David Arioch – Jornalismo Cultural

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O cardiologista de 103 anos que se tornou vegetariano há 53 anos

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“Quando eu estava praticando a medicina, eu dizia aos pacientes que a dieta baseada em vegetais é o caminho mais saudável”

“Sugeri manterem-se afastados de produtos de origem animal o tanto quanto possível” (Foto: Reprodução)

Em outubro, o cardiologista Ellsworth Wareham completa 104 anos. Ele dorme de oito a nove horas por noite, acorda às cinco da manhã e inicia o dia comendo cereais integrais com leite de amêndoas. Mais tarde, faz exercícios, cuida do jardim e passa o resto do dia com a família.

Essa tem sido a rotina do médico que se aposentou aos 95 anos. E como ele ainda consegue ser tão ativo e saudável? “Não consumo nada de origem animal” – é a resposta de Ellsworth Wareham que mora em uma pequena cidade onde as pessoas têm uma expectativa de vida bem superior à média mundial.

Em Loma Linda, na Califórnia, não é difícil encontrar vegetarianos, inclusive, o maior mercado da cidade não comercializa nenhum tipo de carne. Além disso, também baniram o fumo, e o índice de comercialização e consumo anual de álcool está entre os mais baixos dos Estados Unidos.

É nesse cenário com uma população predominantemente adventista que podemos encontrar o centenário Wareham, que vive em uma casa de dois andares, onde não demonstra nenhuma dificuldade em subir a escada. Também é o médico aposentado que cuida do próprio jardim, um exercício que o permite se sentir mais próximo da natureza.

Com boa saúde e clareza mental exemplar, ele credita todos esses benefícios a uma decisão que tomou há quase 53 anos – banir todos os alimentos de origem animal da sua alimentação. À época, Ellsworth Wareham teve contato com uma pesquisa científica realizada pela Cleveland Clinic, que associou o consumo de proteínas de origem animal com a elevação do colesterol e o aumento do risco de se contrair doenças cardíacas. O ideal, segundo a pesquisa, seria a adoção de uma dieta vegetariana estrita e com baixo teor de gordura.

“Quando eu estava praticando a medicina, eu dizia aos pacientes que a dieta baseada em vegetais é o caminho mais saudável. Sugeri manterem-se afastados de produtos de origem animal o tanto quanto possível. Você pode falar sobre exercícios de relaxamento, atitude mental positiva e as pessoas vão aceitar. Mas se você falar sobre o que estão comendo, elas se mostram muito sensíveis sobre isso. Se um indivíduo estiver disposto a ouvir, tentarei explicar com base científica o que acho melhor para ele”, declara.

Wareham reconhece que a realidade de uma parcela bem significativa da população dos Estados Unidos é bem diferente da sua. Segundo o médico, um terço da população dos Estados Unidos vai morrer em decorrência de doença coronariana, e tendo como agravante o consumo excessivo de alimentos de origem animal. “Se você puder evitar isso, vale a pena”, sugere com a experiência de quem trabalhou no Loma Linda University Medical Center, considerado um dos melhores hospitais de tratamento de doenças cardíacas dos EUA.

Saiba Mais

Nascido em 3 de outubro de 1914, o médico Ellsworth Wareham, que também é ex-veterano de guerra, realizou uma das primeiras cirurgias de coração aberto dos Estados Unidos.

Ele orientou residentes da Universidade Loma Linda até os 95 anos.

Referências

http://www.collective-evolution.com/2015/05/04/100-year-old-vegan-heart-surgeon-retired-at-95-heres-why-hes-been-a-vegan-for-50-years/

http://www.foxnews.com/health/2014/12/16/100-year-old-surgeon-wwii-vet-who-retired-at-age-5-shares-secrets-to-longevity.html

This 100-year-old Retired Surgeon Says ‘Vegan Diet’ is Key to Longevity

 





Written by David Arioch

May 28th, 2018 at 9:35 pm

O médico que não prescrevia remédios

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Ele me ajudou com a minha rinite alérgica sugerindo mudança nos hábitos alimentares

Na minha infância, me consultei com um otorrinolaringologista que não acreditava muito na indústria farmacêutica. Todo o trabalho dele era voltado para a nutrição. As pessoas o achavam esquisito porque em vez da sua clínica ser um ambiente branco, como a maioria das clínicas, era colorida. E havia plantas por todos os lados.

