David Arioch – Jornalismo Cultural

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Mais um dos motivos que provam por que a legislação brasileira é tão chula

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Legislação brasileira é tão chula que multam empresa do ramo de exportação de “carga viva” que movimenta bilhões de reais em meses em R$ 1,5 milhão por maus-tratos. Multas deveriam ser devidamente proporcionais ao valor da “carga”, daí veríamos se a situação não mudaria um pouquinho. R$ 1,5 milhão não faz os Queiroz se esforçarem nem pra levantar a sobrancelha.





 

Written by David Arioch

February 17th, 2018 at 12:46 am

Deputado envolvido em exportação de gado vivo tem seu nome associado a trabalho escravo e sonegação de impostos

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Beto Mansur tem seu nome associado à várias práticas ilegais (Imagens: Reprodução)

O deputado federal Paulo Roberto Gomes Mansur (PRB-SP), mais conhecido como Beto Mansur, é um empresário do setor de comunicação e ruralista que se tornou ainda mais conhecido no cenário nacional depois que realizou uma suposta fiscalização no Navio Nada, contratado pela Minerva Foods para transportar em situação suspeita 27 mil bois para serem abatidos na Turquia.

Mesmo contrariando laudos anteriores apresentados por médicos veterinários e pela vigilância agropecuária, ele afirmou que os animais e as acomodações “estavam em boas condições”. Porém, fotos e vídeos que circulam pela internet contestam essa afirmação. Inclusive há testemunhos de ativistas, que protestaram contra o embarque dos animais, que acusam Beto Mansur de ter feito uma “maquiagem” para garantir que o navio seguisse viagem.

As denúncias, inclusive de maus-tratos, levantam suspeitas sobre as condições do transporte de “cargas vivas” para fora do Brasil, já que outras queixas surgiram bem antes, em dezembro de 2017, quando a Minerva Foods enviou 27 mil bezerros para a Turquia. De acordo com publicação da Revista Globo Rural do último dia 6, mais de 100 mil animais devem seguir o mesmo destino em breve, informação confirmada pelo ministro da Agricultura Blairo Maggi, que também é um dos responsáveis pela intervenção que garantiu à empresa alimentícia Minerva Foods o direito de despachar mais 27 mil bovinos para a Turquia na última semana.

A autorização também abriu um precedente para a derrubada de outra liminar, que proibia o transporte de cargas vivas em território nacional. Sendo assim, a exceção foi elevada à padrão com a medida da presidente do Tribunal Regional da 3ª Região, desembargadora federal Cecília Marcondes, favorável à exportação de “cargas vivas”. Ela justificou que essa proibição é inconsistente porque viola o indispensável e fundamental princípio da separação dos poderes, alegando que a uma série de atos normativos estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que garantem controle da qualidade, da segurança e do bem-estar dos envolvidos..

No entanto, o parecer favorável à exportação de animais vivos na realidade considerou apenas o aspecto econômico da atividade, e desconsiderou as inúmeras situações em que esses animais são privados do mínimo de “bem-estar”, endossado pelos laudos de maus-tratos e não conformidade sanitária, indo contra a Instrução Normativa nº 13 de 2010, que versa sobre exportação de ruminantes para o abate em condições “favoráveis” que não envolvam sofrimento ou restrições sanitárias.

Porém, se isso não é o suficiente, talvez seja relevante aos leitores saberem se os envolvidos na intervenção que está garantindo o andamento das exportações de animais vivos são pessoas de ilibada conduta. O deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), por exemplo, foi condenado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) no dia 3 de abril de 2014 por dano moral coletivo devido à exploração de trabalho análogo ao escravo e infantil em sua fazenda em Bonópolis, Goiás, conhecida como Fazenda Triângulo.

As investigações do TST revelaram que havia pessoas vivendo em barracões com coberturas de plástico preto e palha, sem banheiro e sem água potável. E mais recentemente, no dia 23 de janeiro deste ano, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou Mansur ao Supremo Tribunal Federal (STF) por sonegação do imposto de renda. Segundo Raquel, o deputado federal sonegou pelo menos R$ 796 mil na declaração de 2003.

