David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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O atleta e a vaquejada

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“Isso significa que o seu esporte é puxar violentamente o rabo de um animal?”

— O que você faz?
— Sou atleta.
— Sério mesmo?
— Sim…
— Qual esporte você pratica?
— Vaquejada.
— Isso significa que o seu esporte é puxar violentamente o rabo de um animal?
— Sim…
— Mas o animal consentiu? Ele disse a você que gostaria de sentir dor?
— Não…
— Então como isso se enquadra em esporte?
— Não tenho a mínima ideia.

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Patrik Baboumian: “A força deve construir, não destruir. Minha força não precisa de vítimas. Minha força é a minha compaixão”

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“Eu reprimia também o fato de que o meu próprio comportamento enquanto consumidor levava ao sofrimento animal”

Patrik Baboumian: “Desde a infância, sempre me senti compassivo em relação aos animais” (Foto: Divulgação)

Nascido em Abadan, no Irã, em 1º de julho de 1979, o atleta de strongman Patrik Baboumian, de origem armênia, se mudou com sua mãe e sua avó para a Alemanha quando ele tinha apenas sete anos. “Sempre tive fé em meus planos de construir uma carreira nos esportes de força, mas inicialmente eu era o único que acreditava nisso. Minha mãe era o meu maior obstáculo quando decidi ingressar em uma academia aos 15 anos. Ela estava preocupada que eu pudesse ter más influências. Agora ela está muito feliz por eu ter resistido a ela e corrido atrás do que acabou sendo o meu destino”, informou em entrevista a Lilly Torosyan, do Armenian Weekly, em 29 de agosto de 2012.

O que despertou em Baboumian o sonho de se tornar um atleta de força foi uma experiência que teve com seu falecido pai – assistir a série “O Incrível Hulk”, protagonizada pelo fisiculturista Lou Ferrigno. A ideia de um homem verde e forte rasgando a camiseta transmitiu a ele uma poderosa ideia de força. “Quando o bombardeio está acontecendo, você vê muitas pessoas gritando ao seu redor, e você não pode fazer nada porque você é pequeno. Então você só quer fugir disso e ser forte”, disse a Jessica McDiarmid, do The Star, em 8 de setembro de 2013, se referindo às consequências da Revolução Iraniana.

Depois de construir uma carreira sólida como atleta de força, um dia, Patrik Baboumian começou a refletir sobre o consumo de carne e concluiu que ingerir proteína animal era incompatível com a sua compaixão pelos animais. Ele não chegou a ser influenciado por fatores externos, nem mesmo pesquisou sobre o assunto. “O que percebi, depois de pensar sobre a minha vida, é que desde a infância sempre me senti compassivo em relação aos animais. Isso foi expresso em minha necessidade de ajudar os animais que estavam em perigo ou sofrendo”, contou ao Vegetarian Bodybuilding.

Em uma ocasião, o atleta cuidou de um pássaro ferido e o abrigou em sua casa durante todo o inverno. Também forneceu refúgio a um pequeno ouriço no outono. “Quando vejo um pássaro, tenho o desejo de ajudá-lo. Isso é incoerente comigo indo ao supermercado no mesmo dia para comprar peito de frango. Entendi que em um caso eu via o sofrimento diante dos meus olhos, e no outro não era visível para mim. Eu reprimia também o fato de que o meu próprio comportamento enquanto consumidor levava ao sofrimento animal, assim como a maior parte da nossa sociedade faz todos os dias”, lamentou.

Baboumian se tornou vegano em 2011 (Foto: Divulgação)

Diante dessas reflexões, Patrik Baboumian viu apenas duas opções: continuar consumindo proteína animal e ignorar o sofrimento animal ou seguir sua compaixão e mudar de vida. Em 2005, ele tomou a decisão de banir todos os tipos de carne da sua alimentação. “Talvez não seja o suficiente você apenas parar de comer animais. Talvez você devesse boicotar toda a indústria animal, porque…não é o que você, como um ser compassivo, iria querer [financiar]. Então você deveria dar um passo à frente e se tornar vegano”, argumentou em entrevista ao The Star.

Em 2011, quando conquistou o título de homem mais forte da Alemanha, o atleta parou de consumir ovos e laticínios, e foi mais além – abraçou o veganismo. Mesmo sem saber se isso iria afetar o seu desempenho como atleta e o seu grande volume muscular, Baboumian não pensou duas vezes.

“Eu sofria de azia constante ao consumir produtos lácteos. É importante saber que proteína de origem animal contém quantidades especialmente elevadas de aminoácidos contendo enxofre. Isso leva a uma excessiva acidificação do corpo. Se torna evidente quando se tem azia, e a coisa diabólica sobre essa situação é que, a princípio, beber leite ajuda. O estômago tem algo a fazer nesse momento, e o ácido fica equilibrado. Eu não percebia que a azia era causada em primeiro lugar pelos laticínios”, declarou ao Vegetarian Bodybuilding.

A transição para o veganismo foi mais fácil do que Patrik Baboumian imaginava. Duas semanas depois que ele se tornou vegano, o desejo por produtos lácteos, que ele consumia em grande quantidade, desapareceu. “Quando você é viciado em algo e fica em abstinência por muito tempo, o desejo desaparece”, explicou e acrescentou que o seu desempenho atlético se manteve estável, e depois melhorou em longo prazo. Segundo Baboumian, o veganismo o ajudou a se tornar mais forte, acelerou a sua recuperação após o treinamento e ampliou a sua sensação de bem-estar.

” Talvez você devesse boicotar toda a indústria animal, porque…não é o que você, como um ser compassivo, iria querer [financiar]” (Foto: Divulgação)

Além disso, ele não teve problemas em conquistar mais massa muscular. Mas, claro, é preciso levar em contar que o atleta é um sujeito consciente, e que sempre se preocupou em garantir a ingestão adequada de carboidratos, proteínas e gorduras. “A proteína é um fator chave para o desenvolvimento de um corpo que é capaz de suportar os eventos extenuantes que você precisa enfrentar como strongman”, ponderou em entrevista ao TheAllAnimalVegan em 5 de outubro de 2013.

Também foi em 2013 que Patrik bateu o recorde mundial de yoke walk, carregando 550 quilos por mais de dez metros durante o Toronto’s Vegetarian Food Festival. Ao final, soltou um rugido e berrou: “Vegan power!” Em 2014, ele voltou a sua atenção para a publicação de um livro sobre nutrição esportiva intitulado “VRebellion”, em que responde perguntas frequentes sobre nutrição vegana e como ganhar peso, força e músculos.

