David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Escultor’ tag

Paolo Troubetzkoy: “Se você compra [carne], você está autorizando a morte de animais”

without comments

“Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem”

Alexandra Tolstói: “O meu pai gostava muito dele. Era um doce e inocente ser humano com grandes dons” (Foto: Getty Images)

Considerado pelo escritor irlandês George Bernard Shaw como o escultor mais surpreendente dos tempos modernos, o escultor italiano de origem russa Paolo Troubetzkoy conquistou muita fama na Rússia nas primeiras décadas do século 20. Influenciado pelas obras de Auguste Rodin e Medardo Rosso, Troubetzkoy criou esculturas que se tornaram mundialmente famosas, como do imperador Alexandre III da Rússia, do pintor Isaac Levitan, do escritor Liev Tolstói, da princesa M.N. Gagarina com sua filha Marina e da grande duquesa Elizabeth Feodorovna.

Assim como Tolstói e Elizabeth, o escultor e pintor italiano de origem russa também era vegetariano. “O meu pai gostava muito dele. Era um doce e inocente ser humano com grandes dons. Ele praticamente não lia nada, falava pouco e passou toda a sua vida envolvido com esculturas”, declarou Alexandra Tolstói, a filha caçula de Liev Tolstói, reproduzindo memórias que seu pai preservou da amizade com Troubetzkoy, para quem posou de bom grado na criação de várias esculturas em sua homenagem. A citação pode ser encontrada no livro “Tolstoy: A Life of My Father”, publicado em 1953 e em 1972.

Troubetzkoy: “Não posso me alimentar de cadáveres” (Foto: Getty Images)

Quando o questionavam sobre o motivo dele não se alimentar de animais, Troubetzkoy quase sempre respondia com uma voz tranquila e parcimônia peculiar: “Não posso me alimentar de cadáveres.” Em seu estúdio em São Petersburgo, ele produziu muitas obras inspiradas na vida selvagem. Inúmeras de suas esculturas foram criadas visando captar a essência da importância da liberdade animal.

O escritor George Bernard Shaw dizia que ele era um humanitarista extraordinário, incapaz de se alimentar de um animal. Sua contrariedade em relação à matança de animais era tão grande que, mesmo tímido, ele jamais deixou de se manifestar em relação a isso.

Talvez essa insatisfação também tenha influenciado o estilo de Troubetzkoy, marcado por um intimismo e melancolia que deram origem a uma forma nervosa de impressionismo. Além de Bernard Shaw e Tolstói, outros nomes importantes de sua época e que viam uma qualidade rara em suas obras estavam o Barão de Rothschild, o conde Robert de Montesquiou, Gabriele D’Annunzio, Arturo Toscanini, Enrico Caruso e Giovanni Segantini.

O escultor russo lecionou na Academia Imperial de Belas Artes de Moscou e recebeu importantes prêmios – como o grande prêmio da Exposição de Paris em 1900. Além da Europa, suas obras também foram levadas para os Estados Unidos. “Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem. Você entende? Se você compra [carne] de um açougueiro, você está autorizando a morte de animais – a morte de criaturas indefesas e inocentes, que nem eu nem você poderíamos matar”, declarou em entrevista registrada na página 22 da The Vegetarian Magazine em 1907.

Saiba Mais

Paolo Troubetzkoy nasceu na comuna italiana da Verbania em 15 de fevereiro de 1866 e faleceu na comuna de Novara, também na Itália, em 12 de fevereiro de 1938.

Referências

The Vegetarian Magazine, Volume 11, página 22 (1907).

Davis, Gail. Vegetarian Food for Thought. Página 69. New Sage Press (1999).

IVU World Vegetarian Congress Souvenir Book. Warriors for Vegetarianism  (1957).

Tolstoy, Alexandra. “Tolstoy: A Life of My Father”. Octagon Books (1972).

 

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





Sebastião Castro, o artista inclusivo

with one comment

“Optei por um material de refugo baseado em água, cola e jornal velho” (Fotos: Amauri Martineli)

A arte é um conhecimento que permite uma melhor compreensão do ser humano e do mundo”

O artista e professor Sebastião Soares Castro, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, chama atenção pela afinidade com as mais diversas formas de arte. O talento descoberto na infância permitiu que mais tarde se dedicasse à arte inclusiva, aquela que não apenas existe para a fruição, mas também para integrar e facilitar o aprendizado. “Ela muda as pessoas. É um conhecimento que penetra em outras áreas e permite uma melhor compreensão do ser humano e do mundo”, comenta o pintor, desenhista, romancista, poeta e ator Sebastião Castro.

