David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for March, 2018

Quando Tom Regan pediu ao Papa Francisco para falar sobre a crueldade contra os animais

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Tom Regan pediu ao Papa Francisco para intervir em favor dos animais em 2014 (Fotos: Reprodução)

Falecido no dia 17 de fevereiro de 2017, Tom Regan, um dos mais proeminentes filósofos na luta pelos direitos animais, publicou uma carta aberta em novembro de 2014 pedindo ao Papa Francisco para falar sobre a crueldade contra os animais:

Santo Padre, todos os cristãos imploram a você: fale sobre a crueldade contra as criaturas de Deus, anualmente é negado a bilhões os desígnios de Deus, e eles não são tratados nem com a misericórdia de Cristo nem com a compaixão de Deus.

Ao entrar em mais um ano de seu papado, todos os cristãos oram com fervor e esperançosamente por sua boa saúde e coragem em nome da justiça, misericórdia e paz – tanto na igreja quanto no mundo. Como alguém que compartilha seu compromisso de justiça com todas as criaturas de Deus, fiquei encantado com a sua escolha de nome: Francisco.

De todas as virtudes que o seu homônimo possuía, nenhuma é mais sinônimo de seu nome do que o seu amor pelos animais. Ele os chamava de “irmãos” e “irmãs”, e era famoso por pregar aos pássaros – e até mesmo aos peixes! Em uma ocasião, ele assumiu a responsabilidade de persuadir um lobo a parar de atacar os agricultores locais se eles concordassem em alimentá-lo. Transformar um carnívoro em um vegano? Nada representa melhor o poder de São Francisco.

Como São Francisco acha que seus irmãos e irmãs de pelos, penas e barbatanas devem ser tratados? Ele deve ter acreditado que o que acontece com eles é importante para eles, independente de qualquer interesse humano. Por que ele pensaria nesses termos? Porque o que acontece com eles faz a diferença na qualidade e duração de suas vidas. Ou eles vivem uma vida longa e frutífera, o que São Francisco preferiria, ou eles sofreriam e morreriam prematuramente.

Naturalmente, Papa Francisco, você, como todos nós, certamente acredita que maus-tratos a qualquer uma das criaturas de Deus são contra a vontade de Deus. Se os animais têm direitos ou não, claramente merecem ser tratados com misericórdia, bondade, gratidão e simpatia, respeito e admiração. Quem em sã consciência pode ser contra o cuidado humano no tratamento das criaturas?

Bem, evidentemente isso depende. Considere alguns exemplos do que acontece com animais em laboratórios de pesquisa. Gatos, cães, primatas não humanos, e outros animais são afogados, sufocados e morrem de fome. Eles são queimados, submetidos à radiação e usados como “cobaias” em pesquisas militares. Seus olhos são removidos cirurgicamente e sua audição é destruída. Eles têm seus membros decepados e órgãos esmagados. Meios invasivos são usados para causar-lhes ataques cardíacos, úlceras e convulsões.

Eles são privados do sono, submetidos a choques elétricos e expostos a extremos de calor e frio. Cada um desses procedimentos e resultados está em conformidade com todas as leis federais em todos os lugares. Cada um está em conformidade com o que os inspetores federais consideram como “cuidado e tratamento humano.” Essa mesma ideologia se aplica a como os animais criados em fazenda são tratados. É um procedimento padrão fazer com que os bezerros “vitelos” passem a vida confinados individualmente em baias estreitas, tão estreitas que são incapazes de se virar.

As galinhas poedeiras vivem um ano ou mais em gaiolas do tamanho de um gaveteiro, são sete ou mais por gaiola, e depois disso são rotineiramente mantidas famintas por duas semanas para incentivar outro ciclo de produção de ovos. Porcas são alojadas por quatro ou cinco anos em barras cercadas individuais (“gaiolas de gestação”), pouco mais largas que seus corpos, onde são forçadas a dar à luz ninhada após ninhada. Até recentemente, devido ao susto da [doença da] “vaca louca”, o gado bovino e leiteiro, muito fraco para resistir, foi arrastado e enviado para o abate. Gansos e patos são alimentados à força com o equivalente a 30 libras [mais de 13 quilos] de comida por dia para aumentar o seu fígado para melhor atender a demanda por foie gras.

