Archive for May, 2018
Mais de 50% dos jovens britânicos experimentaram uma dieta vegetariana nos últimos 12 meses
De acordo com uma matéria publicada esta semana no jornal britânico The Sun, 56% dos britânicos com faixa etária de 16 a 29 anos experimentaram uma dieta baseada em vegetais nos últimos 12 meses. Nas faixas etárias dos 30 anos e dos 40 anos, o percentual é de 45%.
Essas informações fazem parte de uma pesquisa realizada pela companhia de alimentos Kellogg, que entrevistou dois mil adultos sobre seus hábitos alimentares; assim descobrindo que o interesse por alimentos livres de ingredientes de origem animal tem crescido bastante no Reino Unido.
Cerca de um terço dos entrevistados declarou que adotou uma dieta vegetariana por ser contra a exploração animal. Outros 29% se abstiveram do consumo de alimentos de origem animal por preocupações com o peso; e 4% se sentiram motivados a experimentar uma dieta vegetariana depois de ver celebridades abordando o assunto pelas mais diferentes razões.
A nutricionista sênior da Kellogg, Laura Street, explicou que uma nova linha de cereais vegetarianos da marca foi criada a pedido de um grande número de consumidores que querem reduzir o consumo de alimentos de origem animal, mas não sabem o que comer.
Ao The Sun, Laura enfatizou que muitas pessoas estão optando por uma dieta baseada em vegetais, porém há aqueles que creem que pode ser difícil mantê-la. “É por isso que, como parte do nosso Plano de Melhores Iniciativas para ajudar as famílias a fazerem escolhas mais saudáveis, estamos desenvolvendo uma nova linha de cereais para veganos”, argumentou.
Embora os objetivos da Kellogg tenham mudado substancialmente desde que foi fundada em 19 de fevereiro de 1906, vale lembrar que seus fundadores – Will Harvey Kellogg e John Harvey Kellogg – eram vegetarianos e defensores do vegetarianismo. Inclusive Harvey Kellogg fez campanha contra a indústria da carne antes de fundar a companhia Kellogg com o irmão.
Referência
Over HALF of young Brits have attempted to become vegan in last 12 months
O cardiologista de 103 anos que se tornou vegetariano há 53 anos
“Quando eu estava praticando a medicina, eu dizia aos pacientes que a dieta baseada em vegetais é o caminho mais saudável”
Em outubro, o cardiologista Ellsworth Wareham completa 104 anos. Ele dorme de oito a nove horas por noite, acorda às cinco da manhã e inicia o dia comendo cereais integrais com leite de amêndoas. Mais tarde, faz exercícios, cuida do jardim e passa o resto do dia com a família.
Essa tem sido a rotina do médico que se aposentou aos 95 anos. E como ele ainda consegue ser tão ativo e saudável? “Não consumo nada de origem animal” – é a resposta de Ellsworth Wareham que mora em uma pequena cidade onde as pessoas têm uma expectativa de vida bem superior à média mundial.
Em Loma Linda, na Califórnia, não é difícil encontrar vegetarianos, inclusive, o maior mercado da cidade não comercializa nenhum tipo de carne. Além disso, também baniram o fumo, e o índice de comercialização e consumo anual de álcool está entre os mais baixos dos Estados Unidos.
É nesse cenário com uma população predominantemente adventista que podemos encontrar o centenário Wareham, que vive em uma casa de dois andares, onde não demonstra nenhuma dificuldade em subir a escada. Também é o médico aposentado que cuida do próprio jardim, um exercício que o permite se sentir mais próximo da natureza.
Com boa saúde e clareza mental exemplar, ele credita todos esses benefícios a uma decisão que tomou há quase 53 anos – banir todos os alimentos de origem animal da sua alimentação. À época, Ellsworth Wareham teve contato com uma pesquisa científica realizada pela Cleveland Clinic, que associou o consumo de proteínas de origem animal com a elevação do colesterol e o aumento do risco de se contrair doenças cardíacas. O ideal, segundo a pesquisa, seria a adoção de uma dieta vegetariana estrita e com baixo teor de gordura.
