Archive for May, 2017
Platão e a crítica ao consumo de carne
O filósofo grego qualificava a carne como um luxo capaz de levar os seres humanos à decadência
Não é possível afirmar que o filósofo grego Platão tenha sido um protovegetariano, já que não há registros fidedignos de seus hábitos alimentares. Porém, em sua obra “A República”, escrita no século 4 a.C., há claros indícios de que o discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles reconhecia a importância de um estilo de vida pacífico. A exemplo de Sócrates, Platão idealizava uma cidade onde as pessoas não se alimentassem da matança de animais, o que alguns pesquisadores interpretaram mais tarde como uma reação ao fato de que à época o consumo de carne já estava muito vinculado ao status dos cidadãos.
Embora também dissesse que tudo existia para o benefício humano, o filósofo grego que era adepto da frugalidade via a abstenção do consumo de carne como um caminho contrário aos excessos e à guerra. De acordo com o pesquisador Nathan Morgan, autor de “The Hidden History of Greco-Roman Vegetarianism”, Platão qualificava a carne como um luxo capaz de levar os seres humanos à decadência. “Ele foi influenciado por conceitos pitagorianos, mas não foi tão longe quanto Pitágoras. Não é clara a forma como ele se alimentava”, pondera Morgan.
Por outro lado, aquele que é considerado por muitos como pioneiro da filosofia ocidental enfatizava a importância da razão, mesmo que isso significasse sacrificar a sensação ou a percepção. Por isso, há quem diga que Platão pode ter contribuído negativamente para o entendimento que Aristóteles teria mais tarde sobre o valor da vida animal não humana; já que a concepção e o enaltecimento de razão enquanto logos naturalmente excluíam seres não humanos.
Contudo, em “A República”, sua obra mais famosa, e inspirada nos diálogos de Sócrates, Platão escreveu que em uma sociedade ideal as pessoas prepararão farinha de cevada e de frumento, cozinharão esta e amassarão aquela. Colocarão seus estupendos bolos e os seus pães em ramos ou folhas frescas e, deitadas em camas de folhagem, feitas de teixo e de murta. “Regalar-se-ão com seus filhos, bebendo vinho, com a cabeça coroada de flores, e cantando louvores aos deuses; passarão assim agradavelmente a vida juntos e regularão o número de filhos pelos seus recursos, para evitar os incômodos da pobreza e os temores da guerra”, registrou na página 76 de “A República”.
E continuou – citando um diálogo de Sócrates com Glauco: “Eles terão sal, azeitonas, queijo, cebolas e esses legumes cozidos que se costumam preparar no campo. Como sobremesa, terão figos, ervilhas e favas; assarão na brasa bagas de murta e bolotas, que comerão, bebendo moderadamente. Assim, passando a vida em paz e com saúde, morrerão velhos, como é natural, e legarão aos filhos uma vida semelhante a deles.”
Na obra, Platão deixa subentendido que um estilo de vida baseado em excessos mina a justiça e potencializa a injustiça. Valendo-se do discurso de Sócrates, ele discorre que a verdadeira cidade deve ser sã – moderada e voltada para a simplicidade. Não pode ser tomada pelo arrebatamento da excitação, do consumo desenfreado. “Parece que muitos não se satisfarão com esse padrão de vida simples e com esse regime: terão leitos, mesas, móveis de toda a espécie, pratos requintados, essências aromáticas, perfumes para queimar, cortesãs, variadas iguanas, e tudo isto em grande quantidade. Portanto, já não podemos considerar apenas necessárias as coisas a que nos referimos no começo: moradias, vestuários e calçados; teremos de levar em conta a pintura e a arte de bordar, procurar ouro, marfim e materiais preciosos de todas as qualidades. Não é isso?”, questiona.
Fundador da primeira instituição de ensino superior do Ocidente, Platão deixou como legado outras obras que ficaram conhecidas como os “diálogos da maturidade”: Fédon, Fedro, Banquete, Menexêno, Eutidemo e Crátilo. Nascido em Atenas em 427 ou 428 a.C, o filósofo grego faleceu em 347 ou 348 a.C.
“Os homens afirmam que é bom cometer a injustiça e mau sofrê-la, mas que há mais mal em sofrê-la do que bem em cometê-la. Por isso, quando mutuamente a cometem e a sofrem e experimentam as duas situações, os que não podem evitar um nem escolher o outro julgam útil entender-se para não voltarem a cometer nem a sofrer a injustiça. Daí se originaram as leis e as convenções e considerou-se legítimo e justo o que prescrevia a lei. E esta a origem e a essência da justiça: situa-se entre o maior bem — cometer impunemente a injustiça — e o maior mal — sofrê-la quando se é incapaz de vingança”, escreveu Platão nas páginas 55 e 56 de “A República”.
