David Arioch – Jornalismo Cultural

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Julio Cortázar vai ao teatro

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“Nada somos, apenas estamos, nos diz Cortázar, mostrando que vivemos de atravessamentos”

Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio se apresenta em Paranavaí no dia 17 (Foto: Divulgação)

Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio se apresenta em Paranavaí no dia 17 (Foto: Divulgação)

No dia 17, sábado, às 20h30, o Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio, de Curitiba, vai apresentar no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o espetáculo “Cronópios da Cosmopista” que propõe um jogo de espelhos entre o escritor argentino Julio Cortázar, um dos mais importantes nomes da literatura latino-americana, sua obra e o olhar dos artistas em cena. O evento que tem entrada gratuita é patrocinado pelo Sesi Cultural.

Cortázar é o verdadeiro protagonista da peça “Cronópios da Cosmopista”, criada a partir de texto inédito inspirado em fragmentos reinventados, canções, poemas e frases de um realismo fantástico que nasce da gestação de vários mundos dentro de um. “São mundos que se desdobram e se fundem. O fim e o começo, paralelos e sem cronologia, nos dão chão e também nos retiram dele”, comenta o ator e diretor Rafael Camargo que transita pela música e convida o público a mergulhar em questões existenciais.

Especialista em teatro experimental, principalmente em usar a ausência de ação física como estética teatral, Camargo leva ao palco não um espetáculo de personagens, mas de relações criadas a partir de situações e diferentes contextos. “Nada somos, apenas estamos, nos diz Cortázar, mostrando que vivemos de atravessamentos”, destaca o diretor que divide o palco com Christiane de Macedo e Diego Marchioro.

O primeiro espetáculo do Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio foi “Amoradores de Rua”, lançado em 2010, seguido por “End” e “Uma Entre Mil Histórias de Amor”, de 2011. No ano seguinte, estrearam “Buraco da Fechadura”, baseado na obra de Nelson Rodrigues. “Em ‘Cronópios da Cosmopista’, de 2013, observamos o desenvolvimento e as possibilidades do nosso encontro e torcemos para que ele seja sempre tão prazeroso para o público que nos assiste quanto é para nós que o realizamos”, declara Camargo.

Cortázar ocupa a mesma posição de destaque na literatura mundial que o seu conterrâneo Jorge Luis Borges (Foto: Divulgação)

Cortázar ocupa a mesma posição de destaque na literatura mundial que o seu conterrâneo Jorge Luis Borges (Foto: Divulgação)

Todos os espetáculos do grupo nascem de processos colaborativos que envolvem atores, diretor, dramaturgo e equipe técnica. A proposta é refletir sempre a expressão artística como meio de discussão de temas bem atuais, que questionam a complexidades das ações humanas e sua natureza. No ano passado, e com a parceria do Centro Cultural Teatro Guaíra, o grupo criou a Mostra Coletivo Portátil do Theatro de Alumínio que levou ao público do Auditório Salvador Ferrante, o Guairinha, as peças “Cronópios da Cosmopista e “Buraco da Fechadura”.

Julio Cortázar, o mestre do conto curto e da prosa poética

Considerado o mestre do conto curto e da prosa poética, o escritor argentino Julio Cortázar ocupa a mesma posição de destaque na literatura mundial que o seu conterrâneo Jorge Luis Borges. Cortázar entrou para a história como um autor original que inovou na literatura ao se afastar da forma clássica de escrever.

Fugindo da linearidade, se destacou pela perene preocupação em se aprofundar no perfil psicológico de seus personagens, garantindo a eles autonomia e proporcionando ao leitor uma imersão numa criação espontânea que, identificada como realismo mágico, precede qualquer avaliação crítica.

Maior exemplo disso é o seu livro mais famoso. “Rayuela” ou “O Jogo da Amarelinha”, de 1963, que convida o espectador a fazer as mais diferentes interpretações da história surrealista de Horacio Oliveira, baseada em um monólogo interior.

Agenda do espetáculo “Cronópios da Cosmopista”

Dia 15 – Maringá

Dia 16 – Umuarama

Dia 19 – Cianorte

Dia 27 – Campo Mourão

Lurdinha: “Meu sonho era trabalhar em uma biblioteca”

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Em Paranavaí, Maria de Lurdes dedicou 26 anos à Biblioteca Júlia Wanderley

Lurdinha: “Sempre gostei tanto daquele lugar que eu até falava com os livros”

Lurdinha: “Sempre gostei tanto daquele lugar que eu até falava com os livros” (Foto: David Arioch)

Em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, até o dia 29 de setembro, uma segunda-feira, a rotina da auxiliar de serviços gerais Maria de Lurdes Sousa Silva era acordar às 5h30, chegar à Biblioteca Municipal Júlia Wanderley às 6h40 e preparar o café e o chá às 8h. Tradicionalmente, antes ouvia as notícias da Rádio Cultura e da Rádio Caiuá. “Meu expediente começava às 8h, mas eu fazia questão de chegar bem mais cedo”, comenta Lurdinha, como sempre foi conhecida no trabalho.

