David Arioch – Jornalismo Cultural

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A vida de Frei Jerônimo na Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra

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Georg Karl Brodka: “Amarraram minha mãe com cordas em cima de um jipe e percorreram a cidade, expondo-a para quem quisesse ver”   

“Andamos em cima dos cadáveres para, imagine, retirar distintivos dos corpos” (Foto: David Arioch)

Por volta das 8h, chego ao Seminário Imaculada Conceição, em Graciosa, distrito de Paranavaí, e pergunto onde posso encontrar o alemão Georg Karl Brodka, mais conhecido como Frei Jerônimo. Um rapaz aponta a escadaria e sugere que eu vá até a cozinha. Lá em cima, através de uma porta aberta, observo à minha esquerda um senhor de estatura mediana em silêncio, diante de uma mesa, aguardando o café da manhã.

Com expressão serena, ele me observa de longe, nos cumprimentamos e, com um forte sotaque alemão, pede que eu o aguarde. Sem demora, Frei Jerônimo se aproxima vagarosamente, apontando uma mesa com duas cadeiras no fundo do corredor. Assim que sentamos, comento que acho incrível como o clima naquele lugar é fresco e aprazível. “Estamos no meio da ‘naturreza’”, comenta.

Brodka veio para esta região na juventude, e poucos sabem da sua história antes de se comprometer com o sacerdócio. Ele testemunhou a Segunda Guerra Mundial na infância e também sofreu no pós-guerra nas mãos dos tchecoslovacos – simplesmente por ser alemão. A sua insigne trajetória começou em Neisse, onde nasceu em 31 de dezembro de 1935, ano em que Adolf Hitler apresentou as Leis de Nuremberg ao Reichstag, legalizando suas equivocadas teorias raciais que respaldavam a ideologia nazista.

À época, fazia três anos que seu pai tinha ingressado no Exército alemão porque não havia emprego no país, a não ser na Wehrmacht, as forças armadas. “Ele casou em 1934 e nasci em 1935. Eram tempos difíceis, mas pelo menos ele podia ficar mais perto da família. Sim, ganhava bem, tinha caderneta de poupança, mas não havia comida para comprar. Por causa da subnutrição durante a Segunda Guerra Mundial, tive problemas de desenvolvimento ósseo. Inclusive quem nasceu entre 1934 e 1937 foi dispensado do serviço militar na Alemanha. Todos os meus seis irmãos tiveram o mesmo problema. Sofremos por causa disso”, conta.

No decorrer da guerra, Georg Karl perdeu as contas de quantas vezes o alarme ressoou e tiveram de correr até o porão, onde costumavam guardar alguns alimentos. O ambiente não havia sido projetado para suportar bombardeios, mas era o único local disponível para a família sentir-se menos vulnerável aos ataques aéreos. Um dia, uma forte investida dos aliados – União Soviética, Estados Unidos e Inglaterra, resultou na destruição de quatro quartéis. “Andamos em cima dos cadáveres para, imagine, retirar distintivos dos corpos. Hoje eu teria nojo, mas naquele tempo as crianças pisavam nos mortos para pegar e colecionar distintivos. Não entra na minha cabeça como eu pude fazer uma coisa dessas. Muitos faziam isso”, narra.

Embora seu pai fosse um oficial do Exército alemão, era muito difícil encontrar alimentos em 1944, quando a Alemanha estava mais próxima de ser derrotada na Segunda Guerra Mundial. “Aquele medo e fome, você nunca passou fome quando criança, né? E vendo a mãe chorando e sabendo que não tem comida. Isso foi pesado”, relata o frei emocionado.

Quando a situação piorou, a família encontrou refúgio em uma paróquia que tinha uma casa para crianças. No período da manhã e da tarde, os pequenos, incluindo Georg Karl Brodka, participavam de inúmeras atividades. “Mas o medo do bombardeio nunca desaparecia, porque os aviões atacavam de dia e de noite. Não havia energia elétrica, e tinha semana que a gente dormia no escuro, no porão”, lembra.

Em 1945, quando os soviéticos entraram em Neisse por terra, a família Brodka conseguiu deixar a cidade com o apoio do que restou do Exército em sua cidade natal. Foram levados até a fronteira com a Tchecoslováquia, que se livrou do domínio alemão em maio do mesmo ano. Em Marienbad, Georg Karl, que tinha nove anos, encontrou um soldado alemão e falou que seu pai tinha uma insígnia igual a dele. O homem perguntou quem era seu pai. Quando o menino respondeu, ele explicou que aquele oficial era o seu superior.

“Ele conversou com minha mãe e ela começou a chorar. Duas ou três horas depois, meu pai se apresentou para nos encontrar. Não sei como, foi uma grande surpresa. Quando os americanos saíram da Tchecoslováquia, perdemos o alojamento, o apartamento que meu pai conseguiu para nós, e fomos enviados para o campo de refugiados de Flaschenhütte, em Marienbad. Não havia outra alternativa”, enfatiza.

Um dia, os soldados tchecoslovacos permitiram que a família Brodka percorresse a floresta para procurar frutas. No local, colheram folhas de agrião perto de uma mina de água. “Enchemos os bolsos e levamos para o campo. De manhã, quando ganhamos uma fatia de pão seco, colocamos o agrião e comemos. O gosto era muito bom, porque o agrião já vem temperado da natureza”, assinala Frei Jerônimo sorrindo.

Ele se recorda das orientações que ele e seus irmãos recebiam da mãe Gertrud, um exemplo de paciência. Com ela, aprenderam muitas canções folclóricas alemãs enquanto viveram no campo de Marienbad: “Eu tinha nove anos e cantávamos todos juntos. Crianças de outras famílias também participavam. Mais tarde, quando começaram a derrubar outras árvores da mata que ficava ao redor do campo, peguei as cascas para fazer brinquedos.”

Entre algumas lembranças bucólicas, o alemão jamais esqueceu do infeliz episódio em que soldados tchecoslovacos amarraram sua mãe com cordas em cima de um jipe e percorreram a cidade, expondo-a para quem quisesse ver. Em Marienbad, também quebraram os dentes do seu pai com um cassetete.

“As crianças [alemãs] tinham que sair com faixa amarela no braço para pedir comida, e sabe que comida eles ofereciam para nós? A borra de café” (Foto: David Arioch)

“As crianças [alemãs] tinham que sair com faixa amarela no braço para pedir comida, e sabe que comida eles ofereciam para nós? A borra de café. Davam risada quando nossa boca ficava suja, e faziam isso de brincadeira, para nos chatear”, revela. Os tchecoslovacos não gostavam de alemães porque as tropas do exército de Adolf Hitler invadiram e ocuparam o país em 15 de março de 1939, acabando com a soberania da Tchecoslováquia.

Em 1948, depois de dois anos vivendo no campo de refugiados, uma equipe do governo canadense chegou a Marienbad e fez uma proposta ao governo da Tchecoslováquia. “Eles queriam comprar famílias com pelo menos quatro crianças. A intenção deles era aumentar a população do país e estimular o desenvolvimento. Meu pai não aceitou porque uma das minhas irmãs estava com cólera. As famílias não ganhariam nada, só o governo. Tive alguns amigos que se mudaram para lá”, confidencia Frei Jerônimo.