Referências
Platão. A República. Nova Fronteira (2014).
https://ivu.org/history/greece_rome/plato.html
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Um bate-papo sobre veganismo com Robson Fernando de Souza, criador do Veganagente
Robson lançou há pouco tempo o seu livro “Veganismo: as muitas razões para uma vida mais ética”
Robson, quando surgiu o seu interesse pelo veganismo? Como foi isso?
Meu interesse pela defesa animal como um todo surgiu em 2005, com a repercussão da novela América, da Globo, que fazia apologia aos rodeios, e dos casacos de pele de Jennifer Lopez. Na época, eu ainda consumia alimentos de origem animal em abundância. Ao longo de dois anos de contato com veganos e vegetarianos em diversas comunidades do saudoso Orkut, minha resistência ao vegetarianismo foi sendo “minada” e diminuindo pouco a pouco. Então, em agosto de 2007, na época do rodeio anual de Barretos, refleti o quanto estava sendo incoerente ao defender alguns animais (vítimas de casacos de pele e touros explorados nos rodeios) e comer outros (os animais ditos “de consumo”). Então, no dia 24 daquele mês, me tornei vegetariano, já parando de consumir todos os alimentos de origem animal de uma vez (nunca fui protovegetariano). Já o veganismo foi chegando aos poucos entre aquele dia e 13 de julho de 2008, quando concluí que meu boicote de produtos não veganos (sabonetes com sebo, cremes de barbear com lanolina, cremes dentais com glicerina animal etc.) chegou ao “patamar” necessário para me considerar vegano. Foi assim que meu interesse pelo veganismo surgiu.
Por que você decidiu criar o site Veganagente? O que te motivou?
A decisão de criar o Veganagente resultou do desejo de criar um blog especializado em veganismo e vegetarianismo, com artigos, receitas, memes, vídeos, respostas a antiveganos e outros materiais. Antes dele, eu postava conteúdo de veganismo e direitos animais no antigo tumblr Vegetariano da Depressão e no Consciencia.blog.br (meu outro blog). Eu já escrevia sobre veganismo, vegetarianismo e direitos animais desde setembro de 2007, quando comecei a escrever artigos de opinião. E já naquela já distante época senti vontade de escrever um livro que tivesse ou incluísse como tema essa área do conhecimento.
Fale um pouco do seu trabalho com o Veganagente. Você trabalha sozinho? Qual é a periodicidade das publicações?
O Veganagente é um blog em que publico artigos sobre direitos animais, veganismo e também veganismo interseccional. Trabalho sozinho nas postagens, e a hospedagem está a cargo de um amigo meu, a quem sou muito grato. A periodicidade este ano tem sido de um ou dois artigos por semana, já que também me ocupo escrevendo livros e preparando meu futuro canal no YouTube.
Percebi que o site tem uma preocupação em mostrar que o veganismo não é apenas sobre animais não humanos, mas todos os animais.
Isso, minha preocupação é ressaltar que a ética do veganismo e dos direitos animais abrange todos os seres sencientes. Por sua natureza antiespecista, não discrimina a espécie humana como superior nem inferior. O veganismo, por ser focado no combate ao especismo, não prega, por exemplo, o boicote a empresas com publicidade discriminatória, mas nem por isso considera opcional e dispensável o respeito ético aos seres humanos. Ele, por excelência, é uma manifestação ética interligada com outros ramos da ética humana.
Como você avalia hoje o veganismo interseccional?
O veganismo interseccional teve uma grande visibilidade entre 2014 e a primeira metade de 2016, época de diversos embates entre vegans interseccionais e vegans puristas (os que defendem “animais não humanos em primeiro lugar”). Na época, também ocorriam eventos veganos nas periferias urbanas. Hoje o movimento vegano interseccional continua atuando significativamente no Brasil, mas, pelo que tenho visto no Facebook, não tem mais se manifestado de maneira tão sonora quanto antes. Talvez por conta do contexto político e econômico da crise no Brasil; e talvez por alguns conflitos internos nos movimentos sociais e pelo fato de muita gente estar exausta de tanto discutir com vegans que reproduzem ou assumem posturas ideológicas de direita e que são anti-humanistas.
O que você acha que dificulta o entendimento do que realmente é o veganismo interseccional?