“Quando eu estava praticando a medicina, eu dizia aos pacientes que a dieta baseada em vegetais é o caminho mais saudável. Sugeri manterem-se afastados de produtos de origem animal o tanto quanto possível. Você pode falar sobre exercícios de relaxamento, atitude mental positiva e as pessoas vão aceitar. Mas se você falar sobre o que estão comendo, elas se mostram muito sensíveis sobre isso. Se um indivíduo estiver disposto a ouvir, tentarei explicar com base científica o que acho melhor para ele”, declara.
Wareham reconhece que a realidade de uma parcela bem significativa da população dos Estados Unidos é bem diferente da sua. Segundo o médico, um terço da população dos Estados Unidos vai morrer em decorrência de doença coronariana, e tendo como agravante o consumo excessivo de alimentos de origem animal. “Se você puder evitar isso, vale a pena”, sugere com a experiência de quem trabalhou no Loma Linda University Medical Center, considerado um dos melhores hospitais de tratamento de doenças cardíacas dos EUA.
Saiba Mais
Nascido em 3 de outubro de 1914, o médico Ellsworth Wareham, que também é ex-veterano de guerra, realizou uma das primeiras cirurgias de coração aberto dos Estados Unidos.
Ele orientou residentes da Universidade Loma Linda até os 95 anos.
Referências
http://www.collective-evolution.com/2015/05/04/100-year-old-vegan-heart-surgeon-retired-at-95-heres-why-hes-been-a-vegan-for-50-years/
http://www.foxnews.com/health/2014/12/16/100-year-old-surgeon-wwii-vet-who-retired-at-age-5-shares-secrets-to-longevity.html
This 100-year-old Retired Surgeon Says ‘Vegan Diet’ is Key to Longevity
Marloes Boere: “Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana”
“Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”
Filha de pecuaristas, Marloes Boere cresceu em uma típica fazenda de gado leiteiro em Hekendorp, Utrecht, na Holanda. Até que um dia começou a se questionar sobre o seu papel e o de sua família na vida dos animais que eles criavam simplesmente para a obtenção de leite e geração de lucro.
“Cresci em uma fazenda de gado leiteiro. É a razão pela qual hoje sou vegana. Um dia, meu pai me disse que uma das vacas morreu porque o seu bebê foi levado para longe dela. Isso partiu o meu coração”, conta Marloes, citando um fato muito comum que é a separação de mãe e filho nas fazendas de gado leiteiro.
Segundo Marloes Boere, na fazenda de seu pai, assim como em muitas outras dedicadas à produção de leite, inclusive no Brasil, as vacas precisam ter um bebê por ano para produzirem leite em níveis rentáveis. Após o nascimento, é apenas uma questão de horas para o bezerro ser definitivamente separado da vaca.
O bezerro é colocado em uma gaiola, onde ele fica sozinho, e é alimentado apenas duas vezes por dia. Essa prática causa muita dor emocional tanto para a mãe quanto para o bezerro”, afirma. Ao longo de duas semanas, os bezerros são supervisionados até a carne ser considerada “tenra”, ou seja, apropriada para o consumo. Então eles são enviados ao matadouro.
Na infância de Marloes, a cena da separação de mãe e filho se repetiu tantas vezes que ela perdeu as contas. Embora estranhasse, sempre explicavam que era uma prática normal e necessária. “Isso não poderia estar mais longe da verdade. Fiquei horrorizada porque vivemos em um mundo que ensina às crianças que é aceitável invadir e explorar a maternidade de maneira tão violenta. Ninguém deveria apoiar isso. O leite materno é alimento para bebês e o leite de vaca é para os bezerros”, defende.
Em entrevista ao jornal holandês NRC Handelsblad, ela declarou que na infância foi criada para não se apegar aos animais criados na fazenda, porque logo eles não estariam mais lá, já que uma vida de servidão reduz a expectativa de vida dos animais.
Depois de concluir o curso de filosofia, Marloes Boere passou a questionar cada vez mais a doutrinação especista que fez parte de sua vida, assim como da maioria, como se fosse algo natural, legítimo e aceitável. Inclusive foi o que a levou a se tornar uma ativista dos direitos animais e a defender o fim da agricultura animal.
