David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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“Brasil: Nunca Mais”, um livro que não deve ser esquecido

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O livro “Brasil: Nunca Mais” foi lançado em 1985 por dom Paulo Evaristo Arns, quinto arcebispo de São Paulo, e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright. A obra é baseada em informações coletadas em mais de um milhão de páginas de 707 processos do Superior Tribunal Militar. E a partir daí, dom Paulo Evaristo, o reverendo Wright e mais 30 pesquisadores mostram a dimensão da repressão política no Brasil dos tempos da ditadura militar.

No livro, é apresentado como funcionavam as agências de investigação, quem eram os principais perseguidos, como eram feitas as prisões e expõe as técnicas de tortura contra presos políticos. Há dados reveladores sobre violência física e psicológica aplicada contra crianças e gestantes. “Brasil: Nunca Mais” foi a primeira obra a denunciar essas práticas.

Entre os principais colaboradores do projeto estavam os advogados Eny Raimundo Moreira, Luiz Eduardo Greenhalgh, Luís Carlos Sigmaringa Seixas e Mário Simas, os jornalistas Paulo Vannuchi e Ricardo Kotscho, além de Frei Betto, a socióloga Vânya Santana e a historiadora Ana Maria de Almeida Camargo. Durante o processo de produção do livro, a equipe teve de mudar de local várias vezes por medidas de segurança. A obra informa que a tortura no Brasil durante o período da ditadura militar foi colocada em prática por 444 torturadores.

No prefácio do livro, dom Paulo Evaristo diz que a tortura é o meio mais inadequado para levar-nos a descobrir a verdade e chegar à paz: “É com penitências, pois, que encaramos este livro. Ele não pretende ser meramente uma acusação, mas sim um convite para que todos nós reconheçamos nossa verdadeira identidade através das faces desfiguradas dos torturados e dos torturadores.”

Minerva Foods: maus-tratos contra animais, pagamento de propina, exportação de carne contaminada e trabalho escravo

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Há inúmeras denúncias registradas nos últimos anos contra a Minerva Foods (Imagens: Reprodução)

No último domingo, a empresa alimentícia Minerva Foods conseguiu garantir que os mais de 25 mil bois a bordo do Navio Nada seguissem viagem até a Turquia, onde serão mortos sob os preceitos do abate halal. Tal conquista foi possível por intervenção do deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e do ministro da agricultura Blairo Maggi (PP-MT) que recorreram à Advocacia-Geral da União, ou seja, um órgão público, para intervir em benefício da Minerva Foods, uma empresa privada responsável pela exportação dos animais. Com isso, derrubaram a liminar no Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) que impedia o embarque desses animais depois de comprovadas más condições, maus-tratos e danos ambientais em desacordo com a legislação sanitária.

Sobre a decisão favorável à Minerva Foods foi justificado que o Navio Nada estava em condições de seguir viagem para a Turquia. A defesa da empresa também argumentou que o Ministério da Agricultura realizou inspeção no Nada e não identificou qualquer problema que ratificasse o impedimento da viagem. Porém, surpreendente seria se o Ministério da Agricultura emitisse um parecer contrário, levando em conta que o próprio órgão foi usado em benefício da Minerva Foods, já que o ministro da agricultura Blairo Maggi recorreu à AGU para conseguir derrubar a liminar, de acordo com informações do Jornal Valor Econômico.

Ou seja, além do uso de uma plataforma que deveria servir em primeiro lugar aos interesses da população, e nela estão inclusos ativistas que se manifestaram contra o embarque dos animais, houve uma clara desconsideração em relação aos laudos veterinários – disponíveis na internet, que comprovaram violência e negligência em relação aos animais; além, claro, de testemunhos registrados por outras pessoas que acompanharam de perto a situação dos bovinos. À Minerva Foods, coube não mais do que pagar uma multa.

Outro ponto a se considerar é que o Navio Nada, que conta com 12 andares, e alegadamente oferece todo o “conforto” necessário aos mais de 25 mil bois, possui um moedor para descarte de animais que não resistem à viagem. Sendo assim, se tal recurso é utilizado, claramente há uma indução de que não há garantias de “bem-estar”. Ou seja, alguns ou muitos animais morrerão antes de chegarem ao destino, que também é a morte – sem insensibilização e por degola, o que significa que o sofrimento desses animais só terminará quando deixarem de respirar.