Na porta do seu consultório tinha uma frase de Hipócrates: “Que o seu alimento seja o seu remédio, e que o seu remédio seja o seu alimento.” Me recordo que muita gente falava mal dele. Eu era criança, então não entendia o motivo disso, mas o achava incrível.

Soube que ele teve bastante contato com a medicina oriental e estudava mais sobre a medicina antiga do que a contemporânea. Ele nem mesmo usava roupa branca. O chamavam de louco, charlatão, mas foi ele que me ensinou a lidar com a minha rinite alérgica quando eu era criança, depois de passar por cinco médicos da área.

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Written by David Arioch

July 23rd, 2017 at 9:11 pm

O cardiologista de 102 anos que se tornou vegano há 52 anos

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“Quando eu estava praticando a medicina, eu dizia aos pacientes que a dieta baseada em vegetais é o caminho mais saudável”

Aos 102 anos, o cardiologista ainda cuida do próprio jardim (Foto: Patrick Strattner)

Aos 102 anos, o cardiologista Ellsworth Wareham dorme de oito a nove horas por noite, acorda às cinco da manhã e inicia o dia comendo cereais integrais com leite de amêndoas. Mais tarde, faz exercícios, cuida do jardim e passa o resto do dia com a família.

Essa tem sido a rotina do médico que se aposentou aos 95 anos. E como ele ainda consegue ser tão ativo e saudável? “Não consumo nada de origem animal” – é a resposta de Ellsworth Wareham que mora em uma pequena cidade onde as pessoas vivem mais do que a maioria da população ocidental.

Em Loma Linda, na Califórnia, não é difícil encontrar vegetarianos, inclusive, o maior mercado da cidade não comercializa nenhum tipo de carne. Além disso, também baniram o fumo, e o índice de comercialização e consumo anual de álcool está entre os mais baixos dos Estados Unidos.

É nesse cenário com uma população predominantemente adventista que podemos encontrar o vegano centenário Wareham, que vive em uma casa de dois andares, onde não demonstra nenhuma dificuldade em subir a escada. Também é o médico aposentado que cuida do próprio jardim, um exercício que o permite se sentir mais próximo da natureza.

Com boa saúde e clareza mental exemplar, ele credita todos esses benefícios a uma decisão que tomou há quase 53 anos – banir todos os alimentos de origem animal da sua alimentação. À época, Ellsworth Wareham teve contato com uma pesquisa científica realizada pela Cleveland Clinic, revelando como o consumo de proteínas de origem animal elevam o colesterol e ajudam a aumentar o risco de se contrair doenças cardíacas. A solução segundo a pesquisa, seria a adoção de uma dieta vegetariana estrita e com baixo teor de gordura.

“Quando eu estava praticando a medicina, eu dizia aos pacientes que a dieta baseada em vegetais é o caminho mais saudável. Sugeri manterem-se afastados de produtos de origem animal o tanto quanto possível. Você pode falar sobre exercícios de relaxamento, atitude mental positiva e as pessoas vão aceitar. Mas se você falar sobre o que estão comendo, elas se mostram muito sensíveis sobre isso. Se um indivíduo estiver disposto a ouvir, tentarei explicar com base científica o que acho melhor para ele”, declara.

Não me preocuparia nem em fazer um eletrocardiograma se eu tivesse uma dor no peito (Foto: Jarty)

O nível de colesterol de Wareham há muito tempo se estabilizou em 117, o que significa que ele está muito bem. “Não me preocuparia nem em fazer um eletrocardiograma se eu tivesse uma dor no peito. Se o seu colesterol for inferior a 150, sua chance de sofrer um ataque cardíaco é muito baixa”, afirma.

Por outro lado, a sua realidade não é tão comum quanto deveria. Segundo o médico, um terço da população dos Estados Unidos vai morrer em decorrência de doença coronariana, e tendo como agravante o consumo excessivo de alimentos de origem animal. “Se você puder evitar isso, vale a pena”, sugere com a experiência de quem trabalhou no Loma Linda University Medical Center, considerado um dos melhores hospitais de tratamento de doenças cardíacas dos EUA.

Saiba Mais

Nascido em 3 de outubro de 1914, o médico Ellsworth Wareham, que também é ex-veterano de guerra, realizou uma das primeiras cirurgias de coração aberto dos Estados Unidos.

Ele orientou residentes da Universidade Loma Linda até os 95 anos.