Mais tarde, a família Brodka foi enviada para Bernburg, na Alemanha Oriental. Em casa, Georg Karl não conversava com os pais sobre o que ensinavam na escola: “Meu pai teve outra formação. E minha mãe dizia: ‘Não me fale, não me fale. Melhor eu não saber de nada.’ A situação na Alemanha Oriental entre os anos de 1948 e 1950 era muito tensa. Acabei simpatizando com o regime comunista porque me garantia bastante tempo para me dedicar à música. Na escola, ganhei dois instrumentos; uma flauta soprano de madeira e um bandolim. Mas o problema na Alemanha Oriental é que tiravam a educação dos pais e repassavam a autoridade ao governo.”

Na oitava série, Georg foi obrigado a preencher um papel explicando o que gostaria de ser no futuro. “Escrevi que queria ser padre, sacerdote da Igreja Católica. No outro dia, o professor deu uma gargalhada e falou: ‘Aqui tem um que quer ser padre.’ Aí começou aquele bullying, como dizem hoje”, pontua.

Em 1950, Karl Brodka, pai de Georg, reconhecendo que o filho não teria futuro vivendo naquela parte da Alemanha, articulou a fuga do garoto e, para não levantar suspeitas, o declarou como fugitivo. “Eu tinha 14 anos. Para um pai fazer isso, tinha que ter muita confiança no filho. Fui até a fronteira de trem e percorri uma floresta. Acabei sendo detido”, pontua.

A polícia da fronteira levou Brodka até um pequeno quartel, onde ele recebeu um bom jantar e passou a noite em um quarto com beliche. Na manhã seguinte, dois policiais o levaram de volta à ferroviária e o colocaram em um trem de retorno à Alemanha Oriental. Assim que o trem começou a se mover, Georg Karl saltou sobre o vagão de um trem que transportava gado.

Mesmo sem saber o que aconteceria, não hesitou em se arriscar. Depois soube que aquele trem iria para a Alemanha Federal: “Quando o trem parou, passei meus dedos nas fendas onde o gado estava preso. Bem perto tinha um policial uniformizado. Ele levou um susto: ‘O que você está fazendo aqui?’, perguntou. Eu disse que iria para Bamberg [no Sul da Alemanha]. Me levou para tomar café da manhã e me arrumou uma carona de caminhão. Foram mais ou menos 350 quilômetros.”

Em julho de 1950, Brodka chegou ao Seminário dos Carmelitas em Bamberg, mas não imaginava que lá também seria vítima de preconceito. “Como vim da Alemanha Oriental, meu apelido era comunista. Uma vez conversei com um carmelita, estudante de teologia da Tchecoslováquia, e contei a ele tudo que passamos em Marienbad. Falei que não tinha nada contra ele, mas que seu pai e seu avô provavelmente sabiam do tratamento dado aos refugiados alemães”, frisa.

Quando se tornou sacerdote, Georg Karl Brodka recebeu o nome Jerônimo (Acervo: Ordem do Carmo)

Em 1954, ele descobriu sua vocação para o escotismo quando ingressou no grupo de escoteiros Guy de Larigaudie, onde sentiu-se parte de uma nova família. Durante a guerra, Georg Karl perdeu um padrinho de batismo, que foi morto na União Soviética. E ao final da guerra, um de seus tios foi enforcado na Polônia porque era religioso e andava com uma Bíblia. “Na Alemanha Oriental, tivemos gerações sem ensino religioso. Muita gente nem conhecia a Bíblia porque a venda era proibida. Um dia, fui punido na escola porque fui à igreja em um domingo”, garante.

O pai de Brodka visitou Neisse, sua cidade natal, duas vezes quando passou a pertencer à Polônia, e nunca mais retornou porque foram muito mal recebidos pelos poloneses. “Parte dos meus parentes continuou lá. Mesmo tendo nascido alemães, se consideravam mais poloneses. Uma vez participamos de um encontro de antigos militares, tinha 15 homens mais ou menos. Meu pai chorou ao dizer que jamais matou ou ordenou que alguém matasse um soldado na guerra. Outro colega falou a mesma coisa. Se ele tivesse falado isso durante a guerra, teria sido punido com pena de morte, até porque era mais fácil matar do que não matar”, assegura.

Georg Karl Brodka se tornou sacerdote em março de 1963

Em março de 1963, Georg Karl Brodka foi ordenado sacerdote, e no dia 16 de junho do mesmo ano desembarcou no Porto de Santos. A viagem com duração de 21 dias não foi nada fácil. Recepcionado por frei Alberto Foerst, ele trouxe três caixas pesadas e muitos materiais a serem destinados ao Hospital Santa Margarida. A chegada a Paranavaí foi marcada por um fato inusitado. “O Frei Ulrico [Goevert] disse que o prefeito, o doutor [Antonio José] Messias, não poderia me receber porque ele estava preso. Os vereadores o botaram na cadeia. Então já tive uma primeira impressão”, diz rindo.

Georg Karl sempre se apresentou em Paranavaí como Fei Jerônimo, aportuguesamento do nome religioso Hieronymus que recebeu no convento de Bamberg. No seu quarto, na paróquia em Paranavaí, teve outra surpresa. Ele notou uma lona preta que cobria uma cama completamente molhada. “Frei Alberto disse que se esforçaram, mas não conseguiram fechar as goteiras. Durante o almoço no convento, Frei Ulrico preparou caipirinha, uma das primeiras tentações. No geral, fui muito bem recebido pelos patrícios – Frei Matias [Warnek], Frei Bruno [Doepgen] e Frei Alberto. Eu era o quinto no convento”, explica.

Naquele tempo, o Frei Bonaventura Einberger, que foi enfermeiro da Wehrmacht na Segunda Guerra Mundial, já morava em Graciosa, mas quem comandava o Seminário Imaculada Conceição era o Frei Matias. O que chamou a atenção de Frei Jerônimo é que o objetivo do seminário não era apenas a formação de sacerdotes: “Não foi criado só para atender uma necessidade vocacional. Em Graciosa, não havia escola para estudantes de quinta a oitava série, então o seminário supriu essa necessidade.”

Sem saber falar português, e tendo como referência apenas um dicionário de alemão-português, Georg Karl Brodka teve muitas dificuldades para se comunicar. “No começo era difícil. Não entendia o que diziam nas emissoras de rádio nem no Diário do Noroeste. Mas o Frei Matias sempre me ajudou a aprender a falar mais algumas palavras em português”, informa.

Como o Seminário Imaculada Conceição era aberto às crianças, mais especificamente garotos, o frei se tornou a grande atração de Graciosa por um bom tempo. Ao saber que havia um padre novo, os estudantes corriam até o convento ao final das aulas. “Era uma curiosidade. Uma coisa bonita para mim é que criança tem coragem de corrigir a gente. O adulto não. Eles diziam assim: ‘Não, frei! Não é assim que fala.’ Então eu repetia mais quatro ou cinco vezes até acertar. Para falar maçã foi difícil, porque não existe esse ã na língua alemã”, argumenta.