Estimo que seja por motivos como a má vontade ideológica de alguns veganos de direita e assumidamente antiesquerdistas. Também há pouca divulgação do veganismo interseccional na internet (neste momento, o Veganagente é um dos únicos blogs de visibilidade razoável no Brasil que tem como tema o veganismo interseccional), fora a ausência de livros sobre esse tema no país, e a não difusão de materiais estrangeiros por aqui (em inglês e espanhol há muito conteúdo interseccional). Pelo que tenho visto, como são poucas as pessoas falando via internet sobre o que é e o que não é o veganismo interseccional, e boa parte do conteúdo disponível nas buscas do Google é de artigos contrários a essa versão do veganismo, o entendimento para muitas pessoas sobre o tema tem sido distorcido e confundido.
O Seu livro “Veganismo – as muitas razões para uma vida mais ética” reúne 50 artigos. É correto dizer que ele é direcionado tanto para quem não é vegano quanto para quem tem interesse em se aprofundar no assunto?
Isso. Tem 50 artigos, e tem esse direcionamento para simpatizantes e curiosos iniciantes sobre o veganismo, e também para vegetarianos e veganos novatos ou veteranos que querem se aprofundar na temática do veganismo e dos direitos animais.
Foi difícil a publicação do livro? Como foi o processo de seleção dos artigos? Quais foram suas prioridades?
A publicação do livro não foi difícil porque que eu já sabia do Clube de Autores como lugar para publicar e vender livros sob demanda. A seleção dos artigos, por sua vez, consistiu em selecionar diversos artigos da categoria de artigos “Seja Vegan” do Veganagente, reestilizá-los, melhorá-los, adicionar-lhes fontes e também escrever artigos totalmente novos – alguns destes não estão disponíveis no Veganagente, só estão no livro. A prioridade foi dada aos artigos que correspondem a essa categoria de postagens.
Você é vegano desde 2008 e começou o Veganagente em 2013. Os artigos publicados no livro foram produzidos em que período?
O livro contém versões melhoradas e rebuscadas de artigos cujas versões originais datam entre 2013 e 2016, e artigos inéditos escritos entre novembro de 2016 e fevereiro de 2017.
Sei que o livro está à venda no Clube de Autores. Ele pode ser encontrado em mais algum outro lugar? Você está aberto a novos pontos de vendas?
No momento, ele só está à venda no Clube de Autores. Precisarei convertê-lo na versão Epub para poder vendê-lo em outras livrarias virtuais, parceiras do Clube. Sobre outros pontos de venda, está aberta a possibilidade de donos de estabelecimentos veganos e vegetarianos adquirirem cópias impressas do livro, obtendo desconto no frete e no custo de impressão de exemplares comprados em boa quantidade, e revendê-los localmente para faturar um pouco.
Ao longo de anos pesquisando e lendo sobre veganismo, quais autores e obras você indicaria para quem quer pesquisar sobre o assunto?
Alguns autores que recomendo são Sônia Felipe (Galactolatria: mau deleite, Por uma questão de princípios, Acertos Abolicionistas: A Voz dos Animais etc.), Carol Adams (A Política Sexual da Carne), Andrea Franco Lopes (Por Que Me Tornei Vegetariano), Gary Francione (Introdução aos Direitos Animais), Leon Denis (livros sobre educação vegana) e Tom Regan (Jaulas Vazias). Outros autores ainda preciso estudar com mais dedicação.
Você acredita que o veganismo está crescendo no Brasil?
Por um lado, o número de pessoas que se consideram veganas e o de materiais diversos (livros, vlogs, blogs, quadros na TV etc.) sobre culinária livre de alimentos de origem animal tem crescido. Isso é uma notícia muito boa. Mas por outro, o conhecimento intelectual sobre a ética vegana, os direitos animais e o movimento vegano-animalista parece estar em baixa. Percebo isso na postura de muita gente, que age “veganamente” por meios puramente emocionais e consumeristas, não em defesa racional e convicta dos direitos animais enquanto fenômeno sociopolítico e da ética animal e seus princípios. Além disso, estão em extinção os blogs e sites de artigos de opinião e conscientização vegano-abolicionistas. O Veganagente, a ANDA, a versão em português do Animal Ethics e, em menor frequência, a Sociedade Vegana são quatro dos únicos sites divulgadores desse tipo de material em atividade regular no país.
A literatura que se produz no Brasil sobre veganismo e direitos animais é substancial?
Até certo ponto, sim. Há muitos livros sobre culinária vegana, poesias, contos, crônicas etc. sobre esse tema. O problema é que a grande maioria dos livros não é fácil de ser encontrada à venda – alguns até já saíram do mercado. Além disso, a produção teórica acadêmica e paradidática sobre veganismo e direitos animais parece ter desandado nos últimos anos, com pouquíssimos títulos sendo lançados e divulgados.
O que você aponta de mais positivo e de mais negativo no veganismo hoje?