Todas essas condições e procedimentos demonstram a falta de compromisso da indústria com a misericórdia e gentileza, compaixão e simpatia. E o que a criação “humanitária” de peles ou armadilhas permite? Aqui estão alguns exemplos.  Em fábricas de peles, martas, chinchilas, guaxinins, linces, raposas e outros animais são confinados em gaiolas de tela metálica enquanto suas vidas durarem. As horas de vigília são gastas andando de um lado para o outro, ou balançando a cabeça, ou pulando para os lados de suas gaiolas, ou se mutilando, ou canibalizando seus companheiros de gaiola.

A morte é causada pela quebra de seus pescoços, ou por asfixia (usando dióxido de carbono ou monóxido de carbono), ou empurrando hastes elétricas em seus ânus para “fritá-los” de dentro para fora. Os animais presos em armadilhas instaladas na natureza levam uma média de 15 horas para morrer. As vítimas frequentemente mastigam os seus próprios membros na tentativa inócua de recuperar a sua liberdade. Apesar da óbvia crueldade, tudo isso é perfeitamente legal.

Santo Padre, todos os cristãos imploram a você: fale sobre a crueldade contra as criaturas de Deus, anualmente é negado a bilhões os desígnios de Deus, e eles não são tratados nem com a misericórdia de Cristo nem com a compaixão de Deus. Entre seus outros problemas e preocupações, por favor, honre São Francisco de Assis e o chamado do Catecismo levantando sua voz em nome dos outros animais de Deus.

Tom Regan foi professor de filosofia da Universidade Estadual da Carolina do Norte, onde lecionou por 34 anos. Conquistou prestígio internacional por sua produção prolífica voltada ao abolicionismo animal. Em 1983, publicou “The Case for Animal Rights”, que teve grande repercussão no contexto mundial dos direitos animais. Em 2006, Regan teve o seu livro “Empty Cages”, ou “Jaulas Vazias”, publicado no Brasil.

Tradução: David Arioch





 

Me dá sua carteirinha de vegano!

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Arte: Reprodução

Saindo da academia, já cansado, pernas esmorecendo pela destruição marota do treino de segunda, atravessei a rua e tão logo desativei o alarme do carro, um cara sentado em uma mureta saltou e gritou:

— Porra, cara! Tô aqui na espreita faz hora. Você é vegano! Tá andando de carro por que?
— Porque preciso. Preciso estar em vários lugares diariamente e tenho pouco tempo livre. Por enquanto é o jeito.
— Precisa porra nenhuma! Isso não é vegano, caramba! Parece um refém do sistema com esse papinho pós-história.
— É mesmo?
— É, me dá essa merda dessa carteirinha aí!
— Que carteirinha?
— Sua carteirinha de vegano, ora!
— Não tenho carteirinha.
— Como não?
— Não tenho.
— Olhe, cara, dessa vez vou te liberar, mas só porque seus pneus são da Michelin.
— Obrigado, irmão. Não sei o que eu faria sem a minha carteirinha.
— Tá! Tá! Tá! Tá liberado! Vai vegano!
Fiz um V com os dedos médio e indicador da mão direita e ele retribuiu enquanto comia uma goiaba.

 

 





 

Written by David Arioch

March 27th, 2018 at 12:35 am

Andrey Beketov, o pai da botânica e a sua defesa do vegetarianismo

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Andrey Nikolayevich Beketov foi um cientista russo e defensor do vegetarianismo que ficou conhecido como o pai da botânica russa e mundial, além de criador da geografia das plantas e da morfologia experimental. Além disso, foi reitor da Universidade de São Petersburgo, uma das mais prestigiadas da Rússia, e um dos homens que influenciou o escritor Liev Tolstói a adotar o vegetarianismo.