Referências

http://www.collective-evolution.com/2015/05/04/100-year-old-vegan-heart-surgeon-retired-at-95-heres-why-hes-been-a-vegan-for-50-years/

http://www.foxnews.com/health/2014/12/16/100-year-old-surgeon-wwii-vet-who-retired-at-age-5-shares-secrets-to-longevity.html

This 100-year-old Retired Surgeon Says ‘Vegan Diet’ is Key to Longevity

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Written by David Arioch

March 31st, 2017 at 12:43 pm

A tontura e a barba

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Na quarta-feira, sentindo um pouco de tontura, me consultei com um bom médico. Na quinta-feira, retornei para apresentar os resultados dos exames. Ele leu tudo e disse que aparentemente estou bem, embora tenha sugerido a realização de outros exames mais específicos. Antes de eu me despedir, ele perguntou: “Tem certeza que essa tontura não é por causa do peso da sua barba?”

Written by David Arioch

January 16th, 2017 at 2:07 pm

O peso da sua barba

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Na quarta-feira, sentindo um pouco de tontura, me consultei com um bom médico. Na quinta-feira, retornei para apresentar os resultados dos exames. Ele leu tudo e disse que aparentemente estou bem, embora tenha sugerido a realização de outros exames mais específicos. Antes de eu me despedir, ele perguntou: “Tem certeza que essa tontura não é por causa do peso da sua barba?”

Written by David Arioch

January 8th, 2017 at 11:59 pm

Amílcar de Sousa: “A carne não é o alimento do homem”

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“A maior parte da gente […] se visse morrer os animais, não se banquetearia com tão grande gáudio…”

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Amílcar de Sousa fundou a Sociedade Vegetariana de Portugal em 1908 (Foto: Reprodução)

Foi em 1908 que o médico Amílcar Augusto Queirós de Sousa, defensor do vegetarianismo, fundou na Avenida Rodrigues de Freitas, na cidade do Porto, a Sociedade Vegetariana de Portugal. No ano seguinte, Sousa inaugurou a revista “O Vegetariano”, periódico mensal que circulou até 1918 e teve boa repercussão na Europa e no Brasil.

Especialista em dietética e nutrição, Amílcar escreveu que da velha confusão de teorias médicas, da grande época obscura do empirismo, como um dogma da ciência de então, uma forma errónea e cheia de preconceito, como se fora um mandado religioso e por isso mesmo eivado de má fé, surgiu com esta frase perturbante: o homem é omnívoro. Como à boca se pode levar tudo que queira, daí resultou essa monstruosidade deturpante da humanidade. Tal reflexão consta na página 45 da 4ª edição da revista “O Vegetariano”, publicada em 1912.  À época, Sousa já realizava conferências e palestras em defesa do vegetarianismo.

No livro “As Hortaliças na Medicina Natural”, lançado em 1992, Alfons Balbach e Daniel S.F. Boarim narram que Amílcar de Sousa foi um grande apologista do regime frugívoro: não só ele, como toda a família, só se alimentavam de frutas. “Na sua revista intitulada ‘O Vegetarianismo’ tem feito propaganda das mais inteligentes e proveitosas em favor deste regime, e o número de adeptos que conseguiu converter ao regime frugívoro orça por muitas centenas em tempo relativamente curto”, registraram.

Na obra “O Livro Negro do Açúcar – Algumas Verdades Sobre a Indústria da Doença”, de 2006, Fernando Carvalho observa que Amílcar de Sousa, um médico do século XIX, estava melhor informado do que seus colegas da atualidade. “Desde a forma dos dentes à capacidade do estômago e às dimensões do intestino, como dados anatómicos em referência à comparação da série animal de que o homem é primaz – tudo demonstra que o gênero humano não é omnívoro. A dentadura é semelhante à dos símios antropoides que se alimentam de frutos; e se os obrigarmos a serem carnívoros, imediatamente estigmas de degenerescência se notam, doenças de pele, a queda dos pelos, o reumático e outras manifestações de artritismo”, argumenta Sousa no artigo “O Homem é Frugívoro”, de 1912.

Em setembro do mesmo ano, o médico publicou “O Caldo de Carne”. No artigo da revista “O Vegetariano”, ele afirma que a carne não é o alimento do homem. Se fosse, o ser humano deveria ter condições de matar os animais com mãos e garras, triturando os ossos ou lacerando os músculos ainda quentes com os dentes, assim como faz a hiena. “Desprovido de armas cortantes e do artifício da culinária, o homem não pode utilizar-se da carne nem do peixe”, justifica.

