David Arioch – Jornalismo Cultural

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Archive for the ‘Cinema’ Category

Sobre a cena de estupro em “Último Tango em Paris”

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No filme, Maria Schneider, que não foi avisada, participa de uma cena de estupro (Foto: Reprodução)

Tenho lido sobre a mais polêmica cena do filme “Último Tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci, lançado em 1972, com a então jovem Maria Schneider, estuprada pelo personagem de Marlon Brando.

Bertolucci admitiu que Maria não sabia que se trataria de uma cena de estupro, visando reproduzir as reações dela como mulher, não atriz. É triste, mas não fiquei tão surpreso porque o cinema está repleto de casos como esse. Isso me lembra um artigo que escrevi há algum tempo, sobre a concepção moral de alguns artistas. Há artistas, inclusive entre os grandes, que não se importam com a perspectiva moral que normatiza a vida em sociedade.

A diferença é que alguns levam isso para as telas, outros a restringem ao escapismo. Além disso, a arte para muitos está acima de qualquer coisa, e pouco importa pra eles se isso significa transpor os direitos de alguém. E isso não é contemporâneo não, muito menos se restringe ao cinema. É só estudar a vida dos pintores do passado. Estamos falando de algo que existe desde o surgimento da arte. Para alguns ou muitos, o que vale é transmitir o que eles querem transmitir. O resto é realmente encarado como resto. O doa a quem doer não raramente é levado à literalidade sem ressalvas.

Written by David Arioch

December 5th, 2016 at 12:52 am

Jean Vigo, um dos cineastas que mais me emocionou

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Jean Vigo faleceu com apenas 29 anos em decorrência de tuberculose (Foto: Reprodução)

Jean Vigo, um dos cineastas que mais me emocionou, é praticamente desconhecido por quem não conhece o realismo poético, o cinema francês pré-nouvelle vague. Houve uma época da minha vida que fiquei tão imerso em suas obras que assisti tudo que ele produziu e comprei todos os livros de referência sobre a sua vida.

Lembro que me comprometi em escrever sobre ele, mas fiquei tão comovido que acabei fazendo justamente o oposto – nada. Até hoje, não escrevi nada sobre ele. Me senti mal mesmo pelo seu trágico final. Jean Vigo era um sonhador, morreu com 29 anos e não teve nenhum tipo de reconhecimento em vida.

Aquilo me surpreendeu sobremaneira. Quando terminei de assistir e de ler tudo que encontrei sobre ele, refleti: “Sim, Jean Vigo era um artista intenso, e por isso vocês não podem resumi-lo a quatro obras e dizer que aquilo era o que ele tinha a oferecer ao mundo. O cara estava apenas começando. Ele exalava vida, sublimidade, alegorias, simbologias, lirismo. Em seu tempo, era o mais genuíno dos poetas do cinema francês, Ademais, quem exala vida não poderia morrer dessa forma.”

Ele deixou trabalhos promissores, que provavelmente teriam revolucionado muito mais o cinema. Vigo faleceu depois de lançar “L’Atalante”. Este filme, que marcaria o princípio da sua carreira profissional, a sua própria estilística cinematográfica, foi eleito um dos melhores da história do cinema em algumas pesquisas.

O mais paradoxal disso tudo é que “L’ Atalante”, que narra uma história de amor e seus conflitos, passou por modificações, alterações que não foram feitas nem desejadas por ele. Logo é uma obra descaracterizada, não fidedigna. Sim, Vigo está ali, mas não puramente ou tão liricamente. Não se mexe em um poema audiovisual. Isso é obliteração.

Vigo influenciou outro de meus cineastas preferidos – François Truffaut, que eternizou uma das mais belas cenas do cinema – aquela em que os estudantes correm pelas ruas de Paris e são acompanhados pela câmera, num dos momentos mais bucólicos e eletrizantes de “Les 400 Coups”. Esta referência vem do primeiro filme ficcional de Vigo. intitulado “Zéro de conduite”.

