David Arioch – Jornalismo Cultural

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A superação de Stevie Zee

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O fisiculturista com paralisia cerebral que se tornou um exemplo

A musculação transformou a vida de Stevie Zee (Foto: Ralph De Haan)

A musculação transformou a vida de Stevie Zee (Foto: Ron Avidan)

O estadunidense Stevie Zee estava completamente perdido em 1992. Reprovado na faculdade comunitária e incapaz de encontrar trabalho, o rapaz que sofre de paralisia cerebral (PC) decidiu fazer algo para evitar a depressão e a autopiedade.

Em dezembro do mesmo ano, Stevie foi até um ginásio de musculação em Portland, Oregon, sua cidade natal, onde conheceu o fitness trainer e fisiculturista heavyweight David Hughes. “Ele apareceu para uma sessão de treinamento e logo me disse que queria se tornar um bodybuilder. Me surpreendi com a decisão e me empenhei em ajudá-lo”, conta Hughes que instruiu o rapaz no treinamento com pesos e o ensinou muito sobre nutrição esportiva.

Stevie queria competir no bodybuilding, seguindo o mesmo caminho de David. Porém as limitações impostas pela paralisia cerebral fizeram com que o sonho parecesse distante e utópico. Em função da doença, os músculos de Zee costumavam ser encurtados, rígidos e enfraquecidos, o que tornava tudo mais difícil. Com frequência, o controle dos músculos era interrompido por movimentos espontâneos e indesejados, além dos problemas de equilíbrio, instabilidade em movimentar pés, mãos e até falar. Em síntese, Stevie sofre de paralisia cerebral mista, o tipo mais severo.

m 2008, o atleta ganhou o patrocínio da gigante Gaspari Nutrition (Foto: Ron Avidan)

Em 2008, o atleta ganhou o patrocínio de Rich Gaspari (Foto: Ron Avidan)

“Eu tinha dificuldade em aceitar a doença, mas agora eu sei que eu a tenho para inspirar outros a se tornarem pessoas melhores, a tirarem o máximo proveito da vida, independente de tudo”, afirma Zee. Segundo David Hughes, Stevie é mais motivado que a maioria das pessoas. Apesar das dificuldades, mora sozinho, cozinha, dirige e faz as próprias compras.

A primeira recompensa do atleta veio em junho de 2003, quando surgiu um novo tratamento para paralisia cerebral. Zee passou por um procedimento em que foi instalado um mecanismo especial na parede abdominal, minimizando os extremos espamos musculares que o fizeram sofrer por tantos anos. Em 2006, o fisiculturista recebeu um prêmio da revista MuscleMag no Los Angeles Championships, onde foi aplaudido de pé por centenas de pessoas, entre celebridades do bodybuilding.

“Ele teve a coragem de deixar Portland e se mudar para Hollywood. Tudo isso, para realizar seus sonhos. É como se ele fosse um personagem de uma história em quadrinhos”, comenta o lendário ex-fisiculturista Rich Gaspari, que desde 2008 patrocina Stevie Zee. Para entender a história de superação do atleta é preciso ter em mente que para quem sofre de paralisia cerebral é complicado até mesmo caminhar e realizar pequenas tarefas diárias. “Imagine então fazer musculação? Há milhares de limitações que o dizem para não ir por esse caminho. Isso mostra o quanto ele é um vencedor”, diz David Hughes.

O que também chama atenção sobre Stevie Zee é a sua capacidade em seguir dietas restritivas, outro ponto considerado impossível para quem sofre de PC. Ao longo de 20 anos, o atleta não apenas ganhou em condicionamento e qualidade de vida, minimizando os problemas com a doença, como se tornou referência de novos estudos sobre a medicina da encefalopatia crônica não progressiva nos Estados Unidos. “Devo tudo isso a David Hughes que foi quem me transformou em uma pessoa totalmente diferente”, declara Stevie emocionado. Vale lembrar que o fisiculturista é tema do documentário Hang On To Your Dreams, lançado em 2008.