O mais positivo tem sido o crescimento numérico de vegans e de materiais de culinária vegetariana (livre de ingredientes de origem animal). O mais negativo, como falei em outras respostas mais acima, é a carência de embasamento intelectual, teórico, racional da convicção vegana de muita gente, que, por esse motivo, acaba ficando fortemente suscetível a retomar o consumo de produtos animais por influência de antiveganos e bem-estaristas. Outros pontos negativos, que abordo com certa frequência no Veganagente, são que o veganismo tem crescido muito pouco na periferia, por motivos como dificuldade de acesso a materiais sobre veganismo e direitos animais; há também um foco elitista por parte dos empreendedores do “nicho vegano” e carência de opções veganas muito boas em restaurantes, lanchonetes e supermercados (no caso de produtos não alimentícios, como cremes dentais e lâminas de barbear); e o veganismo no Brasil hoje corre um risco muito sério de ser rebaixado de modo de vida ética e politicamente engajado a um mero nicho de consumo individualista e desprovido de razões éticas e racionais.
Quais são as maiores barreiras na divulgação do veganismo?
O viés elitista de grande parte dos divulgadores do veganismo, a relativamente pouca presença de veganos militantes (moradores da localidade ou não) nas periferias; as dificuldades imensas de acesso a livros de teoria vegano-abolicionista (como falei anteriormente, são muito difíceis de serem encontrados no mercado, e na maioria das vezes são caros); a desinformação que levou muitos a se considerarem “veganos” sem respeitar a ética animal (o que distorce, desempodera e prejudica a divulgação conscientizatória do veganismo); as mexidas de pauzinhos por parte do mercado pra rebaixar o veganismo a um mero nicho de mercado e estilo de vida e consumo aético, e a decadência do universo de divulgação da teoria animalista no Brasil (como dito, hoje restam pouquíssimos sites brasileiros com colunas e artigos esclarecedores sobre o tema).
O que você pensa sobre discursos mais agressivos por parte dos veganos?
Já sobre os discursos agressivos de muitos veganos, quero focar no ódio que alguns têm por não veganos (a), nas comparações irresponsáveis entre exploração animal e opressões humanas (b), na atitude de argumentarem com grosseria e impaciência (c) e nas defesas de “soluções” autoritárias para coibir a exploração animal (d).
a) Odiar não vegans é uma violação grave do princípio vegano-abolicionista de promover educação e conscientização. É um dos legados perversos de pessoas como Gary Yourofsky, que vez ou outra se cansam do seu lado educativo e escancaram o ódio que têm por aqueles que estão tentando educar. A atitude que nós vegans devemos ter é de tratar os não veganos com educação, respeito, tolerância e diplomacia, se queremos lhes mostrar pela informação e pelo exemplo o quanto é benéfico ser vegan.
b) Existe o costume clássico de se tentar promover comparação entre formas de exploração animal e formas de violência e dominação contra humanos – por exemplo, comparar a pecuária com a escravidão imposta aos negros, ou a exploração de vacas “leiteiras” com violências contra a mulher, ou o especismo com o Holocausto nazista. É uma estratégia super desastrosa de se promover os direitos animais, já que desconsidera que a animalização foi e é uma maneira muito comum de se promover a inferiorização de minorias políticas, e fazer analogias entre pessoas dessas minorias e animais não humanos acaba sempre correndo um risco altíssimo de ser encarado, tanto por não vegans como por vegans membros de movimentos sociais, como uma forma de animalização preconceituosa e legitimação dos discursos de discriminação racista, misógina, antissemita etc. O resultado disso é ofender essas pessoas e afastá-las do veganismo, com risco até mesmo de torná-las antiveganas. Portanto, o mais prudente e ético a se fazer é evitar comparações desse tipo.
c) Infelizmente muitos veganos costumam argumentar de maneira grosseira, antipedagógica, impaciente e autoritária com não veganos, quase obrigando-os a considerar o veganismo e aceitar sem questionar que ele deve ser aderido mesmo sem ser plenamente compreendido. É uma outra forma de se atrapalhar a disseminação vegana, já que tende a causar não curiosidade e simpatia, mas sim antipatia e repulsa pelo veganismo e pelas pessoas veganas, além de ser uma violação ética, já que o vegano grosseiro está desrespeitando os não veganos a quem dedica sua grosseria.