O jovem Jean Vigo viveu intensamente, mas não colheu os frutos de seu trabalho. No leito de morte, foi tratado como um ninguém, um pária. Morreu da mesma forma que nasceu, como um rejeitado, um injustiçado indesejado em um mundo já conturbado e ensoberbado. Acabou vitimado por uma tuberculose que o perseguia desde a infância, gestada no seio das precárias condições de vida.

Apesar de tudo, é curioso reconhecer como somos capazes de mergulhar na vida de uma pessoa com quem nunca tivemos contato direto. É o poder da arte. O tempo passou, mas sinto como se Vigo ainda fosse muito real, e continuasse exalando vida, vivendo imaterialmente, mesmo que ele tenha partido em 5 de outubro de 1934.

Written by David Arioch

December 4th, 2016 at 4:45 pm

Uma profunda relação com o cinema

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"O Garoto", lançado por Chaplin em 1921, foi o primeiro filme que me chamou a atenção (Foto: Reprodução)

“O Garoto”, lançado por Chaplin em 1921, foi o primeiro filme que me chamou a atenção (Foto: Reprodução)

Tenho uma profunda relação com o cinema desde os meus primeiros anos de vida. Aos cincos anos, eu estava diante da TV, ao lado do meu pai. Era um daqueles televisores com caixa de madeira. Fiquei hipnotizado assistindo uma criança correndo e atirando pedras em uma vidraça, acompanhada de um homem com um bigodinho. Aquele era o Carlitos, disse meu pai.

Então perguntei: “Por que ele tá tacando pedra no vidro? A mulher da casa não vai ficar triste? Será que ela vai ter dinheiro pra colocar outro?” Meu pai ficou rindo e disse pra eu prestar atenção também na motivação dos personagens e no cenário.

Foi quando entendi porque o cinema mudo era mudo e porque a estética faz tanta diferença, principalmente no cinema de arte. Ele não era mudo apenas por limitações tecnológicas, mas porque instigava no ser humano a capacidade de buscar respostas que não poderiam ser dadas com palavras. Crianças da minha idade adoravam desenhos e filmes infantis, eu também. Mas não somente isso. Eu amava os filmes de Charles Chaplin, Harold Lloyd, Buster Keaton, e Stan Laurel e Oliver Hardy.

Diante deles, a ausência de diálogos inexistia diante da minha mente ruidosa de criança. Os sons pululavam dentro de mim. Os filmes não tinham cor, talvez para os outros, não pra mim que sempre via luz no céu, na terra e até na escuridão dos personagens. “Isso aí não tem cor, vamos assistir Caverna do Dragão”, disse meu amigo Fabiano um dia. Respondi: “Tem sim! Mas ela só existe se você quiser que ela exista.” Naquele dia, dormimos depois de assistir “Luzes da Cidade” duas vezes.

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Written by David Arioch

December 4th, 2016 at 4:33 pm

Quando Antunes Filho chocou o Brasil

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Zózimo Bulbul, o primeiro homem negro a beijar uma mulher branca no cinema nacional (Foto: Reprodução)

Antunes Filho chocou o Brasil em 1969 quando deu ao ator Zózimo Bulbul um grande papel no filme “Compasso de Espera”. Na obra, Zózimo beija uma mulher branca. Aquela foi a primeira vez que os brasileiros viram um homem negro beijando uma mulher branca em um filme nacional. A obra gerou tanta comoção que descortinou a propaganda do Brasil como um país onde supostamente se vivia a democracia racial.

Written by David Arioch

November 24th, 2016 at 10:35 pm

Earthlings, o que os olhos veem e o coração precisa sentir

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Documentário mostra a realidade nua e crua por trás da produção de carnes, laticínios, roupas e calçados

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Documentário é narrado pelo ator e vegano Joaquin Phoenix (Foto: Divulgação)

Lançado em 2005, Earthlings – Make the Connection (Terráqueos – Faça a Conexão) é um documentário escrito, dirigido e produzido pelo ambientalista estadunidense Shaun Monson que mostra até que ponto a humanidade chegou em relação aos maus-tratos de animais.