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Uma pequena dose de realidade sobre o mundo do fisiculturismo

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Janice Engel: “Em Bodybuilders, tento explorar os extremos dos profissionais, amadores e promotores”

Arnold Schwarzenegger, Lou Ferrigno, Jay Cutler e Craig Titus (Foto: Reprodução)

Arnold Schwarzenegger, Lou Ferrigno, Jay Cutler e Craig Titus (Foto: Reprodução)

Nos Estados Unidos, o documentário Bodybuilders, de Janice Engel, lançado em 2000, até hoje desponta como o segundo filme mais popular sobre fisiculturismo, perdendo apenas para o clássico Pumping Iron, de Robert Fiore e George Butler, que chegou aos cinemas em 1977 e garantiu ainda mais notoriedade mundial a Arnold Schwarzenegger.

Produzido de forma independente, Bodybuilders foi exibido por quatro redes de televisão ao longo de oito anos, com destaque para a veiculação na Discovery Channel, onde o documentário obteve uma audiência que superou as expectativas. Dirigido e escrito por Janice Engel, o filme conta ainda com co-roteiro do ex-fisiculturista e ator Lou Ferrigno.

“Em Bodybuilders, tento explorar os extremos dos profissionais, amadores, promotores e estrelas capazes de fazer o possível para manter-se no topo das competições de ‘culto ao corpo’”, explica Janice que em uma escala de 0 a 10 obteve nota 8,8 da crítica nos EUA. A princípio, a ideia da diretora era fazer algo mais curto e conciso, mas a repercussão do tema e a facilidade em encontrar boas fontes permitiram que o documentário crescesse um pouco mais.

Frank Zane, Stan McQuay, Corinna Everson e Lesa lewis (Foto: Reprodução)

Frank Zane, Stan McQuay, Corinna Everson e Lesa lewis (Foto: Reprodução)

Bodybuilders é um filme especial que de forma estratégica ganhou espaço na TV norte-americana após a virada do milênio. Foi apresentado como uma obra sobre um estilo de vida e esporte do passado, presente e principalmente do futuro. Em 2000, o bodybuilding ainda era pouco conhecido até pelos praticantes de musculação.

“Quis mudar isso e apresentar informações que pudessem ajudar até quem não gosta de levantamento de peso a entender esse universo”, comenta a diretora que lançou luz sobre as várias camadas que envolvem o fisiculturismo, inclusive assuntos tabus. Embora não seja popular no Brasil, onde o fisiculturismo cresce a cada ano, o filme Bodybuilders é considerado uma espécie de manual em vídeo do fisiculturista.

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Documentário é produzido, escrito e dirigido por Janice Engel (Foto: Reprodução)

Em alguns aspectos, se comparado a Pumping Iron, a obra de Engel é menos ficcional e mais contundente. No entanto, pouco discute sobre a realidade do uso de esteroides anabolizantes e outros fármacos que auxiliam na rotina de atletas profissionais e amadores. Talvez por um cuidado em evitar polêmicas desnecessárias por parte de quem já encara a modalidade com bastante preconceito.

O que sem dúvida ajudou o documentário a tornar-se uma referência em fisiculturismo e musculação são as participações de algumas lendas do bodybuilding mundial como Arnold Schwarzenegger, Lou Ferrigno, Frank Zane, Jay Cutler, Lesa Lewis, Kim Chizevsky, Stan McQuay, Corinna Everson, Craig Titus, Travis Wojcik e os célebres irmãos Joe e Ben Weider, fundadores da International Federation of BodyBuilding and Fitness (IFBB) e criadores do Mr. Olympia, a mais cultuada competição do bodybuilding mundial.