“São figuras que materializo com técnicas de condensação”

Mesmo que a arte seja produzida de forma individualista, somente quando passa pelo crivo da coletividade que assume um caráter transformador. Tal raciocínio é dividido por Castro que descobriu o dom para as artes aos quatro anos, quando começou a usar pó de grafite colorido de lápis para pintar. “Em seguida, tinta acrílica e guache, basicamente aquarela. Mais tarde, antes de ingressar na escola, aprendi a ler com o meu irmão. Logo produzi peças baseadas no livro ‘Meu Pé de Laranja-Lima [de José Mauro de Vasconcelos]’”, conta e acrescenta que a leitura é essencial para quem produz qualquer tipo de arte.

Muito conhecido no Paraná como escultor, Sebastião Castro é o criador de uma alternativa ao papel machê, pois prioriza a dimensionalidade na criação de matéria-prima. “Percebi que o machê me limitava, então optei por um material de refugo diferenciado, baseado em água, cola e jornal velho”, explica. Provavelmente, uma das peças mais conhecidas do artista seja o presépio natalino que faz parte de um conceito de reconstrução de valores e identidade. Outra característica marcante do estilo de Castro é a paródia.

Exemplo é a escultura “A Pensadora” que imita a meditação de “Le Penseur”, de Auguste Rodin. Outras são mais fiéis ao original e evocam fragmentos literários, como a personagem mulata Rita Baiana, de “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo. “São figuras que materializo com técnica de condensação de jornal molhado, papel decomposto mesmo. Misturo com bastante cola para que a base fique o mais sólida possível”, revela o artista que inspirado em um haicai da poetisa paranaense Helena Kolody decidiu homenageá-la criando uma escultura. O maior desafio em cada obra é tentar captar a essência de quem o inspira.

Sebastião Soares, também autor de textos teatrais como “Tempo de Reformar a Casa”, já produziu tanto que considera impossível precisar o total de peças. Atualmente, se dedica mais a literatura, até por estar se preparando para concluir um trabalho de mestrado intitulado “A transformação da obra literária para deficientes visuais”.  Ainda assim, o autor que tem formação em inglês, letras e literatura, e é professor do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA), não se distancia das artes plásticas por mais de alguns dias.  “Estou prestes a finalizar o meu romance ‘A Morte da Primavera’, sobre uma personagem em conflito de identidade”, destaca e lembra que a recepção de toda obra artística oscila conforme o estado emocional e psicológico do receptor, além da capacidade de concepção.

Um padre de muitos talentos

with one comment

Henrique Wunderlich: padre, pintor, escultor, marceneiro e carpinteiro

Frei Henrique criou dezenas de esculturas em Paranavaí (Acervo: Ordem do Carmo)

O frei alemão Henrique Wunderlich viveu em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, apenas cinco anos, mas foi tempo o suficiente para deixar marcas indeléveis na cultura e história local, a partir de seus trabalhos com pinturas, esculturas, marcenaria e carpintaria.

Hartwig Wunderlich, conhecido como Frei Henrique, chegou a Paranavaí em setembro de 1952 para prestar assistência ao padre alemão Ulrico Goevert, responsável pela paróquia local, que em maio do mesmo ano recebeu autorização do bispo para fundar a igreja matriz.  “Frei Henrique não era somente um padre, mas também excelente escultor, marceneiro e carpinteiro”, afirmou Goevert em publicação à revista alemã Karmelstimmen na década de 1950.

Wunderlich começou a mostrar suas qualidades artísticas em Paranavaí ajudando na construção da primeira Igreja São Sebastião, principalmente o altar-mor. À época, os dois padres tiveram de se desdobrar em engenheiros porque em Paranavaí não havia profissionais da área. O que exigiu bastante cautela, pois naquele tempo muitas igrejas tinham desmoronado na primeira tempestade, após construídas nas proporções erradas.