Além disso, o que chama a atenção nessa decisão favorável à Minerva Foods, é que não estamos falando de uma empresa acima de qualquer suspeita, mas sim de uma daquelas que foram investigadas na Operação Carne Fraca, comandada pela Polícia Federal no ano passado. E que surpreendentemente alcançou bastante visibilidade depois que a JBS/Friboi perdeu grande espaço no mercado, assim favorecendo o crescimento da Minerva Foods, de Barretos, interior paulista, que chegou ao mercado em 1992. Hoje a empresa já é vista como a maior força do mercado brasileiro de proteína de origem animal. E nessa trajetória, já teve seu nome associado a pagamentos de propina, exportação de carne contaminada e exploração de mão de obra análoga ao trabalho escravo.

Em um documento emitido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 30 de agosto de 2017, e assinado pelo juiz federal João Paulo Massami Lameu Abe, consta na página 11 que Edvair Vilela Queiroz e Hanilton de Souza Moraes, sócios da Minerva Foods, realizaram entre os anos de 2010 e 2016 o pagamento mensal de R$ 6 mil a Dagoberto Machado Prata, funcionário da Superintendência Federal de Agricultura do Estado do Tocantins. O pagamento era feito sistematicamente para liberar a Minerva Foods da “intensidade da fiscalização”. Além do dinheiro, a Minerva Foods presenteava Dagoberto com “kits” de carnes, derivados industrializados e despesas com combustível.

Episódio que também levantou suspeitas sobre as operações da Minerva Foods foram as exportações de carne registradas pela empresa em 2016, quando o Ministério da Saúde do Chile emitiu um alerta depois de identificar “lesões compatíveis com parasitoses” na carne comercializada pela Minerva Foods, o que resultou na suspensão da importação de carne da empresa.

Ademais, em novembro do ano passado, três caminhoneiros foram resgatados pela Polícia Militar de uma das unidades da Minerva Foods em Várzea Grande, no Mato Grosso. De acordo com informações da jornalista Cintia Borges, a PM identificou que os funcionários estavam atuando em condições análogas ao trabalho escravo. Também não contavam com alojamento e eram impedidos de deixar as dependências da empresa – o que foi caracterizado pela Polícia Militar como constrangimento ilegal, sequestro e cárcere privado.





 

O chamado “abate humanitário” não é um retrato tão comum da realidade brasileira

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A privação termina somente com a morte após uma curta vida de exploração

Imagem registrada pelo fotógrafo Piero Locatelli, da ONG Repórter Brasil

Em um país onde a quantidade de matadouros clandestinos pode chegar a 50% do total, é uma grande ilusão acreditar que a maior parte da produção de carne é resultado de práticas que se enquadram no chamado “abate humanitário”. Mesmo que se fale na crescente implementação dessa prática, é inegável que não são raros os casos de privação e sofrimento envolvendo animais criados com fins de abate.

A existência de muitos matadouros clandestinos e a omissão em relação à fiscalização são grandes facilitadores de terríveis abusos contra os animais. Além disso, o YouTube, a mídia alternativa e as redes sociais estão aí para apresentar provas de que o “abate humanitário” não é um retrato comum da realidade brasileira.

No Brasil, a Operação Carne Fraca, que em março denunciou que as gigantes JBS (Friboi, Seara e Big Frango) e BRF (Sadia e Perdigão) estavam mascarando carne vencida usando produtos químicos, levantou, mesmo que modestamente, uma discussão sobre o “abate humanitário”, prática ainda muito questionável pelo seu caráter subjetivo que não garante que o animal seja “bem tratado” antes de ser morto.

Há quem diga que essas “falhas” envolvendo o abate de animais ainda acontecem por causa da defasagem na Instrução Normativa Nº 03 de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que versa sobre o regulamento técnico de métodos de insensibilização para o “abate humanitário”. No artigo “Abate dito ‘humanitário’ e o que diz a legislação brasileira”, publicado pelo site Abolicionismo Animal, os autores Ana Karine Gurgel D’Ávila e Wesley Lyeverton Correia Ribeiro apontam que não há diferenciação nos limites máximos de tempo entre o atordoamento e a sangria para as várias espécies destinadas ao consumo humano.

