David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Laticínios’ tag

Queda na demanda por leite está tirando pecuaristas do mercado nos Estados Unidos

without comments

Consumo de leite nos Estados Unidos é 37% menor do que na década de 1970

Laticínio vai encerrar contrato com 52 fazendas no dia 30 (Foto: Animals Australia)

Esta semana a indústria Marcus Dairy, um dos maiores laticínios de Connecticut, nos Estados Unidos, anunciou em entrevista à CBS que vai encerrar o contrato com 52 fazendas no próximo dia 30 por causa da queda na demanda por leite.

Atualmente, a população dos Estados Unidos está consumindo 37%menos leite do que nos anos 1970, dado considerado preocupante e que tem feito com que pecuaristas e laticínios migrem para outras atividades – ou até mesmo troquem o leite de vaca pelo leite vegetal.

 

Exemplos são a Arla Foods e Dean Foods, grandes empresas do ramo de laticínios que encerraram contratos com dezenas de pecuaristas do estado de Wisconsin e criaram a marca Good Karma Foods, de leites vegetais. A principal justificativa de quem está deixando esse ramo é a volatilidade do mercado aliada à queda no interesse do consumidor por produtos lácteos.

Outro exemplo que teve grande repercussão no mercado de laticínios nos Estados Unidos foi o da Elmhurst, de Nova York, que fechou a sua indústria de produtos lácteos em 2016, depois de 80 anos. Por outro lado, fundaram a marca vegana Elmhurst Milked, considerando o crescimento desse mercado, que deve representar uma receita de 35 milhões de dólares até 2024.




Written by David Arioch

June 22nd, 2018 at 1:45 pm

Justine Butler: “Por que o leite é uma questão feminista”

without comments

“Ficamos indignadas com histórias de estupro e gravidez forçada, mas essas são práticas comuns na moderna pecuária leiteira”

Justine Butler defende que a vaca tem direito de não ser violada e isso deve ser respeitado (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Pesquisadora e autora da organização Viva!, recentemente a bioquímica Justine Butler, que tem no currículo um doutorado em biologia molecular e a publicação de um relatório científico intitulado “White Lies”, que teve repercussão internacional pela abordagem dos efeitos dos laticínios na saúde humana, republicou o seu artigo “Why milk is a feminist issue” – sobre as razões pelas quais o leite é uma questão feminista.

Justine começa o artigo declarando que o feminismo combina uma gama de ideias que compartilham um objetivo comum – apoiar os direitos das mulheres: “Não foi antes de 1991 que a violação física dentro do casamento se tornou um crime. Antes disso, a lei sugeria que o casamento implicava consentimento para o sexo, e uma vez casada, uma mulher poderia ser considerada como propriedade do marido.”

De acordo com a autora, nos últimos cem anos as mulheres têm lutado arduamente pelo direito de controlar o que acontece com seus próprios corpos. “Ficamos indignadas com histórias de estupro e gravidez forçada, mas essas são práticas comuns na moderna pecuária leiteira. As vacas vivem essa realidade repetidas vezes, em escala industrial, e sem escolha.”

Justine Butler, que testemunhou várias fases do feminismo no Reino Unido e em outras partes do mundo, explica que o feminismo ocorreu em ondas – tendo as sufragistas como pioneiras: “A segunda fase ocorreu nos anos 1960 com o feminismo liberal. Uma terceira onda surgiu na década de 1980 com o ecofeminismo, que se identificou com a opressão dos animais criados para consumo. Na década de 1990, os vínculos entre o abuso de animais e a opressão das mulheres foram rebaixados e um feminismo pós-moderno emergiu, priorizando os seres humanos, com pouca preocupação em relação aos animais e ao meio ambiente. O feminismo centrado no ser humano passou a dominar o pensamento feminista no início dos anos 2000.”

