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The Herd, e se vacas fossem substituídas por mulheres?
Curta-metragem de horror mostra como os animais são explorados em benefício dos seres humanos
Um filme que mistura horror e suspense, o curta-metragem The Herd (O Rebanho), da britânica Melanie Light, convida o espectador a conhecer a realidade de um grupo de mulheres em regime de servidão, confinadas como se fossem vacas. Em um ambiente sujo e soturno, onde a pouca luminosidade acentua o desespero das prisioneiras, elas são violadas, obrigadas a fornecer até a exaustão o leite dos próprios seios.
Em uma das cenas, assim que uma jovem dá à luz, o recém-nascido é afastado dela. Presa e impossibilitada de tocá-lo, é forçada a testemunhar a criança sendo lançada em uma lata de lixo como se fosse um objeto descartável. Afinal, o que eles querem dela é apenas o leite, nada mais.
Entre gemidos e gritos agonizantes, as vítimas são punidas com choques elétricos. Agonia, medo, desespero e cólera são alguns dos sentimentos que pautam suas vidas 24 horas por dia. Mas a situação começa a mudar quando um homem abre uma das gaiolas e é golpeado com um chute. Uma das mulheres consegue rendê-lo e o mata com uma facada certeira no pescoço.
Embrutecida pela própria condição, ela recobra o seu estado normal de consciência por um momento, quando entra em prantos ao ver o sujeito convulsionando. Depois prossegue sua jornada de retaliação e mata mais um verdugo asfixiado com uma corrente. Outra prisioneira comemora, mas sente-se desorientada quando recebe as chaves da própria gaiola, provavelmente por causa da perda da própria identidade.
Atravessando espaços macabros e insólitos, a fugitiva testemunha uma prisioneira sofrendo lobotomia. Em outra sala, ela observa mulheres agindo como zumbis, despersonalizadas pela condição degradante. Mais adiante, quando se aproxima de uma adolescente para confortá-la, é surpreendida e rendida por outro algoz, até que uma companheira o mata de forma violenta, numa ação retributiva.
E assim a represália continua. Nem mesmo a funcionária responsável por sedá-las escapa da punição. Cortam sua língua, a vestem como uma das prisioneiras e a confinam em uma das gaiolas. Ainda em fuga, elas se escondem quando um empresário é levado até um dos locais onde as vítimas são violentadas.
No final de The Herd, Melanie, que mostra como os animais são explorados pelas indústrias, apresenta a finalidade do leite extraído das mulheres. Todo o material coletado é usado na produção de um creme facial rejuvenescedor chamado Lactis Vitae, O Leite da Vida, que promete hidratar e melhorar a firmeza da pele, além de reduzir rugas.
Vegana, a cineasta interpreta como seria se os animais se rebelassem, e chama a atenção para que as pessoas reflitam sobre o preço a ser pago quando financiamos indústrias que exploram os animais. E para corroborar esse argumento, os minutos finais do filme são dedicados a exibição de cenas reais de bovinos sendo espancados, arrastados e enforcados por correntes.
The Herd foi escrito por Ed Pope e traz no elenco Pollyanna McIntosh, Victoria Broom, Charlotte Hunter, Dylan Barnes, Jon Campling, Francessca Fowler, Andrew Shim e Sarah Jane Honeywell. O filme foi eleito o melhor curta-metragem do Festival Boca do Inferno 2, realizado no Brasil em 2015. No mesmo ano, recebeu prêmios no British Horror Film Festival, Celluloid Screams, London Independent Film Festival, Sounderland Shorts e Russian Annual Horror Film.
O filme foi disponibilizado pela própria autora no Vimeo
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The Lost Boys e Cry Little Sister
Tenho certeza que o filme The Lost Boys (Os Garotos Perdidos), de 1987, do cineasta Joel Schumacher, fez parte da infância e adolescência de muita gente. Me recordo quando conheci o clássico na minha infância, por volta de 1992, trazendo um elenco composto por Corey Feldman, Jami Gertz, Corey Haim, Edward Herrmann, Barnard Hughes, Jason Patric, Kiefer Sutherland e Dianne Wiest.