O frei com o Grupo Escoteiro Guy de Larigaudie (Acervo: Grupo Escoteiro Guy de Larigaudie)

Os seminaristas, que se encarregaram de ensinar formalmente a língua portuguesa ao Frei Jerônimo também foram muito pacientes. Depois de um ano no seminário, já se comunicando em português, ele foi enviado a Paranavaí. Com seu jipe DKW-Vemag Candango, com tração nas quatro rodas, o alemão viveu muitas aventuras na região. “Meu carro nunca ficou na estrada, e olhe que para Guairaçá a estrada era terrível. Difícil também era o trecho de Paranavaí até o Povoado de Cristo Rei, e de lá até a Fazenda Aurora e Fazenda São Joaquim. Quantos quilômetros fiz com aquele jipe. Sempre levei gente de Paranavaí comigo”, declara em tom nostálgico.

Frei Jerônimo se recorda com carinho de Maria Mallmann, uma senhora que atuava como lavadeira, faxineira e cozinheira no convento em Paranavaí. Foi ela que disse ao alemão para não se preocupar que logo ele se acostumaria a comer arroz e feijão todos os dias ao meio-dia. No início, o trabalho de Georg Karl Brodka era benzer os falecidos. “O povo chegava com o caixão na igreja e a missa era feita em latim. Mais tarde, comecei a realizar os batismos na Paróquia São Sebastião. Era a única paróquia em toda a região, e para cá vinham caminhões carregados de gente de cidades como Guairaçá e Nova Londrina”, lembra.

Um dia, na ausência dos pais que não puderam comparecer, Frei Jerônimo realizou o batismo de uma criança chamada Ivani. Confuso, ele questionou: “É menino ou menina?” Então os padrinhos falaram que não sabiam, e deram uma olhada na criança para tirar a dúvida: “Era tudo improvisado. Não tinha preparação para o batismo, nem para os pais e padrinhos.”

Frei Jerônimo fundou o Grupo Escoteiro Guy de Larigaudie em 1966

Em novembro de 1966, durante uma viagem para Guairaçá, Frei Matias, ciente de que Frei Jerônimo tinha sido escoteiro na Alemanha, sugeriu que ele fundasse um grupo de escoteiros. Recordando-se de sua experiência como escoteiro em 1954, quando ingressou no grupo alemão Guy de Larigaudie, que homenageava o escoteiro e escritor francês, Georg Karl Brodka decidiu criar um grupo com o mesmo nome em Paranavaí.

“Fiz isso porque eu já gostava da literatura dele, um escritor que exaltava a natureza e falava sobre a importância de viver em harmonia com o meio ambiente. Comecei com oito meninos de 11 e 12 anos. Depois de três meses de preparação, eles fizeram a promessa, e cada um trouxe mais um integrante para o grupo”, narra.

Em 1967, Frei Jerônimo fez um curso de escotismo em São Paulo e voltou a Paranavaí com novas metas, como a organização da Alcateia de Lobinhos e da Tropa de Escoteiros. A partir de 1972, o grupo que funcionava de forma independente passou a ter como sede o Campo dos Escoteiros, ao lado do Ginásio Noroestão, onde manteve suas atividades por quase 26 anos.

“Aquele terreno já era da comunidade carmelitana. A sede foi construída com a madeira de duas casas que ganhei da Fazenda São Joaquim. O grupo cresceu bastante e completou 50 anos em 2016. Participamos de atividades escoteiras em Curitiba, Londrina e Maringá. Naquele tempo, tinha muito trabalho. Eu dava aulas de estudos bíblicos no Colégio Paroquial Nossa Senhora do Carmo e atendia 22 capelas fora de Paranavaí. Era obrigado a andar sempre de hábito”, destaca.

Nos anos 1980, Frei Jerônimo se tornou um dos administradores do Seminário Imaculada Conceição, chegando a se responsabilizar por quase 50 adolescentes. Atuando sozinho a maior parte do tempo, desabafa que foi duramente criticado algumas vezes. O seu trabalho era mais social do que vocacional, porque quando um menino chegava com os pais para se matricular, ele nunca perguntava se o garoto queria ser padre ou carmelita. “Eu fazia isso somente um ou dois anos depois, quando já era possível notar se havia interesse ou não. Se tivesse, continuava aqui, senão poderia voltar para casa”, enfatiza.

“Fui para Paranavaí em 1988 quando o seminário foi fechado”

Entre os alunos do frei estavam o padre Reginaldo Manzotti, que estudou no seminário por três anos, e o frei Ivani Pinheiro. “Troco cartas com vários ex-alunos. Fui para Paranavaí em 1988 quando o seminário foi fechado. Em 1990, me transferiram para Dourados [no Mato Grosso do Sul]. O Frei Joaquim [Knoblauch] era pároco da Paróquia Bom Jesus. Passou a paróquia para mim e fiquei um ano sozinho cuidando de tudo. Lá, fundei o Grupo Escoteiro São Jorge, o sétimo do Mato Grosso do Sul”, relata.

Em Dourados, também participou de um grupo de flautistas da Igreja Batista. O convite surgiu porque não havia ninguém na cidade que tocasse flauta baixo tão bem quanto Frei Jerônimo. “Toquei por dez anos com eles. Era muito gostoso. Nos escoteiros, tínhamos 12 instrumentos de percussão, e formei 12 seminaristas para tocar pífaro. Eu trouxe os pífaros da Alemanha, os mesmos usados pelo Exército alemão”, revela.

O frei diz com orgulho que quatro músicos que fizeram parte da Orquestra de Sopros Paranavaí foram seus alunos na infância. Uma vez, durante uma missa, eles se aproximaram e o lembraram das boas lições de flauta. “Tenho todos os tipos de flautas – sopranino, soprano, tenor, contralto e baixo. É uma pena que não tenhamos a cultura da música instrumental no Brasil. Na Alemanha, valorizamos isso desde cedo. Essa desvalorização atrapalha porque também deixa os instrumentos mais caros”, avalia.

O retorno à Alemanha em 2003

Em 2003, Frei Jerônimo pediu autorização do seu superior na Ordem dos Carmelitas para retornar à Alemanha. Um dia, caminhando pela floresta, encontrou um cão da raça são-bernardo, que sobe montanhas para ajudar a procurar pessoas perdidas na neve. Quando ele se aproximou, Brodka apenas colocou as mãos nas costas, abaixou a cabeça e falou com o animal. Em seguida, chegou o tutor do cachorro, correndo e ofegando, pedindo para ele se afastar porque o animal era bravo.

Com o dicionário de alemão-português que trouxe quando se mudou para o Brasil (Foto: David Arioch)

“Eu disse que não, que ele não era bravo. Falei para o cachorro que eu não iria bater nele e ele não poderia me morder. O homem ficou me olhando e dizendo: ‘Como? Como pode falar com ele?’ Falei que sim, converso com ele. Me entendo com cachorro, e tudo acabou bem. Foi uma experiência bonita”, lembra sorrindo. Por outro lado, nos quase três anos que trabalhou como vigário paroquial da Diocese Trier, em Springiersbach, Frei Jerônimo percebeu que tudo estava diferente, e não conseguiu se acostumar com aquele estilo de vida na igreja.