Pesado e chocante, o filme apresenta a realidade nua e crua por trás da produção de carnes, laticínios, roupas e calçados. Também traz informações e imagens impactantes sobre espécies usadas como entretenimento ou cobaias em laboratórios farmacêuticos e da indústria da beleza.

Do início ao fim, o documentário, baseado em uma grande compilação de imagens de dezenas de autores, é narrado pelo ator hollywoodiano e vegano Joaquin Phoenix, o que ajudou muito na popularização do filme, assim como a trilha sonora assinada pelo compositor Moby, também vegano.

Logo nos primeiros minutos é difícil não se sentir mal com as cenas exibidas, e o que parece prestes a acabar, na verdade está apenas começando. E não é difícil entender qual é o propósito de Monson ao gerar esse mal-estar nos espectadores. É uma reação naturalmente saudável e esperada. Afinal, estranho seria se assistíssemos ao filme e não nos permitíssemos sentir empatia por tantos animais explorados e violentados.

E o sentimento vai ao encontro de uma frase muito bem colocada por Joaquin Phoenix em Earthlings: “Se todos tivessem que matar os animais com as próprias mãos para consumir carne, provavelmente muito mais pessoas se tornariam vegetarianas.” Então como isso é impossível de acontecer, o autor optou por chocar de outra forma, nos convidando a conhecer esse universo como cúmplices, responsáveis em maior ou menor grau pela existência de um mercado baseado na exploração e extermínio de terráqueos não humanos.

Earthlings é visceral? Com certeza! E levando isso em conta alguém pode alegar que as imagens do filme não representam a realidade de todos os animais. Sim, é uma justificativa a se considerar, já que o tratamento oscila de acordo com objetivos, consumidor final, recursos e preceitos morais e éticos.

Earthlings foi escrito, dirigido e produzido pelo ativista Shaun Monson (Foto: Peta)

Earthlings foi escrito, dirigido e produzido pelo ativista Shaun Monson (Foto: Peta)

No entanto, nada altera o fato de que independente de cidade, estado ou país, estamos sempre diante de animais relegados a uma vida breve ou longa de servidão. Sem dúvida, são seres que mais cedo ou mais tarde vão morrer, claro, assim que servirem a um propósito que não foi escolhido por eles.

É provável que muita gente não acredite que faça parte do processo que envolve a indústria da exploração animal, porém não há como negar que se gostamos de cães e gatos, por exemplo, mas consumimos produtos de origem animal, somos negligentes e ilógicos porque temos uma conduta assentada no especismo, uma crença de viés cultural que cria a falsa ilusão de que somos justos mesmo quando não somos.

Nos baseamos na ilusão de que somos superiores, logo melhores, e todos os demais seres da natureza existem apenas para satisfazer nossas pretensas necessidades. É exatamente nisso que subsiste o argumento do documentário. Em Earthlings, presenciamos inclusive a perda da identidade dos animais. Quando confinados por longos períodos, eles enlouquecem e já não se reconhecem mais como semelhantes.

Exemplos são os porquinhos que praticam canibalismo após longos períodos de cárcere. O documentário se esforça para privilegiar a diversidade, e por isso aborda desde a realidade dos animais domésticos em situação de abandono, vítimas de eutanásia e outros tipos de execuções que visam conter as superpopulações, até golfinhos brutalmente assassinados para que os japoneses possam comercializar sua carne como “carne de baleia”.

