David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for January, 2013

Mojica Marins e o Fim do Homem

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Filme aborda a carência e a fragilidade humana (Foto: Reprodução)

Lançado em 1971, Finis Hominis (Fim do Homem), do cineasta brasileiro José Mojica Marins, mais conhecido como Zé do Caixão, é um controverso filme de influência niilista e iconoclasta que aborda a carência e a fragilidade humana a partir da idolatria de um homem incomum.

Na primeira cena de Finis Hominis, um sentimento de angústia é proeminente. Ao redor do protagonista – o próprio Mojica Marins, que parece confuso ao surgir por meio de um artifício surreal, desponta uma paisagem em que o uso de filtro ressalta uma penumbra; possível referência à escuridão que permeia a natureza humana.

Pouco tempo depois o estranho recebe o nome de Finis Hominis. O personagem representa o antiparadigma do homem considerado normal. Mesmo pouco comunicativo e de aparência extravagante, desperta atenção por onde passa, conquistando uma infinidade de seguidores que veem no anormal um alicerce de segurança e possibilidade de redenção.

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José Mojica interpreta um personagem reverenciado por onde passa (Foto: Reprodução)

Em Finis Hominis, Mojica Marins adianta o que aconteceria muitos anos depois; um grande aumento do número de igrejas. Também enfatiza, por meio da dialógica, que o homem é um ser extremamente vulnerável e refém do status quo. O cineasta questiona até que ponto o ser humano é capaz de ser fiel as suas ideologias e crenças, não se deixando levar pelas tentações do acaso.

Em uma das cenas, Finis Hominis arremessa um monte de moedas em meio a um grupo de hippies que como seres irracionais começam a brigar pela posse do dinheiro, ignorando os próprios valores. O personagem não se surpreende, simplesmente vira as costas e vai embora, como uma figura provocadora e ao mesmo tempo alheia.

 Curiosidade

Finis Hominis é o único filme de José Mojica Marins lançado durante a Ditadura Militar que não foi censurado.

Written by David Arioch

January 23rd, 2013 at 6:14 pm

O sangrento faroeste à Tarantino

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Django Unchained mistura bang-bang, drama e comédia em um cenário de violência extrema

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Christoph Waltz e Jamie Foxx interpretam uma dupla de caçadores de recompensas (Foto: Reprodução)

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Samuel L. Jackson rouba a cena como o ruidoso nigger house Stephen (Foto: Reprodução)

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Leonardo DiCaprio incorpora o cruel Calvin Candie (Foto: Reprodução)

Django Unchained, do cineasta estadunidense Quentin Tarantino, é uma obra audaciosa com quase 2h50. Mesmo longa, é capaz de cativar a atenção do espectador do início ao fim. Memoráveis as interpretações do austríaco Christoph Waltz, Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson. Me diverti muito com o personagem Big Daddy, interpretado pelo multifacetado Don Johnson que incorpora a comicidade, a sátira e a estupidez dos latifundiários sulistas estadunidenses nos tempos da escravidão – é uma bela caricatura da ignorância.

Surpreendente a maneira como Tarantino consegue costurar bang-bang à americana, drama, comédia e ao mesmo tempo brincar com elementos da cultura pop, transportando a música contemporânea e urbana dos EUA para o Velho Oeste Pré-Guerra da Secessão. Tarantino é ousado e acredito piamente que ele faz filmes para si mesmo, mas nessa de ser autoral, de fazer um cinema híbrido, que homenageia os gêneros e cineastas com quem muito aprendeu, acaba sempre, de algum modo, traduzindo os anseios do público que frequenta as salas de cinema do mundo todo. Um exemplo?

Django Unchained foi lançado mundialmente no final de dezembro e conseguiu desbancar milhares de obras que ganharam o mercado estadunidense no ano passado. Ainda assim, foi eleito nos EUA um dos dez melhores filmes do ano. Quentin Tarantino 2012 continua criativo, experimentador, filosófico e não tem medo de conduzir o público ao nonsense. Justo, já que nem todo personagem, assim como ser humano, tenta ou precisa fazer sentido o tempo todo. Talvez por isso, o trabalho do homem seja sucesso de público e crítica.