“Quis fornecer uma pequena visão sobre as particularidades da minha dieta, porque simplesmente acho que faço certas coisas de forma diferente. Talvez eu possa dar uma ou duas dicas úteis para pessoas interessadas no estilo de vida vegano”, declarou ao Vegetarian Bodybuilding. Patrik Baboumian também encarou a publicação do livro como uma oportunidade de dizer o que muitos veganos gostariam – que muitas pessoas que consomem carne, já consomem muitos alimentos de origem vegetal, logo não há sentido em olhar com tanta estranheza para a alimentação de um vegano.

“Você deve pensar sobre o fato de que uma dieta vegana não consiste apenas de saladas e legumes. Batatas, aveia, arroz ou macarrão de sêmola de trigo durum – há uma abundância de incríveis fontes de energia para o corpo. Amendoins, por exemplo, são uma maravilhosa fonte de proteínas e gorduras vegetais”, enfatizou. Baboumian também citou feijões, lentilhas e ervilhas como boas fontes proteicas.

Desde que se tornou vegano, suas principais fontes de proteínas são leite de soja, proteína isolada de soja, tofu, nozes e feijões, e fez um alerta: “Se seu corpo é muito ácido, ele não pode digerir proteínas em ótimos níveis e, para um atleta de força preocupado com uma oferta suficiente de proteínas, isso é um pesadelo.”

Para obter energia, ele recorre a carboidratos como arroz, batata, aveia e frutas, além de verduras e legumes (Foto: Divulgação)

Para obter energia, ele recorre a carboidratos como arroz, batata, aveia e frutas, além de verduras e legumes. “Uso shakes e smoothies para obter muitas calorias em forma líquida, porque para mim é difícil comer tudo que preciso para ganhar peso e manter o desenvolvimento de força”, confidenciou.

Em 2015, ele bateu o seu próprio recorde de yoke walk, ao carregar 560 quilos durante 28 segundos. De acordo com Baboumian, a sua vantagem em relação aos outros atletas é que ele prioriza tanto o seu aspecto físico quanto mental.

“Como sou muito pequeno para competir na divisão de pesos pesados, minha única chance de superar a desvantagem física é ser mentalmente mais forte. Um fato é que eu nunca desisto. Ganhei o título de homem mais forte da Alemanha três semanas depois de uma lesão muscular em minha panturrilha esquerda. Eu mal conseguia andar três dias antes da competição. Fiz tudo que estava ao meu alcance para me recuperar o mais rápido possível”, destacou.

Os três exercícios mais importantes para Patrik Baboumian são multiarticulares – agachamento livre, levantamento terra e levantamento de tronco. A justificativa é que para ele são os mais eficazes quando se trata de construir massa muscular e força. “Como um atleta vegano lutando contra os estereótipos comuns de veganos como magros e fracos, me considero mais um guerreiro com propósito de atleta”, frisou.

Após se tornar vegano em 2011, outra mudança é que Baboumian parou de usar muitos suplementos que ele superestimava, reduzindo a lista à creatina, beta-alanina, levedura nutricional, vitamina B12, fenacho, canela-do-ceilão (como antioxidante) e glutamina. “Nunca me senti tão bem em toda a minha vida. Desde que escolhi esse estilo de vida por razões éticas, vou cumpri-lo independentemente da minha carreira. […] A força deve construir, não destruir. Minha força não precisa de vítimas. Minha força é a minha compaixão”, justificou.

À noite, Patrik Baboumian, que mora na área rural de Berlim, gosta de fazer longas caminhadas para relaxar e refletir, e normalmente acompanhado de um cão. “Adoro estar na natureza enquanto todo mundo dorme. Aprecio a atmosfera tranquila, sem o ruído da vida humana que é onipresente durante o dia”, narrou ao Vegetarian Bodybuilding.

Questionado se teria alguma sugestão a dar para quem está cogitando o vegetarianismo ou o veganismo, ele recomendou que as pessoas não deem ouvidos aos supostos gurus da nutrição e da indústria de suplementos que dizem que precisamos de carne, ovos e laticínios para conseguir proteínas o suficiente. “Há uma abundância de fontes de proteínas vegetais, e seu corpo vai agradecer por você parar de alimentá-lo com alimento morto. Go vegan and feel the power!”, sugeriu no Toronto’s Vegetarian Food Festival em 2013.

Saiba Mais

Desde que se tornou vegano, Patrik Baboumian tem participado de campanhas em favor dos direitos animais e do veganismo.

Em 2009, ele bateu o recorde mundial de levantamento de tronco, erguendo 165 quilos. Desde então, o atleta tem vencido o Campeonato Alemão de Levantamento de Tronco.

Referências

https://www.thestar.com/news/gta/2013/09/08/vegan_strongman_shoulders_550_kg_a_record_perhaps_at_vegetarian_food_fest.html

http://www.greatveganathletes.com/patrik-baboumian-vegan-strongman

Big Armenian Heart: An Interview with the ‘Strongest Man of Germany’

PATRIK BABOUMIAN – Germany’s strongest man, and vegan

 

Vegan Badass Patrik Baboumiam: “I Compete to Change the World”

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John Joseph: “Se uma dieta baseada em vegetais funcionou para mim, ela funciona para qualquer um”

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Como o vocalista da lendária banda nova-iorquina Cro-Mags tornou-se um atleta vegano

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Mudança de atitude de John Joseph foi uma consequência da sua dieta vegetariana estrita (Foto: Vice)

Vocalista da lendária banda de crossover Cro-Mags, pioneira na fusão do hardcore punk com o thrash metal, e uma das mais importantes da história do cenário hardcore de Nova York, John Joseph publicou em 2014 o livro “Meat is for Pussies: A How-To Guide for Dudes Who Want to Get Fit, Kick Ass…”. Embora o título possa parecer bobo, cômico ou provocativo, o conteúdo merece muita atenção.

“É um olhar sobre a perspectiva de que o homem ‘precisa’ de carne para ser varonil e forte”, explica o também escritor e atleta vegano. Na primeira parte do livro, John Joseph apresenta fatos e faz críticas aos horrores envolvendo a exploração animal e os processos de produção de carne.

Depois de falar das fazendas industriais, ele guia o leitor a um capítulo em que discorre sobre um estilo de vida mais feliz, saudável e muito mais humano. Ou seja, um estilo de vida vegano. Na obra, ele dá dicas sobre culinária livre de crueldade contra animais. Em síntese, “Meat is for Pussies”, ignorem o título jocoso, é uma obra em que Joseph desafia positivamente os leitores a mudarem de vida.

“Muitos dos caras que perguntam de onde consigo minhas proteínas estão acima do peso, precisam de pílulas para ereção e levam uma hora no banheiro para se livrarem das carcaças podres que estão em seus cólons”, diz.

