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De que adianta criticar a Bancada Ruralista enquanto você a financia?
De que adianta uma pessoa criticar as mazelas da Bancada Ruralista e neste momento, diante da situação dos mais de 25 mil bois sofrendo em Santos, simplesmente não se importar? De que adianta você apontar o dedo para ruralistas que exploram mão de obra barata, humana e não humana, se você consome os produtos deles, logo financia o jogo político deles.
Você já pensou que esses caras que comandam a política brasileira, e não abrem espaço para o verdadeiro exercício da democracia, costumam injetar muita grana em suas campanhas, certo? E de onde você acha que vem esse dinheiro? Costumeiramente, de produtos que eles vendem e que compramos na nossa inocência ou ignorância. E muitos desses produtos já foram vidas. Ou seja, animais.
Então, sim, consumir produtos de origem animal muitas vezes significa de fato um aval para que esses sujeitos continuem se perpetuando no poder. Que tal começar a boicotar esses caras? Não apenas politicamente, mas economicamente. Se informe, não seja ignorante. É preciso fazer um mapeamento idôneo a respeito da vinculação econômica desses políticos.
Quais entidades e empresas eles representam ou possuem, de fato; que tipo de produto eles comercializam, entre outras coisas. Esse tipo de informação precisa ser disseminada com urgência. Necessitamos de um trabalho de boicote em proporções jamais vistas antes.
Bancada Ruralista se mobilizando para fazer o navio com 25 mil bois seguir viagem para a Turquia
A Bancada Ruralista está se mobilizando para fazer o navio seguir viagem para a Turquia com os mais de 25 mil bois em situação degradante no Porto de Santos. Se isso acontecer, será apenas mais uma prova de que definitivamente vivemos em um país onde manda quem pode mais.
Provavelmente, essa vai ser uma das manifestações mais determinantes dos últimos anos no Brasil, e é vergonhoso ver a pouca valorização por parte da imprensa e até mesmo da população. A situação está sendo praticamente ignorada por quem não se importa com a causa animal.
Só a mídia independente e os ativistas, que não devem nada a Minerva Foods e a esses políticos oportunistas, que estão trabalhando a favor do verdadeiro bem-estar animal. Muitas pessoas vivem, de fato, em uma condição egoica, imersas em si mesmas e nos seus; e aqueles, de outras espécies, que são diferentes de nós, são tratados não apenas como produtos – mas como lixo também.
É muito triste ver tantas pessoas não dando a mínima para a situação, não reconhecendo que isso já não se trata apenas de uma questão de valorização da vida animal, mas obviamente também de justiça social. Se esse navio seguir viagem, será mais uma derrota para a dignidade animal – humana e não humana e uma grande vitória do oportunismo e da desconsideração à vida. Se isso acontecer, a frase do Tim Maia de que o Brasil não é um país sério deve reverberar mais um pouco.
A má-fé da imprensa no caso do navio com mais de 25 mil bois
Há poucas horas, o G1 publicou uma matéria com o seguinte título: “Impasse de navio com 25 mil bois no Porto de Santos gera ‘mais prejuízos’ aos animais”. No texto, há uma declaração de que “a demora para o prosseguimento da viagem e desembarque dos animais no destino, causa muito mais prejuízos do ponto de vista do bem-estar animal do que o que é atribuído pelas ONGs, e que gerou o impasse”.
Essa afirmação não condiz com a realidade, mas apenas com a intenção da Minerva Foods e do Ministério dos Transportes – ambos considerando apenas os lucros de transação. E lamentavelmente, isso mostra como o Estado atua indiscriminadamente em favor da indústria em detrimento de vidas. Fazem uso das manobras mais diversas para atraírem a atenção do público para o seu lado, nem que para isso seja necessário vilanizar ativistas, pessoas que voluntariamente lutam pelo verdadeiro bem-estar animal. Até porque não é difícil, valendo-me da realidade comum, concluir que quem investe na exploração de animais sempre terá como prioridade o lucro, e isso consequentemente eleva o retorno financeiro a uma posição de protagonismo que desconsidera sempre as especificidades e o real valor da vida animal.
Viagens de carreta já são desgastantes, ainda mais depois de um percurso de 500 quilômetros. Agora imagine ser enviado como “carga” em uma viagem de navio que pode durar até 20 dias. Além disso, é importante ponderar que eles sempre serão acondicionados extremamente próximos uns dos outros, e partilhando de um espaço bem reduzido e do mesmo sentimento de estranhamento. Imagine esses animais extremamente pesados, desembarcando na Turquia depois de tanto tempo sem espaço para se locomover adequadamente.
Isso é saudável? Qualquer animal condicionado, logo forçado a passar dias sem se movimentar, está sendo privado de sua natureza, já que corpos foram feitos para o movimento. Após mais de 17 anos, estamos vivendo um retrocesso. Este é o segundo embarque de cargas vivas com mais de 25 mil animais em um intervalo de menos de dois meses.
E quando falamos em bovinos não podemos esquecer que são animais precocemente afastados do convívio com os seus. Isso é justo? Viver para ser reduzido a pedaços de carne? Infelizmente é isso que financiamos quando nos alimentamos de animais. Outro ponto que parece ter sido ignorado é que esses bezerros estão sendo enviados para um país onde o abate predominante é o halal.
Nesse tipo de abate, o animal é degolado com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Há quem diga que um “bom golpe” pode não gerar “sofrimento ao animal”, o enquadrando inclusive como “abate humanitário”, embora registros de ações em matadouros mostrem exatamente o oposto.