Após o mestrado em filosofia, começou a compartilhar as suas próprias experiências com o especismo e a fornecer aos seus estudantes argumentos filosóficos em oposição a agricultura animal – fazendo com que passassem a refletir e a questionar o seu próprio especismo. Atualmente, ela atua como coordenadora de educação da fundação vegana Viva Las Vega’s, além de atuar como treinadora em habilidades de debate. Sua família também vivenciou mudanças bem significativas. Sua mãe e suas duas irmãs tornaram-se vegetarianas e seu pai, que está seguindo pelo mesmo caminho, costuma dizer nas festas em que participa que “o futuro é vegano”.
Referências
Krijger, Anna. Ik zal meemaken dat we allemaal vegnist zijn. NRC Handelsblad (5 de março de 2018).
Como nos relacionamos de forma equivocada com os animais
Chris Mills, um homem do campo que se tornou vegano depois de testemunhar o sofrimento dos porcos a caminho do matadouro
“Olhei aqueles pobres animais nos olhos e sabia que estavam sendo enviados para a morte”
Um homem do campo, Chris Mills trabalhou por 20 anos em fazendas de produção de leite em Ontário, no Canadá. Além de viver a realidade comum de quem ignora o sofrimento vivido pelos animais criados para consumo, ele também era um ávido caçador. No entanto, Chris se apaixonou por uma vegetariana, com quem acabou se casando quando começou a trabalhar na construção de rodovias.
As conversas com sua esposa o levaram a ver os animais com outros olhos. Porém, não o suficiente para que ele abdicasse do consumo de animais. A transformação veio com um choque de realidade e um olhar atento que o fizeram perceber que a carne que ele consumia era, de fato, proveniente de criaturas com emoções e sensações muito semelhantes às nossas.
Um dia, Chris estava dirigindo uma máquina quando o tráfego na rodovia foi interrompido. Ao seu lado, havia um caminhão transportando porcos para um matadouro em Quebec. “Esse foi o dia em que fiz a conexão. Olhei aqueles pobres animais nos olhos e sabia que estavam sendo enviados para a morte. A temperatura estava em 36 graus abaixo de zero e eles estavam congelando. Suas peles estavam vermelhas e você podia ver gelo em algumas de suas faces. Meu coração sangrou. Me senti tão mal que disse a mim mesmo que daria um basta nisso, que eu nunca mais causaria mal a qualquer outra criatura novamente! Jamais olhei para trás”, garante.
Chris Mills não teve dificuldade em se tornar vegano e abandonar todos os alimentos de origem animal. O que facilitou a sua transição foi o prazer em cozinhar e mostrar às pessoas que “a comida vegana é deliciosa e bonita”. Hoje, não apenas Chris e a esposa são veganos, mas também a filha do casal – veganos a favor da vida, segundo ele. Em 2015, Chris e a esposa Kim transformaram a própria casa em um pequeno santuário – The Grass Is Greener, que é focado especialmente no resgate de coelhos que são enviados para a indústria da carne.
Referência
Capps, Ashley. Former Meat and Dairy Farmers Who Became Vegan Activists. Free From Harm.
Anúncio pró-veganismo vai ser veiculado nos cinemas dos EUA antes da exibição de “Han Solo – Uma História Star Wars”
” Nos sentimos separados do resto, mas nenhum de nós merece ser tratado com menos respeito”
Na segunda-feira, 28, “Han Solo – Uma História Star Wars”, estreia nos cinemas dos Estados Unidos. Uma das novidades da vez é que antes da exibição do filme os espectadores vão assistir um anúncio pró-veganismo estrelado pelo líder do grupo Wu-Tang Clan, Robert Fitzgerald Diggs, mais conhecido como RZA. A campanha idealizada pela Peta mostra o músico, produtor e ator vegano se transformando em diferentes homens, mulheres e animais enquanto fala que todos somos o mesmo.
No vídeo, RZA diz que somos todos iguais em todas as formas que importam, não importando como parecemos, quantos anos temos, que língua falamos ou quem amamos. Não importa se temos pelos, penas ou barbatanas; nem mesmo o comprimento do nariz ou o número de pernas.