Uma das figuras mais famosas do cenário hardcore punk dos Estados Unidos, John Joseph tem usado a sua popularidade para atrair pessoas para o veganismo, divulgando principalmente os benefícios de uma alimentação vegetariana aliada a um bom condicionamento.

“Aprendi sobre a PMA [atitude mental positiva] quando a banda punk rastafári Bad Brains me deu um trabalho como roadie deles em 1981. A primeira parte do processo era abandonar carnes, ovos, laticínios, comida processada e drogas”, confidenciou em entrevista à Deni Kirkova, do tabloide britânico Metro em 21 de agosto de 2015.

Segundo Joseph, a sua mudança de atitude foi uma consequência da sua dieta vegetariana estrita, um catalizador em sua vida. “As cortinas caíram, por assim dizer. Absorvi o conhecimento como se eu fosse uma esponja. Fiquei sóbrio, comecei a praticar ioga, meditação, artes marciais, ciclismo, natação de águas abertas e corrida”, revelou.

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Joseph: “Se você me dissesse em 1980 que um dia eu seguiria uma dieta vegetariana, eu daria risada em sua cara”

O novo estilo de vida também garantiu mais energia para tocar com o Cro-Mags e um bom desempenho no Ironman Triathlon, competição de resistência que exige que os atletas completem quase quatro quilômetros de natação, 180 quilômetros de pedaladas e mais de 42 quilômetros de corrida. E tudo isso exige muito treinamento e uma boa dieta. Em 25 de setembro de 2015, a Vice publicou uma matéria baseada na rotina de John Joseph em sua preparação para o Ironman, e se surpreendeu com a força de um homem que só consome alimentos de origem vegetal.

“Se você me dissesse em 1980 que um dia eu seguiria uma dieta vegetariana, e mandaria ver no IronMan, eu provavelmente daria risada em sua cara. Meu passado em Nova York foi duro, realmente duro”, explicou a Deni Kirkova. Mesmo quando sua rotina ficou atribulada por causa das turnês com bandas como Motörhead, Bad Brains, Megadeth e GBH, Joseph continuou cumprindo seu papel como vegano, sem qualquer deslize. Com o Cro-Mags, ele gravou entre os anos de 1986 e 1993 os álbuns “Age of Quarrel”, considerado um dos discos mais influentes da história do hardcore punk, “Alpha Omega” e “Near Death Experience”.

O escritor e atleta vegano já recebeu milhares de e-mails, mensagens no Facebook, Instagram e Twitter de pessoas dizendo que leram seu livro e mudaram de vida por causa do conteúdo e do seu estilo de escrever. “Eles gostam porque dizem que foi escrito na linguagem deles”, justifica.

Quem não conhece a história de John Joseph, jamais imaginaria que ele foi um sem teto viciado em álcool e drogas. Em 1969, aos sete anos, ele foi obrigado a abandonar um lar violento. Viveu em vários orfanatos e em mais lares abusivos. Sem perspectiva de futuro, passou o ano de 1988 consumindo crack.

Na mesma época, levou um tiro, foi esfaqueado e chegou a ser preso. Hoje, com 54 anos, ele continua atuando como vocalista e tornou-se um atleta vegano com desempenho exemplar em cinco edições do Ironman. E ele atribui a sua história de superação ao seu estilo de vida vegano, que não admite a exploração de animais e considera prejudicial à saúde o consumo de alimentos de origem animal.

“As pessoas são bombardeadas por comerciais de fast food barato, e ingerem comidas que não só causam estragos ao seu sistema como ao planeta por causa do abate de animais”, lamentou em entrevista ao jornal The Examiner, da Austrália, e repercutida pelo Exclaim, do Canadá, em 7 de outubro de 2009.

Saiba Mais

John Joseph, que nasceu em Nova York em 3 de outubro de 1962, se tornou vegetariano há mais de 30 anos.

Referências

Vegan rockstar and athlete John Joseph on why ‘meat is for pussies’

https://munchies.vice.com/en/videos/fuel-the-vegan-ironman-diet-of-cro-mags-john-joseph

http://exclaim.ca/music/article/cro-mags_john_joseph_declares_meat_is_for_pussies_with_new_book_begins_work_on_reality_show

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Zaguinha, o Rei das Embaixadinhas

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Manoel da Silva renasceu aos 44 anos, quando trocou a picareta por uma bola de futebol

 Nos Estados Unidos, Zaguinha faz embaixadinhas com uma esfera incomum (Foto: Arquivo Pessoal)

Nos Estados Unidos, Zaguinha faz embaixadinhas com uma esfera incomum (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 1999, o esportista Manoel da Silva, conhecido como Zaguinha, ganhou o título de Rei das Embaixadinhas ao participar de um programa televisivo em que desafiava os telespectadores – venceu todos. Desde então o reconhecimento lhe garante sobreviver daquilo que melhor sabe fazer.

O carismático Zaguinha ganhou visibilidade pela primeira vez em 1999, quando foi protagonista do Programa Esporte Espetacular, da Rede Globo. “Eu estava fazendo embaixadas em Tupã, interior de São Paulo, e um repórter me ligou. Perguntou se eu tinha interesse em participar do programa. Aceitei na hora”, conta.

Convidado para desafiar praticantes de embaixadinhas de todo o Brasil, o atleta não precisou se esforçar demais para faturar o título de rei. “Venci os oito melhores, selecionados pelo programa. Tive que fazer embaixadinhas até na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Mas valeu a pena e muito. Foi depois dessa aparição que consegui patrocínio de uma grande empresa de artigos esportivos”, declara Zaguinha que participou do Esporte Espetacular por 14 domingos consecutivos.

O talento e a dedicação do atleta trouxeram oportunidades inesperadas, como conhecer mais de 20 estados brasileiros e, também, viajar de avião pela primeira vez. Zaguinha é reconhecido internacionalmente, tanto que foi tema de uma reportagem da rede de televisão estadunidense Cable News Network (CNN). “Isso foi em 2000. Me levaram para fazer um trabalho de oito dias em escolinhas de futebol. Até participei de uma feira de esportes em Nova York”, reitera o atleta que se apresentou na Argentina e no Paraguai durante a Copa América de 1999.

O maior orgulho de Zaguinha são as inúmeras façanhas, entre as quais embaixadinhas com bola de futebol americano e abacaxi. “Já fiz 550 com uma bolinha de dois milímetros. Faço com qualquer tipo de esfera, desde que o peso não ultrapasse dois quilos e meio”, enfatiza. Quando participou do Programa do Jô, lhe deram um sabonete molhado. O atleta admite que foi difícil manter o equilíbrio, contudo não passou vergonha; fez cinco embaixadinhas.