Aos 61 anos, a auxiliar de serviços gerais nunca deixou nada passar despercebido. Mesmo no último ano de trabalho, Lurdinha ainda tinha fôlego para limpar a biblioteca, a Fundação Cultural de Paranavaí e o Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa. “Uma vez fiquei um mês sozinha. Fazia o café da biblioteca e da Fundação Cultural e ainda limpava tudo. Na hora do almoço, para adiantar o serviço, eu cuidava da limpeza dos banheiros”, relata.

A tarde de Lurdinha era dedicada ao Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa. “Não saía de lá se não estivesse limpo como a minha casa. “Fazia com muito amor e carinho”, garante sorrindo e diz que não se esquece das vezes em que levou água fervendo da biblioteca para a Fundação Cultural. A intenção era ganhar tempo, deixar o cafezinho pronto o mais rápido possível.

Pontual em tudo que faz, Maria de Lurdes almoçava às 11h30, acompanhada da edição do dia do Diário do Noroeste. “Não abria mão disso. Eu ficava doente se não lesse o Diário”, brinca Lurdinha que se tornou muito querida no serviço, onde conheceu bastante gente e fez grandes amizades.

Maria de Lurdes: “Ficava curiosa em ver tanta diversidade nas estantes"

Maria de Lurdes: “Ficava curiosa em ver tanta diversidade nas estantes” (Foto: David Arioch)

Cita como exemplo do bom relacionamento o trabalho colaborativo na limpeza dos camarins do Altino Costa. “Uma colega sempre ajudava a outra, até porque ficamos bem amigas”, comenta e se emociona ao falar que considera os funcionários da Biblioteca Municipal Júlia Wanderley e da Fundação Cultural como parte de sua família.

Só na biblioteca, Lurdinha trabalhou 26 anos. Tudo começou em 1984, quando a Júlia Wanderley funcionava onde é hoje a Câmara Municipal de Paranavaí. “Pedi para a ‘dona Miriam’, mulher do ex-prefeito Pinto Dias, me transferir pra lá porque meu sonho era trabalhar em uma biblioteca. Eu não sabia o que era”, confidencia.

O pedido foi atendido e Lurdinha dedicou 18 anos à Júlia Wanderley. “Mais tarde, me transferiram para o Colégio Municipal Santos Dumont. Depois de quatro anos, voltei para a biblioteca, onde fiquei até me aposentar na semana passada”, explica.

Em tom nostálgico, se recorda com alegria dos tempos em que a Biblioteca Municipal funcionava na Rua Souza Naves, próxima ao Banco Real. “A gente recebia de 150 a 200 alunos por dia. Lá, eu tinha medo de entrar no cofre porque naquele lugar funcionou um banco e um dia um gerente se matou lá dentro por enforcamento”, relata.

Lurdinha passou mais tempo na biblioteca do que em qualquer outro lugar (Foto: Amauri Martineli)

Lurdinha passou mais tempo na biblioteca do que em qualquer outro lugar (Foto: Amauri Martineli)

Ao longo de dez anos, Lurdinha trabalhou aos sábados até as 12h. “Também trabalhei muitos domingos. Isso foi quando não havia internet e os estudantes iam para a biblioteca fazer pesquisas”, justifica e acrescenta que durante a semana a Júlia Wanderley, que chegou a ter dez funcionários, ficava aberta até as 22h para atender a demanda dos estudantes.

O ambiente fez Maria de Lurdes se apaixonar pela leitura. Além de ler nos intervalos, fazia questão de levar revistas e livros para casa. “Ficava curiosa em ver tanta diversidade nas estantes. Comecei a gostar de ler ainda na época das revistas Cruzeiro e Manchete”, destaca e conta que recentemente se encantou lendo o livro “O Menino do Dedo Verde”, do francês Maurice Druon.

Em pouco tempo, aprendeu muito sobre o acervo da biblioteca. Na ausência de alguma funcionária, os frequentadores da Júlia Wanderley tiravam dúvidas com a Lurdinha. “Sempre gostei tanto daquele lugar que eu até falava com os livros. Era uma terapia pra mim ficar em contato com eles”, assegura.