“Pude entrevistar várias vezes o Craig Titus. Ele foi muito receptivo e honesto com relação ao uso de esteroides em cada preparação para o Mr. Olympia”, revela Janice Engel em referência ao promissor fisiculturista que em 2006 foi preso pelo assassinato da sua assistente pessoal Melissa James em Las Vegas, Nevada. No filme, também são entrevistados importantes funcionários da IFBB, como Wayne DeMillia. Outro destaque é a preparação pre-contest do fisiculturista Stan McQuay na Musclemania, a maior competição mundial de natural bodybuilding.

Outra curiosidade sobre Bodybuilders é que no decorrer de oito anos de exibição do documentário nos EUA foram feitas algumas pesquisas pela Discovery Channel e outras emissoras avaliando a recepção do conteúdo. O resultado indicou que milhares de pessoas decidiram frequentar ginásios de musculação após assistir ao filme, o que surpreendeu Janice.

Quando o bodybuilding conquistou o cinema em 1948

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Muscle Beach, o pioneiro dos filmes sobre fisiculturismo

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Muscle Beach é considerada o berço do bodybuilding (Foto: Reprodução)

Nem sempre o fisiculturismo foi pouco respeitado pela sociedade e menos valorizado por meios de comunicação. Se hoje vivemos um tempo em que o bodybuilding é distorcido para as massas, visando intensificar a desinformação e o preconceito ao diferente, é importante entender que nos anos 1940 a modalidade era tão admirada nos Estados Unidos que tinha status de atração turística.

Tudo isso e muito mais é retratado no filme Muscle Beach, de 1948, dos cineastas Joseph Strick e Lerner Irving, que levou milhares de pessoas comuns para os cinemas dos EUA, interessadas em conhecer e admirar os físicos perfeitos de homens e mulheres que frequentavam a Muscle Beach de Santa Monica, na Califórnia. A primeira obra sobre o bodybuilding apresenta a realidade dos fisiculturistas amadores que dividiam o mesmo espaço de treino com ginastas e praticantes de outros esportes.

Embora o bodybuilding tenha se profissionalizado em ambientes fechados e privados, a verdade é que o berço da modalidade é a praia, como apresenta Muscle Beach. O filme mostra atletas treinando rodeados por uma plateia de entusiastas e crianças que desde cedo aprendiam a cultivar uma bela relação com a natureza. Na obra, até os pássaros e outros animais se aproximam enquanto os bodybuilders mantêm o foco nas barras e halteres. Com uma estética vívida, iluminada, plácida e pueril, o filme é uma ode ao belo. Nem mesmo as limitações técnicas do cinema em preto e branco, com certa predominância do cinza, ofuscam a luz que se sobressai e transcende em cada cena.

A famosa praia era uma fábrica de ícones do fisiculturismo (Foto: Reprodução)

O que também chama atenção em Muscle Beach é a harmonia e a alegria irradiadas pelo cenário. O filme contagia, embora não seja pautado em uma história nem em diálogos. É um registro fiel e nostálgico do bodybuilding em sua forma mais clássica. Strick e Irving tiveram uma grande preocupação em mostrar que a harmonia do corpo é capaz de promover uma conformidade psicológica e emocional com reflexos positivos no ambiente. Não foi preciso dar voz aos personagens para transmitir isso; bastou mostrá-los em seu habitat.

É possível interpretar que aqueles atletas não viviam para o corpo, mas sim o corpo vivia para eles, pois todos os resultados foram conquistados com a alegria e satisfação proporcionadas pela natural busca da qualidade de vida, sem excessos; como se o homem reconhecesse a sua necessidade de manter o corpo em movimento e desenvolvimento. Embora o filme não aborde o assunto, a Muscle Beach de Santa Monica era uma referência turística não apenas pela qualidade da praia. Todos queriam ver de perto o que aquelas pessoas faziam para conquistar uma forma física tão cativante.