O esportista sempre fica feliz ao ser desafiado, mas a satisfação surge apenas no fim, quando o resultado é positivo. “Já fiz muitas embaixadas atravessando a Avenida Paulista, subindo as escadas de uma igreja em Aparecida e, também, sobre o parapeito de um prédio de 15 andares. Nesse desafio tive medo porque não gosto de lugares altos”, revela.

Zaguinha em desafio no Estádio do Pacaembu (Foto: Arquivo Pessoal)

Zaguinha em desafio no Estádio do Pacaembu (Foto: Arquivo Pessoal)

Zaguinha diz que se sente realizado por levar diversão e informação a tantas pessoas. “Minhas apresentações duram em média 30 minutos, só que sempre dedico algum tempo para falar sobre educação e drogas”, pondera.

Atleta teve vida difícil no Noroeste do Paraná

Manoel da Silva, conhecido como Zaguinha, nasceu em Murici, no interior de Alagoas, e se mudou para Loanda, no Noroeste do Paraná, quanto tinha nove anos. “Como saí do nordeste muito novo, me considero tanto nordestino quanto paranaense”, afirma o esportista que teve uma vida muito difícil.

Na década de 1960, o jovem Manoel começou a trabalhar na área rural derrubando árvores para o plantio de amendoim, algodão e mamona. “Sinto saudade das coisas boas, mas foi um tempo de muitas dificuldades”, frisa Zaguinha que se distrai mirando o horizonte. De repente, começa a lacrimejar ao se recordar da esposa falecida em 1981.

Em Loanda, depois de reunir um bom dinheiro, o atleta abriu um bar, onde impressionava os fregueses fazendo embaixadinhas com bolas de sinuca. Com o tempo o negócio deixou de ser lucrativo e Manoel decidiu participar de um concurso público municipal.

“Passei e ganhei uma picareta, uma chibanca [machadinho], uma enxada e uma pá. Meu trabalho era fazer valetas para esgoto. Ganhava um salário mínimo, ou seja, trabalhava demais e recebia pouco”, avalia Zaguinha. Logo que encerrava o expediente, Manoel da Silva ia pra casa treinar.

O apreço pelas embaixadinhas surgiu na infância, quando o esportista e seus cinco irmãos brincavam com bolinhas de meia. “Era comum também matarem porco e a gente tirar a bexiga do animal pra enchê-la com ar. Era a nossa bola, a maior alegria da minha infância”, relata Zaguinha que na década de 1990 decidiu transformar o sonho em realidade ao se mudar para São Paulo.

Estadunidense impulsionou a carreira do esportista

Em São Paulo, Zaguinha adotou o Viaduto do Chá como local de treino porque sabia que a área era bastante frequentada pela mídia. Com a intenção de atrair a atenção para si, sempre fazia embaixadinhas quando via uma máquina fotográfica ou filmadora. “Estava sempre próximo da imprensa, mas sem exageros”, assegura.

Zaguinha passou três anos fazendo shows na rua. Tudo mudou em 1999, aos 47 anos, quando um empresário estadunidense que assistiu a uma apresentação de Zaguinha pela TV a cabo acreditou no trabalho do esportista. “Gostou do que viu no Esporte Espetacular. Quando veio pra cá buscar produtos esportivos de uma grande empresa ele sugeriu que me contratassem. Naquele mesmo mês, comecei a receber para fazer embaixadas”, reitera sorrindo.

Na rua, o atleta sempre é reconhecido pelo traje – uma camisa da seleção brasileira e uma bola que ele carrega dentro de uma pequena rede pendurada no braço. “Onde me vê, o pessoal já sabe quem eu sou e pede pra fazer embaixadinhas”, comemora o atleta.

Saiba mais

Zaguinha já fez mais de 80 mil embaixadinhas em oito horas.

Zaguinha nasceu no dia 1º de março de 1952.

Written by David Arioch

December 30th, 2015 at 1:17 pm

Um atleta motivado por um sonho

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Leonardo Fellipe Mariani sonha em se tornar campeão mundial de powerlifting

Luiz Fellipe: "Comecei a treinar pra valer em outubro de 2012"

“Comecei a treinar pra valer em outubro de 2012”

Em um certo dia de 2010, Leonardo Fellipe Mariani, de Siderópolis, Santa Catarina, estava em casa assistindo alguns vídeos de campeonatos de powerlifting no YouTube. Ficou tão impressionado com a força, técnica e vigor físico dos competidores que decidiu se tornar um atleta da modalidade. Sem saber exatamente como proceder, Mariani buscou informações na internet e procurou pessoas envolvidas com o esporte para instruí-lo.

“Foi amor à primeira vista, mas infelizmente esbarrei nas limitações da minha antiga academia. Por causa disso, comecei a treinar pra valer em outubro de 2012. Só que desde então não parei mais e tenho dado tudo de mim”, afirma. O que levou o catarinense de 25 anos a procurar vídeos de powerlifting na internet foi o apreço pela musculação, atividade que pratica desde 2009, quando se matriculou em uma academia com o objetivo de perder peso.

Mariani: “Os meus exercícios preferidos são o agachamento livre e o levantamento terra”

“Os meus exercícios preferidos são o agachamento livre e o levantamento terra”

Atualmente o atleta treina cinco vezes por semana e cada treino tem duração de duas horas. “Os meus exercícios preferidos são o agachamento livre e o levantamento terra”, conta. Incluído o supino, os três formam a base que consagrou o esporte. Embora motivado por uma paixão, hoje, Mariani vive o dilema de não ter patrocínio, o que dificulta a participação nos principais campeonatos.

“Preciso de apoio financeiro para competir no Campeonato Catarinense que será realizado em Blumenau [Santa Catarina] no dia 23 de março. Quem puder ajudar, me comprometo a divulgar a marca patrocinadora através de sites, fotos, vídeos e entrevistas”, declara. As dificuldades de Leonardo Fellipe refletem também o preconceito contra o esporte no Brasil, uma consequência do desinteresse da iniciativa pública e privada.

“Preciso de apoio financeiro para competir no Catarinense que será realizado em Blumenau no dia 23 de março"

“Preciso de apoio financeiro para competir no Catarinense que será realizado em Blumenau no dia 23 de março”

Tudo isso somado ao descaso da imprensa ofusca o brilho de um esporte que requer muita força de vontade, dedicação e disciplina. A situação preocupa porque inviabiliza uma maior aceitação do powerlifting em território nacional, modalidade já tradicional e que na versão moderna começou a se popularizar nos EUA e Reino Unido nos anos 1950.

O amor pelo levantamento de peso há muito tempo constrói irmandades por todo o Brasil. Mariani é um exemplo de atleta que fez muitas amizades por meio do powerlifting. A interação social é inevitável, inclusive estimulada, já que o apoio em cada competição assegura ao atleta uma dose a mais de motivação para vencer. “Espero um dia ter a chance de abrir um centro de treinamento para crianças e adolescentes carentes”, revela.