d) Outra forma de autoritarismo no meio vegano é a defesa de “soluções” baseadas no uso da força para coibir, por exemplo, sacrifícios de animais em religiões afrobrasileiras. Sou veemementemente contra esse tipo de ritual, só que essa contrariedade não precisa vir com insensibilidade ao fato de que religiões como o candomblé e a quimbanda (umbanda não sacrifica animais) são alvos de perseguição religiosa e racial, e muitos “cristãos” fundamentalistas, que na verdade não ligam pros animais, usam a defesa animal como pretexto pra promover seu racismo e sua intolerância contra as religiões do povo negro. Fica claro, com esse contexto, que defender a criminalização do sacrifício religioso de animais vai ao mesmo tempo, empurrar esses rituais pra clandestinidade, fazendo-os acontecer às escondidas, e institucionalizar mais ainda a perseguição racista e de intolerância religiosa. Defendo que se dê voz e espaço para os afrorreligiosos negros veganos debaterem a ética animal dentro de suas comunidades religiosas e, pouco a pouco, reformarem a teologia candomblecista e quimbandista para que se encontre uma maneira de favorecerem aos Orixás sem o uso do sacrifício animal. Defender lei e polícia contra essas religiões só vai agravar a violência contra seres humanos e animais não humanos.
Como você avalia o bem-estarismo?
Sobre o bem-estarismo, é uma completa cilada que infelizmente ainda consegue convencer pessoas não veganas ou iniciantes no veganismo de que “é possível” usar animais não humanos como propriedade de maneira “respeitosa” e “humanitária”. Na verdade, é uma versão reformista do especismo, mantendo as mesmíssimas bases morais de se usar os animais como se fossem seres inferiores que “pertencem” aos seres humanos. Portanto, aconselho às pessoas que sempre tenham dois pés atrás diante de discursos bem-estaristas, porque eles não estão aí para libertar os animais, mas sim para continuar explorando-os livremente e com a aprovação da população.
Tem algo que você considera que todos os veganos deveriam fazer e algo que você crê que eles jamais deveriam fazer?
Algo que todos os veganos deveriam fazer é respeitar a ética vegana e seus princípios, inspirar-se nestes para se tornarem seres humanos melhores e perceberem que não é válido o argumento de que é possível ser vegan e ao mesmo tempo machista, racista, reacionário, xenófobo, misantropo, transfóbico, heterossexista, intolerante religioso, elitista, gordofóbico etc. E o que não deveriam fazer é ser seletivos no cumprimento da ética vegana, excluir seres humanos (todos ou a maioria) de sua consideração moral, usar estratégias irresponsáveis e insensíveis de divulgação dos direitos animais (como comparar minorias políticas humanas e animais não humanos, assim como as opressões que castigam essas categorias, promover discursos de ódio e difundir um veganismo excludente, despolitizado e pouco acessível.
Você diria que existe algum grupo formalmente organizado que realmente representa o veganismo no Brasil?
Eu sinceramente não me identifico com nenhum desses grupos.
Vi que você está aberto a doações para ajudar a financiar o seu trabalho com o Veganagente. As pessoas têm contribuído em uma proporcionalidade justa ao seu ritmo de produção?
Em relação às doações, eu recebo em torno de 100 reais a cada dois ou três meses, muito distante do que realmente preciso. Portanto, a quem me lê, peço que, se curte bastante meu trabalho e quer ajudar a fortalecê-lo e melhorá-lo, expresse sua gratidão e retribuição por meio do financiamento recorrente no APOIA.se: https://apoia.se/robfbms
Robson, agradeço a sua disponibilidade em responder abertamente a cada uma das perguntas. Alguma mensagem final?
Estou com dois livros em andamento no momento, e projetos para mais uma dúzia de outros títulos. Se você curte meu trabalho e é grato por ele, apoie-me por meio do APOIA.se (https://apoia.se/robfbms) e/ou adquira meu livro, impresso ou em versão digital nos links abaixo:
- Clube de Autores (impresso, R$53,65):
https://clubedeautores.com.br/book/250213–Veganismo_as_ muitas_razoes_para_uma_vida_ mais_etica__2_Edicao -
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barra direita, abaixo das imagens dos livros)
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Os temas preferidos de Robson Fernando Souza são sociologia, direitos animais e veganismo, além de temas humano-ambientais como educação ambiental, sociedade e meio ambiente, desenvolvimento e meio ambiente, e ética ambiental.
Conheça o trabalho de Robson Fernando de Souza:
Paolo Troubetzkoy: “Se você compra [carne], você está autorizando a morte de animais”
“Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem”
Considerado pelo escritor irlandês George Bernard Shaw como o escultor mais surpreendente dos tempos modernos, o escultor italiano de origem russa Paolo Troubetzkoy conquistou muita fama na Rússia nas primeiras décadas do século 20. Influenciado pelas obras de Auguste Rodin e Medardo Rosso, Troubetzkoy criou esculturas que se tornaram mundialmente famosas, como do imperador Alexandre III da Rússia, do pintor Isaac Levitan, do escritor Liev Tolstói, da princesa M.N. Gagarina com sua filha Marina e da grande duquesa Elizabeth Feodorovna.