Ele afirma que não somos diferentes em nenhum aspecto realmente importante: “Todos nós temos pensamentos e sentimentos. Todos nós sentimos amor, dor, solidão e alegria. Todos nós temos a capacidade de entender, mas nem sempre entendemos. Nos sentimos separados do resto, mas nenhum de nós merece ser tratado com menos respeito. Nossa tarefa deve ser libertar-se do preconceito e nos vermos em todos os outros.”
Sobre a criação do anúncio, a Peta justificou que outros animais sentem dor e alegria e têm uma sensação de autopreservação, assim como os humanos. “Todos podem ajudar a mantê-los seguros escolhendo refeições veganas, comprando roupas e produtos de cuidados pessoais livres da crueldade contra os animais, e ficando longe de circos e parque temáticos que os forçam a se apresentar.”
Ibama vai multar em mais de R$ 105 milhões os fornecedores do McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever e Nestlé por destruírem áreas de preservação permanente
As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal
O Ibama anunciou esta semana que vai multar em mais de R$ 105 milhões a Cargill e a Bunge, fornecedores de alimentos para animais criados para consumo, por destruírem áreas de preservação permanente, causando grande impacto no cerrado brasileiro. A ação do Ibama é consequência de uma investigação realizada pela organização ambiental Mighty Earth em 2017, expondo as práticas da Cargill e da Bunge, que fazem parte da cadeia de fornecimento de carnes e produtos lácteos de corporações como McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever, Nestlé, Tesco e Carrefour.
Para se ter uma ideia do impacto, foi comprovado que a Cargill e a Bunge, que atendem 61 grandes companhias, financiaram ativamente a destruição de áreas úmidas nativas, obrigando populações inteiras a se deslocarem para favorecer um desmatamento equivalente ao tamanho da Inglaterra – comprometendo a biodiversidade e a sobrevivência de animais como a onça-pintada, tamanduá-bandeira, lobo-guará e cervo-do-pantanal. As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal.
Glenn Hurowitz, CEO da Mighty Earth, diz que, embora a responsabilidade esteja recaindo somente sobre a Cargill e a Bunge, é importante questionar também por que as grandes corporações e empresas continuam se beneficiando dessa prática criminosa. A Bunge se defendeu dizendo que achava que destruir essas áreas era uma prática legal. “O governo brasileiro claramente não concorda. Mas se a Bunge apenas adotasse o simples passo de proibir todo o desmatamento em sua cadeia de fornecimento, não estaria enfrentando esses riscos”, enfatiza Hurowitz.
Referência
Moby vai parar de fazer turnês para se dedicar a atividades como o ativismo em defesa dos animais
“Nada disso é lucrativo, mas é muito mais satisfatório”
Em entrevista à matéria “Moby: on drugs, depression and coming close to suicide: ‘I didn’t want to die in a garbage bag”, publicada no Daily Telegraph na última quarta-feira, o músico vegano Richard Melville Hall, mais conhecido como Moby, revelou que vai parar de fazer turnês para se dedicar a atividades como o ativismo em defesa dos animais.
“Estive em turnê por tanto tempo, e há tantas outras coisas para se fazer na vida. Ficar em casa e sair para caminhar, jantar com os amigos, trabalhar com a política, o ativismo [em defesa dos animais] e a música, e dormir na minha própria cama, e acordar toda manhã e fazer um smoothie”, disse.
Recentemente, Moby fez uma parceria com o mercado digital Reverb.com para vender 100 peças de seu equipamento musical para beneficiar o Comitê Médico Pela Medicina Responsável dos Estados Unidos, que ajuda a disseminar o vegetarianismo e o veganismo nos Estados Unidos. Ele também tem realizado importantes eventos que ajudam a difundir cada vez mais uma filosofia de vida livre da exploração animal.
Outro exemplo é a idealização do festival anual de música vegana “Circle V”, realizado em Los Angeles desde 2016 em parceria com o baixista da banda No Doubt, Tony Kanal. “Nada disso é lucrativo, mas é muito mais satisfatório”, garante Moby.
Referência
McLean, Craig. Moby: on drugs, depression and coming close to suicide: ‘I didn’t want to die in a garbage bag. Dailty Telegraph (23 de maio de 2018).