Hoje a autora diz que as feministas devem se questionar se está tudo bem para os seres humanos controlarem violentamente o sistema reprodutivo de um animal enquanto se opõem fundamentalmente a um tratamento similar dispensado às mulheres: “Por que escolher a qual forma de opressão nos opomos? Esse tipo de distinção é chamada de ‘especismo’. Envolve a atribuição de diferentes valores morais ou direitos aos indivíduos com base em quais espécies eles pertencem. ‘Sou uma feminista vegana porque sou um animal entre muitos e não quero impor uma hierarquia de consumo a essa relação’”, defende, citando a autora Carol J. Adams.

Justine também parafraseia a ativista Alice Walker, que parte do princípio de que os animais existem por suas próprias razões: “Eles não foram feitos para os humanos, assim como pessoas negras não foram feitas para os brancos ou as mulheres para os homens.” A suposição de que os animais criados para consumo não sofrem quando mantidos em condições que não seriam toleradas pelos seres humanos tem como base a ideia de que eles são menos inteligentes do que os seres humanos, e não têm senso de si mesmos.

Porém, isso é evidentemente errado – garante Justine Butler, que cita o trabalho do professor John Webster, da Universidade de Bristol, que dedicou décadas estudando o comportamento de animais criados para consumo e refuta tal afirmação: “As pessoas assumiram que a inteligência está ligada a capacidade de sofrer e que, como os animais têm cérebros menores, eles sofrem menos que os humanos. Essa é uma lógica patética.”

Inúmeras pesquisas mostram claramente que vacas criam laços de amizade, guardam ressentimentos e são estimuladas por desafios intelectuais. E claro, são capazes de sentir fortes emoções, como dor, medo e ansiedade, assim como alegria. “Todos nós gostamos do sol nas nossas costas. Características semelhantes foram encontradas em porcos, cabras, galinhas e outros animais”, exemplifica a autora.

Não são poucos os cientistas que sugerem que os animais podem ser tão semelhantes aos seres humanos em alguns aspectos que as leis de bem-estar precisam ser urgentemente repensadas. Christine Nicol, professora de bem-estar animal na Universidade de Bristol, reconhece que muitos animais não humanos têm notáveis ​​habilidades cognitivas e de inovação cultural.

“A imagem bucólica de uma vaca e seu bezerro em um ambiente pastoral é um mito. As vacas não produzem constantemente leite, e como nós, só o fazem depois de uma gravidez e um parto de nove meses. Uma vaca leiteira moderna será confinada e obrigada a engravidar logo após o seu primeiro aniversário, usando um aparelho de contenção denominado rape rack [em que uma vaca é imobilizada e inseminada]“, relata Justine.

Após dar à luz, a vaca amamentaria o bezerro por até um ano, mas na pecuária leiteira é comum a separação em um ou dois dias. “Bezerros machos são subprodutos indesejáveis, ​​e todos os anos, no Reino Unido, 100 mil ou mais são abatidos, enquanto outros são vendidos para a produção de carne de vitela”, informa a autora, acrescentando que a imensa demanda física leva à infertilidade e infecções graves (mastite e laminite), reduzindo produtividade e expectativa de vida. Nesse sistema, um animal que poderia viver naturalmente pelo menos 20 anos, é morto com não mais do que seis anos.

Justine Butler não considera um exagero dizer que o leite é produto do estupro, sequestro, tortura e assassinato, considerando que as vontades e os anseios da vaca são completamente desconsiderados:

“Atos de violência sexual ou atividade sexual forçada com animais geram repulsa na maioria das pessoas. Então, por que fechamos os olhos para esse tratamento dado às vacas leiteiras? O leite é o produto da exploração das capacidades reprodutivas de um corpo feminino. Considerar isso uma questão feminista não é radical, mas uma posição política totalmente defensável. As vacas compartilham conosco a arquitetura básica do cérebro responsável pela emoção. As vacas mães se sentem extremamente angustiadas quando as suas crias são tiradas delas – elas choram e berram. Elas ainda estão de luto quando a máquina de ordenha suga o leite de seus úberes. Um torturante ciclo de tormento físico e emocional é imposto sobre elas até sucumbirem. O leite vem de uma mãe enlutada e isso é uma questão feminista.”

