até hoje são discutidas em todo o mundo, quando se trata de fotografia de guerra ou testemunhal.

O verdadeiro Clube do Bangue Bangue (Foto: Reprodução)

Até que ponto um fotógrafo deve ou não interferir no cenário? Tanto no livro quanto no filme, Kevin Carter, um dos vencedores do Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes do jornalismo mundial, é questionado muitas vezes. Perguntam-lhe por que não salvou a garotinha que estava sendo espreitada por um abutre na área rural do Sudão. Carter não sabia o que dizer, ficava confuso, e tantos questionamentos o afetaram de tal maneira que em 1994 cometeu suicídio dentro do próprio carro. Inalou através de uma mangueira a fumaça que saía do escapamento, chegando ao interior de automóvel com os vidros fechados. O homem que teve sua foto estampada na capa do New York Times morreu pobre e endividado.

Imagem que garantiu a Kevin Carter o Prêmio Pulitzer

Já Ken Oosterbroek foi morto a tiros pelo próprio exército sul-africano durante um conflito armado em que a turma do Clube do Bangue Bangue saiu para registrar uma incursão. Marinovich foi alvejado no mesmo episódio, mas sobreviveu. Greg também ganhou o Prêmio Pulitzer pela autoria de uma foto em que um suposto Inkatha é espancado, depois o banham em álcool e ateiam fogo com um palito de fósforo.

Enquanto o homem corre desesperadamente em chamas, e com o sol ao fundo, tornando a cena mais vívida, um membro do CNA vai até ele e desfere-lhe um golpe de facão. Greg Marinovich registrou o momento preciso, como diria o mestre Henri Cartier-Bresson. Porém, antes disso, o fotógrafo interpelou um dos agressores: “Como você sabe que ele é um Inkatha?” O homem respondeu: “Não sabemos, mas aqui fica uma lição aos outros.” Tal frase é mais que uma simbologia do caos vivido na África do Sul até 1994. Era mais importante surpreender o inimigo mostrando-lhe do que era capaz, mesmo que isso custasse a vida de um não-membro.

Foto premiada de Greg Marinovich

O filme é bom e fiel ao livro, mas a profundidade do original impresso é ainda mais reflexiva. Alguns momentos não foram para as telas, até porque a riqueza de detalhes de João Silva e Greg Marinovich demandaria uma série, não apenas um filme. Uma prática muito comum citada no livro é o necklace que não aparece na adaptação para cinema. O agressor selecionava a vitima, colocava em seu pescoço um pneu com as bordas embebidas em álcool e ateava fogo. Ainda me recordo também que a guerra entre os Inkatha e a CNA custou a vida até mesmo de bebês, mortos de forma extremamente violenta.

Em suma, fica claro que os maiores “vitoriosos” da guerra civil sul-africana foram os africâneres, principalmente os bôeres, que colocaram os nativos africanos para matarem uns aos outros, o que era bem quisto pelos segregacionistas, racistas brancos e dominantes que sempre representaram a minoria continental. The Bang Bang Club  e War Photographer – que conta com exímio realismo a história de um dos maiores fotógrafos de guerra do mundo, James Nachtwey (que inclusive tem uma curta participação no livro e no filme The Bang Bang Club), são duas recomendações para quem gosta do tema fotografia de guerra.

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A Batalha de Acosta Ñu e o Dia das Crianças

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No paraguai, são prestadas homenagens aos mortos no Día del Niño

Brasil matou mais de cinco mil crianças na Batalha de Acosta Ñu (Foto: Reprodução)

Há alguns anos, tive a oportunidade de estudar a perspectiva paraguaia sobre a Guerra do Paraguai graças aos jornalistas e escritores Hugo Montero e Jaime Galeano, da revista argentina Sudestada. A partir disso, em 2007, escrevi uma história de ficção chamada “Rio de Águas Vermelhas” que foi publicada na época e retrata a história de uma família que foi fazer um piquenique às margens do Rio Nhu-Guaçu, onde todos foram assassinados brutalmente pelo Exército Brasileiro.

Me inspirei em alguns fatos que incluem a Batalha de Acosta Ñu em 1869, episódio jamais esquecido pelos paraguaios. Faço questão de destacar que enquanto no Brasil o Dia das Crianças, celebrado no dia 12 de outubro, se resume a fazer algo de bom pelos pequenos, como dar presentes ou levá-los para se divertir em algum lugar, no Paraguai a realidade é bem diferente. O Día del Niño, em 16 de agosto, é marcado por muitas homenagens aos que foram mortos na Batalha de Acosta Ñu,  em Eusebio Ayala, no Departamento de Cordillera, onde a maior parte da força paraguaia era formada por garotinhos segurando varas de madeira que simulavam rifles.

Em suma, foi um conflito desigual, pois Uruguai, Argentina e Brasil não contavam apenas com número superior de soldados, mas também mercenários que faziam as rajadas de fogo cortarem o vento. Aos poucos, pilhas de corpos se espalharam pela pradaria conforme a bandeira da Tríplice Aliança assegurava um morticínio sem precedentes numa guerra sul-americana liderada por ingleses.

Na Batalha de Acosta Ñu havia mais de cinco mil crianças entre 9 e 15 anos. Ainda assim, o Conde D’Eu ordenou que os soldados não deixassem vestígios do abate para não precisarem carregar inimigos feridos. No Paraguai, é de conhecimento popular que a verdadeira história da guerra com o Brasil, Uruguai e Argentina foi omitida pelos países da Tríplice Aliança.