“Espero um dia ter a chance de abrir um centro de treinamento para crianças e adolescentes carentes”

“Espero um dia ter a chance de abrir um centro de treinamento para crianças e adolescentes carentes”

Sem investimentos e com recursos limitados, muitos powerlifters convocados para representar o Brasil no exterior são obrigados a recorrer ao crowdfunding (financiamento coletivo), uma alternativa que nem sempre tem um final feliz. Já houve inúmeros casos de esportistas que desistiram da competição porque receberam um número pífio de doações. Embora alguns tenham uma legião de seguidores, isso não garante sólidas contribuições. “É um esporte caro. É preciso investir muito em dieta, viagens e hospedagens. Um atleta não gasta menos de R$ 1,7 mil”, comenta Leonardo Fellipe que compete na categoria até 125kg e tem como principal inspiração o gigante russo Andrey Malanichev.

Além de evoluir como atleta de alta performance, Mariani quer construir um corpo mais forte e definido. E claro, sonha em se tornar um campeão mundial de powerlifting. O anseio de chegar ao topo já garantiu importantes premiações. “Espero me tornar uma das promessas do powerlifting brasileiro. Estou lutando para chegar lá”, avisa.

Títulos

Campeão da 1° Copa Rafa Crestani de Powerlifting, da World Association of Benchers and Deadlifters (WABDL), em Veranópolis (RS) em 2012.

Segundo lugar no Campeonato Brasileiro de Levantamento Terra, da International Powerlifting Federation (IPF), em São Paulo (SP) em 2012.

Campeão do 11º Campeonato Catarinense de Powerlifting, da International Powerlifting Federation (IPF), em São Bento do Sul (SC) em 2013.

Terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de Powerlifting, da World Powerlifting Congress (WPC), em São Paulo (SP) em 2013.

Segundo lugar no Campeonato Brasileiro de Powerlifting, da International Powerlifting League (IPL), em São Paulo (SP) em 2013.

Serviço

Para entrar em contato com Leonardo Fellipe Mariani, basta ligar para (48) 9925-5200 ou enviar um e-mail para leonardofellipemariani@hotmail.com.

A superação de Stevie Zee

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O fisiculturista com paralisia cerebral que se tornou um exemplo

A musculação transformou a vida de Stevie Zee (Foto: Ralph De Haan)

A musculação transformou a vida de Stevie Zee (Foto: Ron Avidan)

O estadunidense Stevie Zee estava completamente perdido em 1992. Reprovado na faculdade comunitária e incapaz de encontrar trabalho, o rapaz que sofre de paralisia cerebral (PC) decidiu fazer algo para evitar a depressão e a autopiedade.

Em dezembro do mesmo ano, Stevie foi até um ginásio de musculação em Portland, Oregon, sua cidade natal, onde conheceu o fitness trainer e fisiculturista heavyweight David Hughes. “Ele apareceu para uma sessão de treinamento e logo me disse que queria se tornar um bodybuilder. Me surpreendi com a decisão e me empenhei em ajudá-lo”, conta Hughes que instruiu o rapaz no treinamento com pesos e o ensinou muito sobre nutrição esportiva.

Stevie queria competir no bodybuilding, seguindo o mesmo caminho de David. Porém as limitações impostas pela paralisia cerebral fizeram com que o sonho parecesse distante e utópico. Em função da doença, os músculos de Zee costumavam ser encurtados, rígidos e enfraquecidos, o que tornava tudo mais difícil. Com frequência, o controle dos músculos era interrompido por movimentos espontâneos e indesejados, além dos problemas de equilíbrio, instabilidade em movimentar pés, mãos e até falar. Em síntese, Stevie sofre de paralisia cerebral mista, o tipo mais severo.

m 2008, o atleta ganhou o patrocínio da gigante Gaspari Nutrition (Foto: Ron Avidan)

Em 2008, o atleta ganhou o patrocínio de Rich Gaspari (Foto: Ron Avidan)

“Eu tinha dificuldade em aceitar a doença, mas agora eu sei que eu a tenho para inspirar outros a se tornarem pessoas melhores, a tirarem o máximo proveito da vida, independente de tudo”, afirma Zee. Segundo David Hughes, Stevie é mais motivado que a maioria das pessoas. Apesar das dificuldades, mora sozinho, cozinha, dirige e faz as próprias compras.

A primeira recompensa do atleta veio em junho de 2003, quando surgiu um novo tratamento para paralisia cerebral. Zee passou por um procedimento em que foi instalado um mecanismo especial na parede abdominal, minimizando os extremos espamos musculares que o fizeram sofrer por tantos anos. Em 2006, o fisiculturista recebeu um prêmio da revista MuscleMag no Los Angeles Championships, onde foi aplaudido de pé por centenas de pessoas, entre celebridades do bodybuilding.

“Ele teve a coragem de deixar Portland e se mudar para Hollywood. Tudo isso, para realizar seus sonhos. É como se ele fosse um personagem de uma história em quadrinhos”, comenta o lendário ex-fisiculturista Rich Gaspari, que desde 2008 patrocina Stevie Zee. Para entender a história de superação do atleta é preciso ter em mente que para quem sofre de paralisia cerebral é complicado até mesmo caminhar e realizar pequenas tarefas diárias. “Imagine então fazer musculação? Há milhares de limitações que o dizem para não ir por esse caminho. Isso mostra o quanto ele é um vencedor”, diz David Hughes.

O que também chama atenção sobre Stevie Zee é a sua capacidade em seguir dietas restritivas, outro ponto considerado impossível para quem sofre de PC. Ao longo de 20 anos, o atleta não apenas ganhou em condicionamento e qualidade de vida, minimizando os problemas com a doença, como se tornou referência de novos estudos sobre a medicina da encefalopatia crônica não progressiva nos Estados Unidos. “Devo tudo isso a David Hughes que foi quem me transformou em uma pessoa totalmente diferente”, declara Stevie emocionado. Vale lembrar que o fisiculturista é tema do documentário Hang On To Your Dreams, lançado em 2008.

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O fisiculturista e eu

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Filme canadense mostra como o bodybuilding ajudou a fortalecer uma relação entre pai e filho

Bill Friedman muda de vida através da musculação (Foto: Reprodução)

Lançado em 2007, The Bodybuilder and I é um filme do canadense Bryan Friedman que decide acompanhar a rotina de fisiculturista do próprio pai. A princípio, a ideia do rapaz era registrar o bodybuilding como uma subcultura recheada de esquisitices. Talvez, uma maneira de conseguir a atenção do homem com quem viveu ao longo de 26 anos, mas jamais o conheceu de verdade.

