David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Os perigos das dietas que demonizam os carboidratos e incentivam o alto consumo de proteínas de origem animal

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Tirinha clássica e perspicaz do blog Bizarro Comic

Sobre as dietas de perda de peso, as pessoas usam duas abordagens que não funcionam a longo prazo. Então é claro que elas dizem que dietas não funcionam. Uma abordagem é tentar ficar sem comer e sentir fome o tempo todo. Essas são dietas de porções controladas, dietas típicas que as pessoas seguem. Não funciona porque você sente fome o tempo todo, e não se pode tolerar esse tipo de dor.

As alternativas são as dietas “torne-se um doente”. E essas são as dietas de alta proteína de origem animal, alta gordura e baixo carboidrato. Nos últimos anos surgiram muitas dietas afirmando que comer pouco carboidrato e muita proteína animal ajuda a perder peso. Tudo orquestrado por campanhas publicitárias multimilionárias e pelo endosso de celebridades [que lucram com isso]. Como resultado, a maioria das pessoas hoje associa carboidrato a ganho de peso.

Dietas com pouco carboidrato deixam você doente [um exemplo é a baixa na imunidade]. Como resultado, todo o seu corpo fica doente, [com riscos de] doenças arteriais e danos nos rins, no fígado e assim por diante. Elas aumentam a mortalidade. Isso já foi mostrado inúmeras vezes nos grandes estudos. Mas elas também o deixam doente de forma que faz você perder o apetite. A pessoa diz: “Finalmente encontre a solução!” E então você entra em cetose e perde o apetite. Como resultado, pode se sustentar sem pensar em comida o tempo todo. Porque você está doente. Essas dietas são perigosas, e as pessoas não deveriam segui-las.

Em 1973, Rob Atkins publicou seu primeiro livro no qual ele argumentava que o problema não era com a gordura, o problema não era com a proteína. Segundo ele, o problema era que consumíamos carboidratos demais. E ele defendeu este argumento. E depois, muitas outras pessoas escreveram a mesma coisa. A Dieta de South Beach é apenas uma cópia, na maior parte, da Dieta Atkins.

A Dieta das Zonas é uma cópia, e a Dieta do Tipo Sanguíneo, em muitos aspectos, também é uma cópia. Calorias Boas, Calorias Ruins, de Gary Taubes, a mesma coisa. Até mesmo Michael Pollan, devo dizer, o Dilema do Onívoro, é uma cópia. E a Dieta Paleo, tão popular hoje em dia, é só uma cópia.

São erros e fraudes em dietas comerciais com nomes diferentes, e podem cuspir diferentes argumentos sobre o porquê de aquilo estar certo, mas estão todos errados. Isso é escrito por pessoas, devo dizer, que não têm experiência nesse campo de pesquisa nutricional, e ponto. A maioria nunca publicou um artigo sequer na literatura científica.

Bem, como você sabe, as maiores mentiras do mundo são aquelas que têm um fundo de verdade. Todos sabemos disso. É uma grande tática. É verdade, concordo que devemos cortar os carboidratos, mas os carboidratos simples. Isso está fora do contexto geral. Você sabe, açúcar, farinha branca. Isso faz sentido. Neste caso, tem um fundo de verdade. Mas eles nem sempre destacam isso. Apenas dizem: low carb, low carb, low carb.

Todos querem ouvir boas notícias sobre seus maus hábitos. Então quando você diz às pessoas que elas podem comer quanta lagosta quiserem, podem comer bife com ovos, alguns incluem laticínios, outros não. Isso soa agradável para as pessoas porque parece menos restritivo.  Algumas das pessoas que estão falando sobre dietas com poucos carboidratos não têm habilidades para avaliar informações científicas. Escute, esqueça o que você gosta ou não gosta. Pense no seu objetivo.

John McDougall, médico especialista em nutrição e autor do livro “The Starch Solution”.

T. Colin Campbell, bioquímico e doutor em nutrição, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos. Em 2005, o seu trabalho foi transformado no livro “The China Study”.

Pamela A. Popper, doutora em nutrição e fundadora do Fórum Wellness.

Excertos de depoimentos do documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski.

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Leite é um alimento saudável para bezerros, para filhotes de vaca

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Imagine a penúria de viver assim, sem poder se movimentar direito porque seu corpo foi transformado em um laboratório de produção de leite

Leite é um alimento saudável para bezerros, para filhotes de vaca. Leite é para bebês, literalmente. Somos a única espécie que [conscientemente] toma leite de outra espécie, e também a única espécie que [conscientemente] toma leite depois de virar adulto. Por que o leite é associado com o aumento de risco de câncer de próstata? Bem, o que é o leite? Leite é um coquetel de hormônios do crescimento que fazem com que um pequeno animal bovino, suscetível de ser caçado na savana africana, ganhe algumas centenas de quilos em poucos meses, porque ele não quer ser comido por um leão. Então ele é desenvolvido como um alimento para o crescimento rápido, o que é ótimo se você é um bezerro, mas se você é um humano adulto esse excesso de hormônios do crescimento não é uma coisa boa.