Por muitos anos, Maria de Lurdes Sousa Silva passou mais tempo na Biblioteca Municipal do que em qualquer outro lugar. “Era minha segunda casa. Agora estou numa tristeza muito grande por ter me aposentado. Ainda não me acostumei”, revela.

O homem de mais de 2,5 mil obras

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José Mário: “O desenho é um desabafo mental”

"O que crio à noite é diferente do que produzo durante o dia" (Fotos: Amauri Martineli)

Em 1984, o artista plástico paranavaiense José Mário Afonso Costa descobriu no desenho uma forma de materializar e canalizar emoções e sentimentos. Os traduziu com caneta em formas retas, mais tarde sinuosas, que se tornaram subjetivas e ganharam novas dimensões.

Para o artista, grande admirador de Pablo Picasso, a despreocupação com a objetividade na arte representa a complexidade da vida, a gradação do homem. Guiado pelo subconsciente, às vezes, José Mário intitula uma obra antes mesmo de criá-la. Não se prende aos rótulos, correntes artísticas, e preza pela liberdade intelectual como sendo a fórmula mais completa de se aproximar da essência humana.

Ao longo da entrevista, se mostra inquieto, embora detalhista, enquanto discorre sobre arte, cultura, família e formação artística e profissional. O artista se preocupa em agradar, mas tem opiniões próprias, questiona e fala abertamente sobre qualquer assunto. Algumas perguntas são respondidas com brevidade, já outras, “Zé Mário”, como é mais conhecido, não responde sem antes situar um contexto, levantar da cadeira e contar alguma história do presente ou passado.

Gosta de conversar sem pressa, é observador, e não se priva de manter o diálogo em um nível que mostre se o interlocutor entende algo de arte e também das suas obras. Passamos alguns minutos interpretando um dos desenhos do artista, um universo de curvas, onde o homem também é animal, vegetal, objeto material e imaterial. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o autor de mais de 2,5 mil obras.

"Já produzi muito, mas nunca me rendi a nada"

DA – Como foi o primeiro contato com o desenho?

JM – Comecei em 1984, motivado pelas figuras que mais me chamavam atenção nos livros do meu pai. Tinha 14 anos e mudei para Curitiba pra fazer o Segundo Grau [Ensino Médio]. Me interessei pelo abstrato e depois pela arte figurativa. Mais tarde, fui para Presidente Prudente [interior de São Paulo]. Estudei medicina por dois anos e meio, mas abandonei o curso. Também passei pela Fafipa.

DA – São experiências que se refletem nas suas obras?

JM – Sim. Foi um período em que obtive muito conhecimento, estando em contato com a arte ou não, até porque passado algum tempo decidi trabalhar com meu irmão no nosso sítio em Santa Maria, perto de Alto Paraná.

DA – Todas essas transformações interferiram na dedicação à arte?

 JM – Meus desenhos eram mais compactos, então fui ampliando, aumentando a dimensão, tendo um cuidado maior com as formas, só que sempre chegava o momento de me desligar disso tudo. Ficava dois meses por ano envolvido com desenho e o restante me dedicando a outras atividades bem diferentes.

 DA – Nos seus trabalhos, as curvas parecem representar um novo ciclo, a ruptura com a linearidade. Você encara o rompimento com as linhas retas como resultado do seu amadurecimento?

JM – Sim. No começo meus desenhos eram mais infantis. Isso mudou só mais tarde, principalmente após o falecimento do meu pai que era uma inspiração pra mim. Sempre fui muito observador, e prefiro desenhar com naturalidade, sem planejamento. Quando começo algo, dificilmente sei como vai terminar porque minha principal referência é o que está no meu subconsciente.

"Comecei em 1984, motivado pelas figuras nos livros do meu pai"

DA – Quais as artes que mais o inspiram a desenhar?

 JM – Já desenhei muito ouvindo música, chego a dar nome de canções aos meus desenhos. Também tem muito cinema no que faço, inclusive uma referência ao martelo do filme The Wall, do Pink Floyd. Nos tempos da faculdade, produzia muito enquanto os professores passavam filme em sala de aula.

DA – Já teve preferência por alguma corrente artística?

JM – Não. Já produzi muito, mas nunca me rendi a nada. Jamais tive preocupação em simplificar o que faço porque o desenho pra mim é um desabafo mental. O que crio à noite é diferente do que produzo durante o dia.