Trilha sonora foi assinada pelo também vegano Moby (Foto: Reprodução)

Trilha sonora foi assinada pelo também vegano Moby (Foto: Reprodução)

E se a violência contra os animais se perpetua é porque infelizmente ainda há muitos consumidores que pouco se importam com a procedência e o custo real, para além do dinheiro, daquilo que consomem. “Enquanto houver matadouros, haverá campos de guerra”, escreveu Liev Tolstói, como bem citado em Earthlings, em referência ao infame anseio humano de estar sempre suplantando algo ou alguém – o que ainda pouco aprendemos a controlar.

“Nós chegamos como senhores da Terra, com estranhos poderes de terror e misericórdia. O ser humano devia amar os animais como o experiente ama o inocente, e como o forte ama o vulnerável. E quando somos tocados pelo sofrimento dos animais, aquele sentimento fala bem de nós, mesmo se o ignoramos. E aqueles que dispensam o amor pelas outras criaturas, como o puro sentimentalismo, ignoram uma parte importante e boa da humanidade. Mas nenhum humano vai perder nada ao ser gentil com um animal. E, na verdade, faz parte de nosso propósito dar-lhes uma vida feliz e longa. Na floresta, o Rei Lear pergunta a Gloster: ‘Como você vê o mundo?’ E Gloster, que é cego, responde: ‘Vejo-o porque o sinto.’”, narra Joaquin Phoenix, parafraseando “Rei Lear”, de Shakespeare, no final de Earthlings.

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Como trocar a faca pelo garfo

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Documentário mostra como a dieta vegetariana tem transformado vidas

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, Forks Over Knives segue na mesma linha de documentários como Super Size Me (Arte: Divulgação)

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, Forks Over Knives surpreende pela riqueza de informações (Arte: Divulgação)

Lançado em 2011, Forks Over Knives, conhecido no Brasil como Troque a Faca pelo Garfo, é um documentário contundente e muito bem embasado, produzido pelo jornalista estadunidense Lee Fulkerson. Na obra, o espectador é convidado a conhecer as grandes transformações que uma dieta vegetariana proporcionou na vida de muitas pessoas com doenças graves, algumas até mesmo desenganadas pelos médicos. E mais, mostra como a indústria de produtos de origem animal é capaz de manipular a política a seu favor, atribuindo a esses alimentos qualidades que fazem a população acreditar que eles são insubstituíveis, quando na realidade não são.

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, inspirado em Hipócrates, Forks Over Knives segue na mesma linha intimista de documentários como Super Size Me, de 2004, ou seja, um filme em que o realizador participa como personagem. Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde em decorrência de seus maus hábitos alimentares. Como muitos ocidentais, tem uma alimentação rica em produtos industrializados – principalmente carboidratos ruins, carnes e laticínios.

Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde

Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde (Foto: Divulgação)

Com o iminente risco de contrair doença arterial coronariana, o jornalista aceita o desafio de participar de um programa de reeducação alimentar baseado em uma dieta vegetariana. Em um mês, ele começa a perceber mudanças positivas. O mesmo acontece com muitas outras pessoas que participam do desafio proposto por profissionais como o cientista e bioquímico P.H.D. em nutrição T. Colin Campbell, o cardiologista Caldwell Esselstyn e o médico John McDougall, profissionais que se tornaram grandes autoridades do assunto nos Estados Unidos.

Para endossar os benefícios da dieta vegetariana, o documentário apresenta pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Ásia, trazendo informações alarmantes sobre a relação entre doenças e o grande consumo de carne e laticínios. Talvez um dos casos mais emblemáticos dos benefícios da dieta vegetariana seja o de uma atleta que após os 40 anos descobriu que tinha câncer de mama estado em avançado, atingindo os ossos e os pulmões.

Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa (Foto: Divulgação)

Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa (Foto: Divulgação)

Sem se deixar abater, ela adotou a dieta vegetariana e continuou praticando atividades físicas com a mesma intensidade, até que o câncer desapareceu, sem recidiva mesmo após décadas. Outros grandes exemplos são de homens e mulheres que se livraram do diabetes e de outras doenças que exigiam consumo regular de medicamentos. E tudo isso porque encontraram na dieta vegetariana a quantidade necessária de macro e micronutrientes que precisavam para ter uma vida realmente saudável.