Uma das coisas mais difíceis para as pessoas largarem são os laticínios, e às vezes são muito resistentes. Uma coisa que sempre digo às pessoas é: Bem, por que não olhe as evidências e decida por você mesmo? Porque eu sempre disse que controlar a sua saúde não é fazer o que eu digo em vez de fazer o que os outros dizem. Tomar controle da sua saúde é olhar para as informações e fazer escolhas conscientes sobre o que você quer fazer.

Descrevo laticínios como carne líquida. Basicamente como carne vermelha: alto teor de gordura, colesterol e nada de fibras. Na verdade, pode ser pior do que a carne vermelha. A caseína que usam para dar liga no queijo é cheia de química. E são químicos tão viciantes que se assemelham à heroína [nesse aspecto], pois não temos quatro estômagos como os bezerros [para metabolizá-la corretamente]. E infelizmente o leite está em tudo. Eles colocam secreções de vaca, sei que há outros nomes para isso, como laticínio, manteiga, sorvete, queijo. Mas realmente isso não é nada além de leite de amamentação tirado de uma vaca.

O único motivo pelo qual as pessoas acham que precisamos de cálcio extra é porque há duas décadas cientistas elevaram a quantidade de cálcio que precisamos ingerir. Isso foi influenciado pela indústria de laticínios. O que eles realmente estão dizendo é: “Não estamos bebendo leite o suficiente.” Porque isso é o que a indústria de laticínios quer que falemos. Quando, na verdade, se você olhar para a relação entre quanto cálcio as pessoas consomem em diferentes sociedades, já que se relaciona, digamos, com a osteoporose, doença nos ossos, quanto maior a ingestão de cálcio, mais alto é o risco de osteoporose. Ninguém quer ouvir isso. Mas é isso que os dados reais mostram.

Michael Greger, médico especialista em nutrição e fundador da NutritionFacts.org

Pamela A. Popper, doutora em nutrição e fundadora do Fórum Wellness.

John McDougall, médico especialista em nutrição e autor do livro “The Starch Solution”.

Karyn Calabrese, chefe de cozinha e escritora de literatura wellness.

T. Colin Campbell, bioquímico e doutor em nutrição, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos. Em 2005, o seu trabalho foi transformado no livro “The China Study”.

Excertos de depoimentos do documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski.

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“A ideia de que somos caçadores-coletores é verdadeira, somos caçadores-coletores, mas a maior parte do tempo sempre fomos coletores”

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McDougall: “Todas as grandes e bem-sucedidas populações da história da humanidade recebiam sua grande massa calórica do amido”

Todas as grandes e bem-sucedidas populações da história da humanidade recebiam sua grande massa calórica do amido: arroz, milho, batata e outros amidos; pães e assim por diante. Particularmente, quando se vive próximo à Linha do equador, ao se locomover para o norte e para o sul em latitude, você acaba comendo mais alimentos de origem animal. E se for bem ao norte, por exemplo na região dos esquimós inuits, você verá que eles se alimentam como carnívoros, porque é isso que está disponível para eles.

Mas esta é uma pequena população de pessoas que vivem nos extremos do meio ambiente. São a exceção, não a regra. A ideia de que somos caçadores-coletores é verdadeira, somos caçadores-coletores, mas a maior parte do tempo sempre fomos coletores. Um dos problemas tem a ver com sexismo. Tem a ver com o fato de que os coletores eram mulheres, avós e crianças. Os caçadores eram os homens, e eles ficavam com a glória. As pessoas que realmente proviam o grande volume de calorias necessárias à sobrevivência, ao longo de toda a história humana de que temos conhecimento, foram e são mulheres, crianças e avós.”

John McDougall, médico especialista em nutrição e autor do livro “The Starch Solution”, no documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski.





Written by David Arioch

July 25th, 2017 at 6:06 pm

Como trocar a faca pelo garfo

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Documentário mostra como a dieta vegetariana tem transformado vidas

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, Forks Over Knives segue na mesma linha de documentários como Super Size Me (Arte: Divulgação)

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, Forks Over Knives surpreende pela riqueza de informações (Arte: Divulgação)

Lançado em 2011, Forks Over Knives, conhecido no Brasil como Troque a Faca pelo Garfo, é um documentário contundente e muito bem embasado, produzido pelo jornalista estadunidense Lee Fulkerson. Na obra, o espectador é convidado a conhecer as grandes transformações que uma dieta vegetariana proporcionou na vida de muitas pessoas com doenças graves, algumas até mesmo desenganadas pelos médicos. E mais, mostra como a indústria de produtos de origem animal é capaz de manipular a política a seu favor, atribuindo a esses alimentos qualidades que fazem a população acreditar que eles são insubstituíveis, quando na realidade não são.