As rotinas de treino na praia eram acompanhadas por plateias de admiradores (Foto: Reprodução)

As rotinas de treino em Muscle Beach eram acompanhadas por plateias de admiradores (Foto: Reprodução)

Joseph Strick e Lerner Irving viajaram até a Muscle Beach, onde passaram três dias acompanhando o cotidiano de um grande número de atletas. O local também era famoso por ser uma área de aluguéis baratos e equipamentos de levantamento de peso disponíveis gratuitamente a qualquer hora do dia. O ginásio a céu aberto de Santa Monica foi frequentado por importantes nomes do bodybuilding. Alguns exemplos são Vic Tanny, Jack LaLanne, Joe Gold, Chet Yorton, Steve Reeves, Vince Edwards, Jack Delinger, George Eiferman e Dave Draper. Anos mais tarde, atraiu os atletas Larry Scott, Arnold Schwarzenegger, Franco Columbu, Hulk Hogan, o ator Danny Trejo e muitos outros.

A trilha sonora é uma singela viagem pela perspectiva do cantor Earl Robinson que do início ao fim narra as belezas do local e das pessoas que o frequentavam. Em 2008, o filme Muscle Beach foi recuperado pela Academy Film Archive e relançado em 2009 pela San Francisco Cinematheque que o avaliaram como um dos grandes documentários da cultura norte-americana do século XX.

O fisiculturista e eu

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Filme canadense mostra como o bodybuilding ajudou a fortalecer uma relação entre pai e filho

Bill Friedman muda de vida através da musculação (Foto: Reprodução)

Lançado em 2007, The Bodybuilder and I é um filme do canadense Bryan Friedman que decide acompanhar a rotina de fisiculturista do próprio pai. A princípio, a ideia do rapaz era registrar o bodybuilding como uma subcultura recheada de esquisitices. Talvez, uma maneira de conseguir a atenção do homem com quem viveu ao longo de 26 anos, mas jamais o conheceu de verdade.

O advogado Bill Friedman, de 59 anos, é um ex-sedentário e ex-viciado em trabalho que após um longo e desgastado casamento é surpreendido por um pedido de divórcio. Bill se torna depressivo, mas renasce com a musculação, colocando-a em primeiro lugar na sua vida. Chega a deixar pra trás uma carreira extremamente lucrativa que lhe garantiu uma mansão, os melhores carros e uma fortuna que proporcionou estabilidade financeira para toda a família.

Após vencer duas importantes competições de bodybuilding da sua faixa etária, Friedman consegue atrair a atenção do filho Bryan. O rapaz então acompanha a jornada do atleta apenas com a intenção de destacar o quão estranho pode ser o bodybuilding como uma subcultura. Sem um profundo ou forte vínculo com o pai, Bryan registra todas as etapas da rotina, desde a hora em que ele acorda até o momento de dormir.

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A rotina do atleta é acompanhada pelo filho Bryan (Foto: Reprodução)

“Meu objetivo era mostrar como somos distantes e também como aquele mundo poderia parecer mais importante pra ele do que a própria família. Era pra ser algo sobre um velho fisiculturista obsessivo quanto aos seus músculos”, conta o cineasta Bryan Friedman que mesmo com uma vida de luxo sempre se sentiu mal pela ausência da figura paterna. Ao contrário do planejado, o filme ganha outro rumo quando o filho ressentido começa a aprender muito sobre o pai.

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Bryan começa a entender o amor do pai pelo bodybuilding (Foto: Reprodução)

The Bodybuilder and I é uma história sobre como a conexão entre pai e filho pode ser algo valoroso, verdadeiro e intenso, independente de tempo. Um filme sincero e bem-humorado que tem um caráter testemunhal sobre as possibilidades dos seres humanos se reencontrarem e tentarem entender o que é importante um para o outro. Com 60 anos, o extrovertido Bill Friedman luta para recuperar o status de campeão mundial da categoria masters, se consolidando como um ícone do bodybuilding canadense.

Após algum tempo, o introspectivo Bryan se torna compreensivo quanto ao amor do pai pela musculação, atividade que disciplinou Bill e lhe deu mais ânimo para viver. É interessante a forma como o filho em alguns momentos do filme deixa claro o preconceito contra o bodybuilding. São cenas que representam com clareza a grande intolerância social que aflige o fisiculturismo em todo o mundo. O espectador pode interpretar que o sucesso de Bill na carreira profissional só foi possível em função de sua natureza pautada pela perseverança e disciplina.