Questionada sobre as implicações de um laudo inverídico elaborado por iniciativa, intervenção ou participação de um deputado federal, a juíza Rosana Navega, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), informa que o artigo 69 A da lei 9.605/98 tipifica essa prática como crime com pena de 3 a 6 anos de prisão; o que pode acarretar também condenação e inelegibilidade por oito anos em conformidade à lei complementar nº 135/2010, denominada “lei da ficha limpa”. “O artigo segundo da lei 9.605/98 enquadra no mesmo crime grave de laudos falsos todos aqueles que de qualquer forma concorrem para a prática dos crimes definidos por esta lei. Ou seja, quem encomendou o laudo também está enquadrado no crime, porque teve interesse no laudo falso, e concorreu para a prática do crime”, enfatiza a juíza.



 

Written by David Arioch

February 9th, 2018 at 5:32 pm

Minerva Foods: impacto ambiental, vazamento de amônia e demissão em massa

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Minerva Foods se envolveu em inúmeras tragédias e escândalos nos últimos anos (Imagens: Reprodução)

A empresa alimentícia Minerva Foods, responsável pelo envio de aproximadamente 54 mil bois à Turquia desde que o Porto de Santos voltou a realizar o transporte de animais para exportação em dezembro do ano passado, é apontada pela revista Globo Rural como a segunda maior exportadora de carne bovina do Brasil, e não é novidade para ninguém que com a queda da JBS/Friboi, a empresa pode se consolidar como a maior produtora de proteína animal do Brasil em 2018.

A Minerva Foods começou a chamar muita atenção no ano passado pelo grande volume de animais enviados para serem mortos e comercializados fora do Brasil, um negócio que há muito tempo é reprovado no mundo todo, e não apenas por defensores dos direitos animais, entidades de bem-estar animal e ambientalistas, mas também por profissionais de medicina veterinária e do setor de vigilância sanitária, que reconhecem que não há transporte de carga viva sem maus-tratos e impacto ambiental.

Normalmente os problemas incluem má acomodação, alimentação deficiente, incapacidade de movimentação e até mesmo casos de ações diretas de crueldade que culminam na morte do animal. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em uma viagem com 27 mil bois para a Turquia, por exemplo, é preciso trabalhar com uma margem de perda de pelo menos 10% dos animais, o que significa que até 2,7 mil bovinos poderão morrer antes de chegaram ao seu destino. E para o “descarte” desses animais, há sempre um moedor ou triturador nos “navios boiadeiros”.

Também de acordo com a Embrapa, um bovino criado para extração de carne produz em média de 30 a 35 quilos de esterco por dia. Sendo assim, em uma viagem marítima com 27 mil bois, e duração de 15 dias, esses animais podem produzir até 945 mil quilos de fezes e urina, e não raramente os dejetos são lançados ao mar, provocando grande impacto ambiental.

A flexibilização das multas e das leis em situações que envolvem exploração animal em pequena ou grande escala também favorece essas consequências. Na semana passada, por exemplo, mesmo após a constatação de irregularidades, a Secretaria de Meio Ambiente de Santos multou a Minerva Foods em pouco mais de R$ 1,4 milhão por inadequação no transporte de “carga viva”. Em síntese, maus-tratos contra animais. Sim, “carga viva” é o termo formal. Mesmo que se trate de vidas, os bovinos, como bens móveis, são qualificados apenas como “carga”. Essa multa, assim como outra de R$ 2 milhões emitida sob a causa de poluição atmosférica, não significou nada para a empresa, e nem poderia ser diferente.

Só no segundo trimestre de 2017, a Minerva Foods alcançou uma receita bruta de R$ 2,76 bilhões, segundo informações da Revista Globo Rural de outubro de 2017. E desde a queda da JBS/Friboi após a Operação Carne Fraca, a Minerva Foods estreitou ainda mais o seu relacionamento com a Bancada Ruralista na Câmara dos Deputados em Brasília, o que claramente levanta suspeitas sobre jogo de interesses e favorecimentos.