O filme tem uma estética incandescente que remete ao western spaghetti e casa magistralmente com o objetivo do personagem principal, Django (Jamie Foxx), um ex-escravo que se torna um caçador de recompensas e parte em busca de sua Broomhilda, numa livre interpretação do mito germânico e islandês de Brunhilde e Siegfried. A exemplo de Inglourious Basterds e da franquia Death Proof, Tarantino explora com muita violência audiovisual – é sangue do início ao fim, o tema retaliação. O cineasta presta tributo ao cinema B que para cobrir as lacunas das falhas orçamentárias apelava para o gore ou splatter. Entre os personagens, não posso deixar de destacar o old house nigger Stephen, interpretado ruidosamente pelo inconfundível Samuel L. Jackson.

O homem é fiel apenas ao seu “dono” e, embora tenha uma autonomia de pensamentos, age como se fosse um animal de estimação. Em uma das extremidades da hipocrisia, trata os demais escravos como se não fossem iguais a ele – nem mesmo humanos. Interessante como Quentin Tarantino expõe através do caçador de recompensas alemão King Schultz (Christoph Waltz), personagem que qualifica Django para o trabalho, a origem negra do escritor francês Alexandre Dumas na biblioteca do fazendeiro francófilo Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um cruel escravocrata. Como não poderia deixar de ser, a música incidental do filme é assinada pelo lendário Ennio Morricone, o maior compositor de trilhas sonoras do cinema western.

O poder transformador da musculação

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Facing Goliath narra a história de superação do fisiculturista canadense Ray Taylor

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Fisiculturismo ajuda Ray Taylor a enfrentar a cegueira (Foto: Reprodução)

Lançado em 2006, o documentário Facing Goliath, do cineasta canadense Kirk Pennell, mostra como o fisiculturista e ator Sebastian MacLean ajudou Ray Taylor, um amigo deficiente visual e  obeso, a transformar a própria vida aos 50 anos. Com o apoio de MacLean, Taylor descobre na musculação uma nova realização pessoal e decide superar muitos desafios para se tornar um fisiculturista.

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Taylor antes de começar a praticar musculação (Foto: Reprodução)

Certo dia, Ray Taylor recebe a notícia de que está perdendo a visão do único olho com o qual ainda enxerga. Acreditando que será muito difícil evitar a depressão, Taylor liga para o amigo Sebastian MacLean e pergunta se a melhora da condição física pode afastá-lo dos problemas psicológicos e emocionais. Então o fisiculturista o desafia a participar de um programa de transformação corporal com duração de 12 semanas. “Aceitei o desafio e consegui perder 40 libras [pouco mais de 18 quilos]. Me superei porque acredito que não existe limites quando se quer alcançar um objetivo”, diz Ray.

No filme, MacLean, que competiu como fisiculturista por mais de dez anos ininterruptos, é contagiado pelo empenho do amigo que toma a decisão de se tornar um bodybuilder. “Com a parceria de Ray, me senti até mais animado para competir”, conta o experiente fisiculturista que coleciona prêmios e já foi apontado como uma das revelações do fisiculturismo natural canadense. Em várias oportunidades, chegou a ser destaque da revista Muscle Mag, especializada em bodybuilding.

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Sebastian MacLean, o atleta que mudou a vida de Ray (Foto: Reprodução)

Sebastian é o responsável por introduzir Ray no universo do fisiculturismo clássico, onde a relação com as origens do esporte e a busca pela excelência da condição física remetem aos grandes atletas do passado, principalmente da Era de Ouro. É uma filosofia de vida em que a forma harmoniosa se sobressai ao físico exagerado e volumoso. Com MacLean, Taylor aprende que o bodybuilding tradicional tem como alicerce o equilíbrio.

Ray se apega a musculação como uma razão existencial. Um ano depois, mesmo ciente de que faltam apenas alguns meses antes de ficar cego, Taylor intensifica o treinamento. Durante o campeonato nacional, o atleta chega a chamar mais atenção do que o treinador. Por onde passa, independente de resultados, Ray conquista novos fãs e é aplaudido a cada pose. “Eu era completamente sedentário. Ninguém nunca imaginaria que isso aconteceria comigo”, comenta Taylor que sempre se emociona ao final das competições.