À época, não fiquei impressionado apenas com a história e com o impacto que ela teve sobre mim, mas também com a trilha sonora. Muita gente começou a se interessar pelo gothic rock, que surgiu na Inglaterra no final dos anos 1970, só após o lançamento mundial de The Lost Boys. A música mais icônica do filme e que ajudou a popularizar o gênero é a atemporal Cry Little Sister, de Gerard McMann e Michael Mainieri, hoje dois desconhecidos das novas gerações.
Para quem curte a chamada literatura maldita de Poe, Rimbaud, Baudelaire e Verlaine, não há gênero mais representativo. Se bem que na década passada a temática renasceu na França com ex-integrantes de bandas de black metal em uma fusão de shoegaze, dark music e post-metal. É interessante ver como tudo ressurge com o tempo, independente de roupagens e transformações. Outro exemplo é o tema vampirismo abordado em The Lost Boys. Após 20 anos, vimos novamente essa efervescência. Taí um filme que merece ser assistido e um clássico que deve ser ouvido até o fim dos tempos.
Uma lição de amor à vida
João Mariano surpreende pela capacidade de ver beleza naquilo que passa despercebido pela maioria
Lançado ontem no YouTube, o documentário João Mariano, um curta-metragem de menos de 15 minutos, produzido com um Nokia Lumia 1020, é o meu mais novo trabalho audiovisual. Em meio a muitas reflexões e lembranças, principalmente reminiscências da juventude e das tragédias familiares, o documentário mostra o estilo de vida minimalista do aposentado João Mariano.
Um senhor de 87 anos que ainda tem muita vontade de viver, apesar de tantas perdas e das limitações impostas pela idade, Mariano surpreende pela sensibilidade e capacidade de ver beleza naquilo que passa despercebido pela maioria. Sente prazer na simplicidade de existir e no privilégio de pensar com a mesma acuidade de quando era mais jovem.
Radicado em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, desde 1955, o aposentado que trabalhou até os 84 anos relembra a infância e a adolescência no interior do Ceará. Também fala sobre a tranquila rotina e as experiências mais impactantes de sua vida. João Mariano tem uma relação especial com a natureza e a vida, e isso nem mesmo os problemas de saúde que surgiram na idade avançada são capazes de desqualificar.
O aposentado celebra a vida diariamente à sua maneira e prova que mesmo quando nos tornamos idosos ainda somos crianças e adolescentes. O maior exemplo disso é a passagem em que cita as muitas vezes na infância da década de 1930 em que o pai o chamou para balançar na rede com ele. “Era muito gostoso”, declara sorrindo como petiz o homem de 87 anos.
João Mariano diz como conheceu Clarinda, a namorada com quem fugiu para se casar em 1955, seu primeiro e único amor. Após a separação e o falecimento dela em 2008, o aposentado nunca mais se relacionou com ninguém. “Eu sinto falta dela, de ver ela. Fiquei sozinho e estou até hoje”, enfatiza sensibilizado. Se emociona ao se recordar da morte do filho José Cláudio, vítima de câncer com apenas 42 anos. “Morreu nos braços da irmã dele. Pra mim foi um choque. É uma coisa que tem hora que parece que é mentira, não uma realidade”, lamenta.
O aposentado conta ainda uma exemplar história de honestidade vivida no início da década de 1940, quando era jóquei na região de Iguatu, no Centro-Sul do Ceará. “Meu gosto mesmo era viver até 100 anos. Aproveitar bem do nosso país”, revela rindo. Em seguida, comenta que às vezes fica abalado com o fato de ter visto tanta gente partindo, já que não resta mais ninguém dos seus tempos de infância e adolescência.
Por outro lado, reconhece que estar vivo é uma vitória. Em síntese, o documentário é uma lição de amor à vida. João Mariano ensina que independente do que passamos nada deve ser mais forte do que a vontade de seguir em frente. A trilha sonora do filme é assinada pela banda finlandesa de pós-rock Magyar Posse.
Observação
Não consegui disponibilizá-lo no YouTube com a qualidade final da produção, mas creio que a perda esteja dentro do aceitável.
O Quarto Poder, ficção social sobre as mazelas da grande mídia
Controverso filme de Costa-Gravas continua tão atual quanto em 1997, quando foi lançado
Lançado em 1997, Mad City, que no Brasil recebeu o nome de O Quarto Poder, é um dos filmes de ficção social mais populares e controversos do cineasta grego Costa-Gravas. A obra aborda o poder que a mídia tem de manipular e sobrepujar o público, tendo como referencial um jornalista inescrupuloso que não mede esforços para recuperar o seu antigo espaço em uma grande rede de TV.