Referência

Butler, Justine. Why milk is a feminist issue (2015).

 

 





Pecuaristas estão trocando o leite pela cerveja nos Estados Unidos

without comments

“Descobrimos a nossa paixão pela cerveja artesanal”

Situada em Massachussetts, a fazenda Carter & Stevens, que era totalmente dedicada à produção de laticínios agora está operando também como cervejaria (Foto: Reprodução)

O casal de pecuaristas Molly Stevens e Sean DuBois está trocando o leite pela cerveja nos Estados Unidos. Situada em Massachussetts, a fazenda Carter & Stevens, que era totalmente dedicada à criação de vacas e produção de laticínios, agora está operando também como cervejaria porque seus proprietários estão enfrentando a maior baixa histórica desde que a fazenda foi fundada, segundo informações do New York Times.

“Descobrimos a nossa paixão pela cerveja artesanal”, explica DuBois. Embora eles não tenham feito uma transição completa, o que significa que continuam operando parcialmente como uma fazenda de produção de laticínios, tudo indica que em breve as vacas leiteiras já não serão mais ordenhadas na propriedade, seja mecanicamente ou manualmente. E por um motivo bem simples, o casal vende cada litro de cerveja por sete dólares contra os 0,16 centavos por litro de leite.

Molly Stevens e Sean DuBois não têm dúvidas de que o mercado de leites vegetais deve ocupar cada vez mais espaço. Por isso, decidiram investir na cervejaria. Outras fazendas consideradas tradicionais no ramo de laticínios já fizeram uma transição completa. Dos exemplos mais emblemáticos está a Elmhurst Dairy que depois de 80 anos se transformou na marca vegana Elmhurst Milked, de leites vegetais.





FDA não vê nenhum problema em alimentos de origem vegetal serem rotulados como leite, queijo, manteiga e iogurte

without comments

“Rejeitamos esses ataques da indústria de laticínios e esperamos uma conversa mais construtiva”

A polêmica surgiu após a indústria leiteira registrar queda na venda e no consumo de produtos lácteos (Foto: Reprodução)

Nos Estados Unidos, o comissário da Food and Drug Administration (FDA), Scott Gottlieb, informou esta semana ao The Hagstrom Report que, embora a FDA tenha definido o leite como a “secreção de um animal em lactação”, não há nenhum problema em alimentos de origem vegetal serem rotulados como leite, queijo, manteiga e iogurte, além de outros nomes tradicionalmente associados aos produtos de origem animal.

Segundo Gottlieb, a FDA não pode simplesmente mudar arbitrariamente o que é permitido ou não no mercado alimentício. A polêmica surgiu após a indústria leiteira registrar queda na venda e no consumo de produtos lácteos nos Estados Unidos nos últimos anos, atribuindo isso a uma dissimulação por parte da indústria de gêneros alimentícios baseados em plantas.

Embora o posicionamento do comissário da FDA tenha sido contrário ao esperado pela indústria leiteira, o lobby da Federação Nacional de Produtores de Leite dos Estados Unidos deve continuar. O projeto mais conhecido da entidade é a Lei do Orgulho Leiteiro – contra imitações de iogurte, leite e queijo, apresentado em 2017.

Diante da situação, a Associação de Alimentos Baseados em Plantas dos Estados Unidos enviou uma carta à FDA informando que seus membros têm orgulho de oferecer uma ampla gama de opções de alimentos inovadores e sustentáveis que os consumidores estão procurando por muitas razões.

“Rejeitamos esses ataques da indústria de laticínios e esperamos uma conversa mais construtiva que garanta que os consumidores possam ter acesso às deliciosas opções da indústria que desejarem”, defendeu a diretora-executiva da Associação de Alimentos Baseados em Plantas, Michele Simon.