Outra prova de displicência, e que corrobora que o “abate humanitário” não é uma realidade comum no Brasil, foi apresentada no ano passado pela ONG Repórter Brasil. Por meio de reportagens e vídeos, eles denunciaram que trabalhadores e animais são maltratados na indústria da carne com chutes, socos e pauladas.

Mostraram que as fazendas fornecedoras da JBS, que se define como a maior indústria de proteína do mundo, contradizem o marketing da empresa, não seguindo as recomendações do Ministério da Agricultura. Ou seja, se essa é a realidade que envolve os grandes produtores de carne, que operam de forma regularizada, o que acontece em matadouros clandestinos, conhecidos por métodos mais violentos de abate?

De acordo com José Rodolfo Ciocca, gerente de Campanhas HSA (Humane and Sustainable Agriculture) da World Animal Protection, no Brasil, frigoríficos que não atendem as normas de “abate humanitário” recebem um relatório de não-conformidade, e caso o problema persista, podem ser multados. Ou seja, animais podem morrer de forma violenta, e nem por isso alguém precisa pagar alguma multa caso não haja reincidência.

A situação não melhora quando o assunto são os matadouros municipais e estaduais, porque apenas matadouros privados precisam seguir um programa de autocontrole. Além disso, qualquer punição depende de um inspetor que, em 80% dos casos, nunca está presente, segundo Ciocca. E se houver interferência política quando um frigorífico for fechado, seja por operar irregularmente ou por torturar e ferir animais antes do abate, ele não recebe nenhum tipo de punição e ainda pode retomar as atividades, mesmo que o abate seja praticado a marretadas.

Em 2008, o artigo “A clandestinidade na produção de carne bovina no Brasil”, de autoria dos pesquisadores João Felippe Cury e Marinho Mathias, publicado pela Embrapa, informou que “várias estimativas de especialistas do setor apontam uma clandestinidade [de matadouros] que varia de 30% a 50%, sendo mais comum os dados próximos a 50%”.

Em 2013, a BeefPoint publicou um artigo mostrando que a situação ainda era a mesma. E no ano passado, esses números foram corroborados por outras denúncias. Em 12 de dezembro de 2016, a Folha Web publicou uma reportagem em que técnicos da Agência de Defesa Agropecuária do Estado de Roraima (Aderr) declararam que 100% das carnes de porco de Roraima são provenientes de matadouros clandestinos.

Em 23 de dezembro de 2016, o Canal Rural informou que somente em São Paulo há pelo menos quatro mil avícolas clandestinas, baseando-se em dados coletados pela Universidade de São Paulo (USP). E onde há clandestinidade, há falta de higiene e muita violência, já que para baratear os custos de produção os métodos de execução costumam ser os mais cruéis. Outro ponto a se considerar é que com “abate humanitário” ou não, a privação termina somente com a morte após uma curta vida de exploração.

Referências

http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/carne-fraca-perguntas-e-respostas-sobre-a-operacao-da-pf-nos-frigorificos.ghtml

http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/abateditohumanitrioeoquedizalegisla_obrasileira.pdf

http://colunas.revistaepoca.globo.com/planeta/2013/05/03/e-possivel-abater-um-animal-de-forma-humanizada/

https://seer.sede.embrapa.br/index.php/RPA/article/viewFile/424/375

http://www.canalrural.com.br/videos/jornal-da-pecuaria/aves-abatedouros-clandestinos-ameacam-saude-77047

http://www.folhabv.com.br/noticia/100–das-carnes-de-porco-vem-de-abatedouros-clandestinos–/23315

http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/alex-bastos-qual-a-verdadeira-porcentagem-de-clandestinidade-no-comercio-de-carne-bovina-menos-de-5-indiscutivelmente-nao-e-leitor-comenta/

Vida de gado

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The Herd, e se vacas fossem substituídas por mulheres?