No filme, o repórter Max Brackett (Dustin Hoffman) é o exemplo de jornalista que recorre a todos os subterfúgios viáveis e inviáveis para garantir uma matéria “quente”. Ele usa como bode expiatório o ingênuo e desorientado Sam Baily (John Travolta) que num rompante, ao saber que foi demitido, ameaça com uma espingarda a diretora do museu onde trabalhava.
Após o disparo acidental com a arma, Baily é considerado um sequestrador, em um episódio nunca imaginado pelo próprio segurança. Encarando a situação como o deus ex machina de sua carreira, Brackett começa a influenciar as ações de Sam que jamais cometeu um crime. Preocupado com o desenrolar da ação, Max sugere que Baily crie uma lista de exigências. Do contrário, jamais será levado a sério pela polícia ou pela mídia.
Se até então seu objetivo era reaver o antigo emprego, a insistência de Max faz com que Sam mude o discurso sem perceber que está atuando como coadjuvante de um espetáculo em que o verdadeiro showman é o jornalista. A própria história de Sam é reescrita por Max. Ele se torna a ponte de comunicação de Baily com o mundo externo.
Quem são seus familiares e amigos, como ele vivia, o motivo do crime e as exigências – todas as respostas a essas perguntas são arquitetadas pelo repórter. Mestre na arte de manipular espectadores, na primeira parte do filme Max eleva Sam à condição de herói para depois transformá-lo em vilão – um terrorista desequilibrado.
Brinca com o poder ao induzir a opinião pública, mostrando que é capaz de fazer qualquer um amar ou odiar aquele homem que sob sua influência transforma crianças em reféns dentro de um museu. Max joga com todos, até mesmo com a diretora da instituição, dizendo que ela deveria agradecer a Sam pelo que ele fez, já que o sequestro está tornando o museu um espaço nacionalmente famoso, prestes a entrar para a história dos Estados Unidos.
Baily se torna tão dependente de Brackett que é o repórter quem define o que o segurança deve dizer ao chefe de polícia. Crente de que o jornalista é seu amigo, Sam não tem a mínima ideia de que Max usa a ilha de edição móvel para editar todos os depoimentos positivos coletados a seu respeito, preservando apenas os negativos. Para realçar ainda mais a vilania do personagem, Max veicula fragmentos desfavoráveis de entrevistados que nunca conheceram Sam Baily.
É axiomática a forma como Max é um perito na arte de persuadir pessoas a pensarem o que ele quer. Outro exemplo é a cena em que o repórter diz que o amigo de Sam baleado acidentalmente está ganhando muito dinheiro ao dar entrevistas sobre o suposto sequestrador. Se aproveitando do fato de que Baily está desempregado, Brackett já imaginava que o segurança ficaria sobressaltado com a notícia.
A verdade é que a vida de Sam pouco importa, tanto que dois jornalistas de uma mesma emissora digladiam pelo direito de ficarem ao lado do sequestrador quando a ação ganha repercussão nacional. A preocupação maior dos repórteres envolve estritamente promoções, bônus e status.
Outro ponto destacável é o momento em que o repórter se aproxima do chefe de polícia e pede autorização para a emissora entrar com o equipamento no museu para entrevistar Baily, oferecendo como compensação uma propaganda com viés político que pode tornar o chefe de polícia a autoridade de maior evidência nos Estados Unidos. Em síntese, Mad City prova que o quarto poder se confunde ao primeiro poder, já que a mídia pode ser mais poderosa que o governo e a própria polícia.
O inesquecível Delorean DMC-12
É impossível esquecer do DeLorean DMC-12, automóvel que foi eternizado pela trilogia De Volta Para o Futuro (Back To The Future), de Steven Spielberg. Criado em 1980, até hoje é produzido de forma artesanal com muitas de suas peças baseadas em inox.
No início da década de 1980, o carro demorava tanto para ser fabricado, sem qualquer possibilidade de atender a demanda, que o John DeLorean decidiu contrabandear cocaína direto da Colômbia para ampliar o investimento. Quantos “DeLoreans” tão sonhados por crianças e adolescentes nos anos 1980 e 1990 será que foram produzidos com o dinheiro do pó branco?