Entre 1865 e 1870, a Aliança matou mais de 90% da população masculina paraguaia. Durante a guerra, estima-se que a cada 100 mil homens paraguaios sobreviviam apenas quatro. O episódio representou a perda de quase 61 mil quilômetros quadrados de extensão territorial. Com o fim das beligerâncias, o Paraguai contraiu uma enorme dívida com o banco inglês Baring Brothers, o mesmo que financiou a participação dos países da Tríplice Aliança.

Descendentes de sobreviventes da guerra contam que quando as crianças caíam mortas sobre o solo paraguaio, as mães se juntavam ao grupo com as armas dos filhos falecidos. A realidade era tão caótica que o Marquês de Caxias renunciou ao posto e enviou uma carta para Dom Pedro II. De acordo com o marquês, a megalomania da Tríplice Aliança chegou a um ponto em que a guerra só terminaria quando toda a população do Paraguai fosse transformada em fumaça, quando matassem o último feto no ventre da mulher paraguaia.

Antes de deixar a Batalha de Acosta Ñu, o Conde D’Eu, um dos maiores criminosos de guerra do Brasil e substituto do Marechal Caxias, mandou atear fogo nos últimos feridos e prisioneiros. Eliminaram todos os inimigos que encontraram e levaram consigo apenas os aliados ainda saudáveis.

1945: Epidemia de leishmaniose ataca Paranavaí

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Surto de úlcera de Bauru matou dezenas de moradores

Doubek: “Atendíamos até cinquenta pessoas por dia” (Foto: Revista Saúde Pública)

Em 1945, muitos não escaparam da epidemia de leishmaniose tegumentar americana (LTA), conhecida como úlcera de Bauru, que atacou Paranavaí, no Noroeste Paranaense. A doença vitimou dezenas de pessoas em um período de grande carência médica.

Naquele ano, os moradores de Paranavaí ocupavam não mais que 40 casas, todas feitas de tábuas, e a única coberta por telhas era a residência usada como sede administrativa. Paranavaí ainda era sertão, tanto que animais campestres como veados-campeiros eram vistos todos os dias, até mesmo em frente as portas das casas. “Aqui era um lugar lindo porque era tudo mata. Não existia nada, mas tinha muito mosquito”, comentou o pioneiro paulista Salatiel Loureiro em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Em meio as belezas de um tempo em que o homem interagia diariamente com a natureza, surgiu na colônia um surto de leishmaniose tegumentar americana (LTA). Segundo o pioneiro Hugo Doubek, em entrevista à prefeitura há algumas décadas, a epidemia de úlcera de Bauru se alastrou muito rápido. Como não havia médicos e nem enfermeiros em Paranavaí, Doubek se viu obrigado a lidar com os enfermos. “Tive até que adquirir prática em aplicar injeções na veia. Felizmente, foi enviado um enfermeiro, Eurico Hummig, que exercia a função de guarda sanitário em Curitiba”, lembrou o pioneiro que foi administrador da colônia.

Na década de 1940, a leishmaniose foi classificada pelo Governo Federal como doença da margem de mata. A proximidade de Paranavaí das áreas florestais facilitou a disseminação da doença que tem como transmissor o mosquito-palha. “Que luta tivemos! Atendíamos até cinquenta pessoas por dia. Na época, o médico José Pedro Vicentini tinha pedido exoneração e foi substituído por Aguilar Arantes. Devo dizer que ele fez milagres”, frisou Hugo Doubek, acrescentando que o médico não descansou enquanto não encontrou o medicamento certo para curar os doentes.

A situação era tão alarmante que até mesmo o governador Manoel Ribas veio a Paranavaí buscar os enfermos para levá-los a Curitiba. Dentre os doentes estava o pioneiro paulista João da Silva Franco que se recusou a ir para a capital receber tratamento médico. “Me tratei aqui mesmo porque não podia deixar minha mulher e minha filha sozinhas. O problema é que quem não queria ir para Curitiba era expulso de Paranavaí. Ameaçaram fazer isso comigo”, relatou. Tal atitude refletiu o medo e a desinformação da população, pois LTA é uma doença infecciosa que não é contagiosa, de acordo com o Ministério da Saúde.

João Franco: “A gente lavava as feridas com água de peroba e de guaiçara” (Foto: Revista Saúde Pública)

Doença deformou moradores

Quando adoeceu, João Franco contou pelo menos 18 feridas grandes pelo corpo. Segundo o pioneiro, só não apareceram úlceras no rosto. “Tinha na barriga, nas costas, nas pernas e nos braços. Por muita fé em Deus, me sarei. Resisti por natureza forte”, explicou.

Nem todo mundo teve a sorte do pioneiro paulista. Mais de 90 portadores de leishmaniose, entre adultos e crianças, foram levados de caminhão para Curitiba. “Daqueles que foram pra lá, alguns voltaram vivos, mas outros morreram”, enfatizou João Franco.

Em pouco tempo, foram registradas dezenas de mortes em decorrência da úlcera de Bauru que não só causava lesões cutâneas como deformava o rosto, impedindo o enfermo de se alimentar ou desempenhar qualquer outra atividade. “Muitas pessoas, até crianças, ficaram com os narizes e orelhas deformados. O que a gente mais fazia era lavar as feridas com água de peroba e de guaiçara. A situação era difícil porque Paranavaí era uma ilha isolada na mata virgem”, disse Franco.

O pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, declarou que a assistência médica era precária. “O Estado tinha mania de mandar uns médicos incompetentes pra cá. Alguns vinham porque queriam pegar uma beira lá”, reclamou. João da Silva Franco faz coro às palavras de Araújo. “Vivemos no mato por mais de 20 anos. Era muito difícil porque não havia tratamento de espécie alguma”, desabafou.