Em 1891, Andrey Beketov publicou o livro “A Dieta Humana no Presente e no Futuro”. Na obra que chamou a atenção de Tolstói, ele apresenta razões morais e psicológicas sobre o porquê os seres humanos na sua progressão de um estado primitivo para um estado verdadeiramente civilizado devem se abster do consumo de animais.

De acordo com o pesquisador Alexey Shulga, o trabalho de Beketov pode ser considerado o primeiro ensaio russo sobre vegetarianismo que deu origem ao movimento de educação e moral científica na Rússia, cuja preocupação era superar o paradigma de que alimentos de origem animal são produtos “comuns” gerados por uma condição de “inevitabilidade”, desconsiderando a perspectiva imoral e prejudicial aos animais não humanos – além dos efeitos na saúde humana e no meio ambiente.

“Estamos todos tão acostumados a comer ou ver outras pessoas comendo carne, que nunca ponderamos que aqueles cujas partes estão diante de nós em nossos pratos foram abatidos. Em algum lugar fora da cidade, há um matadouro, lugar nojento, fétido e sangrento, onde cortam, retalham e fatiam, escoando o sangue das veias [dos animais], mas ninguém está olhando para lá”, registrou em “A Dieta Humana no Presente e no Futuro”.

Beketov reconheceu que o hábito de matar animais e consumi-los já era naturalizado pela legitimada artificialidade da tradição, e que a mudança depende das pessoas relacionarem o que consomem com a história do que está sendo consumido. Ou seja, o processo que antecede o contato do consumidor com o produto de origem animal. Na perspectiva do cientista russo, a aversão a qualquer derramamento de sangue é um primeiro sinal de humanidade. O “abate de um animal sem voz”, segundo o autor, se opõe ao respeito à vida.

“Parece-me que esses dois matadouros estão em uma conexão muito mais forte do que normalmente pensamos: a carne e a bucha de canhão são duas coisas que se pressupõem ou pelo menos apoiam umas às outras”, escreveu. Andrey Nikolayevich Beketov acreditava que o sistema digestivo humano sempre se adaptou melhor ao consumo de plantas, vegetais e frutas, não de alimentos de origem animal. “Ele também considerou a prática da agropecuária ineficiente, chamando a atenção para o fato de que é sempre mais caro plantar e produzir vegetais para alimentar os animais do que consumir diretamente os vegetais; e que a dieta vegetariana pode satisfazer todas as necessidades nutricionais humanas”, enfatiza Shulga.

Como um visionário do século 19, Andrey Beketov também declarou à época que no futuro a Terra iria requerer uma diminuição de pastagens e uma redução natural do gado e de outros animais criados para consumo. Segundo o pesquisador V. K. Teplyakov, antes de Charles Darwin apresentar a sua teoria de “A Origem das Espécies”, Beketov já havia divulgado a ideia da influência de fatores externos e da luta pela sobrevivência na evolução dos organismos.

Suas primeiras e importantes contribuições à ciência aparecem no livro “Harmonia na Natureza”, que antecede “A Origem das Espécies”, em que ele apresenta princípios cientificamente fundamentados da teoria do desenvolvimento evolucionário no mundo orgânico. Na perspectiva de Beketov, a matéria pode assumir uma infinita variedade de formas, mas de modo algum pode escapar à influência de condições externas – a estrutura, a aparência externa e a essência de cada ser são determinadas pelas condições ambientais. Ele também descobriu o papel da luz no ciclo da vida das plantas.

Em 1862 e em 1871, o cientista russo publicou os volumes I e II do trabalho científico “Curso Botânico”, considerado o primeiro e melhor livro de botânica do mundo. “Graças ao seu trabalho, ele foi chamado de pai da botânica russa e mundial. Também foi o primeiro no mundo a escrever e publicar um livro sobre geografia vegetal”, destacou Teplyakov em referência à obra “A Geografia das Plantas”, de 1896.