Surge aí de forma subjetiva a ideia de que se alguém tem força de vontade o suficiente para seguir uma rotina intensa de treinos, dieta e outras regras que competem ao bodybuilding, essa mesma pessoa tem as qualidades mais importantes para ser bem sucedida em outras áreas. The Bodybuilder and I, vencedor do Prêmio de Melhor Documentário do Festival Internacional de Documentários do Canadá (Hot Docs) e Atlantic Film Festival, é uma obra de esperança voltada principalmente para pais, filhos e qualquer um que desconheça o poder transformador que possui dentro de si. Dirigido e escrito por Bryan Friedman, o filme é co-produzido pela January Films e National Film Board of Canada.

O poder transformador da musculação

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Facing Goliath narra a história de superação do fisiculturista canadense Ray Taylor

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Fisiculturismo ajuda Ray Taylor a enfrentar a cegueira (Foto: Reprodução)

Lançado em 2006, o documentário Facing Goliath, do cineasta canadense Kirk Pennell, mostra como o fisiculturista e ator Sebastian MacLean ajudou Ray Taylor, um amigo deficiente visual e  obeso, a transformar a própria vida aos 50 anos. Com o apoio de MacLean, Taylor descobre na musculação uma nova realização pessoal e decide superar muitos desafios para se tornar um fisiculturista.

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Taylor antes de começar a praticar musculação (Foto: Reprodução)

Certo dia, Ray Taylor recebe a notícia de que está perdendo a visão do único olho com o qual ainda enxerga. Acreditando que será muito difícil evitar a depressão, Taylor liga para o amigo Sebastian MacLean e pergunta se a melhora da condição física pode afastá-lo dos problemas psicológicos e emocionais. Então o fisiculturista o desafia a participar de um programa de transformação corporal com duração de 12 semanas. “Aceitei o desafio e consegui perder 40 libras [pouco mais de 18 quilos]. Me superei porque acredito que não existe limites quando se quer alcançar um objetivo”, diz Ray.

No filme, MacLean, que competiu como fisiculturista por mais de dez anos ininterruptos, é contagiado pelo empenho do amigo que toma a decisão de se tornar um bodybuilder. “Com a parceria de Ray, me senti até mais animado para competir”, conta o experiente fisiculturista que coleciona prêmios e já foi apontado como uma das revelações do fisiculturismo natural canadense. Em várias oportunidades, chegou a ser destaque da revista Muscle Mag, especializada em bodybuilding.

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Sebastian MacLean, o atleta que mudou a vida de Ray (Foto: Reprodução)

Sebastian é o responsável por introduzir Ray no universo do fisiculturismo clássico, onde a relação com as origens do esporte e a busca pela excelência da condição física remetem aos grandes atletas do passado, principalmente da Era de Ouro. É uma filosofia de vida em que a forma harmoniosa se sobressai ao físico exagerado e volumoso. Com MacLean, Taylor aprende que o bodybuilding tradicional tem como alicerce o equilíbrio.

Ray se apega a musculação como uma razão existencial. Um ano depois, mesmo ciente de que faltam apenas alguns meses antes de ficar cego, Taylor intensifica o treinamento. Durante o campeonato nacional, o atleta chega a chamar mais atenção do que o treinador. Por onde passa, independente de resultados, Ray conquista novos fãs e é aplaudido a cada pose. “Eu era completamente sedentário. Ninguém nunca imaginaria que isso aconteceria comigo”, comenta Taylor que sempre se emociona ao final das competições.