Mata-se um animal por um prazer efêmero
A história da crueldade contra os animais em Hollywood
“Os seres humanos têm abusado de animais para entretenimento desde o início dos tempos”
A crítica de cinema e escritora britânica Anne Billson, autora do livro “Cats on Film”, ou “Gatos no Cinema”, publicou hoje no jornal britânico The Guardian um artigo intitulado “Chicken decapitation and battered cats: Hollywood’s history of animal cruelty”, em que ela convida o leitor a refletir sobre a história da crueldade contra os animais no cinema, e especialmente em Hollywood. Exatamente por não ser vegana nem vegetariana, mas repudiar o tratamento dispensado aos animais no cinema, ela diz que “está ciente de que os animais morrem todos os dias para nos alimentarmos e para usarmos sapatos de couro. Por outro lado, prefere não assistir as cenas de crueldade contra os animais, e se isso faz dela uma hipócrita, que assim seja”.
Anne, que é contra a violência contra os animais no cinema, reconhece que a sétima arte é um meio controverso em essência, e que cinéfilos como ela frequentemente se veem em um dilema – que é a veemente contrariedade à censura. Porém, quando a suposta liberdade é usada como pretexto para explorar e impingir sofrimento aos animais, não há como ser favorável, já que essa permissividade garante inclusive a manutenção da objetificação, da subordinação forçada e da desvalorização da vida animal, mesmo quando animais são incluídos como personagens que servem a um retrato cru da realidade. Afinal, a tecnologia já permite que animais não sejam usados para benefício humano no cinema.
Ela começa o artigo citando o seu desinteresse em relação ao lançamento do filme “The House That Jack Built”, do polêmico cineasta dinamarquês Lars Von Trier:
Se não estou ansiosa para ver A Casa que Jack Construiu, quando finalmente chega às telas do Reino Unido, não é por causa da violência contra mulheres e crianças que ajudou o filme a ganhar uma rodada inicial de críticas de repúdio. Não, o que realmente me enche de terror é a perspectiva de ver um patinho com a perna arrancada com um alicate.
Mesmo depois que a Peta [organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais] deu uma bronca para confirmar que Von Trier realmente não torturou um patinho (o efeito foi alcançado ‘usando a magia dos filmes e partes de silicone’), a ideia me deixa enojada. (Independente disso, o filme fez convidados correrem saída afora durante a sua estreia internacional em Cannes no início do mês). Meio século assistindo filmes de terror pode ter me acostumado à violência misógina na tela (o que não quer dizer que eu goste), mas não me ajudou a lidar com os maus-tratos contra os animais.
Se Von Trier realmente tivesse torturado aquele patinho, ele estaria seguindo uma longa e desonrosa tradição de autores tratando animais pior do que tratam as atrizes. Andrei Tarkovsky mostrou um cavalo levando um tiro no pescoço e sendo empurrado escada abaixo em Andrei Rublev (1966). Jean-Luc Godard filmou um porco tendo a sua garganta cortada em Fim de Semana (1967). Galinhas foram decapitadas em Pat Garrett e Billy The Kid (1973) de Sam Peckinpah. 1900 (1976), de Bernardo Bertolucci, contém cenas de sapos sendo torturados e um gato aterrorizado sendo amarrado para que Donald Sutherland possa esmagá-lo até a morte com a cabeça. O diretor corta o ato (graças aos céus), e gosto de pensar que Sutherland realmente não matou o gato, embora os italianos tenham uma peculiaridade a esse respeito. O escritor Curzio Malaparte, em um ensaio de 1943 sobre Mussolini, descreve um tradicional entretenimento de férias na Toscana, onde homens da classe trabalhadora, com as mãos amarradas às costas, matam gatos até a morte com suas cabeças raspadas.
Francis Ford Coppola incorporou imagens de um búfalo-asiático, que é golpeado com facões até a morte em Apocalypse Now (1979). Sátántangó (1994), de Béla Tarr, mostra um gato sendo maltratado. Tarr insistiu que o gato não foi ferido, mas claramente ele não estava preocupado em mostrar que ele estava sendo girado por suas patas dianteiras. Entre as cenas do thriller de vingança Oldboy (2003), de Park Chan-Wook, o ator Choi Min-Sik, um “budista devoto”, foi flagrado se desculpando com os polvos vivos que estava comendo – o que te faz pensar na morsa de Lewis Carroll, chorando diante das ostras que ele estava devorando.