Em 1870, o renomado cientista K.A. Timiryazev escreveu que os textos de Beketov foram únicos na literatura europeia e estavam pelo menos 50 anos à frente de seu tempo em princípios científicos. Andrey Nikolayevich Beketov faleceu em 1º de julho de 1902 em Shakhmatovo, em Moscou, deixando um extenso legado que até hoje permanece desconhecido por muita gente, inclusive da área botânica.

Beketov foi um dos fundadores do Cursos Bestuzhev, que oferecia educação de alto nível às mulheres

Andrey Beketov nasceu em 8 de dezembro de 1825 no vilarejo de Apferevka, na província de Penza. Em 1841, se graduou em ciências naturais pela Faculdade de Física e Matemática de Kazan. Em 1858, concluiu o doutorado sob o tema “As Relações Morfológicas das Folhas e Caules” na Universidade de Moscou. Tornou-se professor de botânica da Universidade da Cracóvia em 1861, depois transferindo-se para a Universidade de São Petersburgo, onde atuou como professor e coordenador do Departamento de Botânica. Mais tarde, ocupou o cargo de diretor da Faculdade de Física e Matemática e, então, reitor, função exercida entre 1876 e 1883.

Beketov, que fundou a Scripta Botânica em parceria com Kristofor Gobi, a primeira revista russa de botânica, também se destacou como um dos fundadores da Sociedade Econômica Livre da Rússia, que presidiu de 1891 a 1897. Também foi um dos fundadores do Cursos Bestuzhev, em São Petersburgo, um instituto que possibilitava às mulheres receberem educação de alto nível na Rússia Imperial. “Ele foi o primeiro a estudar o  problema da reprodução florestal na tundra. Ficou intrigado com os efeitos do clima na taxa de crescimento de pinheiros e abetos. Sua pesquisa em flora e geotecnia o levou a investigar a distribuição de espécies madeireiras e as razões do desmatamento das estepes. Ele sugeriu que a propagação das estepes se resultou principalmente de mudanças climáticas e fatores pré-históricos”, informou V. K. Teplyakov.

Saiba Mais

Andrey Beketov traduziu para o russo muitos trabalhos seminais de Alphonse Pyramus de Candolle, August Grisebach, Matthias Jakob Schleiden e Thomas Henry Huxley.

Referências

Shulga, Alexey. The History of Russian Veganism: In a Nutshell (2015).

Teplyakov, V.K. A History of Russian Forestry and Its Leaders. Página 23. Diane Publishing (1998).

Shcherbakova, A.A. Andrey N. Beketov, Андрей Николаевич Бекетов –  выдающийся русский ботаник и общественный деятель. Издательство Академии наук СССР (1958).





 

A natureza é incrível, uma breve reflexão sobre comer animais

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A natureza é incrível. Se comemos uma fruta, podemos guardar as sementes, plantá-las e no futuro teremos mais frutas. Se nos alimentamos de uma planta, podemos preservar suas raízes para que ela continue prosperando e nos fornecendo nutrientes.

No caso dos animais, se os comemos, isso significa que os matamos. Há não apenas violência, mas terror, sangue, sujeira e mau cheiro. Se demorarmos demais, ou se o processo não for “bem feito”, restará a podridão.

O seu sofrimento é perceptível aos olhos de qualquer criança. E não há nada que possa ser feito para restaurarmos suas vidas. Eles não renascerão se plantarmos seus pés. Não há nem mesmo funeral, e simplesmente porque não há nada significativo a enterrar.