Questionado sobre a deficiência de proteínas na alimentação vegetariana, Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa. A economia gerada pelo não consumo de produtos industrializados, carboidratos de baixa qualidade, carnes e laticínios também é outro ponto a se considerar, já que quem segue esse tipo de dieta acaba investindo em mais diversidade de alta qualidade.

Como trocar a faca pelo garfo - 04

Esselstyn, um cardiologista que acredita que a alimentação vegetariana é mais poderosa que qualquer remédio (Foto: Divulgação)

Forks Over Knives desvela que a chamada dieta ocidental, rica em carboidratos ruins e grandes quantidades de carnes e lácteos também invadiu a Ásia no período pós-moderno. Enquanto as populações das pequenas cidades e vilarejos preservavam os mesmos hábitos por gerações, os moradores dos grandes centros urbanos foram seduzidos pela praticidade do fast food e pelos excessos no consumo de carne e laticínios.

Através de pesquisa, T. Colin Campbell e outros pesquisadores descobriram que muitos chineses que seguiam uma dieta vegetariana continuavam totalmente saudáveis após os 90 anos. Surpreendente também é o depoimento do homem que possuía 27 problemas de saúde e após adotar o vegetarianismo conseguiu eliminar 26.

O triatleta Rip Esselstyn, inspirado pelo pai, mudou a vida dos bombeiros de um batalhão do Texas depois que entrou para a corporação. E tudo isso sem qualquer imposição, somente mostrando os benefícios práticos do vegetarianismo na vida de colegas de trabalho com altos níveis de mau colesterol. Logo todos concordaram com a inclusão de um cardápio vegetariano. Outros atletas, incluindo um boxeador, também dão depoimentos endossando os benefícios desse estilo de vida. Citam melhor rendimento, melhor recuperação, mais disposição e refutam a afirmação de que há deficiência proteica na alimentação.

Revelador também é o fato de que T. Colin Campbell perdeu espaço em uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos por causa do seu posicionamento. A instituição sofreu pressão de uma multinacional do ramo de laticínios e eles optaram por dispensar o cientista. A falácia de que o leite é o alimento mais rico em cálcio é apontada por Campbell como um fator cultural que atravessa décadas e justamente porque as grandes indústrias tiveram sucesso em disseminá-la.

Forks Over Knives prova que direta ou indiretamente os maiores produtores de carnes e lácteos controlam até mesmo o que a população consome nas escolas, em repartições públicas e nas empresas. Ou seja, a influência da indústria é tão grande que foi legitimada como se fosse uma prática aceitável, em prol de um bem maior.

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The Herd, e se vacas fossem substituídas por mulheres?

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Curta-metragem de horror mostra como os animais são explorados em benefício dos seres humanos  

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Elas são violadas, obrigadas a fornecer até a exaustão o leite dos próprios seios (Foto: Divulgação)

Um filme que mistura horror e suspense, o curta-metragem The Herd (O Rebanho), da britânica Melanie Light, convida o espectador a conhecer a realidade de um grupo de mulheres em regime de servidão, confinadas como se fossem vacas. Em um ambiente sujo e soturno, onde a pouca luminosidade acentua o desespero das prisioneiras, elas são violadas, obrigadas a fornecer até a exaustão o leite dos próprios seios.

Em uma das cenas, assim que uma jovem dá à luz, o recém-nascido é afastado dela. Presa e impossibilitada de tocá-lo, é forçada a testemunhar a criança sendo lançada em uma lata de lixo como se fosse um objeto descartável. Afinal, o que eles querem dela é apenas o leite, nada mais.

Entre gemidos e gritos agonizantes, as vítimas são punidas com choques elétricos. Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia. Mas a situação começa a mudar quando um homem abre uma das gaiolas e é golpeado com um chute. Uma das mulheres consegue rendê-lo e o mata com uma facada certeira no pescoço.

