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Sobre ser contra o veganismo
Associação britânica evita a morte de 5,8 mil galinhas
Na semana passada, a associação Welfare Trust, uma entidade bem-estarista que dá suporte à indústria de ovos no Reino Unido, articulou uma ação que evitou a morte de 5,8 mil galinhas que seriam enviadas para o matadouro após registro de queda de produção de ovos.
Apesar da Welfare Trust fazer campanha a favor do consumo de ovos, a ação recebeu elogios de ativistas veganos dos direitos animais. O resgate foi realizado por dezenas de voluntários em diversas granjas do Reino Unido.
Uma parte dos animais foi enviada para santuários e outros estão sendo doados para entidades e pessoas mediante cadastro e termo de compromisso em assegurar que as galinhas não sejam mortas nem maltratadas.
A fundadora da Welfare Trust, Jane Howorth, explicou ao Plant Based News que está sendo feito um trabalho minucioso para garantir que as galinhas cheguem às casas certas e na hora certa.
Por que é mais ético não se alimentar de animais
Documentário apresenta os equívocos de quem usa as escrituras religiosas para defender o consumo de carne
“Nossa crença judaica é de que realmente Deus nunca fez com que comêssemos animais”
Na semana passada, o Guibord Center lançou um documentário de curta-metragem intitulado “ANIMA: Animals. Faith. Compassion”, disponível no Vimeo, que apresenta os equívocos nas afirmações de quem usa as escrituras religiosas para defender o consumo de carne. O filme conta com depoimentos de autoridades religiosas e propõe uma discussão sobre como objetificamos os animais e os reduzimos a produtos.
As perspectivas apresentadas partem de membros de 12 religiões e credos, incluindo o cristianismo, budismo, islamismo, zoroastrismo, hinduísmo, judaísmo e jainismo. No filme, a reverenda Gwynne Guibord fala que no livro de Gênesis está escrito que Deus deu ao homem o domínio sobre os animais. Porém, aponta que isso é um erro de tradução. “Deveria se ler: ‘E Deus deu ao homem responsabilidade ou intendência. Isso muda toda a noção [da frase]”, defende.
A rabina Suzanna Singer afirma que não temos qualquer necessidade de consumir qualquer alimento de origem animal. “Nossa crença judaica é de que realmente Deus nunca fez com que comêssemos animais. No Jardim do Éden, Deus nos mostra o fruto das árvores, a relva nos campos e diz: ‘Você pode comer algo assim.’ Mas Deus nunca mencionou os animais”, enfatiza.
Lo Sprague, vice-presidente do Guibord Center e uma das idealizadoras do filme, afirma que nunca houve um momento tão importante para desafiar os mal-entendidos que no passado foram usados para justificar a exploração de animais – ponderando que a compaixão é defendida por todas as religiões.
Considerando que milhões de pessoas no mundo todo tratam os animais baseando-se em suas crenças e percepções sobre outras espécies, o objetivo do filme é mudar a maneira como as pessoas interagem com os animais, reconhecendo que eles também são seres vivos sencientes e conscientes.
Como o consumo de carne favorece a destruição da identidade dos animais
Howard Lyman, a transformação de um pecuarista multimilionário em um ativista vegano
“Se você realmente ama os animais, se você se importa com eles tanto quanto diz, por que os come?”
Howard Lyman talvez tenha uma das histórias mais famosas de transformação de um pecuarista multimilionário em um ativista vegano. Desde o início da década de 1990, ele tem promovido o veganismo nos Estados Unidos e publicado obras que revelam as mazelas da indústria agropecuária, e sob a perspectiva de quem fez parte desse meio por mais de 20 anos.
Da quarta geração de uma família de pecuaristas, Lyman frequentou a Universidade Estadual de Montana, onde se graduou em agricultura geral em 1961. Depois passou dois anos no Exército dos Estados Unidos antes de comprar a sua própria fazenda: “Eu acordava cedo, fazia a roçada, ouvia os pássaros cantando e me sentia como o guardião do Éden. Meu sonho era ser um fazendeiro. Então fui para a universidade. Comprei uma fazenda orgânica e com o passar dos anos, já possuía mais de 7 mil cabeças de gado e mais de 12 mil hectares.”
De 1963 a 1983, Lyman dedicou a maior parte do seu tempo à criação de animais e grãos, convertendo a sua fazenda orgânica em uma megaoperação de confinamento de animais visando a extração de leite e o abate. “Lembro como se fosse hoje quando trouxemos os animais e demos a eles entre 7 e 21 vacinas. Cortamos os chifres, castramos eles, injetamos hormônios e os alimentamos com resíduos e antibióticos. Na fazenda, eu via tantas moscas juntas que você podia pegá-las aos montes apenas abrindo e fechando as mãos”, narra.
