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Howard Lyman, a transformação de um pecuarista multimilionário em um ativista vegano
“Se você realmente ama os animais, se você se importa com eles tanto quanto diz, por que os come?”
Howard Lyman talvez tenha uma das histórias mais famosas de transformação de um pecuarista multimilionário em um ativista vegano. Desde o início da década de 1990, ele tem promovido o veganismo nos Estados Unidos e publicado obras que revelam as mazelas da indústria agropecuária, e sob a perspectiva de quem fez parte desse meio por mais de 20 anos.
Da quarta geração de uma família de pecuaristas, Lyman frequentou a Universidade Estadual de Montana, onde se graduou em agricultura geral em 1961. Depois passou dois anos no Exército dos Estados Unidos antes de comprar a sua própria fazenda: “Eu acordava cedo, fazia a roçada, ouvia os pássaros cantando e me sentia como o guardião do Éden. Meu sonho era ser um fazendeiro. Então fui para a universidade. Comprei uma fazenda orgânica e com o passar dos anos, já possuía mais de 7 mil cabeças de gado e mais de 12 mil hectares.”
De 1963 a 1983, Lyman dedicou a maior parte do seu tempo à criação de animais e grãos, convertendo a sua fazenda orgânica em uma megaoperação de confinamento de animais visando a extração de leite e o abate. “Lembro como se fosse hoje quando trouxemos os animais e demos a eles entre 7 e 21 vacinas. Cortamos os chifres, castramos eles, injetamos hormônios e os alimentamos com resíduos e antibióticos. Na fazenda, eu via tantas moscas juntas que você podia pegá-las aos montes apenas abrindo e fechando as mãos”, narra.
Além de nove mil bovinos, incluindo bezerros enviados ao matadouro para atender ao mercado de carne de vitela, ele criava porcos e aves. Também produzia grãos, silagem e feno: “Levantávamos cedo, quando não havia nevoeiro, e pulverizávamos inseticidas por toda a propriedade. Havia sempre uma grande nuvem flutuando sobre o gado, sobre a água e sobre a comida, e o inseticida atingia tudo. Duas horas mais tarde, o gado se alimentava e bebia aquela água contaminada. Essas são as coisas que aprendi na Universidade Estadual de Montana.”
O ex-pecuarista admite que era preciso dissimular a realidade para seguir em frente. Sempre que via os pássaros mortos, as árvores morrendo, e o solo de sua fazenda mudando, ele se esforçava para não pensar em como estava gastando centenas de milhares de dólares em produtos químicos. “Eu era o responsável por tudo isso. Meu irmão faleceu aos 29 anos, e ainda hoje acho que ele morreu por causa desses produtos químicos que usamos na fazenda”, declara.
Em 1979, quando ainda criava animais para consumo, Lyman foi diagnosticado com um tumor na espinha. Diante da possibilidade de ficar paralítico, ele prometeu que se sobrevivesse ao câncer se afastaria dos meios de produção baseados em produtos químicos.
“Eu estava no auge da minha carreira quando fiquei paralisado da cintura para baixo. É preciso muita concentração para direcionar a sua atenção para outra coisa que não seja a sua situação. No hospital, os médicos disseram que eu tinha uma chance em um milhão de voltar a andar por causa de um tumor dentro da minha coluna vertebral. Fui levado para a sala de cirurgia e operado durante 12 horas. Eles removeram um tumor do tamanho do meu polegar. Saí do hospital depois de uma operação com uma chance de sucesso em um milhão. Me lembro de estar na fazenda após a operação.”
Em casa, o pecuarista viu o próprio reflexo no espelho e teve um momento de conflito existencial que, segundo ele, foi uma das primeiras situações em que foi honesto consigo mesmo. Lyman, que costumava dizer a si mesmo que amava os animais, se perguntou:
“Se você realmente ama os animais, se você se importa com eles tanto quanto diz, por que os come?” Foi tão traumático para mim que eu quase arranquei a pia da parede. Essa foi uma porta da minha alma que eu nunca tinha aberto antes. E uma vez que a abri, nunca mais consegui fechá-la porque eu sabia como esses animais pareciam quando eles caíam mortos no chão. Eu sabia o que havia em seus olhos, e eu era a pessoa que os colocava lá. Era como se tudo o que você acreditasse que é justo e sagrado de repente estivesse em risco.”