 

 





 

Written by David Arioch

June 14th, 2018 at 7:30 pm

Produtores de queijo premiado se tornam veganos e trocam o leite de cabra pelo leite de oleaginosas

without comments

“Estávamos ampliando o problema. Não queríamos ser parte do problema, mas sim da solução”

“Agora ao não criar animais com essa finalidade [de produzir leite e queijo], podemos salvar os animais da crueldade em vez de agravá-la trazendo mais animais para o mundo” (Acervo: The Sanctuary at Soledad Goats)

Ao longo de 20 anos, Carol e Julian Pearce produziram um queijo de leite de cabra premiado nos Estados Unidos. Ainda assim, decidiram se tornar veganos e começar uma nova vida, que incluiu a fundação de um santuário e uma nova produção de queijos. Mas dessa vez baseado em oleaginosas, não em leite de cabra.

Carol e Julian se conheceram enquanto cuidavam de bezerros doentes. Quando viviam na Inglaterra, Carol era conhecida por invadir fazendas e “sequestrar” animais que seriam enviados para o matadouro.

Mais tarde, nos Estados Unidos, os Pearce investiram em uma fazenda de caprinos no Sul da Califórnia, onde a política era “nunca matar”. No entanto, com o tempo, começaram a repensar a própria história, o trabalho e a vida. Foi quando perceberam uma contradição em suas ações.

Enquanto resgatavam animais que seriam enviados para os matadouros, eles investiam na procriação de outros para a produção de leite e queijo. “Por ser uma fazenda leiteira, estávamos ampliando o problema. Não queríamos ser parte do problema, mas sim da solução”, explica o casal.

Em 2015, a decisão natural foi o veganismo, que os Pearce qualificam como um imperativo moral, de honrar e respeitar os animais rejeitando todas as formas de exploração. O leite de cabra então foi substituído pelo leite de oleaginosas – nozes, castanhas, amêndoas, etc.

“Estamos replicando a qualidade do queijo que conseguimos produzir com o leite de cabra – textura suave, ingredientes frescos, e feito artesanalmente com cuidado, consistência e paixão. Até agora nossas amostras foram muito bem recebidas, com muitas pessoas nos dizendo que continuarão comprando os nossos produtos em versão vegetal. Isso é muito encorajador para nós”, garantem.

Além de cuidar das cabras do seu antigo rebanho leiteiro, o casal resgata cabras, vacas, bois, cavalos, porcos, frangos, galinhas, patos, cães e gatos maltratados, abandonados e negligenciados. Parte desses animais seria enviada para o matadouro, outros passariam por eutanásia. “Agora ao não criar animais com essa finalidade [de produzir leite e queijo], podemos salvar os animais da crueldade em vez de agravá-la trazendo mais animais para o mundo”, justificam.

Hoje, o The Sanctuary, situado em Soledad, no sul da Califórnia, é uma entidade sem fins lucrativos, e a produção de queijo vegano ajuda a custear as despesas com os animais, assim como a contribuição de seus apoiadores. O santuário é aberto à visitação e quem quiser pode comprar diretamente no site alguns produtos veganos como chocolates, velas, sabonetes, canecas, brincos e hidratantes.

Referência

The Sanctuary at Soledad Goats – Where every animal has a home

 





 

Produtor de leite diz que ativistas veganos podem arruinar a indústria de laticínios

without comments

 

 

 

Na sexta-feira, o ativista vegano australiano Joey Carbstrong publicou um vídeo em seu canal no YouTube em que um produtor de leite diz que os ativistas veganos podem arruinar a indústria de laticínios. Diante da situação, Carbstrong comentou: “Bem, é isso que estamos tentando fazer.”

O ativista acrescenta que o objetivo não é deixar quem atua no ramo sem trabalho, mas sim pôr um fim à exploração e ao abuso praticado contra os animais. O que significa que o melhor caminho seria migrar para uma atividade agrícola que não envolva a exploração e a criação de animais para consumo.