A empresa foi fechada quando o escândalo veio à tona, então outro empresário reassumiu o negócio anos depois. O DeLorean DMC-12 é comercializado no site do próprio fabricante. É possível até fazer pedidos de personalização. No Brasil, é raro ver o DeLorean, mas de vez em quando, com muita sorte, ele aparece.
Acesse: www.delorean.com
Uma obra de arte em movimento
Suspiria, do cineasta italiano Dario Argento, é o tipo de filme que mesmo com uma história não tão boa conseguiu conquistar o status de ícone do cinema giallo, um gênero italiano que não por acaso fez muito sucesso entre os anos de 1960 a 1980 com seus clássicos serial killers sendo perseguidos por detetives. Argento e outros cineastas foram convidados para trabalhar nos Estados Unidos justamente por causa desse gênero que influenciou o cinema de horror norte-americano.
Mas voltando a Suspiria, é um filme de 1977 que pode ser definido como uma transgressora poesia visual. Tem uma história aparentemente simples, de uma garota que entra para uma academia de balé e então testemunha uma série de mortes macabras. No entanto, o roteiro é mero coadjuvante diante da direção de Argento que manipula o estado psicológico e emocional dos espectadores como um titeriteiro. É uma obra intrigante criada sob luzes e sons, uma ode à estética psicodélica do absurdo, do irreal e do funesto.
A perspectiva nipônica sobre a Segunda Guerra Mundial
Recomendação – Hotaru no Haka, do cineasta japonês Isao Takahata, que no Brasil ganhou o nome de “Túmulo dos Vagalumes”, é um dos melhores filmes de animação que já assisti. É de uma beleza e sensibilidade que só quem assiste é capaz de compreender. Lançado em 1988, embora não pareça, retrata a perspectiva nipônica sobre a Segunda Guerra Mundial. Basicamente, mostra dois irmãos, ainda crianças, que perdem os pais durante a guerra e são obrigados a fazer de tudo para sobreviver.
O ponto mais conflitante da obra, que ora se aprofunda na inocência infantil, ora na degradação adulta, é a miséria humana e o embrutecimento social que privilegia o individualismo. Crianças que perdiam os pais na Segunda Grande Guerra eram privadas não apenas de alimentos, mas de existir, pelo simples fato de que à época pairava uma linha de pensamento: não divida igualitariamente a comida com um estranho, amigo, vizinho ou até parente se isso significa diminuir a sua perspectiva de vida ou a dos seus.
Não interessava se isso significava mais mortes. É cru, realista e profundo, pois desnuda a falsa ideia de que o único inimigo em tempos de guerra é aquele que ameaça a sua nação – ilusão. Hotaru no Haka é uma lição de vida. Quem assistir não vai se arrepender.
Vila Alta e a realidade da periferia
Documentário mostra que a Vila Alta também é uma comunidade de pessoas honestas
Disponibilizei hoje no meu canal no YouTube o documentário “Vila Alta”, que faz parte da série Realidade da Periferia, composta por um filme de longa-metragem, um de média-metragem e um curta. É uma trilogia de documentários. Todos estão relacionados, tanto que há referências de cada obra nos três filmes.
Na semana que vem começo a produzir o curta-metragem “Ivan & Rose”, sobre as dificuldades e o cotidiano de um casal de catadores de recicláveis que vive com R$ 280 por mês. O filme fecha a trilogia iniciada com a obra “Oficina do Tio Lú”, lançada em fevereiro.
Mas voltando ao filme que lancei hoje, o documentário Vila Alta mostra que há mais de 30 anos os moradores mais pobres da área rural e de diversos bairros de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, foram obrigados a se mudar para um lixão no fim da Vila Operária. No local, mesmo sem energia elétrica e água encanada, eles montaram dezenas de barracos de lona para abrigar suas famílias.
Vivendo sob condições sub-humanas, ainda tiveram de conviver com o preconceito, a intolerância, a violência e a criminalidade. Socialmente invisível, a população do bairro, que um dia foi conhecido como Balão Mágico e Vila do Sossego, hoje sofre para se livrar de um estigma social que se perpetuou ao longo de décadas.