Frei Ulrico lembrou que não demorou para a igreja ficar pronta, apesar do árduo trabalho. Pouco tempo depois, Frei Henrique começou a lapidar um enorme pedaço de árvore para dar-lhe formas inimagináveis. Wunderlich, conhecido na Alemanha como um prolífico artista, logo que terminou o altar teve a ideia de criar um grande quadro de madeira com o símbolo da eucaristia. “Ele fez o peixe e o pão, e no mesmo estilo um cálice com hóstia nas portas do tabernáculo, além de uma enorme cruz atrás do altar”, declarou Goevert que se surpreendeu com o talento do frei em trabalhar com pranchas grossas e duras de madeira de marfim.

O padre se mostrou tão criativo em Paranavaí que desenvolveu métodos particulares de aplicação de tintas. De acordo com Frei Ulrico, primeiro, Wunderlich preparou uma talhadeira tipo cinzel e então esculpiu figuras e linhas na madeira. Frei Henrique preencheu tudo com tinta importada do Japão. “As gravações impediram que as cores se misturassem e logo tudo ficou belo e liso”, comentou Goevert que admitiu ter ficado maravilhado com os quadros de Wunderlich que mais pareciam mosaicos em madeira, tamanha a perfeição.

A população local também ficou extasiada com as criações de Frei Henrique. Não imaginavam que em Paranavaí havia um padre que ao mesmo tempo era um artista de exímias habilidades. O mais incrível é que Wunderlich criava muitas obras em questão de semanas. Uma das esculturas do frei que até hoje chama bastante atenção é a de Jesus pregado na cruz com uma feição carregada de saudade. “Como ele sentia muita falta da Alemanha acabou transmitindo isso ao crucificado”, revelou Frei Ulrico, citando a obra criada em 1953 e que pode ser vista no altar-mor da Igreja São Sebastião.

Uma das esculturas mais famosas da Igreja São Sebastião foi feita por Henrique Wunderlich (Foto: Ordem do Carmo)

Uma das esculturas mais famosas da Igreja São Sebastião foi feita por Henrique Wunderlich (Foto: Ordem do Carmo)

Outra peça do padre alemão muito lembrada pelos pioneiros de Paranavaí é o escudo dos carmelitas feito em madeira e que traz o lema da Ordem: “Zelo Zelatus Sum Pro Domino Deo Exercituum” que significa “Consome-me o zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos.” Também se destacam as pinturas da Santíssima Trindade e da Rosa Mística. “Esta foi pintada como um botão aberto de uma tenríssima rosa da qual nasce a divina criança”, disse Frei Ulrico, acrescentando que junto ao altar, em cima do livro com sete selos, Wunderlich lapidou a imagem de Jesus como o bom pelicano e também como o cordeiro de Deus.

Das peças que podem ser apreciadas ainda hoje, entre as dezenas de esculturas e pinturas que Henrique Wunderlich legou a Paranavaí, uma das que desperta mais curiosidade é a outra escultura de Jesus na cruz, situada na Paróquia São Sebastião. Quem o observa de frente não consegue ver seu rosto. O crucificado está cabisbaixo e com o cabelo tapando parcialmente o rosto em uma simbologia de tristeza e ao mesmo tempo compaixão pelo próximo.

Para conseguir enxergar Jesus com nitidez a pessoa precisa se ajoelhar. A intenção de Frei Henrique era transmitir a ideia de que diante de Jesus crucificado, o cristão deve se abaixar em ato de respeito e adoração. Wunderlich viveu em Paranavaí até 6 de dezembro de 1957, data em que foi enviado de volta à Alemanha para trabalhar nas paróquias de Fürth e Schlusselau, no Estado da Baviera. Ao se aposentar em 1993, Henrique Wunderlich retornou para a sua cidade natal, Kulmbach, também na Baviera, onde viveu até falecer em 18 de abril de 2000.

Curiosidade

Henrique Wunderlich foi soldado do Exército Alemão de 1939 a 1945.

O aliendígena

without comments

Plebeu: “Todo mundo dizia que eu tinha criado um estilo, mas não me deram incentivo algum”

Plebeu produz pelo menos 15 obras por mês (Foto: David Arioch)

Há mais de vinte anos, Roldney Plebeu, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, encontrou na arte mais do que um hobby e uma profissão: uma razão existencial. Cada uma de suas telas recebe cores e formas que nascem da mistura de impressões e sentimentos. É a arte existencialista de um aliendígena, como o artista define a si e tudo que produz.