Embrutecida pela própria condição, ela recobra o seu estado normal de consciência por um momento, quando entra em prantos ao ver o sujeito convulsionando. Depois prossegue sua jornada de retaliação e mata mais um verdugo asfixiado com uma corrente. Outra prisioneira comemora, mas sente-se desorientada quando recebe as chaves da própria gaiola, provavelmente por causa da perda da própria identidade.

Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia (Foto: Divulgação)

Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia (Foto: Divulgação)

Atravessando espaços macabros e insólitos, a fugitiva testemunha uma prisioneira sofrendo lobotomia. Em outra sala, ela observa mulheres agindo como zumbis, despersonalizadas pela condição degradante. Mais adiante, quando se aproxima de uma adolescente para confortá-la, é surpreendida e rendida por outro algoz, até que uma companheira o mata de forma violenta, numa ação retributiva.

E assim a represália continua. Nem mesmo a funcionária responsável por sedá-las escapa da punição. Cortam sua língua, a vestem como uma das prisioneiras e a confinam em uma das gaiolas. Ainda em fuga, elas se escondem quando um empresário é levado até um dos locais onde as vítimas são violentadas.

No final de The Herd, Melanie, que mostra como os animais são explorados pelas indústrias, apresenta a finalidade do leite extraído das mulheres. Todo o material coletado é usado na produção de um creme facial rejuvenescedor chamado Lactis Vitae, O Leite da Vida, que promete hidratar e melhorar a firmeza da pele, além de reduzir rugas.

Vegana, a cineasta interpreta como seria se os animais se rebelassem, e chama a atenção para que as pessoas reflitam sobre o preço a ser pago quando financiamos indústrias que exploram os animais. E para corroborar esse argumento, os minutos finais do filme são dedicados a exibição de cenas reais de bovinos sendo espancados, arrastados e enforcados por correntes.

The Herd foi escrito por Ed Pope e traz no elenco Pollyanna McIntosh, Victoria Broom, Charlotte Hunter, Dylan Barnes, Jon Campling, Francessca Fowler, Andrew Shim e Sarah Jane Honeywell. O filme foi eleito o melhor curta-metragem do Festival Boca do Inferno 2, realizado no Brasil em 2015. No mesmo ano, recebeu prêmios no British Horror Film Festival, Celluloid Screams, London Independent Film Festival, Sounderland Shorts e Russian Annual Horror Film.

O filme foi disponibilizado pela própria autora no Vimeo

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Robin Williams e a geração anos 1980

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Williams interpretando Adrian Cronauer no clássico de Barry Levinson (Foto: Reprodução)

Williams interpretando Adrian Cronauer no clássico de Barry Levinson (Foto: Reprodução)

Sobre cinema norte-americano, não posso falar por outras gerações, mas pelo menos a minha – dos anos 1980, consumiu muito do que foi produzido com a participação do ator estadunidense Robin Williams. Antes dele falecer em 11 de agosto de 2014, aos 63 anos, eu estava acompanhando o seu trabalho como o publicitário Simon Roberts na série de TV The Crazy Ones, da CBS, que estreou em 2013. Não tenho dúvida alguma de que o seu nome no cast ajudou a alavancar a popularidade da sitcom antes do lançamento.

Robin Williams se juntou aos grandes nomes do cinema estadunidense depois do filme Good Morning, Vietnam (Bom dia, Vietnã), de Barry Levinson, lançado em 1987. Como eu era pequeno, só fui saber quem era Adrian Cronauer, um de seus grandes papéis, na minha adolescência, embora eu já tivesse um vinil com a música tema do filme. A princípio, conheci o trabalho desse ator singular através de obras como Dead Poets Society (A Sociedade dos Poetas Mortos), The Fisher King (O Pescador de Ilusões), Hook, Mrs. Doubtfire (Uma Babá Quase Perfeita), Toys (A Revolta dos Brinquedos), Jumanji e Patch Adams, não exatamente nesta ordem.