Uma grande prova disso foi a intervenção do deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e do ministro da agricultura Blairo Maggi (PP-MT) em favor da Minerva Foods, garantindo a liberação do Navio Nada com destino à Turquia, levando cerca de 27 mil bovinos. O resultado gerou surpresa e comoção porque até então tudo indicava que o Brasil em uma ação revolucionária, necessária e endossada legalmente já não toleraria mais o transporte de cargas vivas, que comprovadamente vai na contramão até mesmo da mais sutil compreensão do bem-estar animal.

No entanto, como o próprio ministro é um dos maiores representantes dos ruralistas no Brasil a sua atuação foi bastante previsível quando ele decidiu intervir em benefício do lucro e em detrimento dos milhares de animais no Navio Nada, mesmo depois de laudos comprovando maus-tratos e más condições de acomodação. E não bastando a liberação do navio, outra intervenção garantiu que a exportação de animais vivos em todo o território nacional voltasse a ser permitida. A liminar que proibia tal prática foi derrubada pelo desembargador do TRF-3 Fábio Prieto, sob a alegação de que isso “enseja “grave risco de lesão à agropecuária nacional”, o que desconsidera completamente a realidade dos animais e, mais uma vez, considera somente os lucros dos envolvidos, ou seja, interesses particulares em detrimento da vida e do meio ambiente.

O que também não pode ser desconsiderado nessa questão de exportação de bovinos, é que a Minerva Foods, que deve liderar as exportações de animais vivos no Brasil em 2018, esteve envolvida nos últimos anos em diversos escândalos, como vocês podem conferir no meu artigo “Minerva Foods: maus-tratos contra animais, pagamento de propina, exportação de carne contaminada e trabalho escravo”. E como se não bastasse, a empresa também é a responsável por uma tragédia registrada em 6 de outubro de 2015, quando o navio Haidar, com cinco mil bois vivos, tombou em um cais em Barcarena, no Nordeste do Pará, resultando na morte da maior parte dos animais. Segundo o prefeito de Barcarena, Antônio Carlos Vilaça, o navio da Minerva Foods deixou óleo em todas as praias do município, gerando grande impacto ambiental, e inviabilizando até mesmo o turismo.

Outra tragédia foi registrada em 31 de agosto de 2016, quando um vazamento de amônia no frigorífico Minerva Foods em Barretos, interior paulista, resultou na morte de uma pessoa e deixou 30 feridas. Porém, o primeiro episódio em que a empresa foi responsabilizada por um vazamento de amônia que feriu funcionários foi em 2012. Em 2013, a Justiça do Trabalho de Araraquara condenou a Minerva Foods a pagar R$ 200 mil por danos morais coletivos devido a irregularidades.

Segundo investigação do jornalista Marcelo Toledo, em publicação da Folha de S. Paulo de 31 de agosto de 2016: “A empresa, que também respondia a uma outra ação civil pública em Araraquara por não realizar o controle de vazamentos de amônia, firmou acordo judicial com o MPT em 2014, no valor de R$ 750 mil, para extinguir as ações.”

Argumento comum de quem defende a Minerva Foods no caso da exportação de bovinos vivos é o de que pessoas envolvidas na cadeia produtiva podem ser prejudicadas economicamente pelo impedimento na operacionalização de suas atividades. No entanto, essas pessoas desconsideram fatos que merecem ser considerados. Um exemplo é o de que a Minerva Foods também é conhecida por suas demissões em massa. Um dos casos mais emblemáticos foi registrado em Mirassol D’Oeste, No Mato Grosso, em 2015, quando o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação contra a empresa pela demissão de mil funcionários, ou seja, de todos os funcionários de uma de suas unidades.