Facing Goliath não é apenas um filme sobre a superação de um homem, mas também uma história de amizade, cumplicidade e apoio. Logo no início do documentário, Sebastian ajuda Ray, um amigo em dificuldade. Depois, Taylor quem apoia MacLean a se tornar um fisiculturista ainda melhor. E juntos, chegam ao topo, participando dos mesmos campeonatos e partilhando novas experiências. “Desde o princípio, minha intenção era mostrar que o coração é o músculo mais poderoso do corpo humano. Sebastian e Ray são as provas disso. Se mantêm fortes e unidos até nas situações mais difíceis”, destaca o cineasta Kirk Pennell.

Curiosidade

O filme Facing Goliath, resultado de uma parceria entre os canadenses Kirk Pennell e Sebastian MacLean, já foi exibido em pelo menos 116 países.

Andreas Møl registra o amor dos afegãos pelo bodybuilding

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Cineasta mostra que o fisiculturismo é o esporte mais popular no Afeganistão

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Bodybuilding no Afeganistão: um caminho para uma vida melhor (Foto: Reprodução)

Em 2003, o dinamarquês Andreas Møl Dalsgaard viajou para Cabul, no Afeganistão, onde se surpreendeu com a grande quantidade de cartazes de fisiculturistas masculinos espalhados pela cidade. A experiência motivou o cineasta a produzir o documentário Afghan Muscles, lançado em 2006, que mostra como os atletas afegãos se dedicam a busca do controle do corpo na caótica Cabul pós-guerra.

Depois de se graduar em antropologia social pela Universidade de Aarhus e estudar cinema na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca, por onde também passou a cineasta Susanne Bier, vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro por In A Better World, Dalsgaard decidiu produzir o seu primeiro longa-metragem, sobre homens jovens que através da arte do bodybuilding vivem a modernidade a sua maneira, na batalha para tornarem-se bem sucedidos. “Me dei conta que o fisiculturismo no Afeganistão consiste em homens assistindo homens. Não há envolvimento das mulheres, nem como atletas nem plateia”, conta o cineasta dinamarquês.

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Mesmo quando não tinha apoio, Hamid não desistiu do sonho (Foto: Reprodução)

O interesse pela musculação começou a ganhar força no país em 2001. No ano seguinte, alcançou status de esporte mais popular. Embora o ambiente seja muito diferente do que se vê em países de Primeiro Mundo e até no Brasil, o Afeganistão se destaca por ser uma nação onde a maioria dos jovens atraídos pela musculação sonha em ingressar no bodybuilding. “Para eles, é um caminho para começar uma carreira, ter uma vida melhor através dos músculos. Infelizmente é um lado do Afeganistão e do Oriente Médio que poucos viram até hoje”, lamenta Andreas Møl.

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No país, os melhores fisiculturistas são tratados como celebridades (Foto: Reprodução)

Apesar de não oferecer apoio ao desenvolvimento do fisiculturismo, o movimento fundamentalista islâmico Talibã tolera a prática, mas impõe algumas exigências, como não permitir que os praticantes de musculação treinem sem camiseta. Já durante as competições, os atletas podem subir ao palco usando apenas sunga e com o corpo coberto por autobronzeador, sem risco de represália. “É interessante ver uma plateia de homens barbudos, usando trajes típicos, torcendo com muito entusiasmo para os seus competidores preferidos e, claro, bastante atentos ao melhores físicos. Eles realmente amam o bodybuilding”, declara o cineasta.

Os fisiculturistas afegãos Hamid Shirzai e Noorulhoda Shirzad explicam que a vitória em grandes campeonatos pode proporcionar fama, reconhecimento e honra para a família. “Você ganha o apoio de um senhor da guerra que pode até abrir uma academia em seu nome”, revelam. Shirzai e Shirzad são os protagonistas do filme Afghan Muscles que registra a luta e a preparação dos atletas da equipe afegã para competirem no Mr. Ásia 2004, no Bahrain, um estado insular do Golfo Pérsico.