Além de nove mil bovinos, incluindo bezerros enviados ao matadouro para atender ao mercado de carne de vitela, ele criava porcos e aves. Também produzia grãos, silagem e feno: “Levantávamos cedo, quando não havia nevoeiro, e pulverizávamos inseticidas por toda a propriedade. Havia sempre uma grande nuvem flutuando sobre o gado, sobre a água e sobre a comida, e o inseticida atingia tudo. Duas horas mais tarde, o gado se alimentava e bebia aquela água contaminada. Essas são as coisas que aprendi na Universidade Estadual de Montana.”
O ex-pecuarista admite que era preciso dissimular a realidade para seguir em frente. Sempre que via os pássaros mortos, as árvores morrendo, e o solo de sua fazenda mudando, ele se esforçava para não pensar em como estava gastando centenas de milhares de dólares em produtos químicos. “Eu era o responsável por tudo isso. Meu irmão faleceu aos 29 anos, e ainda hoje acho que ele morreu por causa desses produtos químicos que usamos na fazenda”, declara.
Em 1979, quando ainda criava animais para consumo, Lyman foi diagnosticado com um tumor na espinha. Diante da possibilidade de ficar paralítico, ele prometeu que se sobrevivesse ao câncer se afastaria dos meios de produção baseados em produtos químicos.
“Eu estava no auge da minha carreira quando fiquei paralisado da cintura para baixo. É preciso muita concentração para direcionar a sua atenção para outra coisa que não seja a sua situação. No hospital, os médicos disseram que eu tinha uma chance em um milhão de voltar a andar por causa de um tumor dentro da minha coluna vertebral. Fui levado para a sala de cirurgia e operado durante 12 horas. Eles removeram um tumor do tamanho do meu polegar. Saí do hospital depois de uma operação com uma chance de sucesso em um milhão. Me lembro de estar na fazenda após a operação.”
Em casa, o pecuarista viu o próprio reflexo no espelho e teve um momento de conflito existencial que, segundo ele, foi uma das primeiras situações em que foi honesto consigo mesmo. Lyman, que costumava dizer a si mesmo que amava os animais, se perguntou:
“Se você realmente ama os animais, se você se importa com eles tanto quanto diz, por que os come?” Foi tão traumático para mim que eu quase arranquei a pia da parede. Essa foi uma porta da minha alma que eu nunca tinha aberto antes. E uma vez que a abri, nunca mais consegui fechá-la porque eu sabia como esses animais pareciam quando eles caíam mortos no chão. Eu sabia o que havia em seus olhos, e eu era a pessoa que os colocava lá. Era como se tudo o que você acreditasse que é justo e sagrado de repente estivesse em risco.”
Naquele dia, Lyman se perguntou como falaria para a própria esposa que a sua operação multimilionária era um erro, e que ele percebeu que a sua fonte de renda foi construída “sobre a areia”; já que tudo em que Howard Lyman acreditava estava em risco porque, pela primeira vez se deu conta de que o seu lucro era baseado no assassinato de animais. “Como eu poderia dizer que talvez o que devêssemos fazer era sair desse negócio?”, lembra.
Lyman reconheceu que não poderia falar de seus conflitos com seus amigos, porque todos eles trabalhavam no mesmo ramo. Não teve nenhum apoio. Pensou também em falar com um padre, mas concluiu que provavelmente o próprio padre comia tanta carne quanto ele. “Foi o momento mais solitário e mais difícil da minha vida”, garante.
No entanto, a grande transformação de Howard Lyman só aconteceria alguns anos depois. Em 1990, quando atuava como lobista em Washington, ele estava muito acima do peso e enfrentando problemas de saúde como pressão alta e altos níveis de colesterol. Então decidiu definitivamente se tornar vegetariano. No ano seguinte, mais decidido e com uma opinião mais forte sobre os direitos animais, fez a transição para o veganismo e transformou a sua fazenda em um santuário para animais. Também começou a promover o veganismo em diversas regiões dos Estados Unidos, defendendo também a produção orgânica de vegetais:
“Nunca vi um animal pular e dizer que quer ser um hambúrguer. Estive em centenas de matadouros, vi milhares de animais morrerem, e sempre que eu os observava, eu notava que eles sabiam o que aconteceria com eles. Havia o cheiro de morte. Eu me questionava: ‘Existe alguma necessidade disso?’”