 

Minerva Foods: maus-tratos contra animais, pagamento de propina, exportação de carne contaminada e trabalho escravo

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Há inúmeras denúncias registradas nos últimos anos contra a Minerva Foods (Imagens: Reprodução)

No último domingo, a empresa alimentícia Minerva Foods conseguiu garantir que os mais de 25 mil bois a bordo do Navio Nada seguissem viagem até a Turquia, onde serão mortos sob os preceitos do abate halal. Tal conquista foi possível por intervenção do deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e do ministro da agricultura Blairo Maggi (PP-MT) que recorreram à Advocacia-Geral da União, ou seja, um órgão público, para intervir em benefício da Minerva Foods, uma empresa privada responsável pela exportação dos animais. Com isso, derrubaram a liminar no Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) que impedia o embarque desses animais depois de comprovadas más condições, maus-tratos e danos ambientais em desacordo com a legislação sanitária.

Sobre a decisão favorável à Minerva Foods foi justificado que o Navio Nada estava em condições de seguir viagem para a Turquia. A defesa da empresa também argumentou que o Ministério da Agricultura realizou inspeção no Nada e não identificou qualquer problema que ratificasse o impedimento da viagem. Porém, surpreendente seria se o Ministério da Agricultura emitisse um parecer contrário, levando em conta que o próprio órgão foi usado em benefício da Minerva Foods, já que o ministro da agricultura Blairo Maggi recorreu à AGU para conseguir derrubar a liminar, de acordo com informações do Jornal Valor Econômico.

Ou seja, além do uso de uma plataforma que deveria servir em primeiro lugar aos interesses da população, e nela estão inclusos ativistas que se manifestaram contra o embarque dos animais, houve uma clara desconsideração em relação aos laudos veterinários – disponíveis na internet, que comprovaram violência e negligência em relação aos animais; além, claro, de testemunhos registrados por outras pessoas que acompanharam de perto a situação dos bovinos. À Minerva Foods, coube não mais do que pagar uma multa.

Outro ponto a se considerar é que o Navio Nada, que conta com 12 andares, e alegadamente oferece todo o “conforto” necessário aos mais de 25 mil bois, possui um moedor para descarte de animais que não resistem à viagem. Sendo assim, se tal recurso é utilizado, claramente há uma indução de que não há garantias de “bem-estar”. Ou seja, alguns ou muitos animais morrerão antes de chegarem ao destino, que também é a morte – sem insensibilização e por degola, o que significa que o sofrimento desses animais só terminará quando deixarem de respirar.

Além disso, o que chama a atenção nessa decisão favorável à Minerva Foods, é que não estamos falando de uma empresa acima de qualquer suspeita, mas sim de uma daquelas que foram investigadas na Operação Carne Fraca, comandada pela Polícia Federal no ano passado. E que surpreendentemente alcançou bastante visibilidade depois que a JBS/Friboi perdeu grande espaço no mercado, assim favorecendo o crescimento da Minerva Foods, de Barretos, interior paulista, que chegou ao mercado em 1992. Hoje a empresa já é vista como a maior força do mercado brasileiro de proteína de origem animal. E nessa trajetória, já teve seu nome associado a pagamentos de propina, exportação de carne contaminada e exploração de mão de obra análoga ao trabalho escravo.

Em um documento emitido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 30 de agosto de 2017, e assinado pelo juiz federal João Paulo Massami Lameu Abe, consta na página 11 que Edvair Vilela Queiroz e Hanilton de Souza Moraes, sócios da Minerva Foods, realizaram entre os anos de 2010 e 2016 o pagamento mensal de R$ 6 mil a Dagoberto Machado Prata, funcionário da Superintendência Federal de Agricultura do Estado do Tocantins. O pagamento era feito sistematicamente para liberar a Minerva Foods da “intensidade da fiscalização”. Além do dinheiro, a Minerva Foods presenteava Dagoberto com “kits” de carnes, derivados industrializados e despesas com combustível.

Episódio que também levantou suspeitas sobre as operações da Minerva Foods foram as exportações de carne registradas pela empresa em 2016, quando o Ministério da Saúde do Chile emitiu um alerta depois de identificar “lesões compatíveis com parasitoses” na carne comercializada pela Minerva Foods, o que resultou na suspensão da importação de carne da empresa.