Naquele dia, Lyman se perguntou como falaria para a própria esposa que a sua operação multimilionária era um erro, e que ele percebeu que a sua fonte de renda foi construída “sobre a areia”; já que tudo em que Howard Lyman acreditava estava em risco porque, pela primeira vez se deu conta de que o seu lucro era baseado no assassinato de animais. “Como eu poderia dizer que talvez o que devêssemos fazer era sair desse negócio?”, lembra.
Lyman reconheceu que não poderia falar de seus conflitos com seus amigos, porque todos eles trabalhavam no mesmo ramo. Não teve nenhum apoio. Pensou também em falar com um padre, mas concluiu que provavelmente o próprio padre comia tanta carne quanto ele. “Foi o momento mais solitário e mais difícil da minha vida”, garante.
No entanto, a grande transformação de Howard Lyman só aconteceria alguns anos depois. Em 1990, quando atuava como lobista em Washington, ele estava muito acima do peso e enfrentando problemas de saúde como pressão alta e altos níveis de colesterol. Então decidiu definitivamente se tornar vegetariano. No ano seguinte, mais decidido e com uma opinião mais forte sobre os direitos animais, fez a transição para o veganismo e transformou a sua fazenda em um santuário para animais. Também começou a promover o veganismo em diversas regiões dos Estados Unidos, defendendo também a produção orgânica de vegetais:
“Nunca vi um animal pular e dizer que quer ser um hambúrguer. Estive em centenas de matadouros, vi milhares de animais morrerem, e sempre que eu os observava, eu notava que eles sabiam o que aconteceria com eles. Havia o cheiro de morte. Eu me questionava: ‘Existe alguma necessidade disso?’”
Em abril de 1996, o ex-pecuarista participou do programa The Oprah Winfrey Show, onde denunciou as mazelas da indústria de proteína animal. Suas revelações tiveram repercussão nacional e fizeram com que Oprah abdicasse do consumo de hambúrgueres. Lyman e a apresentadora tiveram de responder a dezenas de processos da Associação dos Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos, mas foram inocentados em 1998. “Tenho certeza de que se eu fosse novamente ao programa, hoje eu seria condenado, mesmo falando a verdade”, lamenta.
Também em 1998, Howard Lyman, que se tornou uma referência em veganismo para a atriz vegana Linda Blair, publicou o livro “Mad Cowboy: Plain Truth from the Cattle Rancher Who Won’t Eat Meat”, em que narra a sua trajetória pessoal e profissional de pecuarista à ativista vegano. Também traz importantes informações sobre as mazelas da indústria agropecuária, o que inclui investigações do uso de nocivos produtos químicos nesse meio. Em 2005, ele lançou o livro “No More Bull! The Mad Cowboy Targets America’s Worst Enemy: Our Diet”, que é uma continuação da obra de 1998. A sua história é narrada no documentário “Mad Cowboy” e em “Peaceable Kingdom” – este segundo com boa repercussão internacional.
Lyman também aparece no famoso documentário “Cowspiracy”, de Kip Andersen e Keegan Kuhn, em que afirma que não faz sentido um ambientalista consumir produtos de origem animal. “Engane-se se quiser. Aliás, se quiser alimentar o seu vício, faça-o, mas não chame a si mesmo de ambientalista ou protetor dos animais”, critica.
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Entre os anos de 1996 e 1999, Howard Lyman foi presidente da União Vegetariana Internacional.
Referências
Lyman, Howard. Mad Cowboy: Plain Truth from the Cattle Rancher Who Won’t Eat Meat (1998).
Stein, Jenny. Peaceable Kingdom (2004).
Andersen, Kip; Kuhn, Keegan. Cowspiracy (2014).
Se eu não acreditasse que as pessoas são capazes de mudar, eu não seria vegano
Se eu não acreditasse que as pessoas são capazes de mudar, eu não seria vegano. Mas o que tem a ver? Muito simples, o veganismo é uma filosofia de vida que desde o princípio já era baseada na luta pelo fim da exploração animal. Ninguém é vegano sem lutar por isso em algum nível, mesmo que não reconheça ou não perceba. Uma pessoa não acorda um dia e diz: “Vou ser vegano e ficar sentado aqui de boa, só seguir a vida. Deixa a exploração rolar como deve ser.” Então claro que acredito que não se reduz a exploração animal sem conscientizar pessoas. E ninguém conscientiza pessoas se não acreditar que elas são capazes de mudar. Logo ter uma descrença visceral nas pessoas é inevitavelmente contraproducente e paradoxal em vários sentidos.