Roldney Plebeu, 42, teve o primeiro contato com o desenho e a pintura na infância. “Comecei rabiscando com caneta”, diz. Na adolescência, se tornou um artista autodidata solitário por causa da incompreensão e falta de apoio. Aos 23 anos, sentiu necessidade de amadurecimento artístico e tentou entender melhor as próprias pinturas. Anos depois, insatisfeito em Paranavaí, Roldney se mudou para São Paulo.

Na capital paulista, o artista conheceu alguns empórios, institutos e escolas de artes como a Panamericana Escola de Arte e Design. “Precisava saber se o meu trabalho pertencia a alguma corrente artística, mas apenas me decepcionei. Todo mundo dizia que eu tinha criado um estilo, que sou revolucionário da arte, mas não me deram incentivo algum”, lamenta, sem esconder a decepção.

Plebeu não conseguiu custear as despesas em São Paulo por muito tempo e logo adotou como lar um banco gelado do Terminal Rodoviário da Barra Funda, espaço que dividia com mendigos. “Eu dormia pouco nessa época. Ficava a maior parte do tempo pintando na Avenida Paulista”, relata. O destino era sempre uma viela do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).

Lá, chamou a atenção de estrangeiros. Turistas dos Estados Unidos, Japão, Inglaterra e Israel compraram muitas de suas obras. “Um norte-americano, Joshua Rodriguez, presidente de uma fábrica de medicamentos do Texas, gostou muito do meu trabalho. Comprou até pinturas inacabadas”, garante Roldney. Convidado a se mudar para Londres, recusou a proposta para não se distanciar da mulher e dos filhos que estavam em Paranavaí.

Não demorou para os seguranças do Masp pedirem para Plebeu procurar outro lugar para pintar. Sem lugar fixo para expor as obras, o artista teve dificuldade em vender o que produzia. “Comecei a dar aula de graça para crianças de rua que eram viciadas em drogas”, explica. Pouco tempo depois, a desvalorização artística levou Roldney à depressão crônica. “Diziam que minhas obras eram complexas demais. Não consegui vender mais quase nada. Me envolvi com pichação e comecei a usar drogas”, revela o artista que abandonou a dependência química quatro anos depois e retornou a Paranavaí.

Emocionado, declara que nunca conquistou estabilidade trabalhando com arte, inclusive há períodos em que enfrenta sérias dificuldades para comprar materiais. “Pintar é uma terapia, mas é uma pena que com essa arte eu não consiga manter a mim e minha família”, desabafa o pintor que também é escultor. Plebeu manipula madeira, pedra-sabão e ferro.

O conceito aliendígena

O estilo aliendígena é uma referência as origens do artista (Foto: David Arioch)

Roldney Plebeu é um artista prolífico. Consegue produzir pelo menos 15 obras por mês. Pinta telas com extrema naturalidade, tanto que abre mão de criar esboços. “Muito do que pinto surge como uma surpresa até pra mim, é algo sem planejamento, um reflexo da maneira como eu encaro o mundo e a vida”, justifica Plebeu que materializa impressões e emoções usando pincel e tinta.

O artista é autor do estilo aliendígena de conceber arte. O neologismo é uma referência às origens de Roldney Plebeu, um sincretismo de europeu e índio. “Eu sou o aliendígena, uma mistura de etnias. Trato das diferenças em meio ao caos mundial. Cada pessoa pode interpretar como quiser”, comenta.

Plebeu: “Muito do que pinto surge como uma surpresa até pra mim” (Foto: David Arioch)

O conceito estético aliendígena parece carregar um pouco de brasilidade, tropicalismo, existencialismo, surrealismo e modernismo; uma arte de origem globalizada e destribalizada que aborda a heterogeneidade cultural do ser humano e descortina as dificuldades do homem em reconhecer a si mesmo diante do semelhante. É possível encarar cada pintura de Plebeu como um quebra-cabeças, tanto na forma quanto no conteúdo, inclusive os personagens do quadro são fragmentos que se encaixam tanto quanto se antagonizam.

Roldney Plebeu também trabalha com paisagismo. É uma maneira de dar novas perspectivas a um ambiente. “É como criar um mundo dentro de outro”, avalia o artista plástico que também é poeta, letrista e escreve até versos de rodeio.

Frase do artista plástico Roldney Plebeu sobre a arte aliendígena

“Em São Paulo, quando era mais jovem, mostrei meus quadros para pessoas com grande formação em arte. Achei que me dariam respostas, mas me enganei.”