Ademais, em novembro do ano passado, três caminhoneiros foram resgatados pela Polícia Militar de uma das unidades da Minerva Foods em Várzea Grande, no Mato Grosso. De acordo com informações da jornalista Cintia Borges, a PM identificou que os funcionários estavam atuando em condições análogas ao trabalho escravo. Também não contavam com alojamento e eram impedidos de deixar as dependências da empresa – o que foi caracterizado pela Polícia Militar como constrangimento ilegal, sequestro e cárcere privado.





 

De que adianta criticar a Bancada Ruralista enquanto você a financia?

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Foto: TV Tribuna/Reprodução

De que adianta uma pessoa criticar as mazelas da Bancada Ruralista e neste momento, diante da situação dos mais de 25 mil bois sofrendo em Santos, simplesmente não se importar? De que adianta você apontar o dedo para ruralistas que exploram mão de obra barata, humana e não humana, se você consome os produtos deles, logo financia o jogo político deles.

Você já pensou que esses caras que comandam a política brasileira, e não abrem espaço para o verdadeiro exercício da democracia, costumam injetar muita grana em suas campanhas, certo? E de onde você acha que vem esse dinheiro? Costumeiramente, de produtos que eles vendem e que compramos na nossa inocência ou ignorância. E muitos desses produtos já foram vidas. Ou seja, animais.

Então, sim, consumir produtos de origem animal muitas vezes significa de fato um aval para que esses sujeitos continuem se perpetuando no poder. Que tal começar a boicotar esses caras? Não apenas politicamente, mas economicamente. Se informe, não seja ignorante. É preciso fazer um mapeamento idôneo a respeito da vinculação econômica desses políticos.

Quais entidades e empresas eles representam ou possuem, de fato; que tipo de produto eles comercializam, entre outras coisas. Esse tipo de informação precisa ser disseminada com urgência. Necessitamos de um trabalho de boicote em proporções jamais vistas antes.





 

A má-fé da imprensa no caso do navio com mais de 25 mil bois

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Foto: TV Tribuna

Há poucas horas, o G1 publicou uma matéria com o seguinte título: “Impasse de navio com 25 mil bois no Porto de Santos gera ‘mais prejuízos’ aos animais”. No texto, há uma declaração de que “a demora para o prosseguimento da viagem e desembarque dos animais no destino, causa muito mais prejuízos do ponto de vista do bem-estar animal do que o que é atribuído pelas ONGs, e que gerou o impasse”.

Essa afirmação não condiz com a realidade, mas apenas com a intenção da Minerva Foods e do Ministério dos Transportes – ambos considerando apenas os lucros de transação. E lamentavelmente, isso mostra como o Estado atua indiscriminadamente em favor da indústria em detrimento de vidas. Fazem uso das manobras mais diversas para atraírem a atenção do público para o seu lado, nem que para isso seja necessário vilanizar ativistas, pessoas que voluntariamente lutam pelo verdadeiro bem-estar animal. Até porque não é difícil, valendo-me da realidade comum, concluir que quem investe na exploração de animais sempre terá como prioridade o lucro, e isso consequentemente eleva o retorno financeiro a uma posição de protagonismo que desconsidera sempre as especificidades e o real valor da vida animal.

Viagens de carreta já são desgastantes, ainda mais depois de um percurso de 500 quilômetros. Agora imagine ser enviado como “carga” em uma viagem de navio que pode durar até 20 dias. Além disso, é importante ponderar que eles sempre serão acondicionados extremamente próximos uns dos outros, e partilhando de um espaço bem reduzido e do mesmo sentimento de estranhamento. Imagine esses animais extremamente pesados, desembarcando na Turquia depois de tanto tempo sem espaço para se locomover adequadamente.

Isso é saudável? Qualquer animal condicionado, logo forçado a passar dias sem se movimentar, está sendo privado de sua natureza, já que corpos foram feitos para o movimento. Após mais de 17 anos, estamos vivendo um retrocesso. Este é o segundo embarque de cargas vivas com mais de 25 mil animais em um intervalo de menos de dois meses.