Facing Goliath não é apenas um filme sobre a superação de um homem, mas também uma história de amizade, cumplicidade e apoio. Logo no início do documentário, Sebastian ajuda Ray, um amigo em dificuldade. Depois, Taylor quem apoia MacLean a se tornar um fisiculturista ainda melhor. E juntos, chegam ao topo, participando dos mesmos campeonatos e partilhando novas experiências. “Desde o princípio, minha intenção era mostrar que o coração é o músculo mais poderoso do corpo humano. Sebastian e Ray são as provas disso. Se mantêm fortes e unidos até nas situações mais difíceis”, destaca o cineasta Kirk Pennell.

Curiosidade

O filme Facing Goliath, resultado de uma parceria entre os canadenses Kirk Pennell e Sebastian MacLean, já foi exibido em pelo menos 116 países.

Andreas Møl registra o amor dos afegãos pelo bodybuilding

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Cineasta mostra que o fisiculturismo é o esporte mais popular no Afeganistão

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Bodybuilding no Afeganistão: um caminho para uma vida melhor (Foto: Reprodução)

Em 2003, o dinamarquês Andreas Møl Dalsgaard viajou para Cabul, no Afeganistão, onde se surpreendeu com a grande quantidade de cartazes de fisiculturistas masculinos espalhados pela cidade. A experiência motivou o cineasta a produzir o documentário Afghan Muscles, lançado em 2006, que mostra como os atletas afegãos se dedicam a busca do controle do corpo na caótica Cabul pós-guerra.

Depois de se graduar em antropologia social pela Universidade de Aarhus e estudar cinema na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca, por onde também passou a cineasta Susanne Bier, vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro por In A Better World, Dalsgaard decidiu produzir o seu primeiro longa-metragem, sobre homens jovens que através da arte do bodybuilding vivem a modernidade a sua maneira, na batalha para tornarem-se bem sucedidos. “Me dei conta que o fisiculturismo no Afeganistão consiste em homens assistindo homens. Não há envolvimento das mulheres, nem como atletas nem plateia”, conta o cineasta dinamarquês.

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Mesmo quando não tinha apoio, Hamid não desistiu do sonho (Foto: Reprodução)

O interesse pela musculação começou a ganhar força no país em 2001. No ano seguinte, alcançou status de esporte mais popular. Embora o ambiente seja muito diferente do que se vê em países de Primeiro Mundo e até no Brasil, o Afeganistão se destaca por ser uma nação onde a maioria dos jovens atraídos pela musculação sonha em ingressar no bodybuilding. “Para eles, é um caminho para começar uma carreira, ter uma vida melhor através dos músculos. Infelizmente é um lado do Afeganistão e do Oriente Médio que poucos viram até hoje”, lamenta Andreas Møl.

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No país, os melhores fisiculturistas são tratados como celebridades (Foto: Reprodução)

Apesar de não oferecer apoio ao desenvolvimento do fisiculturismo, o movimento fundamentalista islâmico Talibã tolera a prática, mas impõe algumas exigências, como não permitir que os praticantes de musculação treinem sem camiseta. Já durante as competições, os atletas podem subir ao palco usando apenas sunga e com o corpo coberto por autobronzeador, sem risco de represália. “É interessante ver uma plateia de homens barbudos, usando trajes típicos, torcendo com muito entusiasmo para os seus competidores preferidos e, claro, bastante atentos ao melhores físicos. Eles realmente amam o bodybuilding”, declara o cineasta.

Os fisiculturistas afegãos Hamid Shirzai e Noorulhoda Shirzad explicam que a vitória em grandes campeonatos pode proporcionar fama, reconhecimento e honra para a família. “Você ganha o apoio de um senhor da guerra que pode até abrir uma academia em seu nome”, revelam. Shirzai e Shirzad são os protagonistas do filme Afghan Muscles que registra a luta e a preparação dos atletas da equipe afegã para competirem no Mr. Ásia 2004, no Bahrain, um estado insular do Golfo Pérsico.