DA – Das 2,5 mil peças já produzidas, muitas estão fora de Paranavaí?

JM – Que me lembre, além de Paranavaí, tenho desenhos em Curitiba, Rondonópolis [no Mato Grosso], Campinas [São Paulo], Paraíso do Norte. Me lembro de quando ilustrei o livro do meu pai [o escritor Altino Afonso Costa que empresta nome ao Teatro Municipal de Paranavaí], Buquê de Estrelas. Nessa época, aprendi a ser mais detalhista.

Um artista dos bastidores

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Adauto Soares, do alto se sua cabine é sempre uma extensão de quem está no palco

Soares é o responsável técnico pelo Teatro Altino Costa

Há oito anos, Adauto Soares é o responsável pelo Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde atua como iluminador, técnico de som, cenógrafo e maquinista. É um artista dos bastidores que leva mais vida aos espetáculos por meio de cenários, luzes e sons que manipula para transmitir sensações e sentimentos. “Tenho que me atentar ao figurino de quem está no palco. Preciso escolher a iluminação certa para transmitir a essência de um momento”, explica Soares que do alto de sua cabine é sempre uma extensão de quem está no palco.

Não é à toa que quando surge algum imprevisto ou problema na montagem de um espetáculo, Adauto é a pessoa mais procurada para resolvê-lo. Nem poderia ser diferente, pois é o único profissional da região de Paranavaí que tem o DRT, registro profissional, de todas as funções que exerce concedido pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (Sated) do Paraná. Admirador e aluno de Jorginho de Carvalho, considerado o maior iluminador do Brasil, conhecido como “O Velho da Luz”, Soares gosta da liberdade de criação, de surpreender o público e de brincar com cores quentes e frias. “Quando o diretor de um espetáculo deixa tudo por minha conta é mais fácil, faço a minha maneira. Quando ele vem com a ideia pronta é mais complicado”, comenta e acrescenta que a criação é a parte da produção que exige mais tempo.

Todo ano, Adauto participa da realização de dezenas de eventos. Já assinou a iluminação e parceria conjunta na criação de cenários de vários espetáculos de dança. “Além do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), as apresentações de dança são as que mais me dão liberdade. Sempre digo que meu trabalho é criar a moldura no quadro do artista, deixar algo mais bonito”, declara o profissional que recebeu três excelentes propostas de trabalho, mas recusou porque prefere continuar morando em Paranavaí.

Adauto Soares também cita como referência a iluminadora Nadja Naira e a cenógrafa Isabele Bittencourt, e se recorda que foi introduzido ao universo das artes quando na adolescência morava em Curitiba. “Tinha um amigo que era relações públicas da Petrobrás e sempre conseguia ingressos para os melhores espetáculos, então a gente não perdia um, fosse de música ou teatro. Assistia peças com o Matheus Nachtergaele, Giulia Gam, Wagner Moura, Luís Melo e muitos outros”, exemplifica.

Em cada apresentação, enquanto a maioria prestava atenção aos artistas, Adauto ia além, ficava maravilhado com os detalhes cenográficos. Ainda em Curitiba, assistiu a interpretação de “Morte e Vida Severina”, do Teatro Estudantil de Paranavaí (TEP). Anos depois, retornou a Paranavaí para dar continuidade aos estudos. Em 2003, ingressou no Grupo Tasp, do Sesc, atuando na peça “Quando as Máquinas Param”, de Plínio Marcos. “Gostava de dar palpites e logo decidi não interpretar. Percebi que gostava mais dos bastidores”, admite.

Sossélla, do concretismo à poesia inominada

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O poeta se inspirava no passado para transpor as barreiras do indizível

Escritor publicou mais de 200 livros (Foto: Reprodução)

Falecido em 18 de novembro de 2003, o escritor Sérgio Rubens Sossélla deveria ocupar posição privilegiada na literatura paranaense. Um dos mais produtivos escritores do Brasil, referência em neoconcretismo e poesia marginal, tem uma bibliografia que ultrapassa 200 livros entre volumes de críticas, poemas, ensaios, crônicas e artigos de jurisprudência.

Muitas das obras de Rubens Sossélla talvez não sejam conhecidas pelo fato do escritor ter adotado uma linha de produção voltada ao autor e não ao público. Exemplos são as semânticas particulares para muitas palavras, principalmente publicar. Para Sossélla, cada publicação se embutia de um sentido paradoxal de ocultação, o que justifica porque preferia imprimir não mais que 100 exemplares de cada obra em vez de grandes tiragens.