Contato

Para mais informações sobre o trabalho de Roldney Plebeu, basta ligar para (44) 9832-3901

As esculturas de Antonio Menezes

with one comment

Artista plástico cria obras que são símbolos e metáforas da condição existencial do homem

Antonio Menezes cria obras com galhos, ossos e pedras (Foto: David Arioch)

No período de um ano e seis meses o artista plástico paranavaiense Antonio de Menezes Barbosa produziu mais de dez obras com materiais descartados. São peças feitas com galhos, ossos e pedras; símbolos e metáforas de sonhos e até da condição existencial do homem perante o mundo e a natureza.

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa descobriu o dom para as artes plásticas há 30 anos, quando confeccionou miniaturas de ferramentas de marceneiro, rastelos, enxadas e cavadeiras de mão. Porém, o cotidiano conturbado pelo trabalho não permitiu que na época Barbosa se dedicasse a atividade. Contudo, Antonio de Menezes nunca desistiu das artes plásticas e há um ano e meio decidiu produzir esculturas com maior regularidade.

Os materiais para a confecção das esculturas, Barbosa encontra na natureza. São galhos, pedras e ossos abandonados, fragmentos que para o artista ganham formas antes de serem recolhidos. “Eu vejo e já imagino onde cada coisa pode se encaixar”, afirma. Antonio de Menezes leva para casa somente aquilo que pode ser aproveitado.

A Mão Furada pelo Cravo (Foto: Amauri Martineli)

O artista que já enviou obras para Milão, na Itália, usa muita madeira, principalmente eucalipto e sibipiruna, mas jamais cortou sequer um galho pequeno. “Só pego aquilo que foi descartado”, explica o artista plástico. Antonio de Menezes admite que tenta sempre manter uma relação de harmonia com a natureza.

As Bailarinas (Foto: Amauri Martineli)

Entre as esculturas do artista estão “Um Par de Mãos”, “A Mulher Grávida”, “O Homem do Violino”, “O Pé de Pedra”, “O Homem Fracionado”, “O Bandolim”, “As Bailarinas”, “ A Formiga de Osso”, “A Formiga de Galhos” e “A Mão Furada pelo Cravo”. O Pé de Pedra foi a obra mais rápida. Segundo Antonio de Menezes, foi concluída em cinco horas. Já O Homem Fracionado levou dois meses. “Precisei de um bom tempo, só que também nunca trabalhei nele em período integral”, explica.

O Homem Fracionado feito em madeira tem um conceito existencialista, o de que o homem se retalha um sem número de vezes no decorrer da vida, mas que mesmo assim sempre deve predominar a persistência de administrar todas as situações ruins. “Do contrário, o homem morre ou enlouquece”, avalia Antonio de Menezes. Já A Formiga de Galhos foi concebida segurando uma mão com dedo indicador três vezes superior aos demais. Significa que ao ser humano, independente de tamanho – uma metáfora social – não cabe apenas apontar os erros, mas ir além.

Outra peça que desperta muita curiosidade é A Mulher Grávida feita com seis tipos de madeira. É uma simbologia da miscigenação não apenas do brasileiro, mas do homem universalizado. Também se destaca a mão furada por um cravo de onde brota uma orquídea. “Mesmo o homem massacrado, ele ainda germina vida”, comenta o autor.

A Formiga de Galhos (Foto: Amauri Martineli)

Artista vai expor obras na UEM

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa também explora a dualidade humana longe das amarras do maniqueísmo em uma criação bilateral de pedra que apresenta a face de uma ovelha e de um cão; o bem e o mal contido no homem. Há também peças bucólicas como duas mãos se tocando, representando a candura do primeiro amor. Para o artista, importante é dar margem as mais diversas interpretações.

Até hoje, Antonio de Menezes já produziu cerca de 20 esculturas. “Algumas peças refletem o que eu gostaria de ter sido. São idealizações”, declara. Para a produção das esculturas, Barbosa usa faca, serrote, furadeira, broca e uma serra de cortar ferro. “Até improviso, invento ferramentas”, revela, sem deixar de mencionar que já está trabalhando em novas esculturas.

No dia 2 de setembro, 12 obras do artista plástico estarão em exposição no Museu da Bacia do Paraná, na Universidade Estadual de Maringá (UEM). “As peças poderão ser vistas pelo público até o dia 14, das 8h às 11h e das 14h às 17h”, assinala Antonio de Menezes.