A transformação de um ex-líder de um grupo racista dos EUA
Bryon Widner era um dos líderes de um dos grupos racistas mais violentos dos Estados Unidos. Seu corpo era todo coberto por tatuagens que faziam apologia ao racismo e à violência em suas mais variadas formas. Um dia, ele percebeu que se continuasse nesse caminho não viveria muito tempo. Então decidiu mudar de vida.
Uma entidade conseguiu patrocínio para a remoção da maior parte das tatuagens de seu corpo. Ele passou por 25 cirurgias. Nesse ínterim, teve a oportunidade de reencontrar um dos homens negros que espancou. Widner pediu desculpas e o rapaz comentou: “Eu já o tinha perdoado.”
Para conhecer a história de Bryon Widner, assista ao documentário “Erasing Hate”, lançado em 2011 por Bill Brummel:
http://documentarylovers.com/film/erasing-hate/
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Um acumulador de versões
Sou um acumulador de versões. Então é natural que eu não seja a mesma pessoa do ano passado, do mês passado, da semana passada ou até mesmo de ontem. Temos uma tendência a achar que pessoas que mudam são basicamente pessoas volúveis. Sim, podem ser, mas se for para o bem delas, seu crescimento, prefiro chamar isso de evolução.
Pessoas que escrevem, por exemplo, são pessoas curiosas, interminavelmente curiosas, eu diria. Então é natural que não passem a vida toda escrevendo sobre as mesmas coisas ou abordando sempre os mesmos assuntos. Escrever é desbravar-se primeiro para então desbravar aquilo que está diante dos seus olhos e reverberando em sua mente.
Ademais, escrita, na minha opinião, trata-se de fidelidade. Ser fiel a si mesmo, seja no campo ficcional ou não. Quem não é fiel a si mesmo dificilmente faz um bom trabalho nesse sentido.
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John Joseph: “Se uma dieta baseada em vegetais funcionou para mim, ela funciona para qualquer um”
Como o vocalista da lendária banda nova-iorquina Cro-Mags tornou-se um atleta vegano
Vocalista da lendária banda de crossover Cro-Mags, pioneira na fusão do hardcore punk com o thrash metal, e uma das mais importantes da história do cenário hardcore de Nova York, John Joseph publicou em 2014 o livro “Meat is for Pussies: A How-To Guide for Dudes Who Want to Get Fit, Kick Ass…”. Embora o título possa parecer bobo, cômico ou provocativo, o conteúdo merece muita atenção.
“É um olhar sobre a perspectiva de que o homem ‘precisa’ de carne para ser varonil e forte”, explica o também escritor e atleta vegano. Na primeira parte do livro, John Joseph apresenta fatos e faz críticas aos horrores envolvendo a exploração animal e os processos de produção de carne.
Depois de falar das fazendas industriais, ele guia o leitor a um capítulo em que discorre sobre um estilo de vida mais feliz, saudável e muito mais humano. Ou seja, um estilo de vida vegano. Na obra, ele dá dicas sobre culinária livre de crueldade contra animais. Em síntese, “Meat is for Pussies”, ignorem o título jocoso, é uma obra em que Joseph desafia positivamente os leitores a mudarem de vida.
“Muitos dos caras que perguntam de onde consigo minhas proteínas estão acima do peso, precisam de pílulas para ereção e levam uma hora no banheiro para se livrarem das carcaças podres que estão em seus cólons”, diz.
Uma das figuras mais famosas do cenário hardcore punk dos Estados Unidos, John Joseph tem usado a sua popularidade para atrair pessoas para o veganismo, divulgando principalmente os benefícios de uma alimentação vegetariana aliada a um bom condicionamento.
“Aprendi sobre a PMA [atitude mental positiva] quando a banda punk rastafári Bad Brains me deu um trabalho como roadie deles em 1981. A primeira parte do processo era abandonar carnes, ovos, laticínios, comida processada e drogas”, confidenciou em entrevista à Deni Kirkova, do tabloide britânico Metro em 21 de agosto de 2015.
Segundo Joseph, a sua mudança de atitude foi uma consequência da sua dieta vegetariana estrita, um catalizador em sua vida. “As cortinas caíram, por assim dizer. Absorvi o conhecimento como se eu fosse uma esponja. Fiquei sóbrio, comecei a praticar ioga, meditação, artes marciais, ciclismo, natação de águas abertas e corrida”, revelou.