 

No estacionamento do mercado

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Ontem de manhã, caminhando em direção ao carro no estacionamento do mercado, uma mulher não me viu e bateu o carro em mim enquanto eu caminhava. Não cheguei a cair no chão, só arqueei o corpo. Mas ela reconheceu o barulho do choque, desceu, me olhou e rapidamente começou a gesticular em vez de falar. Sem saber como reagir diante daquela situação, fiz alguns sinais que aprendi com um amigo que tem uma irmã surda. Ficamos nós dois tentando nos comunicar. Cerca de dois ou três minutos depois, uma amiga dela chegou:
 
— Quase atropelei esse rapaz sírio. Na realidade, bati o meu carro nele, mas ainda bem que ele não se machucou.
— Sério? Mas ele está bem?
— Acho que sim. Olhe a cara dele. Não parece estar com dor.
— É verdade — comentou a amiga.
— Sim, estou bem — respondi — limpando a sujeira dos joelhos.
— Você fala português?
— Sim, sou daqui.
— Nossa, nem imaginava. Encontrei agora há pouco um grupo de sírios lá em cima e pensei que você fosse um deles.
— É?
— Sim…
— Ok.
— Vou indo…
— Então tá. Se cuide.
— Obrigado, ostani dobro.
— O que ele disse?
— Sei lá! Acho que é sírio mesmo.




 

Written by David Arioch

March 26th, 2018 at 2:22 am

Alguém diz: “Não quero mais ser chamado de vegano”

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Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals

Alguém diz: “Não quero mais ser chamado de vegano por causa das pessoas, por causa da indiferença de alguns, ações com as quais não concordo, ódio de outros e por causa dos rumos do movimento.”
 
Serei bem honesto. Não sou vegano pelo que as pessoas acham ou deixam de achar. Sei o significado do veganismo e isso me basta. Sim, me identifico como vegano, mas não vejo o veganismo como um grupo, e sim um movimento com pessoas com opiniões e linhas de ações diferentes em inúmeros aspectos. Sim, há falhas nesse meio, porém não são nequices do veganismo, mas sim das pessoas, e isso pode ser corrigido.
 
E se não for, também não significa que essas paráclases irão implodir ou manducar visceralmente ações em prol de um bem maior, ou pelo menos impedir que as pessoas entendam que a mensagem é a de que os animais não devem ser vistos como objetos, comida, mão de obra, entretenimento; enfim, meios para um fim; e que podemos contribuir e fortalecer um conceito de unidade. Não tenho motivo para desacreditar figadalmente no veganismo.
 
Porém, como se trata de um movimento baseado em pessoas, logo variegado, as divergências sempre existirão, e cabe a nós estarmos preparados para lidarmos com elas. Buscar uma normatização ou uniformidade nesse sentido não é apenas utópico como talvez até mesmo sem sentido quando falamos de algo de proporção mundial, e que perpassa naturalmente por diferenças culturais.
 
No meu entendimento, o mais importante é as pessoas terem consciência do que estão fazendo, entenderem o veganismo e serem veganas pelos motivos certos. Se alguém quiser falar que não sou vegano, não vejo problema também. Mas o que acho interessante em divulgar o veganismo, e no fato das pessoas se colocarem como veganas, quando o fazem pelos motivos certos, que é a luta pelos direitos animais e pelo abolicionismo animal, é que permite que os outros logo façam uma rápida associação com o significado dessa filosofia de vida, e assim entendam cada vez mais o seu significado primordial e real.
 
Acho que poderíamos parar de querer ou exigir que todos os veganos sejam iguais. Porque nada na vida funciona dessa forma, e com o veganismo não seria diferente. Tenho sempre o cuidado de não achar que o que faço também deve ser feito pelos outros. Este sou eu explorando o que encaro como minhas potencialidades. A do outro podem não ser as mesmas, e devo respeitar isso. Apontar o dedo para o outro sem conhecer a sua real contribuição ou se negar a reconhecê-la me parece sempre um erro e que poderia ser evitado com a clássica razoabilidade.
 
Há quem critique quem não faz ativismo de rua, quem não tutela ou resgata animais, entre outras coisas. Parece que há sempre motivos para desmerecer o outro em vez de incentivá-lo, motivá-lo. Mas será que conhecemos ou entendemos a luta do outro o suficiente para criticá-lo ou menosprezá-lo? Esses conflitos não podem ser também um indicativo do ser humano se colocando novamente acima dos outros? E colocar-se acima dos outros será que combina com o veganismo?
 