Em Paranavaí, os mais jovens crescem ouvindo histórias que reforçam o mito de que a Vila Alta é uma “terra de criminosos”, um lugar onde ninguém deve ir. Não é à toa que a maior parte da população da cidade não conhece o bairro.
O documentário destaca outra realidade pouco conhecida. Na contramão da sua fama, a Vila Alta também é uma comunidade de pessoas honestas, batalhadoras e sensíveis que mesmo privadas das necessidades básicas ainda lutam e sonham com um futuro mais digno.
Apresentado de forma crua, mas solene, Vila Alta é uma obra testemunhal em que os personagens dialogam livremente. Do início ao fim, para reforçar o caráter intimista, a câmera é apoiada sobre uma mão. Não há escapismo, tratamento de imagem, uso de microfone externo e neutralização do som ambiente. Até mesmo alguns ruídos são preservados, cumprindo o objetivo de retratar com fidelidade as particularidades de cada momento, assim como o universo de cada personagem.
Para quem quiser assistir ao filme na íntegra, segue o link:
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Lou Ferrigno, de vítima de bullying a campeão de fisiculturismo
Stand Tall, mais do que uma versão Pumping Iron do ítalo-americano
Embora muitos digam que o ex-fisiculturista e ator Lou Ferrigno foi ofuscado por muito tempo pelo também ator e ex-fisiculturista Arnold Schwarzenegger, a verdade é que o primeiro filme estrelado pela dupla, o documentário Pumping Iron, de 1977, de Robert Fiore e George Butler, serviu para alavancar ainda mais a carreira do ítalo-americano, mesmo que a película tenha se pautado mais na carreira e personalidade de Arnie.
Exemplos não faltam. Após o lançamento de Pumping Iron, Lou Ferrigno estrelou o filme The Incredible Hulk, seguido pela série homônima de sucesso que foi ao ar pela CBS até 1982. Depois, Ferrigno foi protagonista de The Incredible Hulk Returns, de 1988; The Trial of the Incredible Hulk, de 1989; e The Death of the Incredible Hulk, de 1990. Ainda trabalhando com a sétima arte, interpretou o mitológico Hércules em 1983 e 1984, além de Sinbad of the Seven Seas em 1989.
Dos anos 1990 para cá, o fisiculturista aposentado teve poucas participações no cinema e na TV. Os trabalhos mais populares incluem a voz do Hulk nos remakes mais recentes e muitas dublagens para os desenhos animados da Marvel. No Brasil, o filme Stand Tall, de 1996, do cineasta Mark Nalley, é desconhecido da maior parte do público aficionado por musculação e fisiculturismo.
Curiosamente, é o único que mostra quem é e quem foi o maior adversário de Arnold Schwarzenegger no antológico Mr. Olympia de 1975. Ainda assim, é preciso ressaltar que talvez por ser um docudrama com caráter de tributo ou homenagem, Stand Tall omite informações sobre o final da carreira de Ferrigno como bodybuilder, quando amargou em 1992 e 1993 as posições de 12º e 10º colocado.
O filme de Mark Nalley tem boa estrutura, em acordo com uma proposição humanista que visa despertar a identificação do público com um dos maiores ícones da era de ouro do bodybuilding. Na obra, Louis Jude Ferrigno é uma criança do Brooklyn, em Nova York, que aos três anos é diagnosticada com surdez causada por uma infecção. Restando apenas 15% da audição, o jovem Ferrigno cresce retraído. As cenas sobre a infância difícil do atleta são apresentadas em forma de vídeos caseiros registrados no final dos anos 1950.
Vítima constante de bullying, apenas anos mais tarde consegue ouvir e falar com clareza. São emocionantes as cenas de Lou contando como foi ridicularizado na infância por ser um garoto magricela surdo-mudo. Mas tudo começa a mudar aos 13 anos, quando descobre o fisiculturismo como forma de superar a timidez e a baixa autoestima. O amor pela modalidade é quase instantâneo, tanto que Ferrigno trabalhava como engraxate para comprar revistas de musculação.
