David Arioch – Jornalismo Cultural

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Archive for the ‘Morte’ tag

O que aprendi com meu pai vale por uma vida

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Arte: Min Suh

Meu pai faleceu quando eu tinha 13 anos, mas o que aprendi com ele vale por uma vida; e isso nem o tempo é capaz de apagar. Sou grato por ter sido uma criança curiosa, atenta e observadora, assim os ensinamentos da minha infância podem me acompanhar até o fim dos meus dias.

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June 21st, 2017 at 11:36 pm

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Sobre morrer de tristeza

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Por causa de tristeza, minha bisavó perdeu o interesse pela vida e parou de se alimentar (Foto: Arquivo Familiar)

Quando eu era criança, sempre ouvia minha mãe dizendo que minha bisavó morreu de tristeza, porque um de seus filhos foi assassinado e o outro cometeu suicídio. Um com pouco mais de 30 anos e o outro com 26 anos. Aquilo me surpreendia, porque eu não entendia como alguém poderia morrer de tristeza.

Na adolescência então entendi que a tristeza realmente não mata, mas o que ela acarreta sim. Por causa de tristeza, e provavelmente depressão (algo ainda desconhecido há quase 50 anos), minha bisavó perdeu o interesse pela vida e parou de se alimentar. Então descobriu um câncer e faleceu algum tempo depois.





Written by David Arioch

June 17th, 2017 at 7:25 pm

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Quando um cão morre…

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Kika, minha companheira por 12 anos (Foto: David Arioch)

Quando um cão morre, e me recordo de sua doçura e inocência, me pergunto se existe um céu para os cães, porque eles merecem o céu depois de uma vida de doação que começa após o nascimento. Não me importo que haja um céu para mim, mas me importo o suficiente para desejar que exista um para os cães, seres que vivem a plenitude da bondade.

Dizem que os cães já nascem amando, enquanto nós precisamos aprender a amar, e por isso vivem pouco. Para eles, que têm mais a ensinar do que a aprender, tudo é pleno e intenso porque as chamas de suas vidas são efêmeras, mas muito mais longas do que as nossas. Talvez, em sua invisibilidade, elas toquem o céu sem que percebamos, porque ainda somos humanos demais para enxergar o que somente uma natureza não humana pode semear.

Written by David Arioch

May 28th, 2017 at 10:27 pm

Não comemoro mortes, independente de quem seja

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Arte: Goya

Não comemoro mortes, independente de quem seja. Mas entendo que há pessoas que a buscam incessantemente, ou que provocam reações que podem levá-las a amargar um fim impensado, que não desejavam. Ou seja, consequências da vida que levavam. Sendo assim, se causo um grande mal a alguém, não posso descartar que em algum momento alguém pode cobrar pelo mal que causei.





Written by David Arioch

May 24th, 2017 at 1:38 am

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As histórias do vovô

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Hoje, digo que o vovô foi o maior contador de histórias que conheci (Foto: David Arioch)

Meu avô, pai de minha mãe, faleceu no final de fevereiro. Desde criança, nunca o chamei de vô, mas sim de vovô. Ele foi o último dos meus avós a partir. Já não tenho mais nenhum. Não escrevi a respeito no dia do falecimento, isto porque acho que na data em que uma pessoa próxima morre os sentimentos e as lembranças de quem fica não estão na mais perfeita sinergia.

Normalmente estão em estado de transição da irrealidade para a realidade, e o que se pode escrever nesse estado pode não representar exatamente o que se quer. E comigo sempre foi assim. Gosto de escrever sobre alguém quando estou no meu estado sereno de avaliação das coisas.

Antes do vovô falecer, antes mesmo de imaginarmos que isso aconteceria, a nossa convivência se tornou diária por quase dois anos. Gravei horas e mais horas de bate-papo com ele. Sentávamos em “cadeiras de área”, como ele dizia, ao lado das pimenteiras e de outros alimentos orgânicos que ele cultivava. Abelhas o visitavam todos os dias no mesmo horário, e ele nunca se incomodava. Muito pelo contrário, comemorava.

Decidi registrar tudo que ele narrava porque isso é importante, porque os idosos são os livros da cultura oral. A matéria do vovô poderia desaparecer, mas não a essência do que ele tinha a oferecer. Ele não era um ser humano perfeito, assim como também não sou, mas foi com ele que aprendi a amar histórias e contá-las.

Ele era uma biblioteca ambulante, um memorialista. Desde a minha infância, devo ter passado milhares de dias sentado ao seu lado ouvindo histórias de um passado remoto, que quase ninguém conhece porque não foi registrado nos livros. Quero dizer, pelo menos até eu decidir conservar suas palavras.

Hoje, digo que o vovô foi o maior contador de histórias que conheci na minha vida, e quando o vi dentro de um caixão, com o corpo gelado e a tez rija, eu já sabia que ele não estava mais lá, mas sim dentro de todos aqueles que resguardaram suas histórias.