“Aqui o trabalho pastoral é mais popular. Estamos mais próximos do povo. Lá, fiquei a maior parte do tempo em meu quarto, com rádio e telefone, sem muito o que fazer, até que um dia o meu superior me deu o conselho para retornar. Cheguei ao Brasil em 31 de dezembro de 2005, no dia do meu aniversário. Gosto daqui porque é o único convento que está na natureza. Todas as outras casas estão na cidade”, explica.

Sem velar a empolgação, Georg Karl Brodka conta que tem três alunos de flauta no Jardim São Cristovão, em Paranavaí, e uma menina do Colégio Paroquial que é sua parceira musical há quatro anos. “A procura não é grande, mas quem tem interesse, se esforça. Isso é bom. Eu trouxe muita literatura para flauta da Alemanha”, comenta.

Enquanto conversamos, uma cachorrinha brincalhona salta sobre mim inúmeras vezes. Com expressão séria, Georg Karl Brodka pede apenas uma vez que ela se comporte, e ela o atende. A cadelinha o motiva a sair todos os dias para passear pelo bosque. “Se não fosse por ela, eu ficaria mais tempo no quarto, mas ela me chama sempre. Nos entendemos. Não gosto de gente que bate em cachorro. Na realidade, não gosto de gente que não aceita cachorro. Dá para desconfiar. Tinha um gato aqui também, e os dois se davam muito bem, mas mataram ele”, lamenta.

O pai Karl Brodka ficou doente após a guerra

Nascido em 3 de setembro de 1906 em Glogau, atual Glogów, na Polônia, Karl Brodka, pai de Georg Karl Brodka, mais conhecido como Frei Jerônimo, ficou doente após a Segunda Guerra Mundial. A vida conturbada teve sérias consequências.

“A guerra é uma barbaridade. Meu pai adoeceu porque bebeu e comeu tantas coisas para não morrer de fome que teve um sério problema no fígado. Depois foi operado em Köln [no oeste da Alemanha]. Ele tinha apenas 5% de chance de sobrevivência. Quando completou 11 anos desde a realização da cirurgia, preparou um café da tarde para agradecer ao médico que o atendeu. Meu pai, que se aposentou com 62 anos, escreveu uma carta disponibilizando seu corpo para estudos após a sua morte. O médico não quis aceitar, mas acabou concordando em respeito ao desejo dele.”

Karl Brodka viveu até os 72 anos, enquanto que a mãe Gertrud Baginski Brodka, nascida em 20 de março de 1910 em Allenstein, atual Olstzyn, na Polônia, faleceu aos 89 anos em decorrência de um infarto. “De manhã, ela caiu da cadeira morta. Minha irmã a estava visitando em seu apartamento naquele dia. Ainda bem que ela não estava sozinha”, enfatiza. Os pais de Frei Jerônimo nunca vieram ao Brasil, mas os seus seis irmãos estiveram aqui duas vezes. “Seis dos meus irmãos estão vivos e trabalharam como educadores e médicos. Em Neisse [Nysa], onde meus pais se casaram, nasceram Marianne, Brigitte, Renate, Eberhard e eu. Em Marienbad, nasceu Karl Heinz, e por último Michael em Bernburg”, revelou.

“Ele estava com medo, e com certeza temia ser denunciado por algum alemão”

Durante a entrevista com Georg Karl Brodka, mais conhecido como, Frei Jerônimo o questionei se ele nunca teve interesse em ser bispo. Me explicou que partilha da mesma opinião do falecido bispo alemão Alberto Foerst, um dos fundadores do Seminário Imaculada Conceição. “Ele disse que rejeitou duas vezes o convite para ser bispo, até que foi obrigado a aceitar. ‘Ser bispo afastou-me do povo e me deu trabalho só com os padres’”, citou rindo. O frei também declarou que não tem sonhos; que sempre preferiu viver o presente.

Brasão da Família Brodka criado em 1440

No entanto, desde os 12 anos cultiva o amor pela música. Com essa idade, aprendeu a tocar flauta: “Gosto de música clássica e folclórica. Na Alemanha, quem sabia cantar 25 canções de folclore alemão ganhava o distintivo de prata. Fiquei muito feliz quando ganhei o meu. Uma pena que não consegui o de ouro. Só recebia quem cantasse 50 canções. Eu tinha uma boa voz, mas começou a mudar depois dos 12 anos. Cantei no Teatro Municipal, em um coral de meninos e participei de duas peças teatrais.”

Sobre literatura alemã, Frei Jerônimo relata que nos tempos do colégio lia os clássicos de Friedrich Schiller e Joseph Freiherr von Eickendorff. “Ainda hoje quando algum colega traz algum livro de literatura alemã, eu pego para ler. Comprei no ano passado uma Bíblia que saiu em alemão. Tem outra linguagem, diferente daquela de 50 anos atrás”, informa. Sorrindo e bem à vontade, conta que na sua última estadia de três meses na Alemanha, não comeu arroz nenhum dia.

“Lá, comi mais lentilhas e ervilhas. De comida, gosto muito de batatinha. Também gosto de pão, mas pão de centeio, integral ou de milho. São pães que você pode conservar por dias. Não gosto de pão francês, porque no outro dia já vira borracha”, reclama. Entre as bebidas preferidas, cita a cerveja.

Ao longo da conversa, o frei me perguntou por que os brasileiros mudam o nome das cidades alemãs. Ou seja, os traduzem. “Os alemães não fazem isso”, queixa-se. Me recordei que há alguns anos fiz um trabalho de pesquisa sobre a história do médico nazista Josef Mengele, que supostamente viveu em Graciosa em 1954. Sobre isso, Frei Jerônimo declarou que é realmente possível que ele tenha vivido no distrito de Paranavaí. “Não sei de nada, mas tenho uma explicação. Ele estava com medo, e com certeza temia ser denunciado por algum alemão”, comenta.

Saiba Mais

Georg Karl Brodka retornou duas vezes à Alemanha Oriental quando seus pais ainda moravam lá.

Como a cidade natal de Frei Jerônimo, atual Nysa, foi anexada à Polônia, ele também tem os mesmos direitos de um polonês.

O emblema da Família Brodka foi criado na Alemanha em 1440.

O frei percebeu que em Graciosa, que é uma colônia germânica, muitos dos moradores não pronunciam o sobrenome corretamente. Segundo ele, isso é uma herança dos tempos da Segunda Guerra Mundial, quando o preconceito contra alemães cresceu exponencialmente no Brasil, durante a perseguição aos nazistas: “Falo que hoje é permitido pronunciar certo, mas eles ainda preferem do outro jeito.”

Em 1999, Frei Jerônimo recebeu a “Medalha de Bons Serviços”, e em 2003 a “Medalha de Gratidão”, concedidas pela União dos Escoteiros do Brasil.

Em 26 de fevereiro de 2003, foi homenageado pela Câmara de Vereadores de Dourados, onde recebeu o “Título de Cidadão Douradense”.

Em 2006, ganhou a Medalha de Mérito do Trabalho e Reconhecimento Administrativo “Dr. José Vaz de Carvalho”, concedida pela Câmara Municipal de Paranavaí. Pela mesma Câmara, recebeu o título de “Cidadão Honorário de Paranavaí” em 18 de março de 2013.