Será que o outro não faz algo que eu ou você não fazemos? No mais, o veganismo tem um conceito que tem se fortalecido cada vez mais, e cada dia que passa mais pessoas ficam sabendo, mesmo que seja vagamente, o que é um vegano, e isso é bom porque é uma evidência de uma nova consciência em relação à forma como tratamos e devemos tratar os animais. Na minha opinião, o equilíbrio e a ponderação são capitais – absorver o que vale a pena e descartar o que não vale.

 

 

 





 

Se eu não acreditasse que as pessoas são capazes de mudar, eu não seria vegano

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Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals

Se eu não acreditasse que as pessoas são capazes de mudar, eu não seria vegano. Mas o que tem a ver? Muito simples, o veganismo é uma filosofia de vida que desde o princípio já era baseada na luta pelo fim da exploração animal. Ninguém é vegano sem lutar por isso em algum nível, mesmo que não reconheça ou não perceba. Uma pessoa não acorda um dia e diz: “Vou ser vegano e ficar sentado aqui de boa, só seguir a vida. Deixa a exploração rolar como deve ser.” Então claro que acredito que não se reduz a exploração animal sem conscientizar pessoas. E ninguém conscientiza pessoas se não acreditar que elas são capazes de mudar. Logo ter uma descrença visceral nas pessoas é inevitavelmente contraproducente e paradoxal em vários sentidos.





 

Acredito que o amor aos animais não é prioritário na consideração ao direito à vida não humana, mas sim o respeito

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Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals

Minha linha de pensamento em relação aos animais é semelhante a do J.M. Coetzee. Acredito que o amor aos animais não é prioritário na consideração ao direito à vida não humana, mas sim o respeito. O respeito sim deve ser uma premissa básica. Acho um erro muito grande quando restringimos o discurso em favor dos animais ao amor, até por uma questão óbvia – nem todas as pessoas amam os animais.

E devo condená-las por isso? De modo algum. Muitas pessoas desgostam de outras, mas nem por isso fazem algo contra elas. E por que? Porque em primeiro lugar deve prevalecer o respeito. Outras formas de exploração não chegaram ao fim por causa de amor.

Essa é a realidade do mundo não romanesco em que vivemos. Veganos não precisam amar animais; não precisam tutelar animais, nem mesmo conviver com os animais. O primeiro e mais importante passo é entender que não temos o direito de interferir negativamente em suas vidas. Se uma pessoa cumpre esse papel, ela já está contribuindo.

Entendo também que o meu trabalho não é o trabalho do outro, assim como o dele não é o meu. Cada um cumpre o seu papel de acordo com suas características e potencialidades. Sempre fui a favor da diplomacia. Esse é o meu perfil, e não abro mão dele.

Não tenho interesse em ofender pessoas, xingá-las, independente da circunstância, porque pra mim é perda de tempo. E sei que à medida em que apelo as chances do outro me ouvir diminuem consideravelmente. Claro, você pode discordar, mas siga o seu caminho que eu sigo o meu.





 

Quando a união faz a força

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O problema de encontrar animais pintados sendo comercializados

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O problema de encontrar animais pintados sendo comercializados é reconhecer que eles estão nessa situação porque tem quem compra. Mesmo que isso seja considerado legal, não deixa de ser um ato de crueldade para com esses animais que mais tarde serão descartados como se fossem lixo. Animais não têm preocupação estética. Isso se chama “objetificação animal”, ou seja, um animal é colocado em uma condição contrária à sua natureza para atender a um interesse humano; e isso tem inclusive consequências no estado psicológico e emocional dos animais. Quem cuida de animais ou gosta de animais jamais deve projetar suas necessidades ou anseios nos outros.





 

Written by David Arioch

March 23rd, 2018 at 6:19 pm