O chamado “abate humanitário” é hoje a bandeira da indústria de carne visando persuadir os consumidores a acreditarem que estão se alimentando de uma carne “sem dor”, o que é uma ilusão, já que qualquer tipo de privação precedente a morte já é uma forma de violência que gera sofrimento em diversos níveis. Alguma dúvida? Veja o desespero de um animal quando ele reconhece que está em um ambiente de onde não sairá com vida.
Envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica

Para quem lucra com esse tipo de negociação, desde que tenha sido muito bem pago, pouco importa o destino desses animais (Foto: Divulgação)
O envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica. Se essa megaoperação for considerada “bem-sucedida” o Brasil pode se tornar um grande fornecedor de bezerros para a indústria estrangeira de carne. O que isso significa? Que no futuro a vida dos bovinos, que já é terrível partindo da objetificação, pode ser ainda mais curta.
Vivemos em um país onde os produtores de carne sempre alegam desvantagem quanto ao abate de bezerros. Porém, com um mercado estrangeiro ávido por esse tipo de carne, e que “paga bem”, tanto que a Turquia reduziu de 60% para 10% a tarifa sobre importação de gado, provamos que nossos subjetivos escrúpulos, que já ignoram o direito dos animais à vida, são sempre negociáveis. Sendo assim, podem tornar-se um pouco mais deletérios.
Por outro lado, essa situação também traz luz à desonestidade da indústria da carne. Qual seria? Essa ação reforça o fato de que o “abate humanitário” sempre foi um engodo, já que não apenas enviamos animais para a morte, mas também de acordo com o “gosto do cliente”. Se isso significa degolar crianças de outras espécies, que assim seja, não é mesmo?
Para quem lucra com esse tipo de negociação, desde que tenha sido muito bem pago, pouco importa o destino desses animais. Já os bezerros, enviados para uma jornada que termina com suas cabeças separadas dos corpos, em breve serão consumidos e esquecidos como se jamais tivessem existido. Se nada for feito, muito mais bezerros terão o mesmo destino.
O que a grande mídia fez para favorecer o transporte dos 27 mil bezerros para a Turquia:
— A maioria não citou que são bezerros, o que acredito que, por estranhamento e associação, poderia ter despertado alguma reflexão sobre a exploração e o consumo de animais.
— Falou do que isso pode representar economicamente.
— Citou como a exportação de animais vivos pode beneficiar o Porto de Santos
— Ouviu somente os envolvidos na megaoperação.
— Publicou apenas fotos do navio ainda vazio e de poucos animais no Porto de Santos.
— Deu ênfase no trabalho da Minerva Foods, destacando a grandiosidade da exportadora responsável pelo envio dos animais.
— Descreveu positivamente a estrutura do navio, endossando o embarque dos animais. Porém, não citou a área destinada a cada animal.
— Citou cifras, cifras e mais cifras para fazer todo o resto parecer insignificante.
Sobre o envio de 27 mil bezerros para a morte na Turquia
Em 15 dias, ou talvez um pouco mais, o Porto de Iskenderun, no Mar Mediterrâneo, na Turquia, espera receber 27 mil bezerros que embarcaram no Porto de Santos. São jovens animais que antes enfrentaram uma viagem desgastante de 500 quilômetros confinados em carretas. Tanto que muitos embarcaram visivelmente cansados.
Em entrevista, o representante do navio libanês Nada, responsável pelo transporte, disse que tudo foi feito para que os bezerros não sofram durante a viagem. Mas a objetificação desses animais reduzidos a alimentos e a própria viagem em si não são atos de violência? Será que os 27 mil bezerros têm condições de suportar uma viagem desse tipo? Com duração de no mínimo 15 dias em um ambiente totalmente fechado, e privados da luz solar. Pense no nível de estresse desses animais nos próximos dias.
Viagens de carreta já são desgastantes, agora imagine ser enviado em seguida para uma viagem de navio. Além disso, é importante ponderar que embora os animais estejam viajando dentro de um navio, os bezerros ficam bem próximos uns dos outros, e partilhando de um espaço bem reduzido e do mesmo sentimento de estranhamento. Imagine esses animais, cada um pesando 450 quilos, desembarcando na Turquia depois de tanto tempo sem espaço para se locomover adequadamente.
Isso é saudável? Qualquer animal condicionado, logo forçado a passar dias sem se movimentar, está sendo privado de sua natureza, já que corpos foram feitos para o movimento. Após 17 anos, estamos vivendo um retrocesso, já que o último transporte com “carga viva” registrado no Porto de Santos foi em 2000. E quando falamos em bezerros não podemos esquecer que são animais precocemente afastados do convívio com os seus. Isso é justo? Viver para ser reduzido a pedaços de carne? Infelizmente é isso que financiamos quando nos alimentamos de animais. Outro ponto que parece ter sido ignorado é que esses bezerros estão sendo enviados para um país onde o abate predominante é o halal.
Nesse tipo de abate, o animal é degolado com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Há quem diga que um “bom golpe” pode não gerar “sofrimento ao animal”, o enquadrando inclusive como “abate humanitário”, embora registros de ações em matadouros mostrem exatamente o oposto.
O chamado “abate humanitário” é hoje a bandeira da indústria de carne visando persuadir os consumidores a acreditarem que estão se alimentando de uma carne “sem dor”, o que é uma ilusão, já que qualquer tipo de privação precedente a morte já é uma forma de violência que gera sofrimento em diversos níveis. Alguma dúvida? Veja o desespero de um animal quando ele reconhece que está em um ambiente de onde não sairá com vida. Outra notícia desalentadora é que se a viagem for “bem-sucedida” a tendência é que o Porto de Santos seja usado com mais frequência para o transporte de “cargas vivas”.