O advogado Bill Friedman, de 59 anos, é um ex-sedentário e ex-viciado em trabalho que após um longo e desgastado casamento é surpreendido por um pedido de divórcio. Bill se torna depressivo, mas renasce com a musculação, colocando-a em primeiro lugar na sua vida. Chega a deixar pra trás uma carreira extremamente lucrativa que lhe garantiu uma mansão, os melhores carros e uma fortuna que proporcionou estabilidade financeira para toda a família.

Após vencer duas importantes competições de bodybuilding da sua faixa etária, Friedman consegue atrair a atenção do filho Bryan. O rapaz então acompanha a jornada do atleta apenas com a intenção de destacar o quão estranho pode ser o bodybuilding como uma subcultura. Sem um profundo ou forte vínculo com o pai, Bryan registra todas as etapas da rotina, desde a hora em que ele acorda até o momento de dormir.

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A rotina do atleta é acompanhada pelo filho Bryan (Foto: Reprodução)

“Meu objetivo era mostrar como somos distantes e também como aquele mundo poderia parecer mais importante pra ele do que a própria família. Era pra ser algo sobre um velho fisiculturista obsessivo quanto aos seus músculos”, conta o cineasta Bryan Friedman que mesmo com uma vida de luxo sempre se sentiu mal pela ausência da figura paterna. Ao contrário do planejado, o filme ganha outro rumo quando o filho ressentido começa a aprender muito sobre o pai.

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Bryan começa a entender o amor do pai pelo bodybuilding (Foto: Reprodução)

The Bodybuilder and I é uma história sobre como a conexão entre pai e filho pode ser algo valoroso, verdadeiro e intenso, independente de tempo. Um filme sincero e bem-humorado que tem um caráter testemunhal sobre as possibilidades dos seres humanos se reencontrarem e tentarem entender o que é importante um para o outro. Com 60 anos, o extrovertido Bill Friedman luta para recuperar o status de campeão mundial da categoria masters, se consolidando como um ícone do bodybuilding canadense.

Após algum tempo, o introspectivo Bryan se torna compreensivo quanto ao amor do pai pela musculação, atividade que disciplinou Bill e lhe deu mais ânimo para viver. É interessante a forma como o filho em alguns momentos do filme deixa claro o preconceito contra o bodybuilding. São cenas que representam com clareza a grande intolerância social que aflige o fisiculturismo em todo o mundo. O espectador pode interpretar que o sucesso de Bill na carreira profissional só foi possível em função de sua natureza pautada pela perseverança e disciplina.

Surge aí de forma subjetiva a ideia de que se alguém tem força de vontade o suficiente para seguir uma rotina intensa de treinos, dieta e outras regras que competem ao bodybuilding, essa mesma pessoa tem as qualidades mais importantes para ser bem sucedida em outras áreas. The Bodybuilder and I, vencedor do Prêmio de Melhor Documentário do Festival Internacional de Documentários do Canadá (Hot Docs) e Atlantic Film Festival, é uma obra de esperança voltada principalmente para pais, filhos e qualquer um que desconheça o poder transformador que possui dentro de si. Dirigido e escrito por Bryan Friedman, o filme é co-produzido pela January Films e National Film Board of Canada.

O poder transformador da musculação

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Facing Goliath narra a história de superação do fisiculturista canadense Ray Taylor

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Fisiculturismo ajuda Ray Taylor a enfrentar a cegueira (Foto: Reprodução)

Lançado em 2006, o documentário Facing Goliath, do cineasta canadense Kirk Pennell, mostra como o fisiculturista e ator Sebastian MacLean ajudou Ray Taylor, um amigo deficiente visual e  obeso, a transformar a própria vida aos 50 anos. Com o apoio de MacLean, Taylor descobre na musculação uma nova realização pessoal e decide superar muitos desafios para se tornar um fisiculturista.

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Taylor antes de começar a praticar musculação (Foto: Reprodução)

Certo dia, Ray Taylor recebe a notícia de que está perdendo a visão do único olho com o qual ainda enxerga. Acreditando que será muito difícil evitar a depressão, Taylor liga para o amigo Sebastian MacLean e pergunta se a melhora da condição física pode afastá-lo dos problemas psicológicos e emocionais. Então o fisiculturista o desafia a participar de um programa de transformação corporal com duração de 12 semanas. “Aceitei o desafio e consegui perder 40 libras [pouco mais de 18 quilos]. Me superei porque acredito que não existe limites quando se quer alcançar um objetivo”, diz Ray.

No filme, MacLean, que competiu como fisiculturista por mais de dez anos ininterruptos, é contagiado pelo empenho do amigo que toma a decisão de se tornar um bodybuilder. “Com a parceria de Ray, me senti até mais animado para competir”, conta o experiente fisiculturista que coleciona prêmios e já foi apontado como uma das revelações do fisiculturismo natural canadense. Em várias oportunidades, chegou a ser destaque da revista Muscle Mag, especializada em bodybuilding.

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Sebastian MacLean, o atleta que mudou a vida de Ray (Foto: Reprodução)

Sebastian é o responsável por introduzir Ray no universo do fisiculturismo clássico, onde a relação com as origens do esporte e a busca pela excelência da condição física remetem aos grandes atletas do passado, principalmente da Era de Ouro. É uma filosofia de vida em que a forma harmoniosa se sobressai ao físico exagerado e volumoso. Com MacLean, Taylor aprende que o bodybuilding tradicional tem como alicerce o equilíbrio.

Ray se apega a musculação como uma razão existencial. Um ano depois, mesmo ciente de que faltam apenas alguns meses antes de ficar cego, Taylor intensifica o treinamento. Durante o campeonato nacional, o atleta chega a chamar mais atenção do que o treinador. Por onde passa, independente de resultados, Ray conquista novos fãs e é aplaudido a cada pose. “Eu era completamente sedentário. Ninguém nunca imaginaria que isso aconteceria comigo”, comenta Taylor que sempre se emociona ao final das competições.

Facing Goliath não é apenas um filme sobre a superação de um homem, mas também uma história de amizade, cumplicidade e apoio. Logo no início do documentário, Sebastian ajuda Ray, um amigo em dificuldade. Depois, Taylor quem apoia MacLean a se tornar um fisiculturista ainda melhor. E juntos, chegam ao topo, participando dos mesmos campeonatos e partilhando novas experiências. “Desde o princípio, minha intenção era mostrar que o coração é o músculo mais poderoso do corpo humano. Sebastian e Ray são as provas disso. Se mantêm fortes e unidos até nas situações mais difíceis”, destaca o cineasta Kirk Pennell.

Curiosidade

O filme Facing Goliath, resultado de uma parceria entre os canadenses Kirk Pennell e Sebastian MacLean, já foi exibido em pelo menos 116 países.