Em 2016, outra importante premiação foi a “Medalha Velho Lobo”, concedida somente aos associados da União dos Escoteiros do Brasil que completam 50 anos de atividades escoteiras comprovadas. Georg Karl Brodka é uma das duas pessoas que a receberam na história do escotismo no Paraná.

A Segunda Guerra Mundial começou em 1º de setembro de 1939 e terminou no dia 8 de maio de 1945.

A República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) foi proclamada em Berlim Oriental no dia 7 de outubro de 1949. Chegou ao fim em 3 de outubro de 1990, com a reunificação da Alemanha.

“O Porco Abatido”, de Lovis Corinth

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“Geschlachtetes Schwein”, de Lovis Corinth

Um dos mais importantes nomes do impressionismo alemão, Lovis Corinth foi um dos primeiros artistas a registrar com um olhar humanizado a realidade dos animais mortos para consumo humano. Diversas de suas pinturas retratam o cotidiano dos matadouros, dos animais antes e após o abate.

Em “Geschlachtetes Schwein”, obra de 1906-1907, ele retratou a escuridão que permeia a morte de um porco recém-abatido. A única claridade é emanada do corpo do próprio animal. Ao seu redor parece restar apenas o vácuo da inexistência.





Klaus Jost e a docilidade dos tubarões

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Engenheiro marítimo não concorda com quem afirma que tubarões são animais agressivos (Foto: Klaus Jost)

Engenheiro marítimo não concorda com quem afirma que tubarões são animais agressivos (Foto: Klaus Jost)

Imagem do fotógrafo e engenheiro marítimo alemão Klaus Jost que há anos registra e estuda o estilo de vida dos tubarões. Na foto, Jost estava logo abaixo do dócil tubarão-touro que apelidou de “Vovó”. Ao contrário do senso comum, dos mais de 460 tipos de tubarões existentes no mundo, poucos são agressivos e atacam humanos.

Acesse: http://www.jostimages.com

Written by David Arioch

January 26th, 2016 at 11:49 pm

As esculturas fotográficas de Martin Klimas

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Na série, Klimas registra a arte da destruição

Na série, Klimas registra a arte da destruição

Imagem da série Porzellanfiguren, do fotógrafo alemão Martin Klimas que registra a beleza da destruição a partir de peças de porcelana. O obturador da câmera entra em ação ao som do primeiro atrito. É preciso extrema agilidade para moldar cada “escultura fotográfica”.

Acesse: www.martin-klimas.de/

Written by David Arioch

January 25th, 2016 at 10:46 pm

O paraíso das borboletas

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Nos anos 1950, os estrangeiros chamavam Paranavaí de paraíso das borboletas

Paranavaí quando era conhecida com o Paraíso das Borboletas (Foto: Toshikazu Takahashi)

Um dia de verão em 1955 (Foto: Toshikazu Takahashi)

No verão dos anos 1950, o sol atingia Paranavaí, no Noroeste do Paraná, com tanta intensidade que as crianças aproveitavam para brincar arremessando pequenas porções de areia quente.

As mesmas crianças corriam descalças pela cidade, sem se importar com as bolhas que se formavam nas solas dos pés depois de minutos em contato com o chão cálido. Para os pequenos, tudo era diversão na época em que as roupas do varal secavam em tempo recorde. As crianças também penduravam em cipós e se lançavam com o objetivo de atingir buracos cavados no chão.  Quem acertasse mais vezes, era o vencedor da brincadeira.

Para os estrangeiros, Paranavaí era o paraíso das borboletas. Tal afirmação foi feita pelo padre provincial alemão Adalbert Deckert, de Bamberg, em artigo publicado na revista alemã Karmelstimmen em 1955. “Borboletas grandes e coloridas cruzavam nosso carro o tempo todo. Algo que para nós europeus era uma original lembrança”, comentou Deckert. A opinião era partilhada por muitos estrangeiros.

Havia tantas espécies de borboletas em Paranavaí que era comum milhares pousarem nas rodas de um jipe. Quando o motorista parava o veículo, ele via os pneus adornados pela policromia das borboletas. “Também havia muitas mariposas com até seis centímetros de comprimento. Eram tão grandes e numerosas que quando invadiam a igreja zumbiam de tal maneira que dava até dor de cabeça”, revelou frei Adalbert.

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Sobre matanças e os temidos quebra milho

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Experiências e impressões sobre criminosos que viveram em Paranavaí nos tempos de colonização

Frei Ulrico: "Não foram poucas as confidências de assassinatos e crimes hediondos" (Acervo: Ordem do Carmo)

Frei Ulrico: “Não foram poucas as confidências de assassinatos e crimes hediondos” (Acervo: Ordem do Carmo)

Embora tenha falecido há muitos anos, o frei alemão Ulrico Goevert, um dos pioneiros religiosos de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, tinha o hábito de registrar muito do que via e ouvia na antiga Fazenda Brasileira. O primeiro diário de Goevert sobre os fatos aqui vividos data de 1951. Sete anos mais tarde, a convite do padre provincial Adalbert Deckert, de Bamberg, no estado alemão da Baviera, o frei começou a publicar suas experiências em Paranavaí na revista germânica Karmel-Stimmen, onde ganhou uma coluna periódica.

Entre os relatos que mais chamaram a atenção dos alemães está um sobre as matanças promovidas pelos quebra milho, como eram chamados os jagunços e grileiros violentos que viviam na região de Paranavaí entre os anos 1940 e 1950. “Muitos que aqui chegavam de outros estados e países buscavam construir uma nova vida. Tudo isso resultou em uma grande mistura internacional”, conta Ulrico Goevert, acrescentando que no meio de tanta gente havia famílias sonhadoras, oportunistas gananciosos e aventureiros preocupados apenas com o presente.

O frei alemão admitiu anos mais tarde que entre 1951 e 1958 foi procurado por quebra milho das mais diversas origens. “Não foram poucas as confidências de assassinatos e crimes hediondos. Me procuravam pedindo para ajudar a tirar as mortes da consciência”, lembra. O contato frequente com a comunidade fez Goevert se aprofundar um pouco mais sobre o passado duvidoso de uma significativa parcela da população local. “Eu era procurado até por aqueles que não queriam mais do que continuar a sua velha safadeza neste novo lugar”, declara. Boa parte pedia informações ao padre sobre como providenciar novos documentos para dar início a uma nova vida, se isentando dos crimes do passado.

Em Paranavaí, no final dos anos 1940 até a metade da década de 1950, muita gente conseguiu mudar de nome, enganando a polícia e os perseguidores que percorriam milhares de quilômetros para acertar as contas. “Aqueles que demonstravam verdadeira boa vontade, eu consegui ajudar, possivelmente os livrando da morte. O que mais podia fazer se não contribuir para torná-los membros úteis de uma comunidade?”, questiona o frei alemão na coluna mais lida da revista Karmel-Stimmen em 1958.