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Periódico em que Sousa divulgava suas ideias e descobertas em relação ao vegetarianismo (Foto: Reprodução)

Segundo o médico português, para uma consciência límpida e um espírito moral, ver morrer um boi é um espetáculo canibalesco e incompatível com a humanidade. “Assistir ao assassinato dum cordeiro é, sem dúvida, barbaridade infame. Queremos acreditar que a maior parte da gente que bebe às colheres a sopa, ou corta com a faca um pedaço de vaca, se visse morrer os animais, não se banquetearia com tão grande gáudio…”, defendeu no artigo “Caldo de Carne”.

Um homem revolucionário, Amílcar de Sousa é considerado pela Associação Vegetariana Portuguesa (AVP) o maior impulsionador do vegetarianismo e do naturismo em Portugal. “Ele conseguiu mobilizar outros médicos e personalidades da burguesia para o estilo de vida natural e saudável”, reconhecem Gabriela Oliveira e Nuno Metello no artigo “Vegetarianos há mais de um século”, publicado no semanário português SOL em 2011.

Em 1923, Sousa publicou a novela naturista “Redenção”, que aborda a importância da proximidade do ser humano com a natureza. Na obra, ele defende uma consciência ética universal, em que os animais têm assegurado o direito de não serem mortos simplesmente para atender maus hábitos culturais e alimentares da humanidade.

“Mas por que é que estas ideias [do vegetarianismo] não as tem defendido a classe médica? É simples a resposta. É que não há pílulas de sol, nem injecções de exercício, nem tão pouco vacinas de ar… e é preciso viver dos doentes. O médico do futuro é só aquele que nada receitar. Ensinem os doentes a viverem conforme a natureza e os sãos a não se desviarem dela. O medicamento fez já as suas provas. São negativas”, declarou na revista “O Vegetariano” em abril de 1912.

Segundo Amílcar de Souza, o melhor que os pais podem deixar aos filhos é a saúde. Portanto, para que os filhos não tenham doenças, o ideal é ensiná-los a seguir um regime natural, valorizar a vida ao ar livre e praticar exercícios regulares. “A alimentação humana tem sido desvirtuada pelo preconceito. [O leite] não é alimento do homem, mas sim dos filhos das vacas, dos cabritos, dos jumentos etc., antes de terem dentes para comer as ervas dos montes e prados! […] A velha fábula de Prometeu que roubou o fogo do céu para comer os cadáveres dos animais cozinhados, eis a base em que assenta toda a errónea conduta da humanidade”, enfatizou em publicação da revista “O Vegetariano” de 5 de julho de 1912.

O pioneiro do vegetarianismo português

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Maria Feio: “[Amílcar de Sousa] Dispõe de uma resistência hercúlea. Caminha dezenas de quilómetros a pé sem a menor fadiga” (Foto: Reprodução)

Amílcar Augusto Queirós de Sousa nasceu em Cheires, Alijó, em 1876. Graduou-se em medicina pela Universidade de Coimbra. Mais tarde, em Paris, estudou a relação entre a nutrição e as doenças. Considerado o pioneiro do vegetarianismo português, correspondeu-se com outras personalidades que advogavam em defesa do vegetarianismo. Entre os quais, o famoso médico estadunidense John Harvey Kellogg, o naturalista alemão Ernst Haeckel e o médico francês Paul Carton. Pacifista, também criticou Primeira Guerra Mundial. “Dispõe de uma resistência hercúlea. Caminha dezenas de quilómetros a pé sem a menor fadiga”, escreveu Maria Feio sobre Amílcar de Sousa.

Obras publicadas por Amílcar de Sousa

“O Naturismo”, “A Saúde pelo Naturismo”, “A Cura da Prisão do Ventre”, “A Redenção”, “Arte de Viver”, “Banhos de Sol” e “O Naturismo em Vinte Lições”.

Saiba Mais

Amílcar de Sousa era amigo do poeta brasileiro e também defensor do vegetarianismo Carlos Dias Fernandes, com quem se correspondia frequentemente.

Adepto do pedestrianismo, o médico chegou a viajar de Lisboa a Sines a pé, percorrendo mais de 160 quilômetros. Além disso, gostava de caminhar descalço. Faleceu na cidade do Porto em 1940.

Sousa considerava Pitágoras o maior filósofo da história da humanidade. Para ele, Jean-Jacques Rousseau, que defendia a importância do contato das crianças com a natureza, era o melhor educador.