Andreas Møl registra o amor dos afegãos pelo bodybuilding

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Cineasta mostra que o fisiculturismo é o esporte mais popular no Afeganistão

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Bodybuilding no Afeganistão: um caminho para uma vida melhor (Foto: Reprodução)

Em 2003, o dinamarquês Andreas Møl Dalsgaard viajou para Cabul, no Afeganistão, onde se surpreendeu com a grande quantidade de cartazes de fisiculturistas masculinos espalhados pela cidade. A experiência motivou o cineasta a produzir o documentário Afghan Muscles, lançado em 2006, que mostra como os atletas afegãos se dedicam a busca do controle do corpo na caótica Cabul pós-guerra.

Depois de se graduar em antropologia social pela Universidade de Aarhus e estudar cinema na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca, por onde também passou a cineasta Susanne Bier, vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro por In A Better World, Dalsgaard decidiu produzir o seu primeiro longa-metragem, sobre homens jovens que através da arte do bodybuilding vivem a modernidade a sua maneira, na batalha para tornarem-se bem sucedidos. “Me dei conta que o fisiculturismo no Afeganistão consiste em homens assistindo homens. Não há envolvimento das mulheres, nem como atletas nem plateia”, conta o cineasta dinamarquês.

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Mesmo quando não tinha apoio, Hamid não desistiu do sonho (Foto: Reprodução)

O interesse pela musculação começou a ganhar força no país em 2001. No ano seguinte, alcançou status de esporte mais popular. Embora o ambiente seja muito diferente do que se vê em países de Primeiro Mundo e até no Brasil, o Afeganistão se destaca por ser uma nação onde a maioria dos jovens atraídos pela musculação sonha em ingressar no bodybuilding. “Para eles, é um caminho para começar uma carreira, ter uma vida melhor através dos músculos. Infelizmente é um lado do Afeganistão e do Oriente Médio que poucos viram até hoje”, lamenta Andreas Møl.

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No país, os melhores fisiculturistas são tratados como celebridades (Foto: Reprodução)

Apesar de não oferecer apoio ao desenvolvimento do fisiculturismo, o movimento fundamentalista islâmico Talibã tolera a prática, mas impõe algumas exigências, como não permitir que os praticantes de musculação treinem sem camiseta. Já durante as competições, os atletas podem subir ao palco usando apenas sunga e com o corpo coberto por autobronzeador, sem risco de represália. “É interessante ver uma plateia de homens barbudos, usando trajes típicos, torcendo com muito entusiasmo para os seus competidores preferidos e, claro, bastante atentos ao melhores físicos. Eles realmente amam o bodybuilding”, declara o cineasta.

Os fisiculturistas afegãos Hamid Shirzai e Noorulhoda Shirzad explicam que a vitória em grandes campeonatos pode proporcionar fama, reconhecimento e honra para a família. “Você ganha o apoio de um senhor da guerra que pode até abrir uma academia em seu nome”, revelam. Shirzai e Shirzad são os protagonistas do filme Afghan Muscles que registra a luta e a preparação dos atletas da equipe afegã para competirem no Mr. Ásia 2004, no Bahrain, um estado insular do Golfo Pérsico.

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Atletas se tornam inspiração para os mais jovens (Foto: Reprodução)

No Afeganistão, os melhores fisiculturistas têm o privilégio de serem tratados como celebridades. No entanto, segundo o filme, o desenvolvimento dos atletas é quase sempre comprometido pela falta de apoio financeiro. Isso dificulta a contratação de assessoria profissional e investimento em dietas e produtos que otimizariam os resultados. Proteína em pó, por exemplo, que custa mais caro no Afeganistão do que em qualquer outro país, precisa ser contrabandeada como se fosse droga para chegar as mãos de Shirzai e Shirzad, grandes fãs de “Arnold”, como se referem ao famoso Arnold Schwarzenegger.

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Desde o início do milênio, o bodybuilding conquista o prestígio dos afegãos (Foto: Reprodução)

Fora as dificuldades econômicas que o guarda Hamid enfrenta para continuar lutando pelo sonho em um país definhado pela guerra, ainda é obrigado a lidar com o pai que não o apoia e cobra que ele desista do bodybuilding e se case. Afghan Muscles mostra o momento em que o atleta perde o seu maior patrocinador, o proprietário de um ginásio de musculação. Há muitos momentos de altos e baixos. Shirzai não desiste, pois acredita na conquista dos títulos de Mr. Afeganistão e Mr. Ásia. O primeiro sonho se tornou realidade em 2009, três anos após o lançamento do filme, quando venceu o campeonato mais importante do país. Hamid se orgulha de fazer parte de uma linhagem de fisiculturistas que inclui o tio e o irmão, dois campeões nacionais.

O documentário deixa claro que a construção do corpo no bodybuilding vai além da hipertrofia e simetria. É a materialização dos principais predicados que motivam um atleta a alcançar a singularidade. O corpo é como um templo. Por isso, há uma plena relação harmoniosa. Andreas Møl também apresenta duas realidades conflitantes. Enquanto Cabul, a cidade natal de Shirzai, representa as ruínas de um velho mundo em crise e miséria, Bahrain, para onde o atleta viaja em competição, simboliza o novo, as belezas da modernidade, o futuro e a ostentação.

Mas Hamid não se deslumbra, muito pelo contrário. Quer sempre voltar para casa e continuar se empenhando em ser um bom representante afegão. Shirzai deixa a lição de que independente de probabilidades, é preciso definir metas e se esforçar para alcançá-las. Afghan Muscles, que teve excelente repercussão no Oriente Médio, Europa e até nos Estados Unidos, venceu em 2007 o Grande Prêmio do Júri de Melhor Documentário no Festival de Cinema AFI, nos EUA. Em síntese, é uma obra sobre uma Cabul desconhecida e um Afeganistão que se constrói sobre novas esperanças e sonhos.

A trágica história de João Levinho

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Um grande jóquei que teve um triste fim como andarilho

Levinho foi encontrado morto na área rural de Marilena (Foto: Reprodução)

O roraimense João Ortino Moreira, conhecido como João Levinho, foi um jóquei que teve a carreira interrompida em Boa Vista, Roraima, em 1952, e veio ao Noroeste do Paraná a pé, fixando residência em Paranavaí. Mais tarde, se tornou agricultor, mas devido a algumas desilusões abandonou tudo e passou os últimos dias de vida vagando como andarilho pela região.

João Levinho nunca conheceu os pais. Em 1929, foi abandonado numa sarjeta da periferia de Boa Vista seis meses após o nascimento. Dizem que no mesmo dia a proprietária de um prostíbulo o recolheu e lhe deu abrigo até os cinco anos, além de registrá-lo.