O fazendeiro afirma que toda “a comunidade foi construída sobre as costas de uma vaca”, e que os ativistas estão tentando destruir isso. Quando Carbstrong pergunta ao fazendeiro onde está a escolha da vaca assim que, depois de ser explorada exaustivamente, ela é enviada ao matadouro e reduzida a pedaços de carne, o homem responde: “Nós não vivemos em um mundo perfeito, camarada.”

 





 

Maiores fornecedores de proteína animal não estão reduzindo as emissões de gases do efeito estufa

without comments

“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público”

Empresas precisam investir menos em proteínas de origem animal e mais em proteínas de origem vegetal (Foto: Eduard Korniyenko/Reuters)

Um novo indicador de sustentabilidade global divulgado esta semana revelou que os maiores fornecedores de carnes e laticínios não estão conseguindo gerenciar efetivamente as contribuições às mudanças climáticas, colocando em risco as metas da missão do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissões de gases do efeito estufa. O indicador é resultado de um levantamento intitulado “The Coller FAIRR Protein Producer Index”, feito pela Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR), sediada em Londres.

O indicador, que serve como referência para investidores, avaliou as 60 maiores empresas fornecedoras de proteínas de origem animal – incluindo McDonald’s, KFC, Nestlé, Danone e Walmart. A conclusão foi que 60% dessas empresas foram classificadas como de alto risco se tratando de gerenciamento de sustentabilidade em todas as categorias – incluindo emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e perda de biodiversidade, uso de água, bem-estar animal, desperdício, poluição, compromisso com a produção sustentável de proteínas vegetais e segurança dos trabalhadores. Tudo isso é apontado como bastante problemático para o meio ambiente.

Tratando-se especificamente de emissões de gases do efeito estufa, o percentual é ainda mais preocupante – 72%. Apenas uma das empresas que compõem o indicador conseguiu atingir pontuações consideráveis na redução de emissões. “Está claro que as indústrias de carne e laticínios permaneceram fora do escrutínio público em relação ao seu significativo impacto climático. Para que isso mude, essas empresas devem ser responsabilizadas pelas emissões e devem ter uma estratégia confiável e verificável de redução de emissões”, disse ao The Guardian a diretora do Instituto Europeu de Agricultura e Política Comercial, Shefali Sharma.

No total, segundo o indicador, 87,5% das empresas de carne bovina e laticínios não têm divulgado dados sobre as suas emissões e gerenciamento de GEE, o que é apontado como um risco ao Acordo de Paris. O FAIRR destaca que a diversificação na produção de proteínas alternativas, ou seja, de origem não animal, é fundamental tanto para o gerenciamento dos riscos da cadeia de suprimentos com restrição de recursos quanto para aproveitar as oportunidades de crescimento do mercado. Ou seja, essas empresas precisam investir menos em alimentos de origem animal e mais em alimentos de origem vegetal.

“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público porque pagamos por sua poluição ambiental, custos de saúde pública que não são contabilizados em seu modelo de negócios. É aí que os governos precisam intervir”, enfatiza Sharma.

Referências

The Coller FAIRR Protein Producer Index. Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR)

Zee, Bibi van der; Wasley, Andrew. Meat and fish multinationals ‘jeopardising Paris climate goals’. The Guardian (30 de maio de 2018).





 

Segundo estudo da Universidade de Oxford, não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta

without comments

“Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”

Poore: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problema” (Acervo: Irish Times)

Um estudo intitulado “Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers”, publicado na conceituada revista Science, conclui que não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta.

Considerada pelo jornal britânico The Guardian como a maior análise já feita sobre os efeitos da produção agrícola, a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, que reuniu dados de quase 40 mil fazendas que produzem 40 produtos agrícolas em 119 países, informa que 80% das áreas agrícolas do mundo são destinadas à criação de animais para consumo.