Referências

O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado – Volumes I a IV. Sociedade Vegetariana de Portugal (1912).

Boarim, Daniel S.F.; Balbach, Alfons. As Hortaliças na Medicina Natural (1992).

Oliveira, Gabriela; Metello, Nuno. Vegetarianos há mais de um século. Semanário SOL. Páginas 40 e 41 (30 de setembro de 2011). Disponível em http://www.avp.org.pt/notiacutecias/vegetarianos-h-mais-de-um-sculo

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Editorial Enciclopédia. Volume 29. Página 761.

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“Meu objetivo era fazer com que as famílias se fixassem aqui”

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Otávio Marques de Siqueira veio a Paranavaí por recomendação do major Fernando Flores

Antigo Hospital do Estado foi fundado por Siqueira (Foto: Reprodução)

O médico gaúcho Otávio Marques de Siqueira, responsável pela construção do Hospital Professor João Cândido Ferreira, onde é hoje a Praça da Xícara, se mudou para Paranavaí em 1949, a pedido do major Fernando Flores. Além de se responsabilizar pela saúde da população, Siqueira foi incumbido de convencer os migrantes a fixarem residência em Paranavaí e não em Alto Paraná.

Otávio Marques de Siqueira veio a Paranavaí pela primeira vez no tempo da Fazenda Brasileira, em 1941, após participar da inauguração da primeira balsa do Porto São José, um recurso que intensificaria as relações entre Paraná e Mato Grosso. Em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás, Siqueira relatou que naquele ano quando chegou à Brasileira se deparou com um imenso vazio. “Não havia nada por aqui, só quiçaça e capoeira”, afirmou o pioneiro gaúcho que chegou ao povoado por meio da única estrada que existia à época, reaberta pelo Capitão Telmo Ribeiro em 1939.

Siqueira conheceu em Londrina o diretor da 4ª Inspetoria de Terras do Estado, Francisco de Almeida Faria, que lhe mostrou um mapa retangular de Paranavaí. “Ele olhou com o jeitão dele e falou: ‘Isto está muito monótono’, então traçou duas diagonais no mapa e saiu duas avenidas, uma era a Paraná”, enfatizou o médico que teve os primeiros contatos com o cotidiano da colônia em 1945, mas se mudou para Paranavaí em 1949, a convite do major Fernando Flores que em Londrina lhe falou sobre a necessidade de se construir um hospital em Paranavaí.

“Antes de vir pra cá, eu exercia o cargo de diretor da Santa Casa de Londrina”, destacou Siqueira que coordenou a construção do extinto Hospital Professor João Cândido Ferreira, o Hospital do Estado, em área onde está atualmente a Praça Dr. Sinval Reis, conhecida como Praça da Xícara. Após a inauguração, o pioneiro assumiu o cargo de diretor do hospital. “O Dr. Siqueira era um médico muito bom”, comentou o pioneiro gaúcho Severino Colombelli, acrescentando que Otávio Marques salvou muitas vidas.

Siqueira não veio a Paranavaí apenas para atuar como médico. “Meu objetivo era fazer com que as famílias se fixassem aqui e não em Alto Paraná”, revelou. Pioneiros lembram que esse tipo de missão era muito comum, pois todos aqueles que vinham ao povoado para assumir alguma liderança também tinham o papel de atrair novos moradores. A publicidade mais apregoada em Paranavaí era a de que cada propriedade valeria até cem vezes mais no futuro. Porém, muitos diziam que isso não passava de utopia.

A colônia era um local tranquilo em 1949, quando os principais pontos comerciais pertenciam a Carlos Faber, Severino Colombelli, Luiz Ambrósio e José Francisco, irmão de Natal Francisco, segundo o médico que nunca se esqueceu da vez em que pioneiros pegaram uma jaguatirica nas imediações do antigo Cine Ouro Branco.

Em 1950, o desenvolvimento local chamou a atenção do governador Moisés Lupion que enviou a Paranavaí um funcionário encarregado de vender imóveis. “Deu liberdade para que ele fizesse o que bem entendesse, desde que atraísse pessoas com muito dinheiro”, pontuou Siqueira. Logo surgiu uma onda de assassinatos motivados pela posse de terras. De acordo com o médico, as propriedades eram tomadas na marra. “Eu não me preocupei, nem me meti nisso”, declarou.

Saiba Mais

Otávio Marques de Siqueira nasceu em 18 de julho de 1914 em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.