“Um dia, Levinho foi chamar a mulher pela manhã e a encontrou morta, estirada sobre a cama. Parece que teve um ataque cardíaco. Quando ouviu as garotas da casa falando que deveriam entregá-lo à polícia, ele se assustou e fugiu”, relata o aposentado Juraci Martins que conheceu João Moreira em um bar em 1955.

Afastou o frio e a fome cheirando cola de sapateiro

Levinho não teve infância. Enquanto as outras crianças brincavam, o garoto andava pelas ruas procurando restos de alimentos no chão e em latas de lixo. Para afastar o frio e a fome, muitas vezes recorreu a um tipo de cola de sapateiro que os companheiros de rua partilhavam. Costumava passar a noite em um terreno baldio. Pulava o muro e dormia enrolado em folhas de bananeira. “Falou que se sentia protegido assim. Quando tinha uns 12 anos, Levinho conheceu Orlando de Maria, um comerciante que o ajudou”, conta Martins.

O homem levou João Moreira a um clube de hipismo, onde lhe mostrou as corridas de cavalos. Foi aí que surgiu a oportunidade de se tornar um jóquei e o garoto aceitou. O pequeno e leve João se destacou, demonstrando talento para o esporte. Até os 22 anos, conquistou títulos que renderam bastante prestígio nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.

Com uma carreira de sucesso, surgiram melhores oportunidades, mas Levinho não aceitou nenhuma, pois tinha uma dívida de gratidão. “O João continuou vivendo em Boa Vista e dividia tudo que ganhava com o comerciante”, explica o aposentado. Numa noite de 1952, Orlando de Maria foi assassinado a tiros por um apostador na saída do clube de hipismo, após mais uma vitória de Levinho.

Assustado, Moreira recebeu a recomendação de ir embora de Boa Vista. Partiu para Belém, no Pará, a pé, só com a roupa que estava usando e um anel de ouro que tinha uma pequena pedra no formato de um cavalo – presente do comerciante. Lá, Levinho ouviu a conversa de dois homens na saída de um bondinho. “Falavam de um lugar no Paraná pra onde as pessoas estavam indo, algo como ‘Paraivaí’ ou ‘Paranaivaí’”, diz Martins, reproduzindo as palavras de Levinho. Moreira, que nem sabia onde ficava o Sul do Brasil, decidiu encarar a aventura e tomou a decisão de vir ao Paraná.

Atravessou rios e matas para chegar a Paranavaí

A viagem toda foi percorrida a pé porque antes de João Moreira deixar Boa Vista o rapaz fez uma promessa de nunca mais depender de ninguém para alcançar qualquer objetivo. “Levinho andou mais de cinco mil quilômetros, atravessou rios e matas. Queria provar a si mesmo do que era capaz”, justifica Juraci Martins. Antes de completar metade do trajeto, João Ortino estava quase descalço, com a sola do sapato completamente gasta. Então Levinho improvisou um calçado feito de chapa de madeira, borracha e barbante.

Andou mais centenas de quilômetros até chegar a Ponta Porã, no Mato Grosso. Lá, Moreira dormia sob um banco de praça quando foi surpreendido por um ladrão que tentou arrancar-lhe o anel do dedo. Levinho resistiu e levou duas facadas, uma na perna e outra no braço. Ainda assim preservou o seu único bem material. Em vez de ir a um hospital, conseguiu uns pedaços de tecido e um pouco de pó de café num armazém e os usou para estancar o ferimento.

Algumas semanas mais tarde, já recuperado, prosseguiu viagem. “Quando chegou na divisa com o Paraná era de madrugada. Levinho viu uma canoa encostada, a desamarrou e atravessou o Rio Paraná”, narra o amigo. Quando se sentia cansado, para não ser surpreendido por animais selvagens, dormia quase no topo das árvores, preso à corda que antes estava amarrada à canoa. “O João a usava para evitar que caísse da árvore durante o sono”, comenta Martins. Levinho chegou a Paranavaí cinco meses depois que deixou Boa Vista.

Abandonou tudo em 1965

Na cidade, conheceu um migrante português que estava de partida para Londrina, no Norte Central Paranaense. O homem ofereceu uma chácara em troca de 50% dos rendimentos. Levinho hesitou por um instante, mas aceitou a proposta. Na propriedade situada na saída de Paranavaí, o roraimense construiu um rancho. Para investir na propriedade, trabalhou como peão na derrubada de mata. “João Levinho comia só uma vez por dia pra guardar dinheiro pra investir na cafeicultura.  Conseguiu uma fazenda de café em menos de dez anos”, enfatiza o aposentado.

Moreira se casou em 1957 com uma moça de origem polonesa. O relacionamento foi mantido até 1965, quando descobriu que a mulher o traía. Um ano antes já tinha vivido uma tragédia. Os três filhos de Levinho, que tinham entre três e seis anos, estavam brincando quando foram atropelados por um caminhão carregado de café que ia para o Mato Grosso. “A traição foi o estopim. Ele abandonou tudo, fugiu de casa. Procurei por toda parte, mas não o achei em canto nenhum”, garante Juraci Martins.

Após o Natal de 1968, um caminhoneiro, amigo do aposentado, informou que um homem com as características de João Moreira foi visto nas imediações de Marilena, a 70 km de Paranavaí. Martins percorreu a localidade por horas, até que viu um homem deitado sobre um capinzal, às margens de uma estrada que dava acesso à Fazenda Santa Lúcia. “Levinho estava muito mal vestido, barbudo e com o cabelo comprido. Quase não o reconheci. Tinha um ar sereno no rosto, apesar de um dedo torto, que parecia quebrado, e as cinco facadas que o mataram, deixando a blusa toda vermelha”, confidencia.

Pela primeira vez em 26 anos, João Moreira estava sem o anel de ouro no dedo. “Se tornou o seu bem mais precioso. Sempre me dizia isso. Até hoje não dá pra acreditar que João Ortino Moreira foi morto por aquilo que lhe era tão importante, mas não tão significante para quem quer que tenha sido seu assassino”, declara Juraci Martins. Quando a polícia desistiu das investigações, o amigo percorreu a região tentando descobrir quem matou Moreira. Soube apenas que João Levinho tinha ganhado o apelido de “Quietinho”, um andarilho que nada falava ou pedia a quem quer que fosse e por onde passasse.

Saiba Mais

João Levinho foi encontrado morto em 27 de dezembro de 1968, dia em que completaria 39 anos.

Curiosidade

João Ortino Moreira começou a competir por volta dos 14 anos. Era rápido e leve como o vento, diziam os outros jóqueis que o apelidaram no primeiro campeonato em que participou.