Assim como Tolstói e Elizabeth, o escultor e pintor italiano de origem russa também era vegetariano. “O meu pai gostava muito dele. Era um doce e inocente ser humano com grandes dons. Ele praticamente não lia nada, falava pouco e passou toda a sua vida envolvido com esculturas”, declarou Alexandra Tolstói, a filha caçula de Liev Tolstói, reproduzindo memórias que seu pai preservou da amizade com Troubetzkoy, para quem posou de bom grado na criação de várias esculturas em sua homenagem. A citação pode ser encontrada no livro “Tolstoy: A Life of My Father”, publicado em 1953 e em 1972.
Quando o questionavam sobre o motivo dele não se alimentar de animais, Troubetzkoy quase sempre respondia com uma voz tranquila e parcimônia peculiar: “Não posso me alimentar de cadáveres.” Em seu estúdio em São Petersburgo, ele produziu muitas obras inspiradas na vida selvagem. Inúmeras de suas esculturas foram criadas visando captar a essência da importância da liberdade animal.
O escritor George Bernard Shaw dizia que ele era um humanitarista extraordinário, incapaz de se alimentar de um animal. Sua contrariedade em relação à matança de animais era tão grande que, mesmo tímido, ele jamais deixou de se manifestar em relação a isso.
Talvez essa insatisfação também tenha influenciado o estilo de Troubetzkoy, marcado por um intimismo e melancolia que deram origem a uma forma nervosa de impressionismo. Além de Bernard Shaw e Tolstói, outros nomes importantes de sua época e que viam uma qualidade rara em suas obras estavam o Barão de Rothschild, o conde Robert de Montesquiou, Gabriele D’Annunzio, Arturo Toscanini, Enrico Caruso e Giovanni Segantini.
O escultor russo lecionou na Academia Imperial de Belas Artes de Moscou e recebeu importantes prêmios – como o grande prêmio da Exposição de Paris em 1900. Além da Europa, suas obras também foram levadas para os Estados Unidos. “Como não posso matar, não posso autorizar os outros a matarem. Você entende? Se você compra [carne] de um açougueiro, você está autorizando a morte de animais – a morte de criaturas indefesas e inocentes, que nem eu nem você poderíamos matar”, declarou em entrevista registrada na página 22 da The Vegetarian Magazine em 1907.
Saiba Mais
Paolo Troubetzkoy nasceu na comuna italiana da Verbania em 15 de fevereiro de 1866 e faleceu na comuna de Novara, também na Itália, em 12 de fevereiro de 1938.
Referências
The Vegetarian Magazine, Volume 11, página 22 (1907).
Davis, Gail. Vegetarian Food for Thought. Página 69. New Sage Press (1999).
IVU World Vegetarian Congress Souvenir Book. Warriors for Vegetarianism (1957).
Tolstoy, Alexandra. “Tolstoy: A Life of My Father”. Octagon Books (1972).
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Uma tentativa de furto
No sábado, quando eu estava perto da rodoviária, esqueci meu celular no carro. Quando voltei para buscar, vi um cara de costas tentando abrir a porta do meu carro.
— Cara, o que você está fazendo aí?
— Ô parceiro, foi mal mesmo. Deixei cair algo aqui perto da porta. Perdão…
— É mesmo? Então me mostre aí o que você perdeu.
— Peraí. Tô procurando aqui.
— Não estou vendo nada.
Quando cheguei mais perto, reconheci o sujeito. Era um garoto que conheço há anos.
— Cara, você estava tentando abrir o a porta do meu carro. Sério mesmo que você achou que isso fosse uma boa ideia?
— Ah, mano! Não é nada disso não. Te disse.
— Rapaz, meu carro é legal, pode até render uma grana, mas você acha que ele vale mais do que sua vida? Sua liberdade? Conheço sua família. Seu pai vive em uma cadeira de rodas e sua mãe ganha a vida trabalhando até anoitecer fazendo faxina. São gente boa. Não merecem isso. O que tem de errado contigo?
— Ah, mano! Que se foda! Ninguém dá emprego, então tô arriscando.
— E valeu a pena se arriscar? E se eu fosse um desconhecido armado? Um cara agressivo poderia atirar em você ou te matar a pancadas por causa disso. Não se importa de ser preso também?
— Sei lá, mano! Só vi o carro de longe e colei aqui. Não pensei em nada não. Nem sabia que era seu.
— Não faça isso não, cara. Não sabia que você tinha virado ladrão. Tem quanto tempo isso?
— Tô sem trampo tem meses, doido. E a mulher lá já disse que vai mandar prender se não pagar a pensão da criança de novo. Então prisão por prisão, tá tudo na merda mesmo.