Ao lado do amigo e também escritor paranaense Paulo Leminski, com quem cursou direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sérgio Rubens se tornou nos anos 1960 um dos grandes nomes da poesia marginal que concisa e objetiva, influenciada por fontes alheias à poesia convencional, buscava inspiração até mesmo longe da literatura.

No entanto, na década de 1970, quando Sossélla já se dedicava à literatura no interior do Paraná, onde exercia a profissão de juiz, começou a se afastar da poesia marginal e do concretismo contrário ao verso, e que privilegiava tanto o apelo sonoro quanto visual.  Se desvinculou de qualquer corrente poética mais formal, assumindo uma posição de artista solitário que se refugiava em uma linha de composição cada vez mais livre, isenta de convencionalismos e mais moderna.

Tanto é que nesse período a poesia experimental do escritor assume uma linguagem mais autoral e se distancia de rótulos, não reflete apenas momentos e, mesmo que criadas como fragmentos, é melhor compreendida em um cuidadoso exercício de interpretação que depende da capacidade de ver os poemas como parte de uma mesma unidade.

Rubens Sossélla se inspirava no passado para transpor as barreiras do indizível, com um esmero estético que remetia à montagem cinematográfica. Exemplos são as obras com justaposição de imagens, páginas em branco, onde poucas palavras ou nenhuma materializam uma cena, um vazio, um silêncio, um distanciamento, um intervalo ou quem sabe uma neutralização.

No final da década de 1980, o escritor revelou em conversa com o cineasta catarinense Sylvio Back que não se preocupava com a circulação das suas obras. Para Sossélla, um poeta alheio ao grande público, a escrita lhe era um exercício de solidão, sem compromisso com os leitores. Tal pensamento conduz a ideia de que para o autor produzir era em primeiro lugar um ato existencial, de sentir-se vivo enquanto ser pensante, numa analogia ao filósofo francês René Descartes.

O pesquisador Marcelo Fernando Lima, professor doutor da Universidade Positivo, de Curitiba, conviveu com o escritor em Paranavaí nos anos 1990 e relata que anexa à residência de Rubens Sossélla conheceu a “Vila Rosa Maria”, uma biblioteca com pelo menos 30 mil obras, inúmeras mesas cobertas pelos mais variados projetos de livros de distintos gêneros. Tudo era feito simultaneamente, e entre uma escrivaninha e outra, o escritor incorporava vários autores, embora não adotasse heterônimos como fazia o português Fernando Pessoa.

Uma das célebres frases de Sossélla versa sobre a sua fonte de inspiração e faz referência aos tempos em que era um jovem freqüentador de cinema nos anos 1950. “Os grandes momentos concentram-se num apagado coadjuvante [que] encarna a coragem dos covardes, a força dos fracos, a revolta dos oprimidos, a consciência dos injustiçados”, escreveu o autor de uma bibliografia fortemente influenciada por um onirismo recheado de brevidade e ironia que o transportava à infância e adolescência.

Na juventude, o cinema o impulsionou a trabalhar com arte, tanto que se tornou crítico literário em jornais de Curitiba e lançou a obra “9 Artigos de Crítica” em 1962. Quatro anos depois, publicou o primeiro livro de poemas. A rotina dividida entre a profissão de juiz e o amor pela escrita se estendeu até 1986, quando veio a aposentadoria e decidiu se dedicar completamente a literatura, atividade da qual jamais se aposentou em mais de 40 anos de dedicação. Marcelo Fernando, estudioso da bibliografia de Sossélla, revela que em 1994 o escritor publicou 23 livros, superando 1995, ano em que produziu 21. Entretanto, o ápice foi em 1997, quando lançou 29 obras.

Fã do ator estadunidense Humphrey Bogart, de quem mantinha um grande pôster na entrada da sua doméstica sala de cinema, o escritor reunia livros sobre filmes, cartazes, roteiros, ensaios e discos de trilhas sonoras. De acordo com Lima, muitos dos livros de Rubens Sossélla têm referências cinematográficas de filmes dirigidos por John Ford, Howard Hawks e Orson Welles, além de personagens interpretados por Bogart, John Wayne, Lee Marvin e Gary Grant. O pesquisador lembra que o fascínio do escritor pelo cinema fez com que certa vez o poeta Cesar Bond qualificasse as obras de Sossélla como legendas de filmes que dependem da cumplicidade do leitor.