O novo estilo de vida também garantiu mais energia para tocar com o Cro-Mags e um bom desempenho no Ironman Triathlon, competição de resistência que exige que os atletas completem quase quatro quilômetros de natação, 180 quilômetros de pedaladas e mais de 42 quilômetros de corrida. E tudo isso exige muito treinamento e uma boa dieta. Em 25 de setembro de 2015, a Vice publicou uma matéria baseada na rotina de John Joseph em sua preparação para o Ironman, e se surpreendeu com a força de um homem que só consome alimentos de origem vegetal.
“Se você me dissesse em 1980 que um dia eu seguiria uma dieta vegetariana, e mandaria ver no IronMan, eu provavelmente daria risada em sua cara. Meu passado em Nova York foi duro, realmente duro”, explicou a Deni Kirkova. Mesmo quando sua rotina ficou atribulada por causa das turnês com bandas como Motörhead, Bad Brains, Megadeth e GBH, Joseph continuou cumprindo seu papel como vegano, sem qualquer deslize. Com o Cro-Mags, ele gravou entre os anos de 1986 e 1993 os álbuns “Age of Quarrel”, considerado um dos discos mais influentes da história do hardcore punk, “Alpha Omega” e “Near Death Experience”.
O escritor e atleta vegano já recebeu milhares de e-mails, mensagens no Facebook, Instagram e Twitter de pessoas dizendo que leram seu livro e mudaram de vida por causa do conteúdo e do seu estilo de escrever. “Eles gostam porque dizem que foi escrito na linguagem deles”, justifica.
Quem não conhece a história de John Joseph, jamais imaginaria que ele foi um sem teto viciado em álcool e drogas. Em 1969, aos sete anos, ele foi obrigado a abandonar um lar violento. Viveu em vários orfanatos e em mais lares abusivos. Sem perspectiva de futuro, passou o ano de 1988 consumindo crack.
Na mesma época, levou um tiro, foi esfaqueado e chegou a ser preso. Hoje, com 54 anos, ele continua atuando como vocalista e tornou-se um atleta vegano com desempenho exemplar em cinco edições do Ironman. E ele atribui a sua história de superação ao seu estilo de vida vegano, que não admite a exploração de animais e considera prejudicial à saúde o consumo de alimentos de origem animal.
“As pessoas são bombardeadas por comerciais de fast food barato, e ingerem comidas que não só causam estragos ao seu sistema como ao planeta por causa do abate de animais”, lamentou em entrevista ao jornal The Examiner, da Austrália, e repercutida pelo Exclaim, do Canadá, em 7 de outubro de 2009.
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John Joseph, que nasceu em Nova York em 3 de outubro de 1962, se tornou vegetariano há mais de 30 anos.
Referências
Vegan rockstar and athlete John Joseph on why ‘meat is for pussies’
https://munchies.vice.com/en/videos/fuel-the-vegan-ironman-diet-of-cro-mags-john-joseph
http://exclaim.ca/music/article/cro-mags_john_joseph_declares_meat_is_for_pussies_with_new_book_begins_work_on_reality_show
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Quando me tornei vegetariano…
Quando me tornei vegetariano, não tomei tal decisão pela minha saúde. Na realidade, cheguei a um momento da minha vida em que comecei a me sentir desconfortável consumindo alimentos de origem animal. Foi uma transformação natural, de dentro para fora. Eu nem mesmo tinha assistido qualquer documentário sobre o assunto. Comecei a pesquisar depois. Como pratico atividades físicas há muitos anos, tem quem associe isso à saúde, mas não, não tem nada a ver. Considero sim a dieta vegetariana bem saudável e percebi inúmeros benefícios. Ainda assim, esta não foi a minha motivação.
Levando em conta quem sou hoje, mais do que nunca, não posso admitir que o meu paladar seja mais importante do que a preservação da vida animal. Para mim, o especismo se tornou incômodo e isso veio num crescendo até que eu abdicasse completamente do consumo de alimentos de origem animal. Como sempre tive cães e gatos em casa, acho injusto da minha parte me alimentar de outro animal que esteja sobre a minha mesa mais por uma questão cultural do que essencial. Devo dizer que minha própria autoavaliação quanto ao meu papel como ser vivo, reforçada por algumas experiências, me influenciou muito.