E quando falamos em bovinos não podemos esquecer que são animais precocemente afastados do convívio com os seus. Isso é justo? Viver para ser reduzido a pedaços de carne? Infelizmente é isso que financiamos quando nos alimentamos de animais. Outro ponto que parece ter sido ignorado é que esses bezerros estão sendo enviados para um país onde o abate predominante é o halal.

Nesse tipo de abate, o animal é degolado com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Há quem diga que um “bom golpe” pode não gerar “sofrimento ao animal”, o enquadrando inclusive como “abate humanitário”, embora registros de ações em matadouros mostrem exatamente o oposto.

O chamado “abate humanitário” é hoje a bandeira da indústria de carne visando persuadir os consumidores a acreditarem que estão se alimentando de uma carne “sem dor”, o que é uma ilusão, já que qualquer tipo de privação precedente a morte já é uma forma de violência que gera sofrimento em diversos níveis. Alguma dúvida? Veja o desespero de um animal quando ele reconhece que está em um ambiente de onde não sairá com vida.
 





 

Capitão Telmo: herói ou vilão?

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Telmo Ribeiro é um paradoxo na história de Paranavaí, o herói que se transformava em vilão

Ribeiro chegou a Paranavaí em 1936 (Foto: Reprodução)

Capitão Telmo Ribeiro é um dos personagens mais controversos da história de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde viveu entre os anos de 1936 e 1964. Durante esse período, conquistou amigos, inimigos e apatia.

O tenente

Em 1932, o tenente gaúcho Telmo Ribeiro deixou o Rio Grande do Sul e foi para Porto Murtinho, no Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), lutar na Revolução Constitucionalista. Com o fim dos conflitos, Ribeiro comandou o regimento de cavalaria de uma brigada militar em Ponta Porã. A missão era defender a fronteira brasileira. “Eu era tenente no esquadrão do Telmo. Naquele tempo, quem comandava a brigada era o coronel Mário Garcia”, relatou o pioneiro mato-grossense Alcides Loureiro de Almeida em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Enquanto trabalhou em Ponta Porã, Telmo Ribeiro morou em Bela Vista, na Fazenda Casualidade, de João Loureiro de Almeida, pai de Alcides Loureiro. “Depois de um tempo, a brigada foi extinta e surgiu o convite para trabalhar na Fazenda Caaporã. Contratamos alguns homens e começamos o plantio e transporte de erva-mate para exportação”, lembrou Loureiro. Mais tarde, Telmo e Alcides retornaram a Ponta Porã. Loureiro continuou trabalhando na cidade e Ribeiro fechou um contrato com a Companhia Mate-Laranjeira para transportar erva-mate através do rio em um barco a vapor.

Em uma das viagens pelo estado, Telmo Ribeiro conheceu o engenheiro Francisco Natel de Camargo que atuava como boiadeiro, levando gado vacum do Mato Grosso para a Fazenda Brasileira, futura Paranavaí. A carne bovina alimentaria os migrantes que viviam no povoado. “O Natel levou o Telmo até Londrina para conversar com o representante do governo, o delegado Achilles Pimpão, intermediário do interventor Manoel Ribas”, revelou o pioneiro Alcides Loureiro.

Ao conquistar a simpatia do delegado e do interventor, Telmo Ribeiro foi contratado para abrir estradas ligando a Brasileira ao restante do Paraná. “Lembro quando ele foi encarregado por Natel de Camargo para abrir uma estrada para a movimentação de gado da Brasileira até a Gleba Roland [atual Rolândia]”, pontuou o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, ex-empregado e amigo do tenente Telmo.

Salles contou que Ribeiro fixou residência onde é atualmente o Jardim São Jorge. Lá, havia uma colônia abandonada, com casas boas e móveis coloniais de finíssima qualidade. “As árvores já tinham varado o teto das residências. Telmo aproveitou o que deu pra aproveitar”, assegurou o pernambucano.