O Ato de 1937 para Filmes Cinematográficos (Com Animais), estabelecido pelo Parlamento Britânico, “proíbe a exibição ou o fornecimento de um filme [no Reino Unido] se animais forem cruelmente maltratados com a finalidade de produzi-lo.” O Conselho Britânico de Censores de Cinema, ainda corta as cenas reais de abusos contra animais, embora seja mais tolerante do que no caso dos filmes de terror. Sátántangó e Oldboy passaram sem cortes, mas os novos lançamentos em Blu-Ray de A Montanha dos Canibais (1978), de Sergio Martino e Cannibal Ferox (1981), de Umberto Lenzi, passaram por cortes de dois minutos, entre outras cenas que mostram o desmembramento de uma tartaruga, uma iguana sendo partida e criaturas peludas e fofas que são atacadas e comidas por cobras enormes.
Mas então ambos os filmes conquistaram notoriedade, tendo sido classificados como “filmes nojentos”. Os extras em ambos os relançamentos incluem entrevistas nas quais os respectivos diretores falam sobre a crueldade contra os animais. Martino diz: “De certa forma, foi uma cena construída porque colocamos o macaco e a píton juntos, mas não planejamos o final disso…então é realmente desagradável assistir.”
É bastante perturbador ver um cervo sendo engolido por uma cobra em um dos especiais de David Attenborough sobre a natureza, mas o próprio Attenborough traçou a linha do reality show em que os competidores matam crocodilos, porcos e perus “apenas para ter uma imagem”.
Os seres humanos têm abusado de animais para entretenimento desde o início dos tempos, e os cineastas não se mostraram com mais princípios do que aqueles que participam do chapeamento de texugos ou das touradas. O outrora admirável pioneiro de dublês Akima Canutt inventou um dispositivo chamado “The Running W”, que derrubava cavalos a galope, muitas vezes machucando-os ou os matando no processo. Pelo menos 25 cavalos foram mortos ou tiveram que ser sacrificados durante as filmagens de A Carga da Brigada Ligeira (1936), enfurecendo Errol Flynn, o astro do filme, que atacou o seu diretor Michael Curtiz. Tal foi o clamor público quando um cavalo quebrou a sua espinha depois de cair de um penhasco de 70 pés durante a filmagem de Jesse James (1939), que a American Humane (equivalente a RSPCA) foi finalmente encarregada de supervisionar o tratamento dado aos animais nos sets de Hollywood.
Mesmo assim, parece que o selo de aprovação da AH não é garantia de que “nenhum animal acabe machucado”. Enquanto pesquisava para o meu livro Cats on Film, descobri que pelo menos 20 gatos morreram durante a produção de Koneko Monogatari (1986), um filme japonês sobre um gatinho ruivo e branco e seu companheiro pug, intitulado “As Aventuras de Milo e Otis”, com narração de Dudley Moore. A AH deu um sinal positivo, e os rumores nunca foram checados, mas é óbvio que quando você assiste ao filme é perceptível que os animais estão em constante perigo. O BBFC [British Board of Film Classification] cortou 16 segundos do filme e deu a ele um certificado U, mas a cena de um gato “caindo” de um penhasco e desesperadamente tentando sair do mar em segurança é o suficiente para me fazer nunca mais querer vê-lo novamente.
Anne Billson continua: “Aqui estou eu sendo hipócrita de novo, porque enquanto me refiro à crueldade com gatinhos ou patinhos, posso tolerar os não amigáveis escorpiões e formigas sendo incendiados em A Quadrilha Selvagem (1969), ou os horríveis répteis cortados em pedaços em Cannibal Ferox. Mas viva o CGI, que agora torna qualquer tipo de tortura animal redundante. ‘Hoje, eu filmo essas cenas de uma maneira diferente’, admite Lenzi em sua entrevista sobre o lançamento de Cannibal Ferox. ‘Eu provavelmente vou refazê-lo agora com mais ajuda do departamento de efeitos especiais.’”
Referência