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Atletas se tornam inspiração para os mais jovens (Foto: Reprodução)

No Afeganistão, os melhores fisiculturistas têm o privilégio de serem tratados como celebridades. No entanto, segundo o filme, o desenvolvimento dos atletas é quase sempre comprometido pela falta de apoio financeiro. Isso dificulta a contratação de assessoria profissional e investimento em dietas e produtos que otimizariam os resultados. Proteína em pó, por exemplo, que custa mais caro no Afeganistão do que em qualquer outro país, precisa ser contrabandeada como se fosse droga para chegar as mãos de Shirzai e Shirzad, grandes fãs de “Arnold”, como se referem ao famoso Arnold Schwarzenegger.

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Desde o início do milênio, o bodybuilding conquista o prestígio dos afegãos (Foto: Reprodução)

Fora as dificuldades econômicas que o guarda Hamid enfrenta para continuar lutando pelo sonho em um país definhado pela guerra, ainda é obrigado a lidar com o pai que não o apoia e cobra que ele desista do bodybuilding e se case. Afghan Muscles mostra o momento em que o atleta perde o seu maior patrocinador, o proprietário de um ginásio de musculação. Há muitos momentos de altos e baixos. Shirzai não desiste, pois acredita na conquista dos títulos de Mr. Afeganistão e Mr. Ásia. O primeiro sonho se tornou realidade em 2009, três anos após o lançamento do filme, quando venceu o campeonato mais importante do país. Hamid se orgulha de fazer parte de uma linhagem de fisiculturistas que inclui o tio e o irmão, dois campeões nacionais.

O documentário deixa claro que a construção do corpo no bodybuilding vai além da hipertrofia e simetria. É a materialização dos principais predicados que motivam um atleta a alcançar a singularidade. O corpo é como um templo. Por isso, há uma plena relação harmoniosa. Andreas Møl também apresenta duas realidades conflitantes. Enquanto Cabul, a cidade natal de Shirzai, representa as ruínas de um velho mundo em crise e miséria, Bahrain, para onde o atleta viaja em competição, simboliza o novo, as belezas da modernidade, o futuro e a ostentação.

Mas Hamid não se deslumbra, muito pelo contrário. Quer sempre voltar para casa e continuar se empenhando em ser um bom representante afegão. Shirzai deixa a lição de que independente de probabilidades, é preciso definir metas e se esforçar para alcançá-las. Afghan Muscles, que teve excelente repercussão no Oriente Médio, Europa e até nos Estados Unidos, venceu em 2007 o Grande Prêmio do Júri de Melhor Documentário no Festival de Cinema AFI, nos EUA. Em síntese, é uma obra sobre uma Cabul desconhecida e um Afeganistão que se constrói sobre novas esperanças e sonhos.

Quando a bondade não tem vez

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Grupo planeja roubar U$ 2 milhões dos cofres de um hipódromo (Foto: Reprodução)

Lançado em 1956, The Killing, conhecido no Brasil como O Grande Golpe, é um filme noir do cineasta estadunidense Stanley Kubrick. A obra multifacetada apresenta um universo de vilania onde a benevolência não tem vez.

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O submisso George e a traiçoeira Sherry (Foto: Reprodução)

A história começa destacando o mau-caráter Johnny Clay (Sterling Hayden), um ex-detento ambicioso que planeja roubar U$ 2 milhões dos cofres de um hipódromo enquanto o público e os funcionários se distraem com a corrida de cavalos.

Clay forma uma equipe de homens infelizes e desprezíveis, interpretados por Ted de Corsia, Elisha Cook Jr., Timothy Carey, Kola Kwariani e Joe Sawyer, que mantêm algum tipo de vínculo com o local do roubo. Cada personagem representa uma peça-chave para o êxito do crime. Há um policial corrupto, um caixa do hipódromo, um atirador de elite, um lutador e um barman.