Adalbert Deckert pediu que Goevert escrevesse fatos sobre Paranavaí na revista Karmmel-Stimmen (Acervo: Ordem do Carmo)

Adalbert Deckert pediu que Goevert escrevesse sobre Paranavaí na revista Karmel-Stimmen (Acervo: Ordem do Carmo)

Perdulários, os quebra milho eram temidos e chamavam muita atenção em Paranavaí pelos gastos astronômicos com bebidas, comidas e orgias em locais como a Boate da Cigana. No entanto, algumas festas eram particulares e aconteciam em locais afastados da cidade. “Eles apenas ordenavam que buscassem as moças, escolhidas a dedo, que iriam servir para o lazer”, confidencia o pioneiro cearense João Mariano.

Tudo era custeado com pequenas fortunas conquistadas em um curto período de tempo explorando mão de obra barata na derrubada de mata e lavouras ou cobrando dívidas e desapropriando terras ilegalmente. “Eram promotores de um estilo de vida totalmente imoral e leviano. Não tinham interesse em mudar. Viviam em função da sequência roubo, homicídio e morte”, registra o alemão.

Apesar de não haver dados sobre a quantidade de quebra milho nos tempos da colonização, é possível inferir que era o suficiente para amedrontar a população. “Não se passava um mês sem eu ter de dar a unção a alguma vítima de assassinato, nem sempre o morto fazia parte desta leviana corja. Tivemos muitos homicídios por causa de direitos de posse”, frisa Ulrico Goevert.

Os crimes eram quase inevitáveis quando dois ou mais proprietários de um mesmo pedaço de terra se encontravam. Um apresentava ao outro o documento que dizia ser legal e reivindicava o direito da área. “Um não queria ceder e muito menos o outro. A discussão só acabava quando puxavam o revólver”, afirma o frei que presenciou algumas dessas situações. Com o tempo, o alemão começou a tentar entender como várias pessoas tinham diferentes escrituras de uma mesma terra. Depois de muito pesquisar, Goevert descobriu que a diferença entre um documento e outro ultrapassava décadas.

A verdade é que em outros tempos alguns oportunistas compraram terras em áreas não colonizadas de Paranavaí e desistiram de construir, levando em conta o investimento com derrubada de mata e povoamento. Então esperavam anos, até alguém iniciar a colonização da região. O tempo passava e o governo autorizava uma nova venda de uma área comercializada muito tempo antes. “Quando tudo ficava aberto, limpo e habitável aparecia gente até com documentos do Século XIX e a confusão se armava”, detalha o líder religioso.

Não é à toa que até hoje há pioneiros em Paranavaí que culpam o governo federal e o governo paranaense por diversos assassinatos provocados por conflitos de posse e comissão de terras. “A situação esquentava e ninguém fazia nada. Se o poder público entrasse no meio para tentar amenizar a situação, quem sabe até disponibilizando uma nova terra à parte lesada, teríamos evitado tantas mortes. Com o sangue quente, e ninguém para ajudar, o peão perdia o controle e matava”, pondera Mariano.

Alguns criminosos trabalhavam dando suporte na derrubada de mata (Acervo: Ordem do Carmo)

Alguns criminosos trabalhavam dando suporte na derrubada de mata (Acervo: Ordem do Carmo)

As colonizadoras também ignoravam as negociações anteriores e simplesmente continuavam a atrair mais colonos com a venda de lotes pagos em pequenas parcelas. “Também perdi as contas de quantas mulheres apareceram reclamando a paternidade do filho e mostrando a foto do pai que já tinha outra família em Paranavaí”, desabafa o frei.

Normalmente o homem fugia de madrugada, abandonando as duas mulheres. A vontade de escapar da responsabilidade era tão grande que o sujeito atravessava a densa mata fechada habitada por animais silvestres e ainda cortava o Rio Paraná com algum bote. “É quase certo que no Mato Grosso o fujão começava tudo de novo”, lamenta frei Ulrico.

O perfil e a conduta dos quebra milho

De acordo com o pioneiro cearense João Mariano, os quebra milho eram homens das mais diversas origens que podiam andar em grupos, duplas ou sozinhos. Chegavam a Paranavaí com um plano de ação definido. Eram contratados para comandar as mais diversas atividades, desde grupos de peões atuando na derrubada de mata até cobranças de dívidas e comissões de terras. “Um quebra milho não sentia remorso em tirar uma vida, mas também não fazia isso de graça ou por qualquer coisa. Eram como mercenários, mas com código de conduta”, explica Mariano.

A conduta era ditada pelo dinheiro, não por vingança ou punição. Quanto maior a recompensa, menor a preocupação com a exposição. Se o retorno financeiro fosse grande, não se importavam em invadir um bar cheio de gente para assassinar três ou quatro pessoas. “Ele ia, fazia o serviço e partia, sem olhar para ninguém a sua volta, a não ser as vítimas. Só que se fosse incumbido de cobrar alguma coisa sem matar ninguém, o sujeito também atendia a exigência”, esclarece o pioneiro que ao longo da vida conheceu muitos quebra milho, inclusive teve amizade com alguns.

Paranavaí nos tempos dos quebradores de milho (Acervo: Casa da Cultura)

Paranavaí nos tempos dos quebra milho (Acervo: Fundação Cultural de Paranavaí)

Ao contrário do senso comum, dificilmente reagiam quando eram provocados por alguém sem envolvimento com seus negócios. Isso porque não traria retorno financeiro – a lógica da função. Metódicos, os quebra milho da Fazenda Brasileira dificilmente agiam por impulso. Além disso, não atuavam apenas em Paranavaí, mas em todo o Paraná, chegando a prestar serviços em São Paulo, Mato Grosso (incluindo o Mato Grosso do Sul), Santa Catarina e Rio Grande do Sul, principalmente a serviço de grandes empresários e latifundiários.

“Sei de alguns que encheram caminhões de cadáveres lá pelas bandas de Querência do Norte numa desapropriação ilegal e forçada. Tudo foi feito a mando de uma família tradicional da região de Maringá”, segreda Mariano que viu quando o caminhão estacionou em frente ao antigo Hospital João Cândido Ferreira (Hospital do Estado), onde é hoje a Praça da Xícara.

O veículo encostou e de longe os curiosos sentiram um forte odor de sangue que invadiu o centro da cidade. João Mariano diz que nunca tinha visto tanta gente morta em um mesmo local. “Havia dezenas. A maioria foi levada direto para um necrotério improvisado. Tinha tanto sangue que escorria até pelos pneus”, assegura.

Os quebradores eram responsáveis pelas levas de cadáveres que chegavam ao Hospital do Estado (Foto: Reprodução)

Os quebra milho eram responsáveis pelas levas de cadáveres que chegavam ao Hospital do Estado (Foto: Reprodução)

Por medo, nos anos 1940 e 1950, quando se falava em quebra milho, a maior parte da população não se manifestava sobre o assunto. Habilidosos com armas de fogo e armas brancas, inúmeros foram identificados como ex-jagunços, ex-guerrilheiros, criminosos condenados ou procurados, antigos membros de brigadas e de grupos paramilitares, além de desertores do Exército Brasileiro.

À época, como Paranavaí era apenas uma colônia, podiam ser facilmente identificados, mas ninguém queria se meter em confusão. Personagens controversos, os quebra milho fazem parte da história de Paranavaí, onde já viviam no princípio da colonização da Fazenda Brasileira na década de 1930. “Policiavam” e impediam que os migrantes atuando nas lavouras de café abandonassem o trabalho. Quem tentasse era abatido em barrancos às margens de algum rio ou durante a travessia. Antes do descarte de cadáveres, os criminosos os abriam, os enchiam com pedras, costuravam e os lançavam na água para afundar rapidamente, impossibilitando a localização.