— Você já cometeu outros crimes?
— Só coisa pouca, tipo radinho, duas, três vezes.
— Você tem que idade?
— 21…
— Rapaz, sai dessa vida porque isso vai ficar caro pra você.
— E vou fazer o que?
— O que você sabe fazer? Terminou o ensino médio?
— Terminei sim, mano. Mas só trabalhei como servente de pedreiro até hoje, mas ninguém tá pegando.
— Sei, cara. Vou aliviar essa pra você, mas se eu souber que você tem aprontado, não vou deixar quieto não. E vou procurar me informar sobre o que você anda fazendo por aí. Outra coisa, segunda-feira você vai aparecer nesse endereço aqui às 7h30 sem falta. Já vou deixar avisado. Se você der mancada comigo…
Hoje, passei em uma obra no final da tarde para falar com um amigo que é construtor.
— O rapaz realmente leva jeito. Se ele mantiver o ritmo, vamos ver se colocamos ele num curso de pedreiro.
— Boa notícia. Bom saber disso.
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Bola Sete, um vegetariano que deixou seu nome na história do jazz
O compositor, violonista e guitarrista carioca Bola Sete, que foi aluno do maestro Moacyr Santos, fez muito sucesso tocando jazz nos Estados Unidos e no México nas décadas de 1960 e 1970. De origem pobre, mas com uma herança musical muito forte, descobriu a aptidão para a música ainda na infância, quando começou a tocar cavaquinho e violão.
No Estados Unidos, Bola Sete foi um grande parceiro de Dizzy Gillespie e Vince Guaraldi, com quem lançou em 1963 o disco “Vince Guaraldi, Bola Sete and Friends”. Guaraldi foi o autor da trilha sonora do desenho animado “Peanuts”, que traz personagens como Charlie Brown e Snoopy. Em 1967, Bola Sete deixou o Vince Guaraldi Trio para criar o seu próprio trio, que trazia na formação os brasileiros Sebastião Neto e Paulinho, contrabaixista e baterista.
Quando o grupo decidiu se separar, Bola Sete já era um homem de meia-idade com sobrepeso e alguns problemas de saúde. Então ele viu que seria necessário dar uma guinada em sua vida. Parou de tocar e começou a meditar, praticando regularmente o hatha yoga. Primeiro, ele abandonou o consumo de carne e mais tarde se tornou vegetariano.
“Isso não apenas permitiu que ele perdesse mais de 22 quilos, mas também que ele conseguisse controlar a sua asma agravada por anos inalando fumaça nos clubes onde tocava. O novo estilo de vida garantiu que ele produzisse a música mais incrível de sua carreira”, afirmou o pesquisador Gerald E. Brennan.
Embora Bola Sete tenha seu nome quase sempre relacionado ao jazz, estudiosos de sua música como Brennan o consideram o pai da música new age. Isto porque as composições do brasileiro se tornaram muito espiritualizadas, destoando do jazz tradicional; algo que ficou mais claro depois que ele se tornou vegetariano.
Em 1970, quando excursionou pelo México com Stan Getz e outros artistas do jazz, Bola Sete se tornou extremamente popular, o que o motivou a lançar em 1971 o álbum “Shebaba”. “Bola Sete é tão significativo quanto Jimi Hendrix e Segovia, no sentido de ter sabedoria, conhecimento, alma e paixão”, escreveu o célebre guitarrista mexicano Carlos Santana. Nos Estados Unidos, há mais artistas que consideram Bola Sete um dos maiores guitarristas de todos os tempos, e não somente do jazz.
Saiba Mais
Djalma de Andrade, mais conhecido como Bola Sete, nasceu em 16 de julho de 1923 no Rio de Janeiro, e faleceu nos Estados Unidos em Greenbrae, na Califórnia, em 14 de fevereiro de 1987.
Entre os anos de 1958 e 1985, Bola Sete gravou 14 discos.
Referências
Http://www.bolasete.com/index.php
http://www.musicianguide.com/biographies/1608002433/Bola-Sete.html
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Eu e a minha alimentação
Peso 90 quilos, com não mais do que 10% de gordura corporal. Tenho demandas energéticas muito elevadas, metabolismo acelerado. Dizem que meu biotipo é predominantemente mesomorfo. Mas a minha alta demanda de micro e macronutrientes tem relação com o fato de eu praticar atividades físicas de alta intensidade diariamente (principalmente musculação) há mais de dez anos.