Sim, escrevo sobre vegetarianismo e veganismo, até porque sou jornalista e gosto de escrever sobre tudo que me agrada. Mas meus artigos são fundamentados em pesquisas, com o propósito de lançar luz ao que pouca gente sabe a respeito do assunto. Tanto que decidi relacionar mais o vegetarianismo e o veganismo com a literatura, o que acaba por ser um exercício jornalístico. E meus contos sobre o assunto abordam basicamente o respeito e o direito à vida independente de espécie. Não tenho a menor intenção em obrigar alguém a ser vegetariano. Vocês jamais vão me ver “batendo boca” por causa disso.
Quando uma pessoa demonstra não ter o menor interesse, por que eu iria forçá-la a ler sobre o assunto? Minhas palavras sobre o tema são direcionadas a quem os recebe de bom grado, sem se armar. Sou um sujeito extremamente tranquilo quanto a isso. Em qualquer lugar onde vou, só converso sobre vegetarianismo e veganismo se o assunto surgir naturalmente, se eu for chamado para falar disso ou se me fizerem perguntas. Este é o tipo de pessoa que sou.
A negação do passado não é um caminho saudável
Não entendo o que leva as pessoas a negarem a história de violência do lugar onde vivem. A partir do momento que você nega esse passado, você está automaticamente legitimando que tudo é o que é porque deveria ser assim. Ou seja, no meu entendimento isso é tanto uma forma de resignação quanto de preservação de um status quo.
O Paraná tem uma história de colonização extremamente violenta e sempre que alguém tenta negar isso de algum modo tenho a impressão de que não estamos falando do mesmo estado. Pesquiso sobre a história regional há apenas sete anos, mas é algo que não posso deixar de dizer que me causa um grande estranhamento.
Abordar o que aconteceu de ruim no passado não tem nada a ver com reverberar coisas negativas, despertar sentimentos ruins, muito pelo contrário. Acredito verdadeiramente que isso é uma forma de luta, de incitação à transformação através da reflexão.
Como trocar a faca pelo garfo
Documentário mostra como a dieta vegetariana tem transformado vidas
Lançado em 2011, Forks Over Knives, conhecido no Brasil como Troque a Faca pelo Garfo, é um documentário contundente e muito bem embasado, produzido pelo jornalista estadunidense Lee Fulkerson. Na obra, o espectador é convidado a conhecer as grandes transformações que uma dieta vegetariana proporcionou na vida de muitas pessoas com doenças graves, algumas até mesmo desenganadas pelos médicos. E mais, mostra como a indústria de produtos de origem animal é capaz de manipular a política a seu favor, atribuindo a esses alimentos qualidades que fazem a população acreditar que eles são insubstituíveis, quando na realidade não são.
Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, inspirado em Hipócrates, Forks Over Knives segue na mesma linha intimista de documentários como Super Size Me, de 2004, ou seja, um filme em que o realizador participa como personagem. Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde em decorrência de seus maus hábitos alimentares. Como muitos ocidentais, tem uma alimentação rica em produtos industrializados – principalmente carboidratos ruins, carnes e laticínios.
Com o iminente risco de contrair doença arterial coronariana, o jornalista aceita o desafio de participar de um programa de reeducação alimentar baseado em uma dieta vegetariana. Em um mês, ele começa a perceber mudanças positivas. O mesmo acontece com muitas outras pessoas que participam do desafio proposto por profissionais como o cientista e bioquímico P.H.D. em nutrição T. Colin Campbell, o cardiologista Caldwell Esselstyn e o médico John McDougall, profissionais que se tornaram grandes autoridades do assunto nos Estados Unidos.
Para endossar os benefícios da dieta vegetariana, o documentário apresenta pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Ásia, trazendo informações alarmantes sobre a relação entre doenças e o grande consumo de carne e laticínios. Talvez um dos casos mais emblemáticos dos benefícios da dieta vegetariana seja o de uma atleta que após os 40 anos descobriu que tinha câncer de mama estado em avançado, atingindo os ossos e os pulmões.
Sem se deixar abater, ela adotou a dieta vegetariana e continuou praticando atividades físicas com a mesma intensidade, até que o câncer desapareceu, sem recidiva mesmo após décadas. Outros grandes exemplos são de homens e mulheres que se livraram do diabetes e de outras doenças que exigiam consumo regular de medicamentos. E tudo isso porque encontraram na dieta vegetariana a quantidade necessária de macro e micronutrientes que precisavam para ter uma vida realmente saudável.