Em abril de 1996, o ex-pecuarista participou do programa The Oprah Winfrey Show, onde denunciou as mazelas da indústria de proteína animal. Suas revelações tiveram repercussão nacional e fizeram com que Oprah abdicasse do consumo de hambúrgueres. Lyman e a apresentadora tiveram de responder a dezenas de processos da Associação dos Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos, mas foram inocentados em 1998. “Tenho certeza de que se eu fosse novamente ao programa, hoje eu seria condenado, mesmo falando a verdade”, lamenta.
Também em 1998, Howard Lyman, que se tornou uma referência em veganismo para a atriz vegana Linda Blair, publicou o livro “Mad Cowboy: Plain Truth from the Cattle Rancher Who Won’t Eat Meat”, em que narra a sua trajetória pessoal e profissional de pecuarista à ativista vegano. Também traz importantes informações sobre as mazelas da indústria agropecuária, o que inclui investigações do uso de nocivos produtos químicos nesse meio. Em 2005, ele lançou o livro “No More Bull! The Mad Cowboy Targets America’s Worst Enemy: Our Diet”, que é uma continuação da obra de 1998. A sua história é narrada no documentário “Mad Cowboy” e em “Peaceable Kingdom” – este segundo com boa repercussão internacional.
Lyman também aparece no famoso documentário “Cowspiracy”, de Kip Andersen e Keegan Kuhn, em que afirma que não faz sentido um ambientalista consumir produtos de origem animal. “Engane-se se quiser. Aliás, se quiser alimentar o seu vício, faça-o, mas não chame a si mesmo de ambientalista ou protetor dos animais”, critica.
Saiba Mais
Entre os anos de 1996 e 1999, Howard Lyman foi presidente da União Vegetariana Internacional.
Referências
Lyman, Howard. Mad Cowboy: Plain Truth from the Cattle Rancher Who Won’t Eat Meat (1998).
Stein, Jenny. Peaceable Kingdom (2004).
Andersen, Kip; Kuhn, Keegan. Cowspiracy (2014).
Como achar normal a morte de 70 bilhões de animais terrestres por ano para consumo?
Não é radical o ato de se alimentar de animais?
A gloriosa e trágica história da vaca Heroína
Nem sempre as vacas aceitam o seu suposto destino após uma vida de exploração como vaca leiteira
Nem sempre as vacas aceitam o seu suposto destino após uma vida de exploração como vaca leiteira. Exemplos não faltam. Um dos mais recentes foi registrado no sul da Polônia, quando uma vaca, transportada em um caminhão até um matadouro, conseguiu fugir, derrubando uma cerca e nadando até uma das ilhas do Lago Nyskie, que faz parte do Rio Nysa Kłodzka. As suas companheiras não tiveram a mesma coragem.
De acordo com o site polonês Wiadowmosci, o senhor Lukasz, o pecuarista que enviou a vaca para o matadouro, lucraria o equivalente a pouco mais de R$ 5,6 mil com a sua morte: “Eu a vi debaixo d’água, mergulhando”, disse. Pensando no dinheiro, o pecuarista procurou um veterinário local para atirar na vaca com um tranquilizante e levá-la de volta. Além do animal escapar mais uma vez, o veterinário não pôde fazer nada porque estava sem munição a gás.
O pecuarista então desistiu de capturá-la e deixou comida na ilha. Dias depois, quando os bombeiros usaram um barco para atravessar o Nyskie, a vaca que ficaria conhecida como Heroína, nadou mais de 50 metros até uma península vizinha. Um político local, Pawel Kukiz, se ofereceu para salvá-la da morte. Em sua página no Facebook, ele declarou que “ela fugiu heroicamente, e que não era a primeira vez que uma vaca fugia em busca da liberdade.”
Kukiz logo encontrou um santuário para recebê-la. No dia em que a vaca seria enviada para o novo lar, um veterinário e quatro equipes de resgate navegaram até a ilha. O medo de Heroína em retornar ao matadouro era tão grande que ela desapareceu em meio à densa vegetação.
Foram necessárias algumas horas e três dardos tranquilizantes para contê-la. No entanto, o estresse vivido por Heroína ao longo de quatro semanas, e o medo do contato humano, fez com que ela falecesse após o resgate, em decorrência de um ataque cardíaco.
Talvez a história de Heroína sirva de lição para entendermos que a vontade de viver não é uma prerrogativa estritamente humana, e o quanto é traumatizante para um animal ser explorado exaustivamente e mais tarde enviado para um matadouro, onde sua vida vale o preço de sua carne.
O que há de tão racional em matar um animal para se alimentar de sua carne?