Em meio a tantas articulações para o tão sonhado roubo, surge um imprevisto, a chegada da gananciosa, infiel e traiçoeira Sherry (Marie Windsor), mulher do submisso George Peatty (Elisha Cook). A participação da persuasiva Sherry é o fermento da inimizade entre os integrantes do bando. Com apoio de um amante, ela planeja ficar com toda a grana.

The Killing se popularizou como um dos filmes de suspense policial mais respeitados pela crítica mundial. No clássico, Kubrick cria um mundo acinzentado, onde o dinheiro está acima de tudo, e com ele traz à superfície um escopo de devassidão, imoralidade, corrupção, luxúria e cinismo. Vale lembrar que no decorrer da trama o cineasta deixa transparecer as influências do cinema europeu.

Meirelles e Olival lançam luz sobre “personagens invisíveis”

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DOMÉSTICAS

Filme apresenta o cotidiano das empregadas domésticas (Foto: Reprodução)

Lançado em 2001, o filme Domésticas, de Fernando Meirelles e Nando Olival, é uma comédia que nos traz à luz algo mais profundo que a comicidade. Se trata da enfática realidade de cinco empregadas domésticas que têm apenas a profissão em comum. A atividade profissional as tribaliza e as homogeneiza – desde a linguagem até os hábitos culturais. Por serem aquelas que desempenham o serviço que os abastados se negam a fazer, vivem em um universo de preconceitos, desigualdades e invisibilidade.

São dificuldades que também fazem parte do cotidiano dos motoboys, porteiros, vigias, lavadores de carros e entregadores de pizza; pessoas que compõem um mesmo mosaico social. As cinco vidas que dão sustentabilidade ao filme, ao final de cada dia, de algum modo, cedem à resignação de algum infortúnio, mas renascem pela manhã, quando a nova aurora desponta em suas vidas. Embora seja um filme de fácil compreensão, Domésticas não tem começo, meio e fim – nem se sustenta na ideia de um mundo dividido entre bem e mal.

Em referência ao realismo, a obra conta com um elenco formado por atores pouco conhecidos, o que reforça ainda mais a proposta do filme. De forma bem particularista, e até tendenciosa, Meirelles e Olival apresentam pequenos fragmentos que compõem o universo de milhões de brasileiros marginalizados. São pessoas que vemos todos os dias, mas que muitas vezes são esquecidos e condenados à insignificância por fazerem parte de uma classe social da qual se costuma desviar a câmera e a iluminação.  E assim o ciclo continua interminavelmente…

Written by David Arioch

January 7th, 2013 at 3:00 pm

Uma comédia sobre o caos e a decadência

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Filme mostra com bom humor as barreiras culturais (Foto: Reprodução)

Lançado em 1995, o filme Sábado, do cineasta Ugo Giorgetti, mostra uma equipe de publicidade ocupando em um sábado o saguão do Edifício das Américas, em São Paulo, para a realização de um comercial. Logo no início, o elevador do prédio para de funcionar, surgindo uma série de incidentes que se correlacionam. Os fatos tornam-se alegoria do caos paulistano. Por meio das confusões vivenciadas pelos personagens no interior do prédio, o diretor explora o antagonismo.

Giorgetti também destaca o preconceito e a barreira cultural entre pessoas que compõem a sociedade visível, de significativo poder aquisitivo – personificada pelos funcionários empenhados na realização do comercial, e a invisível – representada pelos personagens marginalizados, naquele contexto, moradores de um edifício que um dia foi símbolo de luxo e mais tarde tornou-se ícone da decadência.

O filme conta com um elenco formado por Otávio Augusto, Maria Padilha, Tom Zé, Giulia Gam, André Abujamra, Jô Soares, Renato Consorte, MAriana Lima, Gianni Ratto, Wandi Doratiotto, Sérgio Viotti e Cláudio Mamberti. Ao longo de 40 anos de carreira, Ugo Giorgetti, que costuma atuar como diretor e roteirista, já produziu 12 filmes. A primeira obra do cineasta foi Bairro dos Campos Elíseos, lançada em 1973. Já Cara ou Coroa, de 2012, é o trabalho mais recente.

Written by David Arioch

January 7th, 2013 at 2:32 pm