Um dos momentos mais inesquecíveis de Stand Tall surge quando o ex-fisiculturista lembra dos episódios em que disse aos seus clientes que se tornaria um campeão mundial de bodybuilding. A narrativa vigorosa e a construção clara e objetiva do filme conquistam a atenção do espectador. Mesmo quem não gosta de musculação ou fisiculturismo começa a entender e respeitar a complexidade e o rigor da construção corporal, seja em nível competitivo ou não.
O filme que conta a história de superação do ítalo-americano também tem algumas semelhanças com Pumping Iron. No clássico de 1977 o adversário que o protagonista Arnold Schwarzenegger precisa superar é Lou. Já em Stand Tall, Ferrigno, com mais de 40 anos, tem de vencer o veterano Boyer Coe. A obra que levou um ano e meio para ser produzida tem bom material de pesquisa e apresenta entrevistas com familiares e amigos de Lou, além de Arnold, o maior ídolo do fisiculturismo.
Nalley quase desistiu de ter Schwarzenegger no filme por causa das dificuldades em convencê-lo a participar. Para o bem do cineasta, as regulares insistências garantiram um final feliz. Em troca da participação, Arnie pediu apenas uma caixa de charutos. “Sabíamos como seria determinante para o filme ter alguém famoso como o Arnold”, diz o cineasta Mark Nalley que precisou se desdobrar com um orçamento modesto de 200 mil dólares, considerado minúsculo para os padrões estadunidenses. Uma das poucas queixas sobre o filme diz respeito a iluminação. Há algumas cenas escuras que denunciam uma certa falta de cuidado e de recursos da produção.
Felizmente, nada disso é o suficiente para ofuscar o brilho do documentário sobre um dos atletas mais importantes da história do fisiculturismo. Se tratando de estatura física, Ferrigno, que tinha 1,96m e 130 quilos, ultrapassou os padrões do bodybuilding profissional e conquistou dois títulos de Mr. Universo em 1973 e 1974, além de uma terceira colocação no Mr. Olympia de 1975. Em síntese, Stand Tall é um filme feito para todos os seres humanos, amantes ou não de atividade física resistida. “Ele tinha tudo. Boas costas, bons ombros e sabia como posar”, comenta um admirador do atleta no filme.
A trajetória de Brizola
Um político que foi amado e odiado pelo Brasil
Lançado em 2007, o documentário Brizola – Tempos de Luta, do cineasta gaúcho Tabajara Ruas, embora tenha um título sugestivamente tendencioso, é uma biografia de Leonel Brizola sob a ótica de pessoas que, de algum modo, conviveram com o amado e odiado político, tido como louco por alguns e considerado visionário por outros. Em síntese, uma curiosa obra sobre o homem que por pouco não se tornou presidente do Brasil.
Brizola foi uma das mais controversas figuras públicas deste país e morreu aos 82 anos, em 21 de junho de 2004. Com uma trajetória política de seis décadas, o gaúcho entrou para a história como o único brasileiro a governar dois estados: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
O ex-governador conquistou fama no Brasil no início da década de 1960, após o episódio da “campanha da legalidade”, em que desafiou os militares e defendeu direitos constitucionais após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Além de trazer à tona muitas imagens de momentos importantes da política brasileira que nunca ganharam espaço na TV, o documentário Brizola – Tempos de Luta tem como epicentro um conflito entre o político e o empresário Roberto Marinho, então proprietário da Rede Globo de Televisão.
A briga girou em torno de ofensas pessoais que Marinho dirigiu ao desafeto Leonel Brizola em 1992, usando todos os seus veículos de comunicação. O direito de resposta do político, obtido judicialmente, foi levado ao ar dois anos depois por meio da sorumbática voz de Cid Moreira durante uma antológica edição do Jornal Nacional.
Para os defensores do ex-governador, o episódio foi uma vitória, pois pela primeira vez na história da televisão brasileira alguém teve a oportunidade, sob o respaldo da lei, de fazer críticas severas a um grande empresário da teledifusão.
Para evidenciar a forte personalidade de Leonel Brizola, Tabajara Ruas não esconde que o foco maior é a narrativa, inclusive em várias cenas não há riqueza de detalhes, mas sim apenas uma câmera que sem profundidade se fecha diante do político e do microfone. No filme, também há participações dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, além de um relato verossímil sobre o encontro de Brizola com o guerrilheiro argentino Che Guevara no Uruguai em 1961.