O herói

Em 1936, nas palavras do pioneiro paulista Natal Francisco, o tenente e uma turma de paraguaios acabaram com a onda de assassinatos praticados por grileiros na Fazenda Brasileira. Nessa época, o tenente já se destacava entre a população humilde do povoado. Tinha boa postura e passo firme, mas o que mais chamava atenção era o carisma, o requinte e a elegância. Ribeiro usava paletó de alta qualidade combinando com botas feitas sob medida, além de um cinturão que tinha como fivela a letra T.

Fumava apenas charutos importados da Holanda e só usava perfume francês. “Ele tinha um anel madrepérola feito por um famoso joalheiro carioca. No pescoço, sempre trazia um lenço de cetim preso por um broche de ouro”, detalhou Alcides Loureiro, acrescentando que apesar da fama de violento, Telmo Ribeiro era um homem delicado.

O título de capitão, o tenente gaúcho recebeu por serviços prestados ao Estado do Paraná na Brasileira, segundo o pioneiro paulista Valdomiro Carvalho. Contudo, o pioneiro curitibano Aldo Silva deu outra versão sobre o assunto: “Ele foi promovido a capitão pelo próprio povo da região, então ficou conhecido assim.” Telmo Ribeiro se tornou uma figura tão influente na cidade que a jardineira da Viação Garcia que fazia a linha Paranavaí-Londrina adotou como ponto de parada a casa do capitão.

Ao longo da vida, o pioneiro paulista Salatiel Loureiro nunca se esqueceu de um favor feito por Telmo na década de 1940. “Uma vez, ele foi até Curitiba requerer meu título de terras. Fez isso e não cobrou nada.” Carlos Faber, José Alves de Oliveira, José Ferreira de Araújo (Palhacinho), Severino Colombelli, José Francisco Siqueira (Zé Peão) e Izabel Andreo Machado são alguns pioneiros que sempre tiveram bom relacionamento com o capitão Telmo Ribeiro.

“O meu amigo sempre foi um líder, homem com fibra de pioneiro, com o qual partilhei bons e maus momentos”, destacou Alcides Loureiro. Outro pioneiro que defendia a idoneidade e o caráter de Ribeiro era o paulista João da Silva Franco. “Muita gente falava que ele era ruim e ganancioso. Mas eu acredito que ele nunca matou ninguém. O problema era a cabroeira dele, usavam o nome do Telmo pra fazer coisas erradas aqui”, salientou.

O vilão

Se por um lado, o capitão Telmo Ribeiro foi admirado e fez valiosas amizades nos 28 anos dedicados a Fazenda Brasileira, depois Paranavaí, por outro, também conviveu com pessoas que não aprovavam suas atitudes, não gostavam dele ou lhe eram indiferentes. “Lembro que ele andava com dois revólveres, uns dez capangas e insultava muita gente na rua. Telmo achava que só ele tinha razão”, desabafou o pioneiro cearense Raimundo Leite.

Leite costumava relembrar o episódio em que entrou em conflito com o capitão. “Certo dia, o Raimundo Arruda e o Zé Andrade insultaram ele no Bar do Zé e depois foram pra minha casa. O Telmo apareceu lá e o pau quebrou. Teve gente que apanhou e correu. Eu não tinha nada com o peixe, mas quase sobrou pra mim. A minha sorte foi que chegou um pessoal e pediu pra ele não fazer nada comigo”, enfatizou.

Com o tempo, Ribeiro conquistou muitas inimizades em Paranavaí. “Aqui tinha os capa-preta e me recordo que eles queriam matar o capitão Telmo Ribeiro”, revelou o pioneiro espanhol Thomaz Estrada. Para a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger, o capitão Telmo perseguiu muita gente e fez muitas coisas que não deveria ter feito.

Capitão Telmo (primeiro da direita para a esquerda) viveu aqui até 1964 (Foto: Reprodução)

De acordo com o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira, Telmo ajudou muito Paranavaí, mas nunca permitiu que alguém se lançasse contra ele na política. “No fundo, era boa pessoa, mas também sabia ser violento quando eram com ele”, avaliou. O pioneiro mineiro Enéias Tirapeli pertencia a um grupo que não simpatizava e nem desgostava de Telmo Ribeiro, apenas era indiferente ao capitão.