Alguns de seus livros mais conhecidos são “Aos Vencedores as Batalhas”, editado e lançado pela Fundação Cultural de Paranavaí; “Tatuagens de Nathannaël”, publicado pela Fundação Cultural de Curitiba; e “A Linguagem Prometida”, viabilizado pela Imprensa Oficial do Paraná. Os demais, ou seja, mais de 200 livros, foram publicados de forma independente, sem qualquer relação com editoras, fundações ou grupos de poetas. Porém, há quem acredite que Sossélla tenha produzido cerca de 370 livros de forma artesanal, como é o caso da poeta Lucy Reichenbach, de Londrina, também estudiosa do trabalho de Sossélla e divulgadora dos poemas do escritor na internet. “Ele me revelou que em apenas um ano escreveu dois mil poemas”, ressalta Marcelo Fernando Lima.

Homenagem no 46º Femup

No dia 15 de novembro de 2011, o 46º Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) contou com a apresentação da peça “O Espetáculo Interrompido”, baseada na poesia concreta do escritor e juiz Sérgio Rubens Sossélla, que viveu até os últimos dias de vida em Paranavaí. No elenco, Gislaine Pinheiro, Ramiro Palicer, Graciele Rocha, Marcos da Cruz e Rosi Sanga. A equipe técnico foi formada pelo músico Arnaldo dos Santos, a atriz Bibiane Oliveira e o iluminador Adauto Soares. Após a peça, houve bate-papo com a professora Gersonita Elpídio dos Santos, estudiosa das obras do escritor.

Saiba Mais

Escritor e juiz aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Sérgio Rubens Sossélla nasceu em 27 de fevereiro de 1942, em Curitiba. Nos anos 1970, adotou o interior do Paraná como lar. Foi em Paranavaí que em 1986 iniciou o período mais produtivo da carreira literária.

Frase de Sérgio Rubens Sossélla

“O que sou hoje fui aprendendo na penumbra da sala suarenta, com outros no planeta Mongo, nas selvas africanas, nos poços petrolíferos, nas avenidas de Nova Iorque, no fundo dos mares, nos automóveis de corrida, nos bares dos faroestes, nos desertos, nas geleiras e nos pântanos, nas ilhas perdidas, nos bastidores dos teatros, nas redações dos jornais, nos castelos mal-assombrados, dentro dos vulcões, nos ensaios dos musicais, respirando a paixão de Cristo e a tragédia de Judas.”

Fragmento do livro de poemas Tatuagens de Nathannaël

ela atormentou

até as calmarias

de minha infância

penhorei meu relógio

e por isso me tornei

senhor e legítimo possuidor

das horas em que lhe servia

agonizo sem fim

neste inferno em mim

sou um réu sem tempo

com certidões inúteis

quando eu morrer quero ouvir

a nona sinfonia de beethoven

e reler os livros que fiquei

de levar para a ilha inviável

não me reconheço

fora do sonho

Agradecimentos

Professor doutor Marcelo Fernando Lima, de Curitiba.

Poeta Lucy Reichenbach, de Londrina.

Cineasta Sylvio Back, de Blumenau, Santa Catarina.

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Um show à brasileira

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Próxima apresentação da OSP será pautada na música popular

Orquestra fará o segundo show da temporada (Foto: Amauri Martineli)

No domingo, 27, às 20h30, a Orquestra de Sopros Paranavaí sobe ao palco do Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa para apresentar o show “Noite da Música Brasileira”. O espetáculo leva ao público os grandes clássicos da música popular. Ingressos estão à venda na Fundação Cultural por R$ 10.

O show “Noite da Música Brasileira” é o segundo espetáculo da temporada de concertos da Orquestra de Sopros que este ano ainda fará shows temáticos de jazz, samba e choro, música regionalista e concerto de natal. “O fato de um show ser diferente do outro é uma forma de atendermos aos mais variados gostos e, assim, divulgarmos a boa música”, explica o presidente da Fundação Cultural, Paulo Cesar de Oliveira.

Para o show de domingo, a OSP está preparando um show que inclui grandes clássicos da música brasileira como “Samba de Uma Nota Só”, de Tom Jobim e Newton Mendonça; “Zazueira”, de Jorge Ben Jor; “Cromático” e “Cristalina”, de Antônio Adolfo, grande compositor carioca que faz parte do clube da bossa nova. Há também composições autorais como “Aí tem coisa”, de Gabriel Forlani Zara.