Nunca fui obeso. Não tenho facilidade em acumular gordura. Preciso comer muito para ganhar gordura, o que só acontece em fase de bulking (ganho de massa muscular). Minha alimentação é boa. Sou saudável e não consumo nada de origem animal. Nunca fico doente, nunca tive nenhum problema grave de saúde. Pensando bem, me recordo que tive dengue há alguns anos, mas meu sistema imunológico respondeu tão bem que continuei treinando diariamente mesmo com dengue.
Me questionaram recentemente sobre o motivo de eu não seguir uma dieta crudívora. Simplesmente porque o crudivorismo não combina com o meu estilo de vida. Respeito quem vai por esse caminho, mas não é o meu, ainda mais em fase de bulking. Não demonizo alimentos cozidos, porque na minha opinião isso não faz sentido. Assim como não vejo motivo para demonizar glúten, caso a pessoa não seja celíaca. Falo isso como alguém que não é nutricionista, mas que conquistou todos os resultados quanto à estética e saúde por conta própria ao longo dos anos. Então pelo menos quanto ao meu corpo e organismo, sei o que estou falando, já que realizo exames de rotina a cada seis meses – e está tudo muito bem.
Há pessoas que me perguntam às vezes porque as minhas receitas têm valores nutricionais detalhados. Simplesmente porque peso tudo que como há anos. Hoje não faço isso toda hora porque decorei os valores nutricionais de dezenas de alimentos. O tempo facilita isso. Sei quais são minhas necessidades diárias de glicídios, proteínas e lipídios. Me alimento seis vezes por dia, porque é o que funciona melhor pra mim. E isso não tem relação com a “teoria do metabolismo acelerado”.
Basicamente, sempre fui um cara disciplinado. E sobre as receitas que publico em meu blog Vegaromba, de culinária, bom, às vezes alguém diz que algumas são “porcarias”. Aí depende muito do que você come, quanto come e com qual objetivo. Algumas eu como ocasionalmente no que chamo de “Dia do Lixo”, que alguns não gostam, mas outros gostam. Sou um dos que gostam, até para “quebrar a dieta”. As minhas receitas são elaboradas atendendo a um objetivo específico. A maioria, mesmo aquelas do Dia do Lixo, têm alguma finalidade, não são combinações aleatórias de calorias vazias, e mesmo que fossem não vejo nada de errado, desde que não sejam parte da minha rotina alimentar.
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Quando um cão morre…
Quando um cão morre, e me recordo de sua doçura e inocência, me pergunto se existe um céu para os cães, porque eles merecem o céu depois de uma vida de doação que começa após o nascimento. Não me importo que haja um céu para mim, mas me importo o suficiente para desejar que exista um para os cães, seres que vivem a plenitude da bondade.
Dizem que os cães já nascem amando, enquanto nós precisamos aprender a amar, e por isso vivem pouco. Para eles, que têm mais a ensinar do que a aprender, tudo é pleno e intenso porque as chamas de suas vidas são efêmeras, mas muito mais longas do que as nossas. Talvez, em sua invisibilidade, elas toquem o céu sem que percebamos, porque ainda somos humanos demais para enxergar o que somente uma natureza não humana pode semear.
“A mesquita é pra lá”
Encontrei um amigo dos tempos de adolescência perto da AABB, então me aproximei para cumprimentá-lo. Sem que eu tivesse tempo de abrir a boca, ele falou:
— A mesquita é pra lá.
Gosto de subverter expectativas
Gosto de subverter expectativas. Um motorista apressado ficou irritado quando diminuí a velocidade do carro para que um cão tivesse tempo de atravessar a rua. Incomodado, o sujeito acelerou, buzinou e mostrou o dedo médio. Então retribuí sorrindo e mostrando o dedo polegar. O sujeito ficou desconcertado, e se pensou em me xingar mudou de ideia.
“Mas ele era soviético, e não se pode confiar em soviéticos…”
Em 2009, quando eu coordenava o Projeto Mais Cinema, passei uma maratona do Tarkovsky na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, e um cara apareceu no final da sessão.
— Vim aqui porque quero saber se você está desenvolvendo algum tipo de arquitetura intelectual em favor do socialismo e do comunismo.
— Como é? Arquitetura intelectual? Do quê?
— Não sei…acho que é muito suspeito você exibir filmes dos tempos da União Soviética…
— Será mesmo? Tarkovsky era um escultor do tempo, um artista da fragilidade humana. A vida para ele era como um espelho, um sonho. Se não me engano foi em 1979 que o governo soviético impediu que um dos filmes dele, Stalker, fosse enviado para o Festival de Cannes; e por julgar que era uma crítica aos gulags, os campos de concentração da União Soviética. Independente de qualquer coisa, ele não era e nunca foi um partidarista. A humanidade dele estava acima de tudo.
— Mas ele era soviético, e não se pode confiar em soviéticos…
— Ok…
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