A atividade, que segundo o trabalho têm grandes consequências se tratando de alocação de terras e uso de água doce, é responsável por 58% das emissões de gases do efeito estufa, 57% da poluição da água e 56% da poluição do ar. A pesquisa, disponibilizada no site da revista Science, enfatiza que o impacto pode variar em até 50 vezes entre os produtores de um mesmo produto, criando oportunidades substanciais de mitigação.

No entanto, mesmo que os produtores de alimentos de origem animal se esforcem para alcançar baixos impactos ao longo da cadeia de produção e fornecimento, a redução ainda é limitada, de acordo com os cientistas. Isto porque “o impacto dos produtos de origem animal de menor impacto normalmente excede os dos seus substitutos de origem vegetal, fornecendo novas evidências para a importância da mudança na dieta” — explica.

Em entrevista ao The Guardian, o coordenador da pesquisa, Joseph Poore, disse que “uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir o impacto no planeta, não apenas por causa dos gases do efeito estufa, mas também por causa da acidificação global e eutrofização, além do uso de terra e água.”

O estudo também comparou o impacto da produção de carne bovina com a proteína baseada em vegetais e revelou que até mesmo a carne orgânica ou considerada sustentável pode requerer 36 vezes mais terra e gerar seis vezes mais emissões de gases do efeito estufa do que a produção de ervilhas.

Poore frisa que, para quem se preocupa com o meio ambiente, é muito melhor abdicar do consumo de alimentos de origem animal do que reduzir viagens de avião ou comprar um carro elétrico: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problemas. Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”.

Referências

Poore, J; Nemecek, T. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science Magazine (1º de junho de 2018).

Carrington, Damian. Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth. The Guardian (31 de maio de 2018).




 

Por que não me alimento de animais

without comments





 

Chris Mills, um homem do campo que se tornou vegano depois de testemunhar o sofrimento dos porcos a caminho do matadouro

without comments

“Olhei aqueles pobres animais nos olhos e sabia que estavam sendo enviados para a morte”

O choque de realidade fez Chris Mills se tornar vegano (Acervo: Chris Mills)

Um homem do campo, Chris Mills trabalhou por 20 anos em fazendas de produção de leite em Ontário, no Canadá. Além de viver a realidade comum de quem ignora o sofrimento vivido pelos animais criados para consumo, ele também era um ávido caçador. No entanto, Chris se apaixonou por uma vegetariana, com quem acabou se casando quando começou a trabalhar na construção de rodovias.

As conversas com sua esposa o levaram a ver os animais com outros olhos. Porém, não o suficiente para que ele abdicasse do consumo de animais. A transformação veio com um choque de realidade e um olhar atento que o fizeram perceber que a carne que ele consumia era, de fato, proveniente de criaturas com emoções e sensações muito semelhantes às nossas.

Um dia, Chris estava dirigindo uma máquina quando o tráfego na rodovia foi interrompido. Ao seu lado, havia um caminhão transportando porcos para um matadouro em Quebec. “Esse foi o dia em que fiz a conexão. Olhei aqueles pobres animais nos olhos e sabia que estavam sendo enviados para a morte. A temperatura estava em 36 graus abaixo de zero e eles estavam congelando. Suas peles estavam vermelhas e você podia ver gelo em algumas de suas faces. Meu coração sangrou. Me senti tão mal que disse a mim mesmo que daria um basta nisso, que eu nunca mais causaria mal a qualquer outra criatura novamente! Jamais olhei para trás”, garante.

Chris Mills não teve dificuldade em se tornar vegano e abandonar todos os alimentos de origem animal. O que facilitou a sua transição foi o prazer em cozinhar e mostrar às pessoas que “a comida vegana é deliciosa e bonita”. Hoje, não apenas Chris e a esposa são veganos, mas também a filha do casal – veganos a favor da vida, segundo ele. Em 2015, Chris e a esposa Kim transformaram a própria casa em um pequeno santuário – The Grass Is Greener, que é focado especialmente no resgate de coelhos que são enviados para a indústria da carne.

Referência

Capps, Ashley. Former Meat and Dairy Farmers Who Became Vegan Activists. Free From Harm.