Orquestra de Sopros existe há 12 anos (Foto: Amauri Martineli)

As canções executadas pela OSP não são apenas releituras, mas músicas adaptadas para orquestra. “Eles sempre acrescentam novos arranjos, isso dá um toque especial”, explica o diretor cultural da FC, Amauri Martineli, acrescentando que a Orquestra de Sopros é mantida pela Fundação Cultural. Segundo o trombonista e maestro-adjunto da orquestra Luciano Ferreira Torres, o apoio financeiro da FC é imprescindível para que a Orquestra de Sopros continue na ativa. “Acredito que não há outra banda no Estado que seja mantida com recursos municipais. Podemos nos orgulhar disso”, diz o maestro-adjunto.

Ao longo dos 12 anos de apresentações da OSP, do eclético repertório que inclui MPB, chorinho, foxtrot, bolero, jazz e trilhas sonoras, o destaque para o público são sempre as clássicas canções de Glenn Miller e Henry Mancini. “Também gostam muito de ouvir Tico-tico no Fubá, do Zequinha de Abreu”, lembra Torres. A orquestra já se apresentou por muitas cidades do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo, para os integrantes o grande trunfo são as participações no Festival de Música de Londrina (Filo), onde a orquestra foi banda base do evento por vários anos.

Os shows da orquestra têm um compromisso sociocultural, ajudam a manter o Projeto Clave de Luz, uma iniciativa da Fundação Cultural que oferece formação musical profissional a dezenas de estudantes de baixa renda por um período de quatro anos. “Toda a renda dos shows é usada para manter o projeto”, ressalta Oliveira. A OSP também realiza concertos didáticos nas escolas. Os músicos se informam sobre o gênero preferido dos estudantes, então depois realizam uma apresentação seguida de análise das canções e dos instrumentos.

OSP é remanescente da Banda Lira do Noroeste

Fundada pelo maestro Arnold Poll em 18 de maio de 1961, a Banda Lira do Noroeste era conhecida por embalar a população com releituras de samba-canção e chorinho, gêneros musicais disseminados pelas rádios da época. “O maestro Nílson Antônio dos Santos fez uma revolução transformando-a na Banda Sinfônica Municipal.

Banda Lira foi fundada há 49 anos (Foto: Casa da Cultura)

O repertório mudou e o número de integrantes chegou a 40. Ele conseguiu fazer com que todos os músicos se dedicassem integralmente ao projeto”, conta o trombonista e maestro-adjunto da Orquestra de Sopros Paranavaí (OSP), Luciano Ferreira Torres, acrescentando que quatro anos depois Santos daria lugar ao regente Sales Douglas Santiago.

Lira do Noroeste embalava o público com samba-canção e chorinho (Foto: Casa da Cultura)

Santiago transformou a Banda Sinfônica em Orquestra de Sopros Paranavaí (OSP) no dia 19 de novembro de 1998. À época, houve uma grande mudança. “Alguns músicos se casaram e estabeleceram famílias, assim abandonando a carreira musical. Percebemos que do total de integrantes apenas 20 estavam dispostos a tornarem-se músicos profissionais”, revela o trombonista. Segundo a OSP, Sales tinha uma visão de Big Band, orquestras formadas por músicos de jazz nos Estados Unidos da década de 1920.

Banda Lira na década de 1980 (Foto: Casa da Cultura)

Em 2002, Santiago deixou a OSP e deu lugar a um novo maestro, Vitor Hugo Gorni que assim como os outros regentes que passaram por Paranavaí também é de Londrina. “Ele começou a vir aqui uma vez por semana”, enfatiza o trombonista. Com Gorni, a orquestra se dedicou a um repertório mais refinado. Exemplos são as canções eternizadas por Frank Sinatra e Tony Bennett. Depois a orquestra começou a homenagear artistas brasileiros. “Já fizemos apresentações especiais apenas com músicas do Roberto Carlos e Tim Maia”, informa o maestro-adjunto.

Mesmo com inúmeras mudanças ao longo da trajetória, a orquestra ainda carrega a nostalgia dos tempos áureos da Banda Lira e Sinfônica Municipal. “Sempre tocamos os dobrados e os hinos que fazem parte de uma história musical que ultrapassa o tempo, como o Hino do Paraná, Hino da Independência e Hino à Bandeira”, finaliza Luciano Torres.

Saiba mais

A OSP fará cinco shows até o final do ano: de MPB, jazz, samba e choro, de música regionalista e concerto de natal. O pacote para todos os espetáculos está à venda na Fundação Cultural por R$ 50. Para mais informações, ligar para (44) 3902-1128

“É Nóis Cinco”: entreter para informar

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Grupo de humor usa bonecos gigantes para oferecer entretenimento e ao mesmo tempo informação

Bonecos criados pelo grupo tem quatro metros de altura (Foto: Amauri Martineli)

Bonecos criados pelo grupo têm quatro metros de altura (Foto: Amauri Martineli)

Além de trabalhar com shows de humor, palestras, oficinas e publicidade, a trupe “É Nóis Cinco” está apostando também na criação e no uso de bonecos gigantes como meio de oferecer entretenimento e ao mesmo conscientização sobre assuntos importantes.