Na infância, tive a oportunidade de assistir Hook no cinema à moda antiga, com direito a lanterninha e mais de mil poltronas. Claro, depois vieram muitos outros filmes de Williams. Sem favoritismos, destaco como os meus preferidos todos aqueles em que ele manifestou mais do que o seu potencial cênico – a sua própria humanidade e sensibilidade. Ficam as boas lembranças.

Written by David Arioch

March 31st, 2016 at 11:01 pm

Vittorio de Sica e o neorrealismo italiano

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De Sica, um dos nomes mais importantes do neorrealismo italiano (Foto: Reprodução)

De Sica, um dos nomes mais importantes do cinema italiano (Foto: Reprodução)

Me pergunto o que seria do neorrealismo italiano se não tivéssemos artistas como o cineasta Vittorio de Sica. Incrível como o período que antecede uma guerra e outro que marca o seu fim se tornaram emblemáticos de duas das fases mais importantes do cinema mundial. O que o expressionismo alemão fez pelo mundo antes e depois da Primeira Guerra Mundial é tão representativo quanto a beleza e as lições do neorrealismo italiano após a Segunda Guerra Mundial, face a um velho mundo castigado.

Sem dúvida, guerras são trágicas, mas é sempre surpreendente ver o que o homem é capaz de fazer antes e depois delas para referenciar ou reverenciar a vida. A mim, nesse tipo de cinema, parece que há sempre uma revitalização da própria humanidade, uma necessidade de identificação que corrobora velhos e novos preceitos e valores.

A arte fílmica se universaliza toda vez que um ser humano mergulha no universo do autor, extraindo para si nem que seja uma pequena passagem de segundos. É no cinema de arte que o homem dialoga consigo mesmo e com os seus em um nível que transcende axiomas, etnias, línguas e até ideologias.

Está aí uma sequência de fragmentos pictóricos de Ladri di Biciclette (Ladrões de Bibicleta), de Vittorio de Sica, lançado em 1948. Na minha modesta opinião e apreciação, um dos filmes mais belos de todos os tempos:

Written by David Arioch

March 30th, 2016 at 10:59 pm

The Lost Boys e Cry Little Sister

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Um clássico de 1987 que marcou gerações (Foto: Reprodução)

Tenho certeza que o filme The Lost Boys (Os Garotos Perdidos), de 1987, do cineasta Joel Schumacher, fez parte da infância e adolescência de muita gente. Me recordo quando conheci o clássico na minha infância, por volta de 1992, trazendo um elenco composto por Corey Feldman, Jami Gertz, Corey Haim, Edward Herrmann, Barnard Hughes, Jason Patric, Kiefer Sutherland e Dianne Wiest.

À época, não fiquei impressionado apenas com a história e com o impacto que ela teve sobre mim, mas também com a trilha sonora. Muita gente começou a se interessar pelo gothic rock, que surgiu na Inglaterra no final dos anos 1970, só após o lançamento mundial de The Lost Boys. A música mais icônica do filme e que ajudou a popularizar o gênero é a atemporal Cry Little Sister, de Gerard McMann e Michael Mainieri, hoje dois desconhecidos das novas gerações.

Para quem curte a chamada literatura maldita de Poe, Rimbaud, Baudelaire e Verlaine, não há gênero mais representativo. Se bem que na década passada a temática renasceu na França com ex-integrantes de bandas de black metal em uma fusão de shoegaze, dark music e post-metal. É interessante ver como tudo ressurge com o tempo, independente de roupagens e transformações. Outro exemplo é o tema vampirismo abordado em The Lost Boys. Após 20 anos, vimos novamente essa efervescência. Taí um filme que merece ser assistido e um clássico que deve ser ouvido até o fim dos tempos.