 

 

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Written by David Arioch

May 11th, 2017 at 5:07 pm

Sobre suicidas a serviço do terrorismo

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(Foto: Omar haj kadour/AFP)

O sujeito, já preparado para morrer, dirige um caminhão cheio de explosivos e mata um monte de crianças famintas na Síria. E com esse ato cruel e bárbaro ainda espera descansar no paraíso, em um lugar privilegiado. É absurdo, não? Para nós, não para eles.

A verdade é que suicidas como esse não se importam em morrer porque julgam que não têm nada a perder. E a propaganda mais forte dos grupos terroristas não gira em torno da fé ou do respeito ao islamismo. Na realidade, a religião mesmo, deturpada ou não, acaba por ter até um intrigante papel secundário.

A propaganda se sustenta na idealização e na promessa do paraíso. Ou seja, o que esse ato tem a oferecer ao ser humano que se sacrifica pela fé – nisso há um viés antropocêntrico. Livros como “Isis: Inside the Army of Terror” e “The Secret History of al Qaeda” deixam isso claro.

Pelo menos por parte dos grandes meios de comunicação, quando se fala em terrorismo no Oriente Médio, pouco se aborda que os mentores intelectuais dessas ações jamais cometeriam suicídio, e é por isso que eles se perpetuam no comando de organizações criminosas. Quando morrem, não foi porque quiseram assim.

Eles fazem lavagem cerebral nos mais miseráveis, ignorantes e analfabetos. Inventam histórias, prometem cuidar de suas famílias miseráveis quando esses partirem. A fé dissimulada, e no pior contexto, tem mais chances de cegar um homem faminto do que aquele de barriga cheia.

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April 17th, 2017 at 12:39 am

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Morrer como se jamais tivesse existido

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Mais do que um escritor, Borges foi um enigma literário 

O escritor argentino Jorge Luis Borges  dizia que, quando chegasse a sua hora, gostaria de morrer como se jamais tivesse existido, existe poesia nisso; claro, talvez não para todo mundo ou especialmente para aqueles que ignoram a finitude. Quando Borges falou isso, pensei na questão do desapego, da construção de legados, dos tributos e de tudo aquilo que fazemos para nós, não para os que se foram.

Muitos se incomodam com a ideia de pessoas que não vivem para construir nada pomposo ou tangível, a não ser elas mesmas e algo em torno daqueles com quem se comunicam no decorrer da vida. Ainda somos ignorantes a ponto de acharmos que todos querem viver como nós, que todos querem criar laços ou viver e morrer como se fossem muito maiores do que realmente eram.

Há quem se assuste com a ideia de pessoas que ao longo da vida se comunicam de forma profunda, mas fortuita e transitória com os outros, sem criar vínculos concretos, complexos ou objetivos. Apenas existem sem se preocupar em definir coisa alguma. O que não deveria ser visto como aberrante, já que não fomos feitos em série.

Nem todos querem deixar algum legado, assim como nem todos buscam fazer algo pelo que ser lembrado. Há aqueles que querem apenas viver para algo que parece mínimo a tanta gente, mas que dê algum sentido ao existir. Nem todo mundo quer fazer planos de curto, médio ou longo prazo. Tem gente que prefere cultivar apenas a própria consciência, uma consciência que também pode reverberar a possibilidade de que o fim pode ser hoje ou amanhã.

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March 5th, 2017 at 7:56 pm

Sobre pais que matam animais

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Pais que matam animais ensinam aos filhos que nem todos merecem viver. E que quando crescerem eles também poderão tirar a vida de outros animais. E assim, crianças crescem acreditando em superioridade e que não há nada de errado em matar.





Written by David Arioch

February 22nd, 2017 at 12:20 am

Quando vejo um ser humano se orgulhando de matar animais

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Arte: Sue Coe

Quando vejo um ser humano se orgulhando de matar aves, bovinos e suínos com as próprias mãos, como se isso fosse digno de mérito, reconheço como a racionalidade humana pode ser questionável.

Nem carnívoros somos, e aqueles que são e vivem na natureza selvagem, mesmo quando matam os menores ou mais fracos para se alimentarem, não demonstram qualquer tipo de soberba ou altivez, e simplesmente porque diferentes de nós agem instintivamente, pela própria sobrevivência.

 





Written by David Arioch

January 26th, 2017 at 12:08 am

Com os animais não morre somente a carne

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“Homem Moderno Seguido pelos Fantasmas de Sua Carne”, da artista britânica Sue Coe

Visite uma grande criação e olhe nos olhos de cada animal. Por mais parecidos que eles sejam, nunca são iguais. São seres únicos, e cada qual nasce com a sua própria individualidade e peculiaridade sensitiva.

O maior exemplo disso é a reação diversa à nossa presença. Alguns se assustam, outros se aproximam; há aqueles que imóveis assistem em silêncio e há aqueles que emitem algum tipo de som.

Quando esses animais são mortos, o que morre com eles não é somente a carne, mas existências singulares que não tiveram tempo de amadurecer para reconhecer o seu próprio lugar no mundo, e é daí que acredito que vem o desespero animal diante da finitude.

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Written by David Arioch

January 26th, 2017 at 12:06 am