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, inspirado em Hipócrates, Forks Over Knives segue na mesma linha intimista de documentários como Super Size Me, de 2004, ou seja, um filme em que o realizador participa como personagem. Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde em decorrência de seus maus hábitos alimentares. Como muitos ocidentais, tem uma alimentação rica em produtos industrializados – principalmente carboidratos ruins, carnes e laticínios.

Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde

Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde (Foto: Divulgação)

Com o iminente risco de contrair doença arterial coronariana, o jornalista aceita o desafio de participar de um programa de reeducação alimentar baseado em uma dieta vegetariana. Em um mês, ele começa a perceber mudanças positivas. O mesmo acontece com muitas outras pessoas que participam do desafio proposto por profissionais como o cientista e bioquímico P.H.D. em nutrição T. Colin Campbell, o cardiologista Caldwell Esselstyn e o médico John McDougall, profissionais que se tornaram grandes autoridades do assunto nos Estados Unidos.

Para endossar os benefícios da dieta vegetariana, o documentário apresenta pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Ásia, trazendo informações alarmantes sobre a relação entre doenças e o grande consumo de carne e laticínios. Talvez um dos casos mais emblemáticos dos benefícios da dieta vegetariana seja o de uma atleta que após os 40 anos descobriu que tinha câncer de mama estado em avançado, atingindo os ossos e os pulmões.

Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa (Foto: Divulgação)

Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa (Foto: Divulgação)

Sem se deixar abater, ela adotou a dieta vegetariana e continuou praticando atividades físicas com a mesma intensidade, até que o câncer desapareceu, sem recidiva mesmo após décadas. Outros grandes exemplos são de homens e mulheres que se livraram do diabetes e de outras doenças que exigiam consumo regular de medicamentos. E tudo isso porque encontraram na dieta vegetariana a quantidade necessária de macro e micronutrientes que precisavam para ter uma vida realmente saudável.

Questionado sobre a deficiência de proteínas na alimentação vegetariana, Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa. A economia gerada pelo não consumo de produtos industrializados, carboidratos de baixa qualidade, carnes e laticínios também é outro ponto a se considerar, já que quem segue esse tipo de dieta acaba investindo em mais diversidade de alta qualidade.

Como trocar a faca pelo garfo - 04

Esselstyn, um cardiologista que acredita que a alimentação vegetariana é mais poderosa que qualquer remédio (Foto: Divulgação)

Forks Over Knives desvela que a chamada dieta ocidental, rica em carboidratos ruins e grandes quantidades de carnes e lácteos também invadiu a Ásia no período pós-moderno. Enquanto as populações das pequenas cidades e vilarejos preservavam os mesmos hábitos por gerações, os moradores dos grandes centros urbanos foram seduzidos pela praticidade do fast food e pelos excessos no consumo de carne e laticínios.

Através de pesquisa, T. Colin Campbell e outros pesquisadores descobriram que muitos chineses que seguiam uma dieta vegetariana continuavam totalmente saudáveis após os 90 anos. Surpreendente também é o depoimento do homem que possuía 27 problemas de saúde e após adotar o vegetarianismo conseguiu eliminar 26.

O triatleta Rip Esselstyn, inspirado pelo pai, mudou a vida dos bombeiros de um batalhão do Texas depois que entrou para a corporação. E tudo isso sem qualquer imposição, somente mostrando os benefícios práticos do vegetarianismo na vida de colegas de trabalho com altos níveis de mau colesterol. Logo todos concordaram com a inclusão de um cardápio vegetariano. Outros atletas, incluindo um boxeador, também dão depoimentos endossando os benefícios desse estilo de vida. Citam melhor rendimento, melhor recuperação, mais disposição e refutam a afirmação de que há deficiência proteica na alimentação.

Revelador também é o fato de que T. Colin Campbell perdeu espaço em uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos por causa do seu posicionamento. A instituição sofreu pressão de uma multinacional do ramo de laticínios e eles optaram por dispensar o cientista. A falácia de que o leite é o alimento mais rico em cálcio é apontada por Campbell como um fator cultural que atravessa décadas e justamente porque as grandes indústrias tiveram sucesso em disseminá-la.

Forks Over Knives prova que direta ou indiretamente os maiores produtores de carnes e lácteos controlam até mesmo o que a população consome nas escolas, em repartições públicas e nas empresas. Ou seja, a influência da indústria é tão grande que foi legitimada como se fosse uma prática aceitável, em prol de um bem maior.

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