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A vida de Sabina Spielrein

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Jornada da Alma narra a história da russa que se apaixonou por Carl Jung

Filme mostra Sabina como influência para Jung e Freud (Foto: Reprodução)

Prendimi l’anima,  lançado no Brasil como Jornada da Alma, é um filme de 2002, do cineasta italiano Roberto Faenza. Baseada na psicanálise, a obra conta a história de Sabina Spielrein, paciente com quem Carl Jung, o fundador da psicologia analítica, teve um relacionamento.

Em Jornada da Alma, Sabina Spielrein (Emilia Fox) é uma jovem russa entregue pelos pais a um hospital psiquiátrico em Zurique, na Suíça, onde a terapia de choque até então era o único método de tratamento. Nesse contexto, Sabina conhece o médico Carl Jung (Iain Glen) que inspirado nas ideias revolucionárias de Freud coloca em prática o método da livre associação. A técnica consiste no paciente falar tudo que pensa enquanto o psiquiatra avalia anseios, receios, traumas e lembranças.

Russa revolucionou a educação infantil (Foto: Reprodução)

As primeiras experiências com Sabina são bem sucedidas. Mas o método que gera complacência e certa intimidade entre médico e paciente vai além do esperado. A jovem russa se apaixona por Carl Jung que propõe torná-la amiga de sua mulher. Crente de que tal pedido anularia sua existência, Sabina volta para a Rússia após se formar em medicina e se especializar em psicanálise. Fica claro no filme o peculiar caráter de revisão histórica ao destacar Sabina Spielrein como influência para Jung e Freud. E mais, mostra como a russa revolucionou a educação infantil ao fazer uso da psicanálise para potencializar qualidades individuais.

Uma das cenas mais impactantes do filme é o momento em que Sabina tenta suicídio após Jung se afastar temporariamente do hospital. A personagem deixa um testamento pedindo aos médicos que cremem seu corpo, mas conservem a cabeça para que Jung possa dissecá-la. Surpreso, o psiquiatra se entrega a Sabina sob o signo de uma metáfora; doa a ela um seixo que segundo ele representa a sua alma.

A Pós-História e a morte de Deus

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Quando o homem deixou de ver o outro como semelhante

Quando a astronomia surgiu despedaçando o céu (Arte: Jeremy Perez)

Deus foi referência inquestionável para o homem até o momento que a astronomia surgiu, despedaçando o céu – simbólico paraíso etéreo. Com isso a relação litúrgica e religiosa semeada pelas denotações “irmão” e “próximo” tornou-se, no âmago social, anacrônica. A ciência incitou no homem a necessidade de refletir sobre o sentido da vida, despertando o embate entre Deus e Ciência; um conflito virulento na cultura ocidental, composta estritamente por uma maioria que jamais observou o mundo sob aspectos que envolvem dicotomia ou dualidade.

É mais simples encarar a realidade como única e inquestionável, respaldada pela convicção no Paraíso do Éden. Bom, trata-de algo posteriormente questionado, de modo mordaz, em estudos metafísicos que se tornaram grande alegoria da descrença. São muitas as obras que fazem romper a tênue e frágil linha entre sobriedade e insânia. Um exemplo proeminente é o trabalho do renomado e controverso filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche que viveu os seus últimos onze anos de vida em manicômios.

Nietzsche: exemplo da fragilidade entre sobriedade e insânia (Foto: Reprodução)

Mas, se ainda vivesse, Nietzsche provavelmente concordaria que na contemporaneidade o homem raras vezes observa o mundo como um arcabouço de semelhantes. Sim! O outro se tornou apenas mais um ser habitando o plano terreno. Mesmo assim a desestruturação social ainda é evitada, quem sabe em virtude dos direitos do homem. Deus é morto todos os dias em nome da Ciência, como dizia o filósofo tcheco Vilém Flusser, responsável pela criação da denominação Pós-História – período em que o homem se afasta da imagem de Deus para se reestruturar novamente, como se recriasse uma outra história, paralela a até então vivenciada.

Em meio a tudo isso, surge ainda o Caos Organizador do filósofo francês Gilles Lipovetsky que usa o termo para definir a intrínseca relação entre o progresso e o regresso na hipermodernidade. Nesse contexto, o homem tende a resgatar valores e comportamentos de seus antepassados, principalmente conceitos de vida empíricos e míticos. Tenta se afastar paulatinamente da tecnologia que o escravizou, tornando-o sedentário e atribuindo-lhe características sub-humanas. Realmente, tantos bens de consumo são, de fato, mecanismos responsáveis por facilitar a vida humana?

O homem como refém de criações supérfluas (Arte: Collin Dunn)

Nunca o foram, pois o papel da Indústria Cultural é simplesmente falsear a ideia da necessidade. Infelizmente a maioria não se vê como refém das criações supérfluas, algo que acontece em razão do homem do ser se tornar o homem do ter. Hoje, a máquina, até “caricaturável”, signo-mor da tecnologia, é tão determinante na vida do homem que o amedronta. Em vez do progresso nos dar respostas e confiabilidade a respeito do futuro, nos torna mais confusos; sofremos com incessantes males psicológicos. O ser humano se deprime com facilidade e passa a ter, mais do que nunca, receio das grandes doenças da atualidade. O progresso, por vezes, leva ao suicídio.

O temor o estimula a resgatar antigas crenças; tudo aquilo que servia de base à existência. O homem se afasta da tecnologia para alcançar o conforto que jamais foi propiciado pela industrialização. Convicções arcaicas e obsoletas são resgatadas todos os dias. Por quê? Porque a natureza admite a necessidade do equilíbrio. O crescente aumento tecnológico engrandece o medo. Na atualidade, em âmbito academicista, principalmente europeu e norte-americano, fala-se muito da hiperponografia; a extrema exposição à sexualidade que cresce a cada dia na internet. Porém este é um assunto à parte.

O futuro é incerto, pois a individualização do homem aumenta a cada dia, tornando-o ainda mais frágil e inapto ao convívio social. Antes de sua morte, o velho Flusser propôs a continuidade do progresso, sem esquecer de driblar os desequilíbrios aos quais o sistema que envolve todos os seres humanos está exposto. Afinal, a realidade manufatureira é infindável, elemento intrínseco desse período – a Pós-História.

Hermann Hesse se correspondia com mais de seis mil leitores

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Hermann Hesse preferia se comunicar por cartas (Foto: Reprodução)

Embora ostracista, o escritor alemão Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1946, se correspondia com pessoas do mundo todo. Às vezes, mais de 1/3 do seu dia era dedicado a responder cartas. Ao longo da vida, recebeu mais de 20 mil correspondências de mais de seis mil remetentes de 100 países, segundo o Arquivo Suíço de Literatura. Todas foram respondidas por Hesse que curiosamente não gostava de visitas. O escritor é famoso por obras que se tornaram clássicos da literatura mundial, como “Demian”, “Sidarta”, “O Lobo da Estepe”, “Narciso e Goldmund” e “O Jogo das Contas de Vidro”.