Em Paranavaí, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar do grupo “É Nóis Cinco”, conhecido por seus espetáculos paradoxais que misturam o humor das ruas, baseado na realidade, a elementos surreais, nascidos do improviso.

Desta vez, a trupe formada por Aleks Alves, Moacir Barini, Antônio Soares, Márcio Cândido e Amarildo Travain está investindo na criação de fantoches grandes. “Já fizemos cinco. Foi um trabalho que levou dois meses para ser concluído”, revela o artista Márcio Cândido. Os bonecos gigantes chamam a atenção não apenas pelos quatro metros de altura, mas também, e principalmente, pela riqueza de detalhes; é impossível não identificar as feições dos membros da trupe em cada um daqueles personagens caricatos.

"É Nóis Cinco" mistura humor das ruas a elementos surreais (Foto: Arquivo)

"É Nóis Cinco" mistura humor das ruas a elementos surreais (Foto: Arquivo do grupo)

Embora tenham usado basicamente isopor, madeira e ferragens na composição, o que se vê são figuras tão realistas e próximas da arte popular que a simpatia com os bonecos surge à primeira vista. Além disso, os fantoches da trupe também remetem aos clássicos bonecões do folclórico carnaval de Olinda, em Pernambuco.

“As ferragens foram trabalhadas de modo a termos todo o conforto necessário na hora de manipular os bonecos”, relata o artista Aleks Alves. Os fantoches gigantes podem ser interpretados como um grande apelo visual do grupo para assuntos sérios. “Criamos eles enormes pra realmente chamar atenção. Assim podemos usá-los para trabalhar com campanhas de conscientização, tratar de assuntos importantes de forma descontraída”, revela Márcio Cândido, referindo-se a especialidade do grupo.

A trupe acrescenta que os bonecos estarão disponíveis para trabalhos com publicidade. “Eles podem ser desmontados, o que facilita o transporte”, frisa o artista Moacir Barini.  O grupo ainda agradece o apoio da Fundação Cultural pelo espaço cedido para a criação dos bonecos.

Trupe se apresenta para 15 mil estudantes

Até o final do mês de novembro, o grupo de humor “É Nóis Cinco” vai encerrar um ciclo de 42 apresentações que misturam humor, teatro e conta com a participação dos bonecos gigantes. São espetáculos destinados a estudantes da rede municipal de ensino. “É um trabalho de conscientização ambiental em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, inclusive até o cenário do espetáculo é feito de materiais recicláveis”, relata o artista Márcio Cândido.

A trupe tem muita experiência em trabalhos envolvendo temas como DST/Aids, alcoolismo, ergonomia, atendimento ao cliente, motivação, direção defensiva, qualidade de vida e relações familiares. O grupo também oferece oficinas de materiais recicláveis, pintura em azulejo e decoração.

“É Nóis Cinco” surgiu há três anos

O Grupo humorístico “É Nóis Cinco” surgiu em Paranavaí há três anos, e desde então já levou ao público cinco peças autorais: “É Nóis de Férias”, “É Nóis trabalhando”, “É Nóis de Férias, Trabalhando e Estudando”, “Nóis é Show” e “É Nóis Cinco Ponto Com”. Agora o grupo se prepara para estrear o espetáculo “Talentos” em que vão interpretar personagens famosos. “Vamos nos apresentar nos dias 20 e 21 de novembro no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa. Vai ser muito legal”, garante o artista Moacir Barini.

A marca registrada do grupo é a capacidade em transformar o improviso em arte.  As apresentações da trupe são tão imprevisíveis que os próprios artistas surpreendem uns aos outros. Segundo o “É Nóis Cinco”, errar também faz parte do show porque aproxima mais o público do espetáculo. Em suma, a trupe é composta por artistas que trabalham por prazer e que valorizam a liberdade criativa de cada um.

Saiba mais

Os integrantes do grupo de humor “É Nóis Cinco” já excursionaram por muitas cidades do Paraná, além de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

Serviço

Interessados podem entrar em contato com o grupo por meio da Educa Assessoria. O telefone é (44) 3045-4510. Para mais informações, basta acessar o site http://www.enois5.com