“Nunca me relacionei com ele, mas achei errado ele ter matado aquele rapaz na cadeia”, ressaltou, referindo-se ao assassinato do jovem Alcides de Sordi, de quem o capitão assumiu a autoria do crime. Fato sobre o qual houve divergências de opiniões. O pioneiro João Franco dizia que Telmo Ribeiro nunca atirou no rapaz. Para ele, o capitão tinha as “costas quentes” e chamou a responsabilidade para si na tentativa de livrar os amigos da prisão.

A decadência do capitão

Nas décadas de 1940 e 1950, Ribeiro conseguiu status e fortuna em Paranavaí. Entre as suas propriedades estava uma fazenda que compreende todo o Jardim São Jorge. Também tinha fama de perdulário. Ostentava um padrão de vida elevadíssimo, gastava muito dinheiro com a própria vaidade, amigos e mulheres em ambientes como a Boate da Cigana.

“Tal extravagância o levou a decadência. Depois de um tempo, começou a vender suas terras”, salientou Alcides Loureiro. Em 1964, às raias da falência, Telmo Ribeiro fixou residência em Maringá. Três anos mais tarde, viajou até Cornélio Procópio, no Norte Pioneiro, para cobrar um devedor e levou um tiro no peito.

O capitão influente e de muitos amigos, conhecido como rápido no gatilho, e que um dia participou da Guerra Paulista, enfrentou grileiros e jagunços, foi surpreendido e morreu no próprio local, longe de casa e sozinho, sem tempo de ao menos tirar a arma do coldre.

Curiosidade

Pioneiros contam que na época da colonização diziam que Telmo Ribeiro ameaçou roubar uma das filhas do pioneiro Arthur de Melo. Para evitar o pior foi enviado reforço policial de Arapongas.

Frases dos pioneiros sobre o capitão Telmo Ribeiro

Carlos Faber

“Nunca vi ele bravo, estava sempre alegre. Embora falassem certas coisas dele, nunca vi nada. O Telmo sempre me oferecia ajuda, mas nunca precisei.”

Raimundo Leite

“Ele me desacatou dentro da minha casa. E eu não morri porque não corri.”

Severino Colombelli

“O capitão Telmo era uma pessoa muito boa e de coração mole.”

Cincinato Cassiano Silva

“A parada era dura com o Capitão Telmo. Ele que expulsou os jagunços daqui. Para alguns ele era bom, mas pra outros não.”

Izabel Andreo Machado

“O capitão era pra nós uma pessoa muito boa.”

José Antonio Gonçalves

“Ele usava um chapéu grande e um lenço no pescoço. Era educadíssimo, mas a coisa com ele era meio brava.”

Valdomiro Carvalho

“Ele era realmente grande aqui. Eu ia com ele buscar boi no Mato Grosso, pra ganhar um dinheiro. Levava um mês. A gente ia pelo Porto São José, pegava um vaporzinho e atravessava a boiada de pouco em pouco.”

Paulo Tereziano de Barros

“O Capitão Telmo trouxe muita gente que ele achava que podia trabalhar no mato.”

José Francisco Siqueira (Zé Peão)

“Meu primeiro negócio com ele foi 30 sacas de arroz e 10 capados. Tudo fiado. Falavam que ele não pagava ninguém, tudo mentira. Depois de três dias, ele acertou comigo.”

Oscar Geronimo Leite

“Telmo Ribeiro era um dos mandões da época.”

José Ferreira de Araújo (Palhacinho)

“O telmo jogava snooker com a gente, andava com nós.”

José Alves de Oliveira

“Ele foi um dos grandes fregueses do meu bar. Nunca me deu um único prejuízo. Ia lá, comprava e pagava direitinho.”

Written by David Arioch

August 4th, 2010 at 12:12 pm

Posted in História,Paranavaí,Pioneirismo

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