Written by David Arioch

November 11th, 2012 at 11:52 am

A perspectiva alemã sobre Paranavaí

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“Havia enormes plantações, prados, pastagens, tudo interrompido por grandes florestas”

Jacobus Beck escreveu sobre Paranavaí em 1952 (Foto: Ordem do Carmo)

Jacobus Beck escreveu sobre Paranavaí em 1952 (Foto: Ordem do Carmo)

O padre provincial alemão Jacobus Beck veio a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, em fevereiro de 1952 para conhecer o trabalho do frei Ulrico Goevert, responsável pela Paróquia São Sebastião. Na então colônia, Beck se surpreendeu e se identificou com alguns costumes. No mesmo ano, a experiência de três semanas foi registrada em várias edições da revista alemã Karmelstimmen, de Bamberg, no Estado da Baviera.

A curta passagem de Beck não permitiu que ele aprendesse a língua portuguesa. Por isso, pode-se dizer que o frei alemão está entre os padres germânicos que vieram a Paranavaí nos anos 1950 e não tiveram tempo de ter um profundo contato com a cultura dos moradores da colônia, fossem brasileiros ou estrangeiros. O fato fato foi o diferencial nos artigos publicados na Karmelstimmen, sob o título de “Meine Reise Nach Brasilien“.

Era um sábado, 9 de fevereiro de 1952, quando Jacobus Beck sobrevoou o Noroeste do Paraná. Observou ao longe os campos cortados por imensos rios. “Havia enormes plantações, prados, pastagens, tudo interrompido por grandes florestas. Mas foi só quando estávamos na região de Paranavaí que vi a mata virgem”, afirmou o alemão, acrescentando que tudo era tão belo que dava a impressão de que o céu se curvava diante do avião. Por volta do meio-dia, o padre se deparou com a colônia composta por um sem número de pequenas casas de madeira.

Logo o avião pousou no antigo Aeroporto Edu Chaves, atual Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), ladeado por espessa mata primitiva. De lá, Beck pegou uma carona com o frei Ulrico Goevert em um jipe estadunidense. Foram para o centro da colônia, onde viviam mais de cinco mil pessoas. “Não era uma cidade ao modelo europeu com casas de pedras e ruas asfaltadas, mas também não lembrava nossas aldeias. As residências eram bem simples e remetiam às nossas barracas de feira. As vias pareciam os caminhos alemães que davam acesso aos areais”, comentou frei Jacobus.

O que chamou a atenção do alemão na Colônia Paranavaí foi a ordem e a limpeza, além da facilidade em se adquirir bens de consumo. De acordo com Beck, o povoado contava com muitos locais de lazer, carros e caminhões. “Isso já me lembrou a Alemanha, o tráfego dos veículos, os barulhos dos que vinham e dos que iam pelas ruas esburacadas”, frisou, rememorando que em 1952 três novas casas eram construídas por semana em Paranavaí. O padre também percebeu que a agricultura na colônia era voltada principalmente para a produção de café, algodão, arroz e milho.

“A terra de Paranavaí era muito fértil porque o solo era virgem”

Jacobus Beck estranhou o fato de não ter encontrado batata no povoado, um dos principais alimentos da culinária germânica. “Em Paranavaí se consumia a mandioca, uma hortaliça de raiz grossa que tem gosto e uso equivalente ao da batatinha”, avaliou o alemão que se surpreendeu com o tamanho do gado bovino criado na colônia, bem maior do que os animais alemães.

Nas passagens pelos pomares locais, entre as frutas tropicais que Beck experimentou e aprovou estavam banana, abacaxi, limão e figo. “A terra de Paranavaí era muito fértil porque o solo era virgem. Estava sendo trabalhado pelas mãos humanas pela primeira vez, então tinha uma umidade inacreditável. Apesar do calor tropical, chovia muito e acho que a proximidade com muitos rios e riachos ajudava”, enfatizou.

De acordo com o padre, o solo e as condições climáticas eram os principais fatores que atraíam tanta gente a Paranavaí. Havia brasileiros de outras regiões, europeus e japoneses. “Não cheguei a presenciar nenhum caso de racismo. Acho que todos viviam pacificamente”, destacou o frei que estranhou a maneira como a população local o cumprimentou, com abraços e tapas nas costas, embora admitiu que se acostumou.

O padre diante da imensidão do Rio Paraná no Porto São José (Acervo: Ordem do Carmo)

Na Casa Paroquial, no quarto onde Jacobus Beck foi hospedado, o padre imaginou que encontraria janelas com vidraças e cortinas, ao melhor estilo alemão. “Foi uma procura em vão. Só havia uma grande abertura na parede e que era fechada à noite com janelas feitas de tábuas. Dormia na própria sacristia, com morcegos e camundongos “, ressaltou em tom bem humorado.

A hospitalidade dos moradores estava entre as melhores lembranças do frei. Segundo Beck, o que um tinha dividia com o outro. Além disso, os convidados de uma festa eram sempre tratados com muito carinho e atenção. “É claro que a maioria tinha pouco a oferecer, mas caso o agraciado não aceitasse, isso era entendido como uma ofensa”, observou.

“Ficamos com o jipe quase dependurado em muros de pedras”

À época, os padres eram vistos como autoridades de suma importância, tanto que por onde passavam ficavam rodeados de pessoas, como numa feira, na analogia de Beck ao perceber que a figura do vigário era muito estimada pela população. Até mesmo em casos de dores de dente, as pessoas procuravam o padre para dar uma solução ao problema ou então ofertar uma bênção.

Nas muitas vezes que percorreu as estradas de Paranavaí, achou o trânsito bastante intenso, até mesmo nas estradas por onde jipes e caminhões trafegavam dia e noite. “Isso ocorria porque muita gente era levada para as fazendas na mata virgem”, justificou.

À revista alemã, Jacobus Beck discorreu sobre um episódio em que foram até a Fazenda Santa Lúcia (situada em área que hoje pertence a Marilena) pela estrada da Água do 14, entre Piracema e Guairaçá, e tiveram de percorrer dezenas de quilômetros de mata a bordo de um jipe. “Nas subidas e descidas, muitas vezes ficamos com o jipe quase dependurado em muros de pedras. Chegamos a atravessar rios com o veículo. Encontramos animais selvagens, como répteis, e muitas plantações”, confidenciou o padre que enganou uma cascavel de cinco anos, com um metro e meio de comprimento, e cortou-lhe o guizo de cinco anéis para levar de lembrança à Alemanha.

Naquele tempo, às imediações do Rio Paraná, viviam um tenente e um pelotão de soldados do Exército Brasileiro dispersos por pequenas casas de madeira. Com eles, frei Ulrico e frei Jacobus tomaram chimarrão. O grupo era responsável por controlar as navegações fluviais, evitando contrabandos de produtos enviados à Argentina.

Curiosidades

Em artigo à revista alemã Karmelstimmen, Jacobus Beck escreveu que a mata primitiva que circundava o Rio Paraná era a maior floresta virgem do Brasil.

Nos anos 1950, por causa das dificuldades de tráfego, o avião era o meio de transporte mais usado pela população de Paranavaí, superando caminhões, jipes e carros.

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