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Atletas se tornam inspiração para os mais jovens (Foto: Reprodução)

No Afeganistão, os melhores fisiculturistas têm o privilégio de serem tratados como celebridades. No entanto, segundo o filme, o desenvolvimento dos atletas é quase sempre comprometido pela falta de apoio financeiro. Isso dificulta a contratação de assessoria profissional e investimento em dietas e produtos que otimizariam os resultados. Proteína em pó, por exemplo, que custa mais caro no Afeganistão do que em qualquer outro país, precisa ser contrabandeada como se fosse droga para chegar as mãos de Shirzai e Shirzad, grandes fãs de “Arnold”, como se referem ao famoso Arnold Schwarzenegger.

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Desde o início do milênio, o bodybuilding conquista o prestígio dos afegãos (Foto: Reprodução)

Fora as dificuldades econômicas que o guarda Hamid enfrenta para continuar lutando pelo sonho em um país definhado pela guerra, ainda é obrigado a lidar com o pai que não o apoia e cobra que ele desista do bodybuilding e se case. Afghan Muscles mostra o momento em que o atleta perde o seu maior patrocinador, o proprietário de um ginásio de musculação. Há muitos momentos de altos e baixos. Shirzai não desiste, pois acredita na conquista dos títulos de Mr. Afeganistão e Mr. Ásia. O primeiro sonho se tornou realidade em 2009, três anos após o lançamento do filme, quando venceu o campeonato mais importante do país. Hamid se orgulha de fazer parte de uma linhagem de fisiculturistas que inclui o tio e o irmão, dois campeões nacionais.

O documentário deixa claro que a construção do corpo no bodybuilding vai além da hipertrofia e simetria. É a materialização dos principais predicados que motivam um atleta a alcançar a singularidade. O corpo é como um templo. Por isso, há uma plena relação harmoniosa. Andreas Møl também apresenta duas realidades conflitantes. Enquanto Cabul, a cidade natal de Shirzai, representa as ruínas de um velho mundo em crise e miséria, Bahrain, para onde o atleta viaja em competição, simboliza o novo, as belezas da modernidade, o futuro e a ostentação.

Mas Hamid não se deslumbra, muito pelo contrário. Quer sempre voltar para casa e continuar se empenhando em ser um bom representante afegão. Shirzai deixa a lição de que independente de probabilidades, é preciso definir metas e se esforçar para alcançá-las. Afghan Muscles, que teve excelente repercussão no Oriente Médio, Europa e até nos Estados Unidos, venceu em 2007 o Grande Prêmio do Júri de Melhor Documentário no Festival de Cinema AFI, nos EUA. Em síntese, é uma obra sobre uma Cabul desconhecida e um Afeganistão que se constrói sobre novas esperanças e sonhos.

Bodybuilding: a subjetividade de modelar o corpo como um artista

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O homem se confrontando e antagonizando a realidade moderna

O prussiano Eugen Sandow, pioneiro do Bodybuilding (Foto: Reprodução)

Bodybuilding é arte e estilo de vida. Interpreto como prática antagônica à realidade moderna; estimula o homem a confrontar a condição física (algo anormal na sociedade do comodismo) e em estado de profundidade que leva à introspecção e uma peculiar forma de autoconhecimento. Exige exímia acuidade mental porque a informação é a chave para se obter resultados.

Trata-se do homem superando seus limites físicos e psicológicos. É preciso lidar com a dor diariamente para ir além. Com ela, se estabelece uma relação de amor e ódio. Até a cólera torna-se combustível da intensidade no contexto em que a frieza do ferro canaliza toda a negatividade liberada pelo corpo durante a musculação. Não é à toa que quem treina pesado costuma deixar o ginásio totalmente exaurido e relaxado, embora em catarse.

No bodybuilding se desperta a capacidade de construir e modelar o próprio corpo como um artista. É uma arte subjetiva, de limitada valorização – não se enquadra em conceitos de abrangência massiva. Só quem realmente gosta do treinamento com pesos capta a essência. Como escultor, o bodybuilder escolheu uma das artes mais difíceis. São necessários anos e anos para alcançar a excelência, além de um bom conhecimento adquirido como autodidata ou por meio de cursos e assessoria.