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Curta-metragem de horror mostra como os animais são explorados em benefício dos seres humanos  

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Elas são violadas, obrigadas a fornecer até a exaustão o leite dos próprios seios (Foto: Divulgação)

Um filme que mistura horror e suspense, o curta-metragem The Herd (O Rebanho), da britânica Melanie Light, convida o espectador a conhecer a realidade de um grupo de mulheres em regime de servidão, confinadas como se fossem vacas. Em um ambiente sujo e soturno, onde a pouca luminosidade acentua o desespero das prisioneiras, elas são violadas, obrigadas a fornecer até a exaustão o leite dos próprios seios.

Em uma das cenas, assim que uma jovem dá à luz, o recém-nascido é afastado dela. Presa e impossibilitada de tocá-lo, é forçada a testemunhar a criança sendo lançada em uma lata de lixo como se fosse um objeto descartável. Afinal, o que eles querem dela é apenas o leite, nada mais.

Entre gemidos e gritos agonizantes, as vítimas são punidas com choques elétricos. Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia. Mas a situação começa a mudar quando um homem abre uma das gaiolas e é golpeado com um chute. Uma das mulheres consegue rendê-lo e o mata com uma facada certeira no pescoço.

Embrutecida pela própria condição, ela recobra o seu estado normal de consciência por um momento, quando entra em prantos ao ver o sujeito convulsionando. Depois prossegue sua jornada de retaliação e mata mais um verdugo asfixiado com uma corrente. Outra prisioneira comemora, mas sente-se desorientada quando recebe as chaves da própria gaiola, provavelmente por causa da perda da própria identidade.

Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia (Foto: Divulgação)

Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia (Foto: Divulgação)

Atravessando espaços macabros e insólitos, a fugitiva testemunha uma prisioneira sofrendo lobotomia. Em outra sala, ela observa mulheres agindo como zumbis, despersonalizadas pela condição degradante. Mais adiante, quando se aproxima de uma adolescente para confortá-la, é surpreendida e rendida por outro algoz, até que uma companheira o mata de forma violenta, numa ação retributiva.

E assim a represália continua. Nem mesmo a funcionária responsável por sedá-las escapa da punição. Cortam sua língua, a vestem como uma das prisioneiras e a confinam em uma das gaiolas. Ainda em fuga, elas se escondem quando um empresário é levado até um dos locais onde as vítimas são violentadas.

No final de The Herd, Melanie, que mostra como os animais são explorados pelas indústrias, apresenta a finalidade do leite extraído das mulheres. Todo o material coletado é usado na produção de um creme facial rejuvenescedor chamado Lactis Vitae, O Leite da Vida, que promete hidratar e melhorar a firmeza da pele, além de reduzir rugas.

Vegana, a cineasta interpreta como seria se os animais se rebelassem, e chama a atenção para que as pessoas reflitam sobre o preço a ser pago quando financiamos indústrias que exploram os animais. E para corroborar esse argumento, os minutos finais do filme são dedicados a exibição de cenas reais de bovinos sendo espancados, arrastados e enforcados por correntes.

The Herd foi escrito por Ed Pope e traz no elenco Pollyanna McIntosh, Victoria Broom, Charlotte Hunter, Dylan Barnes, Jon Campling, Francessca Fowler, Andrew Shim e Sarah Jane Honeywell. O filme foi eleito o melhor curta-metragem do Festival Boca do Inferno 2, realizado no Brasil em 2015. No mesmo ano, recebeu prêmios no British Horror Film Festival, Celluloid Screams, London Independent Film Festival, Sounderland Shorts e Russian Annual Horror Film.

O filme foi disponibilizado pela própria autora no Vimeo

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Patrimônios mundiais estão sob ameaça

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Machu Picchu e Grande Barreira de Corais estão ameaçadas (Fotos: Divulgação)

A Grande Barreira de Corais, na Austrália, e a cidade inca de Machu Picchu, no Peru, dois dos patrimônios naturais e culturais mais preciosos do mundo, estão sob ameaça de grandes atividades industriais. Esse é o alerta do Fundo Mundial da Natureza (WWF). A organização não governamental informou que metade dos 229 locais listados como Patrimônio Mundial estão ameaçados por atividades como desmatamento, pesca e exploração de petróleo.

Para mais informações, acesse: 

http://www.worldwildlife.org/

 

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