Questionado sobre a deficiência de proteínas na alimentação vegetariana, Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa. A economia gerada pelo não consumo de produtos industrializados, carboidratos de baixa qualidade, carnes e laticínios também é outro ponto a se considerar, já que quem segue esse tipo de dieta acaba investindo em mais diversidade de alta qualidade.
Forks Over Knives desvela que a chamada dieta ocidental, rica em carboidratos ruins e grandes quantidades de carnes e lácteos também invadiu a Ásia no período pós-moderno. Enquanto as populações das pequenas cidades e vilarejos preservavam os mesmos hábitos por gerações, os moradores dos grandes centros urbanos foram seduzidos pela praticidade do fast food e pelos excessos no consumo de carne e laticínios.
Através de pesquisa, T. Colin Campbell e outros pesquisadores descobriram que muitos chineses que seguiam uma dieta vegetariana continuavam totalmente saudáveis após os 90 anos. Surpreendente também é o depoimento do homem que possuía 27 problemas de saúde e após adotar o vegetarianismo conseguiu eliminar 26.
O triatleta Rip Esselstyn, inspirado pelo pai, mudou a vida dos bombeiros de um batalhão do Texas depois que entrou para a corporação. E tudo isso sem qualquer imposição, somente mostrando os benefícios práticos do vegetarianismo na vida de colegas de trabalho com altos níveis de mau colesterol. Logo todos concordaram com a inclusão de um cardápio vegetariano. Outros atletas, incluindo um boxeador, também dão depoimentos endossando os benefícios desse estilo de vida. Citam melhor rendimento, melhor recuperação, mais disposição e refutam a afirmação de que há deficiência proteica na alimentação.
Revelador também é o fato de que T. Colin Campbell perdeu espaço em uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos por causa do seu posicionamento. A instituição sofreu pressão de uma multinacional do ramo de laticínios e eles optaram por dispensar o cientista. A falácia de que o leite é o alimento mais rico em cálcio é apontada por Campbell como um fator cultural que atravessa décadas e justamente porque as grandes indústrias tiveram sucesso em disseminá-la.
Forks Over Knives prova que direta ou indiretamente os maiores produtores de carnes e lácteos controlam até mesmo o que a população consome nas escolas, em repartições públicas e nas empresas. Ou seja, a influência da indústria é tão grande que foi legitimada como se fosse uma prática aceitável, em prol de um bem maior.
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Política e desconforto
Um grande problema que percebo hoje em dia é a dificuldade de muitas pessoas em aceitar que alguém não se sinta confortável em apoiar a qualquer custo nenhuma ideologia política, ainda mais levando em conta o nosso mais do que híbrido cenário atual.
A partir do momento que você defende cegamente qualquer lado, seja de situação ou oposição, você está deixando claro que não reprova nem mesmo falhas excruciantes. E isto é um grande problema de algumas formas de militância da atualidade, a incapacidade em reconhecer erros.
E vejo muito desse “maniqueísmo ideológico e político” na internet. Existe uma unilateralidade visceral de raciocínio. Tenho opinião formada sobre algumas coisas, mas elas podem e em certas circunstâncias até devem ser mutáveis.
Doações transformam residência de casal na Vila Alta
Hoje de manhã, fui até a casa do Seu Juvenal e da Dona Neide, o casal de idosos da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, que vivia em uma residência com telhado deteriorado e sem forro, por onde a água entrava sempre que chovia, molhando inclusive móveis e outros pertences.
Depois de receber doações de medicamentos, cestas básicas e um telhado novo, dentre outras contribuições, esta semana foi concluída a última etapa – a instalação do forro. Mais uma vez e com humildade singular, Seu Juvenal e Dona Neide demonstraram muita gratidão.
“Nem parece mais a nossa antiga casa. Ficou muito diferente. Até hoje a gente se emociona quando lembra como as pessoas se uniram para nos ajudar. É um grande presente. E alguns continuam nos visitando. Ontem choveu e pela primeira vez a gente nem escutou o barulho da chuva que caiu sobre o telhado. Antes dava muito medo”, declararam.
Aproveito também para agradecer a equipe da J & M Decorações que fez a instalação do forro e foi muito colaborativa em todo o processo, inclusive reorganizou o quarto do Seu Juvenal e da Dona Neide. Ou seja, os funcionários foram além da função deles. “Uma equipe maravilhosa!”, enfatizaram.