Em algumas correntes artísticas há obras que são criadas em curto prazo. Isto não existe no bodybuilding porque a matéria-prima não é meramente estática, não é exata. Além das peculiaridades genéticas, perpassa pela volatilidade das questões fenotípicas e somatotípicas. É uma arte que surge sob três conceitos estéticos: volume, simetria e definição. Na minha análise, há princípios semelhantes que encontramos em períodos da cultura barroca. Claro, com um basilar e distinto critério, já que nos tempos da contrarreforma se exaltava a opulência.

16 de janeiro de 1904 – Primeira competição de bodybuilding no Madison Square Garden, em Nova York (Foto: Reprodução)

O bodybuilding parte de uma premissa de estilo de vida estoico. Por isso é estrito e amado por uma minoria. Inclusive como exemplo de rigor é justo citar a alimentação regrada que não permite falhas regulares, além do ato de dormir cedo que exige abdicação das madraceadas noturnas, entre outras exigências disciplinares. Não se trata do homem preocupado em superar outrem. É preciso vencer a si mesmo, ter o próprio ser como um obstáculo referencial.

Em parte, o que impede a aceitação do bodybuilding é a desinformação midiática de grandes veículos que fazem o possível para marginalizar uma atividade nada superficial. A prática contribui muito para o desenvolvimento pessoal e promove a inclusão social. A questão mais importante na atualidade não é a apreciação do bodybuilding, mas sim o respeito. Hoje em dia, é fácil obter boas informações por meio da internet e sem precisar pagar nada. No entanto, cabe a cada um o interesse de buscá-la. Aprender é sempre importante, até mesmo sobre aquilo que desgostamos, pois não há crítica sem sustentação, já se preconizava na Grécia Antiga.

Teddy Bear mostra como as aparências enganam

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Filme rebate os clichês sobre o perfil de um fisiculturista

Teddy Bear foi premiado no Sundance Film Festival (Foto: Reprodução)

Idealizado pelo cineasta dinamarquês Mads Matthiesen, Teddy Bear é um filme sobre o fisiculturista Dennis, de 38 anos, que vive no subúrbio de Copenhagen, na Dinamarca. Apesar da postura hermética e intimidante, baseada no grande físico, o atleta é um cara tímido e que tem dificuldade para conversar com mulheres.

Um dia, Dennis, personagem do dinamarquês Kim Kold, conhece uma garota com quem sai. Quando volta para casa, onde vive com a mãe, é obrigado a mentir e dizer que estava com um amigo. O protagonista tem motivos para não revelar a verdade a mãe que só se sente satisfeita quando o filho está em casa, sem companhias femininas.

Por sugestão do tio, Dennis viaja para a Tailândia, onde conhece inúmeras mulheres. Logo se frustra ao perceber que elas só se aproximam dele por causa dos seus músculos. Mais tarde, após um tempo treinando em uma academia frequentada por fisiculturistas locais, Dennis é convidado para jantar com alguns colegas. Na oportunidade, conhece a proprietária do ginásio, Toi.

Pela primeira vez em muito tempo, Dennis percebe uma conexão recíproca. A profundidade desperta o interesse em contar a verdade para a mãe, a quem mentiu antes dizendo que viajaria para uma competição na Alemanha. Ao final da revelação, a mãe diz que ele precisa escolher entre ela ou Toi. O fisiculturista se sente confuso, pois as duas são importantes em sua vida, mesmo que de formas distintas.

O nome Teddy Bear é uma crítica ao estereótipo no qual Dennis se enquadra; reflete a representação do personagem que em muitos momentos parece um grande urso de pelúcia pela inocência e atitudes sensíveis. O filme rendeu a Mads Matthiesen o prêmio de melhor diretor no Sundance Film Festival deste ano, considerado o maior evento do cinema independente nos EUA. A obra é baseada no curta-metragem Dennis, lançado pelo cineasta em 2007.